DIVERGENTES

Novela de Raffa Lins

CAPÍTULO 18

CENA 01 / CASA DE CARLA / SALA / INT. / TARDE /

Chegando em casa, Carla se senta ao lado de Lurdinha.

LURDINHA: Chegou cedo hoje.

CARLA: Eu só fui mesmo pra dar uma pequena geral, nem era o meu dia. (T) Mas, aconteceu uma coisa...

LURDINHA: Que coisa?

CARLA: Eu e o Mauro nos beijamos.

LURDINHA: (Surpresa) Tá falando sério? Como assim?

CARLA: Claro que é sério, e a iniciativa foi minha. (T) Eu tava agradecendo ele pela oportunidade pro Renan, o clima rolou, e eu me aproximei dele, pronto pra beijar. Aconteceu.

LURDINHA: Você beijou ele por estar sentindo algo, ou foi por vingança por causa da Lívia?

CARLA: Eu tô confusa, Lurdinha. Eu sempre achei ele atraente, mas nunca imaginei que pudesse acontecer algo com a gente. Mas na hora do beijo, eu nem pensei na Lívia, eu/

Carla é interrompida ao ouvir batidas em seu portão.

CARLA: Já volto.

Se levantando, Carla vai indo para fora de casa, em direção ao portão. Ao abrir, Carla se depara com Mauro, com um buquê de flores e uma caixa de chocolates na mão.

CARLA: (Estranha) Mauro?!

MAURO: (Descontraído) É, eu sei. Cê deve tá pensando: "O que esse louco tá fazendo no meu portão com flores e chocolates." Mas eu te digo, isso é gesto de um homem apaixonado. (T) Apaixonado por você, Carla!

Close em Carla, sem reação com a declaração de Mauro.

Corte rápido para:

CENA 02 / MANSÃO DUTRA / QUARTO / INT. / TARDE /
Imagens alternadas entre Lívia e Priscilla, conversando no celular.

LÍVIA: (Cel/Cont.) Eu não entendi muito bem, mas eu estranhei muito. Na hora que eu cheguei, os dois ficaram de um jeito estranho, como se estivessem escondendo algo. Bobos.

PRISCILLA: (Cel) Desconfia de algo?

LÍVIA: Não sei, mas seja o que for, não é nada que me envolva, tá claro.

PRISCILLA: Como não, Lívia? É a sua mãe, com o seu namorado, que não sabe que é sua mãe, na cozinha, de um jeito estranho. Abre seu olho, biscate, coisa boa não é!

Close no rosto de Lívia, pensativa.

Corte para:

CENA 03 / MANSÃO VASCONCELLOS / ÁREA EXTERNA / TARDE /
Lendo alguns gibis, sentado em um balcão, Daniel é surpreendido por Sidney, em suas costas.

DANIEL: Oi, pai.

SIDNEY: E agora, vai me falar o que aconteceu?!

DANIEL: Vou, mas o senhor promete não falar pra mamãe?

SIDNEY: Prometo. Agora, fala!

DANIEL: (Cabisbaixo) A minha luva tava cheia de sangue, porque eu matei... uma pombinha. (T) Eu estava brincando, e acertei uma pedrada nela, aí eu fui ver como ela tava, e peguei ela nas mãos, com a luva, por isso...

SIDNEY: (Sério) É verdade isso? (T) Então, pra que todo esse aue e medo de falar, Dan?

DANIEL: Eu tive medo de você e da mamãe me xingar, já que a luva foi a vovó que deu, e eu não queria jogar ela fora.

Compreensivo, Sidney abraça Daniel, o confortando.

SIDNEY: Ô filho, era por causa da sua avó? Tem tantas outras coisas que ela te deu. Não precisava ficar assim...

Nos braços de seu pai, Daniel fica sério, após mentir.

Corte rápido para:

CENA 04 / CASA DE CARLA / PORTÃO / INT. / TARDE /

Continuação da cena 01, onde ainda sem palavras com a declaração de Mauro, Carla fica sem jeito na sua frente, pegando o buquê de flores e o chocolate.

CARLA: (Emocionada) Nossa, eu não sei o que dizer, Mauro. Eu pensei que foi apenas um beijo pra você.

MAURO: Não, isso nunca será. Sabe desde quando eu sonhei por um beijo seu, pelo toque das suas mãos, seu cheiro perto de mim... Quando eu vi que você ficaria na minha casa, mas não como minha mulher.

