Outros Tempos - Capítulo 20 (Últimos Capítulos)

terça-feira, dezembro 01, 2020

OUTROS TEMPOS


 Uma Novela Criada e Escrita por:
Raffa Lins

Apoio:
Web Novelas Channel (WNC)



CENA 01 / MANSÃO MARINHO / QUARTO PRINCIPAL / INT. / NOITE /

Deitada na cama, tranquila, Malu ouve a porta de entrada sendo batida. Dando pequenas risadas, Malu se diverte, respirando fundo.

Bruscamente, Laerte entra com tudo no quarto, possesso.

LAERTE: (irado) Me dá uma boa razão pra eu não te esganar, te esfolar, acabar com você viva! Eu vou matar você, Malu!

Se levantando da cama, leve, Malu vai até uma das pequenas mesas do quarto, onde está um champanhe em um balde de gelo.

MALU: Que exaltação é essa? Aonde você estava? Não deu sinal de vida. Fiquei preocupada, sou sua mulher, não apareceu na Gravadora... cê não tá me traindo não, né?

LAERTE: Você sabia que eu iria atrás da Liz. Armou essa emboscada!

MALU: (cínica) Você foi? Então é com ela que você tá me traindo?

LAERTE: Isso, mostra todas as suas ironiazinhas, elas vão ficar melhor quando eu entregar pra Liz o seu dossiê. Espero que você não esteja pensando que aquele do meu apartamento era o único. O outro está muito bem guardado, com uma pessoa de confiança.

MALU: Essa pessoa seria a Joana?

Fade In - Instrumental, Suspese.

Laerte automaticamente se assusta, pávido.

MALU: Assustou, né? É a Joana?

LAERTE: Como você sabe?

MALU: Você é muito ingênuo, Laerte. (T) Não vou negar, você se divertiu muito nas minhas custas, me fez de sua concubina, me fez chorar, me humilhar, resumindo, me fez de idiota! Só que tem um problema, todo jogo, tem um segundo tempo, tem a virada, tem a emoção final... e cê pensou mesmo que essa emoção seria sua?

LAERTE: Você tá blefando...

MALU: Estou, é? Então tá bom!

Abrindo seu closet, Malu retira o dossiê, fazendo com que Laerte arregale os olhos, surpreso.

MALU: E o jogo virou, meu amor, pro meu lado! Aqui está todas as provas que você tinha contra mim, tudo que me mantia nas suas mãos!

LAERTE: Como você conseguiu isso?

MALU: Através do garoto lá, o Valentin. Menino esforçado, fez de tudo pela irmã! Acredita que ele me entregou esse tesouro aqui apenas para que eu fizesse você se afastar da Joana? Na mesma hora, quase caiu uma lágrima, de tanta emoção, de um sentimento lindo e nobre como esse. Família em primeiro lugar.

LAERTE: (histérico) DESGRAÇADO!! EU VOU DAR UMA SURRA NAQUELE MOLEQUE!

MALU: (por cima) NÃO VAI DAR NADA, NÃO VAI FAZER NADA COM ELE! (T) Eu sou de palavra, prometi que você ficaria longe deles e é isso que você vai fazer, querendo ou não!

LAERTE: Cê acha mesmo que eu vou te obedecer? O que te garante que eu não tenha outras cópias?

MALU: A sua presença. Você ainda está aqui, Laerte, na minha frente, se borrando. E também eu mandei te seguir (reparando o olho roxo) e pelo visto, fizeram um serviço pesado, mas isso não vem ao caso. Você foi até o seu apartamento, não achou as provas, aquelas que o André conseguiu e que você mandou surrar ele.

LAERTE: E eu fui atrás da outra prova.

MALU: A outra está nas minhas mãos, Laerte. Você tava seguindo o caminho da casa da Joana, era pra lá que você ia, era lá que você deixou a última cópia do dossiê.

LAERTE: Isso não diz nada...

MALU: Então vai, eu pago pra ver você indo atrás de uma outra cópia. Pode ir!

Laerte continua parado, sem se mexer.

MALU: Não tem outra cópia? Que pena! A contrário de você, eu tenho várias.

LAERTE: Do que cê tá falando?

MALU: Você sabe. Eu tive a sorte grande de que você resolveu esconder os seus crimes no mesmo dossiê que o meu. Olha só que maravilha!

Pronto para ir pra cima, Malu vai para trás, impedindo que Laerte se aproxima.

MALU: Ei, nem adianta tentar pegar. Como eu disse, isso que está nas minhas mãos agora, são apenas cópias, as outras estão em um lugar bem guardado, junto com várias outras pessoas de confiança. Porque também a contrário de você, eu tenho gente de confiança ao meu lado, que eu posso me entregar de corpo e alma que eles continuariam ao meu lado. Já você não, só teve a Joana pra esconder, não é? Apenas a sua amante. Isso é uma grande decadência, Laerte.

LAERTE: Não faz isso...

MALU: (debocha) Isso o quê? Tá com medo que eu entregue pra polícia a documentação onde você sonega os impostos da gravadora? A sonegação fiscal, as lavagens de dinheiro, evasão de dívidas, e uma grande gestão fraudulenta! Que mais? Ah, lembrei. Tem também onde você manteve a Liz como laranja por incríveis dez anos, recebendo essa lavagem de dinheiro pelo nome dela, que provavelmente ela nem saiba! Como você gostava de falar comigo mesmo? Lembrei também... É CRIME!! Pelas minhas contas, você vai passar uns 30 anos em cana. É, eu sei que é pouco, mas esse é o Brasil que conhecemos e vivemos!

Atordoado com tudo o que ouve de Malu, tentando raciocinar, Laerte se afasta, tenso.

MALU: Você me disse que se eu não fizesse o que você ordenasse, os meus shows seriam pras presidiárias de São Paulo. Pois dessa vez, eu te dou a mesma dica, com sorte, você consegue achar algum presidiário com uma voz boa, potente, pra você financiar e agenciar... no presídio, claro.

LAERTE: Eu posso não ter a confissão da morte do Dante, nem as fotos da sua ficha naquele reformatório e nem dos assassinatos com o nome de Esther, mas eu posso abrir a boca pra todo mundo, pra quem quiser ouvir, que você não é Malu Marinho, é Esther Brandão.

MALU: Olha, eu nem deveria, mas vou te dar uma dica. Eu, no seu lugar, não faria isso não. No máximo que iria acontecer comigo, era prestar alguns esclarecimentos com a polícia. A minha ficha, dificilmente eles vão ter, a Olívia está aí pra adulterar qualquer coisa que eu quiser. O ouro que você tinha mesmo, era realmente a minha confissão e a gravação de áudio da morte do Dante, mas isso, eu já resolvi. Peguei um martelo, mas bem grande mesmo e destrui o pen drive!!

LAERTE: (berra) VOCÊ NÃO VALE NADA... CRETINA!! ASSASSINA!! ASSASSINA!!

MALU: (ri) Como você é engraçado, Laerte. Eu até que gosto desse apelido, cretina... pegou bem, né?

LAERTE: (perverso) Desembucha, o que você quer pra não entregar essa documentação pra polícia?

MALU: Agora sim estamos falando a mesma língua, finalmente!

Retirando da mesma pasta, Malu coloca sobre a mesa uma outra documentação.

LAERTE: Que isso?

MALU: Essa é a papelada do nosso divórcio. Tá na hora de acabar com essa merda de casamento!

LAERTE: O que eu deveria ter feito faz tempo... isso só será um alívio!

MALU: Aproveita e assina esse outro documento aqui, pra não precisa prolongar, igual o divórcio.

LAERTE: Que documento é esse?

MALU: É uma documentação onde você passa todos os seus bens e ações da gravadora para o meu nome, onde eu me torno a única dona e proprietária da Gravadora Rodríguez! Pode ficar tranquilo, que já estão tudo oficializados pelo juiz.

LAERTE: (em choque) Cê pirou, eu não vou fazer isso!

MALU: (firme) Ah, mas vai sim. Senão eu mando agora mesmo tudo isso pra delegacia, e além de sair dessa casa com o divórcio, vai sair algemado. E você não vai se ferrar sozinho não, a Liz também, porque não se esqueça que você fez ela assinar tantas coisas como laranja, que ela pode muito bem se enquadrar também como uma corrupta! Não vai querer que a tua amada vá presa ou pague uma multa com o dinheiro que obviamente ela não tem, né? Como pôde ver, você não tem saída Laerte Rodríguez, ou me passa as ações da gravadora, ou as consequências serão inevitáveis... (incisiva) ASSINA ESSA MERDA DE DOCUMENTO... JÁ!!

Passando a mão na cabeça, nervoso, Laerte tenta se controlar, respirando fundo.

LAERTE: Você dessa vez foi muito esperta, eu admito. Mas não pense que essa presepada vá durar muito tempo. Eu construí aquela gravadora com o meu dinheiro, com o meu nome, eu fiz ela se tornar o que é hoje!

MALU: Que bom, melhor pra mim, que não precisei me desgastar tanto assim pra ter ela no meu nome.

Pegando uma caneta, Malu estica em direção de Laerte, que encara, pensativo, pegando-a.

MALU: Bom garoto! Agora assina logo, que eu tenho mais o que fazer. Já já eu vou receber uma visitinha, daquelas que você não teve o prazer de ter comigo.

Indo até os documentos, Laerte assina uma por uma, todas as papeladas. Ao terminar, ele bate a caneta com força na mesa.

MALU: Mas que agressivo... cuidado!

LAERTE: Você ainda tem muito o que perder, Malu.

MALU: Como sempre, o discurso do perdedor.

LAERTE: Muito, mas muito pra perder. Eu penso que se tudo isso que você fez, foi realmente por você... mas na verdade, foi por ninguém. As únicas pessoas que ficam ao seu lado, como também ficavam no meu, são por interesse, a grana fala mais alto, o bom senso e a honestidade viram coadjuvantes. Eu sou um perdedor, mas você também é. Precisou mover céus e rios pra tentar ser o mínimo que a Liz foi, mas você não chegou nenhum pouco perto disso, nem uma poeirinha. Uma coisa nós temos em comum... o fracasso em tentar se igualar a Liz.

MALU: (mareja) Esse fracasso é discutível. Tanto que após você sair daqui, eu irei continuar nesta mansão, na minha casa, já você... não tem pra onde ir, não tem pra onde se esconder. Eu venci, Laerte, eu venci!! (em alto tom) PRA RUA!!

Completamente acabado, saindo do quarto, Laerte bate a porta com força, deixando Malu sozinha.

Pegando o champanhe, Malu chacoalha, estourando. Se servindo na taça, Malu bebe, confiante, se deliciando, vitoriosa.

MALU: (pérfida) Laerte já foi... agora falta você, Liz... apenas você!!

Malu ri alto, se divertindo.

Fade Out - Instrumental, Suspense.

Corte para:

CENA 02 / CASA DE JOANA / SALA DE ESTAR / INT. / NOITE /

Sentada no sofá, apreensiva, Joana serve um copo d'água para Inês.

INÊS: Ele saiu de lá de um jeito, todo apressado. Não sei ele fez alguma burrada...

JOANA: O Valentin não deveria ter pego o dossiê! Ele não está/

Tomando um susto, após a porta de entrada ser aberta bruscamente, Joana e Inês vê Valentin, entrando na casa, alterado, bêbado, se esbarrando em tudo, tropeçando.

Fade In - Instrumental, Tensão.

JOANA: (preocupada) Meu Deus do céu... AONDE VOCÊ FOI, VALENTIN?

Correndo até ele, Joana o segura, fazendo-o se apoiar.

Inês se levanta, pronta para ir ajudar.

VALENTIN: (p/Inês, berra/zonzo) NÃO CHEGA PERTO... NÃO... NÃO DEIXA... NÃO DEIXA ESSA VADIA TOCAR... TOCAR EM MIM... SUA PROSTITUTA!!

Em choque com a agressividade de Valentin, Inês fica paralisa, lacrimenjando.

JOANA: (repreende) VALENTIN!!

INÊS: (emociona) Você tá sendo cruel demais comigo...

VALENTIN: (gargalhando) Cruel? Cruel... eu... eu... eu deveria era cuspir na tua cara, sua vagaba! Não só na sua... da minha... da minha irmãzinha também... duas vagabas!!

JOANA: (nervosa) Para com isso, agora!! Tá agindo igual moleque! Tá fazendo de tudo pra parecer!!

VALENTIN: Esse sou eu, maninha... seu irmão!