CARLA: (Emocionada) Eu te adoro, Mauro, sabe disso. Mas agora, tá comprometido. Por que você não veio atrás de mim quando teve a oportunidade?

MAURO: (Olhos marejados) Eu tive medo, não de ser rejeitado, mas por você talvez não sentir algo por mim, e forçar a barra. Eu misturei tanta coisa na minha cabeça, pensando amar a Lívia, só que o meu amor é você, Carla. Agora que vi que você tomou a iniciativa de me beijar, eu me sinto mais tranquilo em me abrir. Eu te amo, amo como nunca amei ninguém...

Emocionada, Carla abraça Mauro, que também se emociona.

MAURO: (Ri, limpando as lágrimas) Pode falar, que tá achando brega tudo isso, né? Flores e chocolate? De que ano eu sou?

CARLA: (Sem jeito) Para, é um gesto lindo que toda mulher sonha em receber.

MAURO: Então aceita, ser a mulher dos meus sonhos?

Carla demora um pouco pra responder, deixando Mauro apreensivo.

CARLA: (Respira fundo) Aceito... Eu também te amo, Mauro!

Aliviado ao ouvir as palavras de Carla, Mauro se aproxima, pronto pra lhe beijar, mas com as mãos, Carla afasta Mauro de si.

MAURO: Algum problema?

CARLA: Um problemão. Eu tô muito mal pela gente ter se beijado, sem você falar nada com a Lívia. Eu não fui traíra com a Simone, não serei com ela agora!

MAURO: Não, tá certo, eu termino com a Lívia.

CARLA: (Séria) Agora Mauro! Termine com ela agora, e eu serei sua...

MAURO: Então eu vou lá, rápido. Prometo te ligar hoje mesmo, e quero me encontrar com você, em um lugar especial.

CARLA: Estarei arrumada e pronta, pra viver ao seu lado!

Feliz, Mauro entra em seu carro, dando partida, saindo de frente da casa de Carla, buzinando. Close em Lurdinha, chegando ao portão, de cadeira de rodas.

LURDINHA: Eu não poderia deixar de ouvir essa linda história de vocês dois...

CARLA: Que feio, Lurdinha, isso não coisa de gente da sua idade.

LURDINHA: O que me espanta, é que era pra você estar feliz, contente, vibrando que o cara vai terminar o namoro com a sua filha, mas você só se importou em achar ruim eu ouvir a conversa. Sabe o que eu percebi, Carla? Tá fazendo isso pra Lívia se dar mal, não é?

CARLA: Tá louca? Eu sou mãe dela sim, mas usar os mesmos métodos que ela pra conseguir o que eu quero? Jamais!

LURDINHA: Mas cê acabou de fazer isso, amiga. Para de tentar não ver o óbvio. Ele vai terminar com ela, e vir direto para os seus braços. Precisa de mais o que pra dar o troco na Lívia?

CARLA: Enquanto cê olha por esse lado, eu olho pelo lado da história que eu quero construir com ele. E se isso pra você, é um troco pra Lívia, que ótimo, não foi nada planejado, como cê acha que tá sendo, mas eu vou achar muito que bem feito sim!

LURDINHA: Meus parabéns, nova Senhora Dutra!

Corte para:

CENA 05 / MANSÃO DUTRA / ÁREA EXTERNA / NOITE /

Fumando um cigarro, enquanto mexe no celular, Aline é surpreendida por Lívia.

LÍVIA: (Cínica) Passou o dia todo fora, não tava se drogando, né?

ALINE: Qual o seu problema, garota?

LÍVIA: O meu? Nenhum, até porque a drogada não sou eu. (T) Eu vou ser sua madrasta, quando me casar com seu pai, não acha que me deve respeito?

ALINE: (Rindo) Respeito? Faça o favor de parar de contar piadas uma hora dessa. Não é porque cê sabe das minhas coisas, que eu vou abanar o rabo, e correr pra você quando assobiar. (T) O que você disse mesmo? "Enquanto eu curtia a minha pequena vitória, você achava o meu lado prodre" mais ou menos isso, não era?

LÍVIA: Tá com a memória boa, pra uma drogada, isso me comove.

ALINE: Então, minha memória é ótima, por lembrar de tantas coisas, como de sua família, seus segredos... Não é só de mim que cê sabe das coisas não, meu bem.