JOANA: (p/Inês) Pega uma roupa limpa lá em cima, vou levar o Valentin pra cozinha, pra ele se hidratar um pouco e depois dar um banho, de água gelada! Garoto irresponsável!!

VALENTIN: (grita) NÃO, EU NÃO QUERO... NÃO QUERO A INÊS NO MEU QUARTO... EU NÃO QUERO!!

JOANA: (rude) VOCÊ NÃO TEM QUE QUERER NADA, ABSOLUTAMENTE NADA!!

Quase caindo no chão, Joana consegue segurar Valentin, que se apoia firme na mesma.

Puxando o irmão para a cozinha, ele tenta não ir, mas Joana faz um esforço maior, conseguindo locomovê-lo.

Inês obersva a cena, abalada, em prantos, não conseguindo se manter.

Fade Out - Instrumental, Tensão.

Corte para:

CENA 03 / MANSÃO MARINHO / BANHEIRO - SUÍTE / INT. / NOITE /

Fade In - Huggin & Kissin, Big Black Delta.

A porta do banheiro se abre. Close em André, adentrando, sério. Saindo de trás do box, enrolada em um roupão, Malu fica paralisada, encarando André, que não tira os olhos de si.

Os dois trocam olhares por um longo tempo, respirando fundo.

ANDRÉ: (marejado) Eu pensei que eu nunca mais iria te ver assim, cretina, nuazinha...

Em sua frente, Malu abre o roupão, ficando totalmente nua, deixando-o cair no chão.

MALU: (maliciosa) Eu quero que você me pegue do mesmo jeito que me pegava antes. Eu quero gritar no seus braços, gemer no seu colo... eu quero ser sua, apenas sua!

Partindo com tudo pra cima de Malu, André pega ela de jeito, colando seu corpo no dele, beijando seu pescoço, passando as mãos por todo seu corpo, agitados, impulsivos.

ANDRÉ: (excitado) Você nasceu pra ser minha... minha cretina!!

Malu retira de uma vez a blusa de André, rasgando com as mãos, enquanto ele tira sua calça, também ficando nu.

Os dois se agarram intensamente pelo chão do banheiro, com seus corpos colados, suando, se beijando, ávidos por um desejo maior.

MALU: (emocionada) Eu te amo, meu gigolô...

ANDRÉ: (se entrega) Eu te amo, minha cretina...

André e Malu transam, apaixonados, gemendo de prazer a cada movimento, ofegantes, excitados.

Fade Out - Huggin & Kissin, Big Black Delta.

Corte para:

CENA 04 / CASA DE JOANA / COZINHA / INT. / NOITE /

Colocando Valentin sentado em uma das cadeiras de frente ao balcão, todo desarrumado, com os utensílios de cozinha sobre, Joana coloca uma garrafa d'água em sua frente.

JOANA: (incisiva) Bebe... tudo. Agora, Valentin.

VALENTIN: Você... cê não é a minha mãe!

JOANA: Eu nunca fui e nunca vou querer pegar esse posto, porque é complicado demais ter que ser a sua responsável, imagina no tratamento de mãe?

VALENTIN: (chora) Você acha que a nossa mãe estaria orgulhosa da gente? Eu, problemático... você, uma traíra... enganou a melhor amiga, enganou o irmão... acha que aonde ela estiver, ainda está do nosso lado? O que nós nos tornamos, Joana?

Joana se emociona com o que ouve. Entrando na cozinha, segurando algumas peças de roupas, Inês vai até eles.

VALENTIN: Eu já não disse pra/

JOANA: (corta/grita) CALA A BOCA!! Ela está te ajudando, você não consegue ver?

INÊS: Desculpa, mas eu acho que só estou interrompendo vocês... eu não faço parte disso.

VALENTIN: (ri) Não faz mesmo!

JOANA: Eu já disse pra você/

Joana é interrompida ao ouvir um alto barulho de algo se quebrando, bruscamente. Todos assustados, Inês vai até o portal da cozinha, olhando para o outro cômodo.

Fade In - Instrumental, Ação.

INÊS: (apavorada) Meu Deus, é o Laerte... ele arrombou a porta!!

JOANA: (agitada) Tranca a porta da cozinha, rápido!!

Pronta para fechar, Inês tenta trancar, mas Laerte consegue ser mais rápido, dando um forte chute na porta, fazendo com que ela se abra novamente. Com o impacto, Inês bate o corpo com força na parede, caindo no chão, dolorida.

JOANA: (espantada) O que cê tá fazendo, Laerte? O que é isso?

LAERTE: (berra/possesso) EU VOU MATAR O SEU IRMÃO... EU VOU MATAR O VALENTIN!!

Indo com tudo para cima de Valentin, Joana entra na frente, na intenção de proteger seu irmão, que se levanta, ficando nas costas de Joana, dando pequenos passos para trás.

JOANA: Se você for fazer alguma coisa com ele, vai ter que passar por cima de mim!!

LAERTE: Eu te pedi pra esconder bem o dossiê, pra não deixar esse esquizofrênico chegar perto... ele destruiu a minha vida! (pérfido) Então é só passando por cima? Com todo o prazer!!

Laerte acerta um forte soco no rosto de Joana, fazendo a mesma cair no chão, com o nariz sangrando, acovardada.

VALENTIN: (amedrontado) Não chega perto... não chega perto de mim!!

Partindo pra cima de Valentin, Laerte joga seu corpo sobre o dele, lhe segurando na bancada.
Puxando Valentin, derrubando os utensílios da cozinha no chão, Laerte também faz com que Valentin caia, ficando sobre seu corpo.

LAERTE: (transtornado) Isso vai ser pela burrada e a merda que você tá me fazendo passar... seu anormal, desgraçado!!

Acertando um soco em Valentin, Laerte acerta outro em seguida, o deixando ainda mais zonzo, atordoado.

Inês arrastejando pelo chão, chega até Joana, machucada.

INÊS: (apavorada) Ele vai matar o Valentin, ele vai matar o Valentin!!

Joana continua atordoada com o soco, se recompondo.

A imagem volta novamente para os dois, que se atracam pelo chão. Valentin tenta se defender, mas Laerte é mais forte, o mantendo no chão. Os dois estão rodeados pelos utensílios da cozinha espalhados.

VALENTIN: (ri) Gostou do meu presente? Foi especialmente pra você!

Completamente irado, Laerte acerta mais um soco em Valentin.