LÍVIA: A diferença, é que com isso, cê acaba com o meu conto de fadas, e eu, acabo com essa vida boa de menina de papai rico, parando lá no presídio, no meio de mulheres iguais a você, só que pobres. (T) Sabe o que fazem com garotinhas viciadas, que vem de família com grana? Elas ameaçam, te encurrala, até tirar sua última gota de dinheiro. Coitado do Mauro, o filho ladrão, a filha presa, qual seria o orgulho do papai?

Rindo de Aline, a atenção de Lívia é desviada, ao ouvir a porta de entrada se fechando.

LÍVIA: (Debocha) É o seu pai, vamos lá dar um abraço nele? (T) Nossa, que cabeça a minha, pra ele, cê não fuma né? Uma dica: Escove os dentes, senão ficam amarelados, é bom não dar bandeira.

Lívia sai da área externa da casa, deixando Aline sozinha.

ALINE: (Nervosa) Vai pro inferno, desgraça!

Corte rápido para:

CENA 06 / MANSÃO VASCONCELLOS / BANHEIRO / INT. / NOITE /
Escovando os dentes, Daniel observa pelo vidro, a porta do banheiro se abrindo. Entrando lentamente, Luana se aproxima de Daniel, ainda escovando os dentes.

DANIEL: (Sério) O que cê quer agora?

LUANA: Conseguiu enrolar o papai?

DANIEL: Eu menti pra ele, mesmo sem querer. Eu nunca menti pro pai.

LUANA: Bom garoto, é assim que a gente cresce! (T) Sabia que é mentindo, que conseguimos as melhores coisas da vida?

DANIEL: Não, eu não sou mentiroso, eu não sou você. (T) Eu sou quero ficar bem, e que as coisas voltam ao normal...

LUANA: Então se contente com isso, sua vida nunca mais será normal!!

Corte rápido para:

CENA 07 / MANSÃO DUTRA / SALA / INT. / NOITE /

Chegando na sala, Lívia vai em direção a Mauro, na intenção de lhe dar um beijo. Mas ao tentar o beijar, Mauro vira o rosto, mostrando não querer. Lívia estranha a atitude de Mauro.

LÍVIA: (Nervosa) O que tá acontecendo, Mauro? Hoje mais cedo você agiu de forma estranha, agora tá negando um beijo da sua namorada?!

MAURO: (Sério) Lívia, nos precisamos conversar.

Percebendo a seriedade Mauro, Lívia começa a fingir falta de ar.

LÍVIA: (Ofegante) Pera aí, meu amor, minha vista ficou um pouco escura agora.

Preocupado, Mauro ajuda Lívia a se sentar ao sofá, cuidadosamente.

MAURO: Tá tudo bem? Cê quer algum remédio?

LÍVIA: (Sem ar) Eu não posso. O médico já disse que faz mal tomar remédios sem medicação durante a gravidez...

MAURO: (Surpreso) Como é que é?

LÍVIA: (Assutada) Ô meu Deus, eu te contei?

MAURO: Você tá...?

LÍVIA: (Emocionada) Sim, eu tô grávida Mauro. Nós vamos ser papais!!!

Incrédulo, Mauro fica sem palavras, diante da revelação de Lívia.

Corte rápido para:

CENA 08 / CASA DE CARLA / QUARTO / INT. / NOITE /
Ajeitando o seu vestido, Carla se arruma em frente ao espelho, retocando a maquiagem.

LURDINHA: Mulher de Deus, cê tá na frente desse espelho durante horas!! Tá com medo de perder o reflexo?

CARLA: Ele ainda não ligou, até agora. Tô ficando preocupada.

LURDINHA: Você conhece a sua filha, ela tá fazendo jogo duro. Mas ele vai sair dessa enrascada.

CARLA: Eu espero. (T) Mas, e eu, como estou?

LURDINHA: Deslumbrante, linda, maravilhosa, tudo de bom. Se eu não tivesse na cadeira de rodas, eu te pegava!

Conseguindo relaxar Carla, ambas riam uma para outra.

Corte rápido para:

CENA 09 / MANSÃO DUTRA / SALA / INT. / NOITE /

Continuação da cena 07, onde Mauro fica sem reação.

MAURO: (Pasmo) Grávida?! Cê tem certeza disso?

LÍVIA: Tenho. Fui mais cedo no médico, e ele me confirmou. Eu tô grávida!

MAURO: Como isso pôde acontecer?