Surrando o garoto, deixando seu rosto todo ensanguentado, machucado, Laerte continua, insaciável. Pronto para dar mais um soco, ele não parcebe, ao fundo, Joana se levantando, segurando uma tábua de cortar carne. Com força, Joana acerta em cheio a cabeça de Laerte, caindo para trás, com a nuca sangrando.

JOANA: (ofegante) Como eu disse, só por cima de mim!!

Desnorteado, Laerte coloca as mãos na cabeça, confuso.

Joana e Inês aproveitam, indo até Valentin, debilitado.

INÊS: (chora) Ele tá muito machucado... ele pode morrer!!

JOANA: (agitada) Chama a ambulância, a polícia, qualquer coisa, rápido!!

Inês se levanta, saindo rapidamente da cozinha, assustada.

JOANA: Eu tô aqui, Valentin, não fecha os olhos... sua irmã tá aqui!

Agora, ao fundo, conseguindo se levantar, Laerte puxa Joana pelos cabelos, que grita de dor, jogando-a para o outro lado da cozinha.

LAERTE: (transtornado) Então vai você primeiro!!

Sobre Joana, Laerte a imobiliza no chão, colocando suas mãos em seu pescoço, enforcando, firme.

LAERTE: (grita) EU PENSEI QUE PODERÍAMOS FICAR JUNTOS, COMO ANTES... MAS A CULPA DISSO NÃO ACONTECER, É DO SEU MALDITO IRMÃO!!

JOANA: (ficando roxa/sem ar) Me solta... me solta... socorro!!

Perdendo os sentidos, totalmente sem ar, Joana aos poucos vai fechando os olhos, morrendo. Insaciável, Laerte continua, mas estranha ao ver Joana, mostrando suas últimas forças, arregalando os olhos.

Valentin, atrás, segurando uma enorme faca na mão, trêmulo. Com toda sua força, Valentin crava a faca nas costas de Laerte, surpreso, sem reação. Retirando a faca, Valentin crava mais uma vez, agora com mais força, fazendo com que Laerte cuspa o sangue pela boca.

Close em Inês, aparecendo na porta da cozinha, perplexa.

INÊS: (berra) VALENTIN!!

Valentin observa o corpo de Laerte caindo instantaneamente ao chão, com a faca cravada em suas costas. Em seguida, Valentin também cai.

A imagem fica ampla, mostrando Valentin, desacordado, Inês apavorada, Joana ofegante, sem ar, ao lado do corpo de Laerte, que a essa altura, o seu sangue rodeado em sua volta, com a faca ainda cravada nas suas costas, com seus olhos arregalados, vazios, sem vida.

A cena se silencia e desvanece aos poucos no olhar profundo de Laerte.

Fade Out - Instrumental, Ação.

CENA 05 / ENTRADA - CASA DE JOANA / EXTERNA / MADRUGADA /

Fade In - Instrumental, Tensão.

Vários carros de polícia chegam a rua da casa de Joana. Muito clima, sirenes, freadas bruscas ao chegar, muitos policiais saltando apressados dos carros, clima de grande operação policial. Várias outras pessoas na rua, vizinhos curiosos, com a atenção alta sobre o que está rolando.

O corpo de Laerte é recolhido pelo saco preto, sendo levado.

No portão da casa, uma ao lado da outra, Inês e Joana se consolam, aterrorizadas.

O desespero de ambas se intensificam ao ver Valentin, saindo pela porta de entrada, ao lado de outros dois policiais, algemado.

Com dificuldades de se locomover, ele é empurrado por um dos policiais.

JOANA: (grita/preocupada) CUIDADO COM ELE... ELE TÁ MACHUCADO!!

Sendo levando diretamente para o camburão, Valentin ao entrar, olha diretamente para Joana e Inês, chorando. Não conseguindo se manter, ele também derruba algumas lágrimas, lacrimejando. A porta do camburão é batida com força.

O camburão dá partida, os outros carros da polícia se dispersam, os curiosos também.

Vendo o irmão se distanciar, Joana abraça Inês, que também não consegue se segurar, emocionada. As duas choram intensamente neste abraço, enquanto os policiais se distanciam, ficando sozinhas, inertes.

ABERTURA:

CENA 06 / PLANOS GERAIS / EXTERNAS / NOITE - DIA /

Fade In - Killing Me Softly With His Song, Fugees.

A madrugada de São Paulo passa agilizada por bares, restaurantes, comércios ainda abertos.

Dia seguinte, amanhece. Passam-se imagens curtas dos pontos turísticos da capital, completamente em movimento. Avenidas congestionadas, ruas lotadas. Tempo nublado.

Close na fachada da mansão Rodríguez.

Corte para:

CENA 07 / MANSÃO RODRÍGUEZ / QUARTO PRINCIPAL / INT. / MANHÃ /

Acordada, mas com todo o quarto fechado, escuro, Liz, deitada, olha para cima, respirando fundo, mexida.

A porta de seu quarto é batida, Iara entra, agitada.

IARA: (aflita) Dona Liz, aconteceu uma tragédia!

Fade Out - Killing Me Softly With His Song, Fugees.

Liz imediatamente se levanta, tensa.

LIZ: (estranha) Do que cê tá falando?

IARA: (apreensiva) A minha filha, a Inês, ela me ligou agora, dizendo que... ela presenciou tudo, dona Liz. Ela viu acontecer tudo. A coitada não tá se aguentando de tanto pavor!

LIZ: Fala, Iara! Cê tá me assustando...

IARA: Liga a tv que a senhora vai ver, tá em todos os jornais, uma loucura!

Pegando o controle da televisão na escrivaninha, Liz liga a do quarto, logo no jornal da manhã. Close no repórter em off, noticiando.

REPÓRTER: (off) ...não se sabe ao certo de como a vítima e o assassino chegaram a vias de fato, terminando na morte do renomado produtor e empresário musical, Laerte Rodríguez, mas tudo indica que seja por causa de Joana Lacerda, a ex-amante de Laerte Rodríguez. Valentin, o assassino, irmão de Joana Lacerda, foi encaminhado para o 89° Distrito Policial, onde ele será mantido até segundas ordens. (T) Voltaremos com mais notícias dentro de/

A televisão é delisgada. Close em Liz, em choque, boquiaberta.

LIZ: (pasma) Meu Deus, o Laerte tá morto... o que tá acontecendo, meu Deus?!

IARA: A Inês me disse que ele chegou lá, agredindo todo mundo, até a minha filha. Esse Valentin salvou eles, o Laerte queria matar todos ali.

Continuando sem acreditar, Liz anda de um lado para o outro, tensa.

LIZ: Em um dia ele iria salvar minha vida, no outro ele está morto?! (T) A minha mãe já viu isso?

IARA: Dona Gláucia não está, saiu cedo, nem tomou café, tava apressada, mas certeza que ela ainda não sabe.

LIZ: Ela disse pra onde iria?

IARA: Não senhora. A sua irmã também não está, mas essa saiu bem cedo mesmo, com mala e tudo!

LIZ: (intrigada) Como assim?

IARA: As roupas, tudo o que ela trouxe, não está mais no armário, ela levou tudo!

LIZ: (nervosa) Eu não acredito que a Esther fez isso. Aquela desgraçada me enganou! Ela só pode ter ir pra um lugar... atrás da Malu!

Corte rápido para:

CENA 08 / MANSÃO MARINHO / SALA DE ESTAR / INT. / MANHÃ /

Abrindo a porta de entrada, André logo se depara com Esther, segurando uma mala. Ambos desfazem os sorrisos.

ESTHER: (intrigada) Você já estava aqui?

ANDRÉ: Cheguei ontem de noite, por quê? Tá com ciúmes?

ESTHER: (ri) Eu lá sou mulher de ter ciúmes de um cara como você? Se enxerga! (T) Da pra sair da minha frente, que eu quero entrar?!

Se afastando, André fecha a porta, enquanto Esther adentra a mansão.

Chegando no cômodo, se deparando com Esther, Malu vai até a mesma, lhe dando um longo e forte abraço.

ESTHER: Eu voltei, Malu... voltei pra ficar!

MALU: Eu te disse que seria por pouco tempo, não disse? Agora as coisas vão voltar ao normal, a nossa vida vai ser como sonhamos!

O telefone da mansão toca, Malu atende.

MALU: (tel.) Pois não? (estranha) Inês? Não era pra você já estar aqui?! (perplexa) Como é que é? Cê tá falando sério? (T) Não, tudo bem, você pode vir mais tarde. (T) Tá certo.

Malu coloca o telefone de volta para o gancho.

ESTHER: O que aconteceu, Malu?

ANDRÉ: Não vai me dizer que já deu merda, cretina...

MALU: (confusa) O Laerte morreu... assassinado!

Fade In - Money, Cardi B.

ESTHER: (espanta) Ele tá morto?

ANDRÉ: Quem matou ele?

MALU: O Valentin... esse garoto me salvou mais uma vez! (comemora) O Laerte tá morto!! O desgraçado agora tá queimando no inferno!

Gargalhando, comemorando a morte de Laerte, Malu pega uma das papeladas sobre a mesa, rasgando-a completamente, deixando em picadinhos.

ANDRÉ: O que cê tá fazendo, cretina? Esse não é o papel do divórcio?

MALU: Divórcio? Pra que divórcio? Agora eu sou viúva, meu amor. E a viúva aqui, é a única herdeira de tudo o que o Laerte conseguiu. A Gravadora já está no meu nome, mas o resto agora é tudo meu!! MEU!!

André se aproxima de Malu, lhe dando um beijo ardente, ambos animados com a morte de Laerte. Esther observa, séria.

MALU: Tudo nosso, meu cretino, tudo nosso!

Eles se divertem, trocando amassos, ainda sobre olhares nada amigáveis de Esther.

Fade Out - Money, Cardi B.

Corte rápido para:

CENA 09 / GRAVADORA RODRÍGUEZ / RECEPÇÃO / INT. / TARDE /

O elevador se abre, Liz sai, visivelmente abalada, ela vê Otávio, Giovani e Bruna, na recepção, ambos apreensivos.

Ao chegar até eles Liz dá um forte abraço em Otávio, que retribui.

LIZ: Foi um sacrifício conseguir entrar no prédio, ao lado de fora da infestado de repórter. O que tá acontecendo?

GIOVANI: Eu não tô nem acreditando que o Laerte morreu... isso é loucura!

BRUNA: Tô toda arrepiada, quando eu soube, nem acreditei, tá em todos os jornais, um bafafá.

OTÁVIO: Não é possível que tudo isso tá rolando de uma vez só, tá insano demais. Nem sei qual vai ser o fim dessa Gravadora...

GIOVANI: Com certeza o Laerte pensou nisso antes, ele deve ter feito alguma procuração, deixando no nome de alguém, sei lá, isso era a vida dele!

LIZ: (aflita) Eu só espero, de verdade, que ele não tenha feito mais burradas e acabado com toda a Gravadora, porque disso tudo, só me vem uma pessoa na cabeça...

Fazendo um pequeno barulho, a porta do elevador novamente se abre, agora, os quatro olhando para o mesmo lugar, vendo Malu, toda de preto, de luto, adentrando a recepção.

Fade In - Midnigth Sky, Miley Cyrus.

Ela se aproxima de todos, sorrindo.

OTÁVIO: Pra quem acabou de perder o marido, ficando viúva, tá arrumando motivos demais pra sorrir, não acha?

LIZ: Essa é a verdadeira Malu Marinho, que não tem absolutamente sentimento nenhum, por ninguém!

Malu continua sorrindo, ironizando Otávio, que fica incomodado.

OTÁVIO: (sério) Da pra falar o que você quer, e parar com esse cinsimo?

MALU: (debocha) Nossa, que homem viril, decidido. Parabéns, Liz, grande escolha, dessa vez você acertou.

GIOVANI: Gente, sério, sem brigas, hoje não é dia pra isso.

MALU: Tem razão, eu tô fora de qualquer encrenca, pelo menos hoje. (T) Como podem ver, tô abalada com a morte do meu marido, pensei seriamente se valeria a pena vir aqui hoje, porque eu não tô bem.

LIZ: Conta outra, você só tá enrolando pra falar o motivo que te trouxe aqui.

MALU: Calma Liz, que afobação é essa? Eu vou chegar lá! (T) Bom, retomando aonde eu estava... eu soube pela boca da minha empregada a morte do Laerte. (força um choro) O meu marido, que sempre me apoiou, lutou por mim, pelas minhas causas, morrer tão cedo, tão jovem... é difícil demais pra mim, é complicado ser viúva e ter que assumir tudo o que o marido deixou... honrar as conquistas dele, fazer acontecer novamente.