LÍVIA: Não quer que eu diga como foi, né? Nós transamos, Mauro, e por um descuido, aconteceu isso.

Ainda sem acreditar, Mauro começa a andar pela sala, sem rumo.

MAURO: Eu não consigo nem imaginar sendo pai de novo, pela terceira vez!

LÍVIA: (Séria) Mas eu me vejo sendo mãe! (T) Cê sabe da minha história de vida, sabe o quanto eu sofri sem o amor de mãe. Mas essa criança, que está pra nascer, terá tudo o que eu não fui capaz de ter. (Cabisbaixa) Mauro, se você não quiser ter essa criança, tudo bem, não tô te forçando a nada. Mas me avise antes, que eu saio desta casa, e volto pro meu kitnet, que é pequeno, mas é com amor. Só que essa criança, eu vou ter!

MAURO: Não Lívia, cê tá confundindo o que eu disse.

LÍVIA: (Chora) Não tô, Mauro. Visivelmente não tá feliz, e infelizmente não posso mudar isso. (T) Eu vou juntar minhas coisas, com licença.

MAURO: Espere, nós temos muito o que discutir ainda!

LÍVIA: O que eu queria dizer, já te disse. Agora, o que tá aí na sua cabeça, eu não quero ouvir. (Abalada) Eu já sofri o suficiente, não acha? Não me faça sofrer de novo... Não dessa vez!!

Lívia vai saindo da sala, deixando Mauro pensativo. No automático, ele vai atrás de Lívia, que sobe as escadas, abalada.

MAURO: (Grita) LÍVIA... CASA COMIGO!! (T) Eu quero ficar com você e essa criança. Aceita este casamento?

Lívia para no degrau da escada, virando se para Mauro, sem reação com o pedido de casamento.

LÍVIA: (Assutada) Casar... casar com você?!

Corte rápido para:

CENA 10 / CASA DE CARLA / QUARTO / INT. / NOITE /

Já de camisola, Carla olha a última vez ao relógio, marcando 23h56. Indo até o interruptor, Carla apaga as luzes, deitando em sua cama, sozinha, abalada por ter sido esquecida.

CARLA: (Chorando) Meu Deus, como eu sou idiota!!

As lágrimas de Carla, escorre pelo travesseiro, onde ela se vira para o canto, chorando. A cena vai se escurecendo junto com o seus olhos...

Corte para:

DOIS DIAS DEPOIS...

CENA 11 / MANSÃO DUTRA / CORREDOR / INT. / MANHÃ /

Passando pelo corredor, com a vassoura nas mãos, Carla é surpreendida por Lívia, saindo do quarto.

LÍVIA: Ah, você tá aí. Que cara é essa?

CARLA: Cara de quem trabalha pra viver, conhece?

LÍVIA: Algum bicho te mordeu pra essa grosseria? Cadê o "dona Lívia" que cê ama tanto falar!

CARLA: Eu vou limpar o outro quarto, posso?

LÍVIA: Pode, claro que pode. (T) Aliás, Mauro já falou com você, sobre o casamento?

CARLA: (Estranha) Casamento? De quem? Eu não me encontrei com ele...

LÍVIA: (Debocha) De quem mais seria? O meu e de Mauro. Ele me pediu em casamento, no sábado à noite, de uma forma tão linda. Deveria estar aqui pra ter visto.

Processando o que acabara de ouvir de Lívia, Carla joga a vassoura ao chão, nervosa.

LÍVIA: (Nervosa) O que é isso?

CARLA: Meus parabéns Lívia, você acabou de ganhar a medalha de ouro por esse teatro todo. (T) EU CANSEI, CANSEI!! Eu torço pra que a sua vida seja tão miserável, podre, do jeitinho que você é. (T) Adeus!!

Tirando o uniforme, Carla vai descendo as escadas, jogando sua roupa pelo chão, nervosa.

LÍVIA: (Estranha) O que tá acontecendo?

Corte para Aline, abrindo a porta de seu quarto, surpresa.

ALINE: Tá falando sério que meu pai te pediu em casamento?

LÍVIA: Qual é o seu problema em ficar ouvindo as conversas dos outros? Que mania feia, garota. (T) E sim, ele me pediu. Então, tá valendo ainda aquele nosso papinho de eu ser a sua madrasta. Gratificante!

ALINE: (Nervosa) Meu pai tá cego, não é possível!!