LIZ: (surpresa) Do que cê tá falando?

MALU: (limpando as lágrimas/firme) Partir de hoje, eu irei assumir a Gravadora como a única dona, com tudo no meu nome, fazendo do jeito certo. Agora, a Gravadora Rodríguez é de minha propriedade!!

Todos ficam chocados com a revelação de Malu, confusos.

Fade Out - Midnigth Sky, Miley Cyrus.

Corte para:

CENA 10 / CLÍNICA LABORATORIAL / RECEPÇÃO / INT. / TARDE /

Entrando em uma das clínicas, Gláucia se dirige até a recepção, falando diretamente com a recepcionista.

GLÁUCIA: Bom dia... melhor, boa tarde. Me ligaram ontem dizendo que o resultado de um exame que direcionei pra cá, estava pronto.

RECEPCIONISTA: Boa tarde! Qual o seu nome, por favor?

GLÁUCIA: É Gláucia Mattos.

A recepcionista verifica no computador, olhando pelos arquivos.

RECEPCIONISTA: Sim senhora, dona Gláucia, o resultado do exame está pronto. DNA, não é?

GLÁUCIA: Isso!

Se levantando, indo até em um dos armários, a recepcionista pega uma das pastas, retirando um envelope, entregando para Gláucia.

RECEPCIONISTA: A senhora vai pagar no dinheiro ou cartão?

Apenas concentrada no exame, fixada, Gláucia abre sua bolsa, entregando um algumas notas de cem.

GLÁUCIA: Pode ficar com o troco! Com licença...

Gláucia sai imediatamente da clínica, apressada.

CORTA P/ SAÍDA (EXTERNA): Agilizada, ao lado de fora, Gláucia abre com pressa o resultado do exame. Passando o olho por tudo, lendo apenas o essencial, Gláucia respira fundo, ofegante com o resultado.

GLÁUCIA: Negativo... (nervosa) Aquela garota dentro de casa não é irmã da Liz. Então, ela não pode ser a verdadeira Esther Brandão... (boquiaberta) Meu Deus, como eu não pensei nisso antes? Malu é a Esther!!

Corte rápido para:

CENA 11 / GRAVADORA RODRÍGUEZ / RECEPÇÃO / INT. / TARDE /

Continuação imediata do momento em que Malu revela ser a nova dona da Gravadora Rodríguez.

Fade In - Back to Black, Amy Winehouse.

LIZ: (pasma) Você é a dona? Isso só pode ser mentira. Eu tenho certeza que o Laerte fez um documento contratual, deixando a Gravadora fora desse casamento, porque ele sabia quem era você de verdade. Esse é o bem mais precioso dele, ele não iria te entregar de mãos beijadas.

MALU: Era o bem mais precioso, já não é mais. Você acha mesmo que eu seria capaz de mentir uma coisa dessas? (pegando uma papelada da bolsa) Tá aqui o documento, com a assinatura do próprio, onde ele repassa todas as ações para o meu nome!

Nervosa, pegando a papelada, Liz entrega para Otávio, que verifica. Malu espera, sorrindo.

OTÁVIO: Ela tem razão, a Gravadora tá no nome dela. O Laerte assinou!

BRUNA: Meu Deus...

MALU: Mas pode ficar tranquila, Liz, eu vou fazer os desejos dele, porque não vou desapontar um gesto de carinho como esse. A Gravadora vai voltar a subir, voltar para o patamar que ela não deveria ter saído.

LIZ: (firme) Mas vai ser sem mim. Eu encerro o resto do contrato que eu tinha aqui. Eu estou indo embora, ela é toda sua!

MALU: (cínica) Tem certeza disso? Duvido que a multa seja pouca, e eu farei questão que você pague centavo por centavo.

OTÁVIO: Não só ela que vai ter que pagar... eu também me demito!

MALU: (ri) Mais um? Quem é o próximo?

GIOVANI: Eu! Não tem clima pra ficar mais aqui, pra trabalhar. Sinto muito, mas eu vou deixar meu cargo dessa Gravadora.

MALU: (berra/irritada) ESTÃO ESPERANDO O QUE ENTÃO? MAIS LAMENTAÇÕES? PRA FORA, AGORA!! RUA!!

LIZ: Essa gravadora vai pro limbo... e você vai junto e eu vou ajudar a empurrar ainda mais pra baixo.

Juntos, os três sai, pelas escadas, distanciando da recepção, saindo do andar da Gravadora, onde permanece Malu e Bruna.

MALU: (p/Bruna) Viu só? Ninguém te deu a mínima, estão pouco se lixando pra você, nem se ofereceram a te levar junto. Mas se quiser ir com eles, aproveita, aposto que estão descendo ainda.

BRUNA: (cabisbaixa) Eu não posso, não tô com a vida ganha... vou ter que continuar aqui!

MALU: Ótimo, vai ganhar um aumento por isso. (raivosa) Eles pensam que são tão importantes aqui, mas eu vou mostrar pra todo mundo que eu sou capaz de reerguer... pode apostar!!

Fade Out - Back to Black, Amy Winehouse.

Corte para:

CENA 12 / DELEGACIA "89° DISTRITO" / ENTRADA / EXT. / TARDE /

Fade In - Listen, Beyoncé.

Pronta para entrar na delegacia, ao lado Inês, Joana para, ficando na sua frente. Close em seu pescoço marcado com as mãos de Laerte.

JOANA: Obrigada por ter me acompanhado aqui, mas eu acho melhor falar sozinha com ele... e também não vão te deixar entrar.

INÊS: Mas eu queria ver como ele tá. Eu não vou sossegar até saber se ele tá bem, como ele tá passando aí...

JOANA: Ei, ei, ei, calma, eu vou te falar. Prometo que na hora que eu tiver notícias, eu te ligo. Obrigada por se importar.

INÊS: (marejada) Eu amo o Valentin...

JOANA: E ele também te ama, acredite!

As duas se despede, com um abraço confortável, emocionadas.

Fade Out - Listen, Beyoncé.

Corte rápido para:

CENA 13 / DELEGACIA "89° DISTRITO" / SALA DA DELEGADA / INT. / TARDE /

Sentada de frente para a Delegada Sheila (Flávia Alessandra, 46 anos), Joana fica impaciente com a reclusa da mesma.

JOANA: (nervosa) Como assim eu não posso ver o meu irmão, delegada? Se a senhora não sabe, ele passa por cuidados médicos, ele precisa de alguns medicamentos, ele é frágil, ele precisa de mim!

DELEGADA SHEILA: Senhora, por favor, não precisa se exaltar. Já estamos cientes do cuidado que o seu irmão deve ter, por isso não achamos apropriado uma visita da senhora, pra uma pessoa instável com ele.

JOANA: Não acham apropriado? Eu sou irmã dele, ele tem que me ver, tem que saber que está tudo bem! Eu vou ou não falar com o Valentin?!

Fade In - Instrumental, Tensão.

DELEGADA SHEILA: Tudo bem, a senhora está no seu direito. Como também está no direito de saber que o seu irmão não ficará muito tempo aqui em custódia, ele será transferido para uma penitenciária, onde ficará até segundas ordens. Sugiro a senhora contrate um advogado o mais rápido possível!

JOANA: (em choque) O Valentin... no presídio?!

Corte rápido para:

CENA 14 / MANSÃO MARINHO / COZINHA / INT. / TARDE /

Uniformizada, de avental, Inês fica desconcentrada com seus afazeres, visivelmente abalada, com os olhos lacrimenjando.

Ao fundo, é possível ver André se aproximando. Ao perceber a aproximação de André, Inês se afasta.

INÊS: Por favor, não chega perto, eu não quero.

ANDRÉ: Do que cê tá falando?

INÊS: Eu não quero repetir o erro que a gente cometeu.

Pronta para entrar na cozinha, mas percebendo de longe a conversa tensa, Esther para, ficando contra a parede, ouvindo a conversa em off.

ANDRÉ: Não é nada disso, pode ficar tranquila, não vai rolar mais. Cê tem razão, foi um erro... por isso eu te peço pra você não contar nada pra Malu, ela não precisa saber que tivemos um caso aqui. Eu amo aquela cretina, eu não posso perder ela!

Close em Esther, surpresa com a revelação, escondida.

INÊS: Eu não vou contar, não teria o porquê contar uma coisa dessas, porque já passou, eu não sinto mais vontade. (chora) A única coisa agora que eu queira, era poder gritar, berrar, ficar ao lado do homem que eu amo... eu sinto que ele precisa de mim...

ANDRÉ: Eu soube por alto pelo o que você tá passando. Não sei nem porque a Malu te mandou vir hoje, mas se quiser ir embora, pode ir.

INÊS: Melhor não, prefiro ficar aqui, distraindo a cabeça.

ANDRÉ: Você quem sabe... fique bem!!

André sorri para Inês, que limpa suas lágrimas.

Esther percebe que André está para sair da cozinha, então ela sai de trás da parede sorrateiramente, sem que ele lhe veja.

Corte rápido para:

CENA 15 / GRAVADORA RODRÍGUEZ / SALA PRINCIPAL / INT. / TARDE /

De frente para o computador, olhando algumas coisas, Malu vê a porta da sala se abrindo. Bruna entra, segurando várias pastas.

BRUNA: Com licença, eu trouxe as procurações que a senhora pediu.

Bruna coloca as pastas sobre a mesa de Malu.

MALU: Espera aí que eu quero falar com você. (T) Eu estava olhando aqui os financiamentos da Gravadora, e tá mostrando o saldo no vermelho, negativo. (virando a tela do computador para Bruna) Era por aqui que o Laerte acessava ou tinha outro lugar?

BRUNA: (olhando) Era por aí mesmo... e pelo visto, tá realmente em baixa.

MALU: Aonde foi parar esse dinheiro? Eu investi grana aqui! Precisamos de funcionários o mais rápido possível, novas vozes, tudo! Vamos ter que relançar essa Gravadora no mercado musical!

BRUNA: Claro, mas só tem um problema: como a senhora tá vendo, o saldo tá negativo, então a Gravadora não tem caixa.

MALU: Não vamos ganhar muito com a multa que os três patetas, Liz, Otávio e Giovani vão ter que pagar?

BRUNA: Pelo olhar financeiro, vai ser uma boa grana, mas pelo olhar da Gravadora, não será nem 1% do que precisamos. É muito pouco, dona Malu.

MALU: (rude) Você tá me dizendo que essa merda de Gravadora está falida?

BRUNA: Provavelmente os investidores pularam foram depois que souber da morte do Laerte. Talvez não tinham confiança em qualquer um que fosse assumir, por isso esse saldo baixo... se a senhora não conseguir algum investimento rápido, então a resposta é sim... a Gravadora está falida!!

MALU: (berra) DESGRAÇADO!!

Transtornada, Malu joga a tela do computador no chão. Assustada, Bruna se afasta, vendo Malu, destruindo tudo sobre a mesa, derrubando ao chão, possessa.

MALU: (ofegante) O que eu vou fazer? Essa merda tá no meu nome... eu não posso falir junto com a Gravadora!

Fade Out - Instrumental, Tensão.

Corte para:

CENA 16 / DELEGACIA "89° DISTRITO" / INT. / TARDE /

Andando lentamente pelas celas, assustada, Joana vê de longe, Valentin, na última cela, sozinho, sentado no chão, em posição fetal. Ela rapidamente se aproxima, ele vê sua chegada, ignorando.

JOANA: (agitada) Valentin, você tá bem? Te trataram bem? Eles fizeram alguma coisa com você? Almoçou? Comeu alguma coisa? Eles trataram do seu machucado?

Levantando a cabeça, com os olhos marejados, inchados, Valentin encara sua irmã, agaixada, apavorada.

VALENTIN: Eu não deveria ter feito o que eu fiz... eu sou um assassino!

Fade In - Instrumental, Melancolia.

JOANA: (por cima) NÃO! Nunca mais diga isso. Você pode ser tudo, menos um assassino. Você salvou a minha vida, salvou a vida da Inês.

VALENTIN: Eu fui um idiota com ela, não fui?

JOANA: Foi, mas não é hora de lamentar. Ela veio comigo até aqui, queria te ver, mas é impossível. Ela tá preocupada, ela quer você, meu irmão!

VALENTIN: A Inês não merece alguém como eu... por favor, fala pra ela me esquecer, pra seguir a vida dela!

JOANA: Eu não vou fazer isso.

VALENTIN: (incisivo) Você vai! Ela não precisa ficar me esperando, parando a vida dela por mim. Eu estou falando sério Joana, deixa a Inês em paz, deixe a Inês longe de mim!

JOANA: (marejada) Se isso é o melhor para os dois...

VALENTIN: (chora) Eu fiquei pensando, é a segunda morte que eu causo. A primeira, foi da nossa mãe... indiretamente, eu a matei!

FLASHBACK ON:

Continuação de uma discussão frenética entre Valentin (16 anos) e sua mãe, na rua.

MÃE: (incisiva) Você não pode destruir a sua vida por causa de drogas, Valentin. Eu sou sua mãe, eu exijo saber!!

VALENTIN: Você nunca confiou em mim, mãe. Vai mudar alguma coisa se eu disser que não? Que eu nunca usei?

MÃE: Eu te amo, Valentin... mas a cada dia você me faz repensar se eu realmente sou uma mãe boa... 

VALENTIN: (rude) Você é uma péssima mãe. Eu odeio você, odeio!! 

Se afastando de sua mãe, atravessando a rua, Valentin não olha para trás. Decidida, sua mãe resolve ir atrás. 

MÃE: (chora) Não faz isso, filho, volta pra mim... volta pra sua mãe! 

Atravessando a rua, sem olhar para os lados, chegando perto do outro lado, a mãe de Valentin só consegue ouvir um alto barulho de buzina. Virando-se, sem ter a chance de reagir, um ônibus em alta velocidade a acerta com força, lhe atropelando. 

Close em Valentin, do outro lado da rua, com os olhos arregalados, presenciando o exato momento da morte de sua mãe. 

FLASHBACK OFF.

A imagem se transcende de volta para o presente, com o mesmo olhar de Valentin no flashback, arregalados, em prantos.

VALENTIN: (desesperado) E ela tinha razão... eu estava usando drogas, eu estava me destruindo e ela só queria me ajudar, mas eu não não deixava, eu fiz tudo acontecer... eu matei a nossa mãe! A culpa é toda minha!!

Chorando com o relato do irmão, Joana estica suas mãos, pegando na mão de Valentin.

JOANA: (chora) Por isso você ficou assim?

Concordando com a cabeça, Joana faz com que Valentin se levante. Os dois, de pé, se abraçam, mas sendo dificultados pela grande.

JOANA: Eu juro que eu nunca vou te deixar... eu sempre estarei ao seu lado, sempre!!

Valentin desaba no abraço de Joana, se deixando levar pelo momento.

Fade Out - Instrumental, Melancolia.

Corte para:

CENA 17 / MANSÃO MARINHO / SALA DE ESTAR / INT. / NOITE /

Enfurecida, Malu bate a porta com força ao entrar. Momento em que André, enrolado em um roupão e Esther, descendo as escadas, se aproximam de Malu, estranhando sua agressividade.

ANDRÉ: O que aconteceu, cretina?

MALU: (nervosa) Eu achei que tava com a vida ganha com a Gravadora no meu nome, mas na verdade, ela está falida!!

ESTHER: (confusa) Meu Deus, mas como isso pôde acontecer?

MALU: O desgraçado do Laerte tá no inferno, mas ainda sim, o nome dele era muito importante. Todos os investidores pularam fora, e levaram todo o dinheiro com eles. Eu tô ferrada!!

Saindo da cozinha, de roupas trocadas, Inês passa por eles, séria, sem demonstrar reação.

INÊS: Com licença, eu já estou indo embora, só vim te falar que a senhora tem visita, dona Malu.

MALU: Seja quem for, mande embora, eu não quero ninguém aqui!

INÊS: Sinto muito, mas eu já a mandei entrar.

Estranhando a audácia de Inês, Malu observa a mesma indo até a porta de entrada, abrindo. Close em Gláucia, ao lado de fora, adentrando ao local.

MALU: (intrigada) O que cê tá fazendo aqui, eu posso saber?

Fade In - Instrumental, Suspense.

Gláucia olha para o lado, vendo Esther na escada, que sobe rapidamente, tentando se esconder.

GLÁUCIA: Pode falar pra sua comparsa que eu a vi, que não precisa se esconder.

Esther desce novamente as escadas, se aproximando. Inês aproveita, indo embora.

ESTHER: (cínica) Que surpresa a senhora aqui  dona Gláucia? Veio me visitar?

GLÁUCIA: Guarde o seu cinismo pra você, que a minha conversa hoje é com ela.

Gláucia aponta para Malu.

MALU: Eu não tenho nada pra conversar com você!

GLÁUCIA: Mas eu tenho muito pra te falar. Só que sozinhas, sem ninguém. Vai me ouvir ou não?

Malu encara Gláucia, que encara Esther. André percebe a tensão de todos presentes.

Corte rápido para:

CENA 18 / MANSÃO MARINHO / ESCRITÓRIO / INT. / NOITE /

Gláucia entra no escritório, Malu vem atrás, fechando a porta ao entrar.

MALU: Pode falar, estamos a sós.

GLÁUCIA: É impressionante como você consegue fazer as pessoas caírem no seu jogo. A Liz, o Laerte, aqueles dois lá fora, agora eu... todos caíram nessa sua jogada.

MALU: Pode ser mais clara?

GLÁUCIA: Eu tentei não acreditar, fingi que não podia ser real, mas alguma coisa não encaixava. Eu achava que aquela garota que você enfiou na minha casa, era a mente por trás disso tudo, que a Esther te manipulava pra se virar contra a Liz.

MALU: (ri) Ah, você pensou isso?

GLÁUCIA: É, pensei. Mas até que eu não estou tão errada não. A Esther realmente é a mentora por trás de tudo isso.

Abrindo sua bolsa, Gláucia retira o mesmo exame pego, mostrando para Malu.

GLÁUCIA: Eu já estava desconfiada, mas agora eu tenho certeza. Peguei uma garrafa d'água da sua amiguinha, que ela própria me ofereceu, e fiz uma teste de DNA.

MALU: (amedrontada) Você fez/

GLÁUCIA: (por cima/incisiva) Fiz!! Aquela garota não é irmã da Liz, você que é a filha de Alexandre. Você que é Esther Brandão!!

A câmera fixa em Gláucia, revelando saber a verdade de que Malu é a verdadeira Esther, congelada em tom amarelo em um disco de vinil, ao som de: "Money, Cardi B."



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