Aline volta para o seu quarto, batendo a porta. Close em Lívia, se divertindo com a situação.

LÍVIA: (Ri) A mamãe contra, e a drogada revoltada. Que dia pra ser eu!

Corte rápido para:

CENA 12 / EMPRESA DUTRA / ESCRITÓRIO / INT. / MANHÃ /

Mauro e Sidney conversam.

SIDNEY: (Cont.) Me explica que eu não entendi. Você saiu daqui no sábado, pronto pra se declarar pra Carla, e me chega hoje, na segunda-feira, dizendo que vai se casar, mas com a Lívia. Eu perdi alguma coisa, Mauro?

MAURO: A Lívia tá grávida. Eu não posso deixar ela agora.

SIDNEY: Mauro, é sua vida, vai preferir/

Sidney é interrompido com a entrada de Sabrina, a secretária.

SABRINA: Com licença Sr Mauro, preciso te avisar que tem uma moça lá na recepção, querendo falar com o senhor.

MAURO: Quem?

Corte de cena rápido, para Mauro, chegando na recepção, se deparando com Carla, nervosa.

MAURO: (Atencioso) Tudo bem, Carla?

CARLA: Tudo bem? É isso que você tem pra falar pra mim? (Grita) TÁ ACHANDO QUE TEM ALGUMA PALHAÇA AQUI?!

Todos que vão passando, param ao ouvir Carla gritando.

MAURO: Por favor, Carla, vamos conversar na minha sala, sozinhos.

CARLA: (Nervosa) CONVERSAR O QUÊ, MAURO? QUAL É O SEU PROBLEMA EM ME FAZER DE IDIOTA? (T) Você foi até a minha casa, se declarar apaixonado por mim à moda antiga, pra depois me chutar assim, de uma pra outra?

MAURO: Não é assim que aconteceu, eu/

CARLA: (Interrompe) Quer saber, não me interessa como aconteceu, e nem o que aconteceu. Você não me interessa mais, Mauro. Por favor, não me procure mais!

Pronta pra sair da Empresa, Mauro corre até Carla, a segurando nos seus braços.

MAURO: Por favor, vamos conversar, não pode acabar assim.

CARLA: (Grita/Histérica) ME SOLTA! Não rela suas mãos em mim. (T) Eu me arrumei, me produzi, esperando por você. Mas nem uma ligação, nem um aviso pra trouxa aqui ser menos trouxa. Mas isso é bom, é que assim, eu acordo pra vida, pra saber que não existe contos de fada. (T) Ah, eu me demito, cansei de ser sua empregadinha. Feliz casamento, você e a Lívia vão ser tão felizes como você foi com a Simone!

Saindo de sua sala, Renan se aproxima dos dois, estranhando.

RENAN: Mãe, o que é isso?

CARLA: Não é nada, Renan. Volte a trabalhar, que é a melhor coisa que você faz, porque você merece toda felicidade, mesmo trabalhando com um desgraçado!!

Saindo correndo da Empresa, Carla deixa Renan confuso, e Mauro, olhando a sua saída, calado.

Corte para:

CENA 13 / ORFANATO / INT. / MANHÃ /

Andando pelo orfanato, Beatriz vai olhando pelos lados, vendo algumas crianças correndo, outras brincando. Ao perceber que ninguém está olhando, ela vira o corredor esquerdo, se deparando com a porta de entrada da sala do diretor. Aos poucos, ela gira a maçaneta, percebendo a porta estando aberta. Ao entrar, Beatriz fecha a porta. Rapidamente, ela vai até o armário, onde fica os fichários dos órfãos. Procurando por documentações, ela vai passando um por um, até encontrar o de Luana, na inicial L.
Colocando rapidamente na sua bolsa, Beatriz fecha o armário, e no mesmo instante, uma mulher abre a porta da sala do diretor.

MULHER: Algum problema senhora?

Arrumando os papéis em sua bolsa, Beatriz se vira para a mulher, calma.

BEATRIZ: Problema nenhum. Quem é você?

MULHER: Dinorá de Souza. Fui encaminhada pra ser a nova diretora do orfanato. Agora, se a senhora puder me explicar o que tá fazendo aqui, numa sala restrita, eu vou adorar saber, pra não precisar tomar medidas cabíveis contra isso!

BEATRIZ: Me desculpe, Dinorá. Como você é nova aqui, deve não saber que eu sou a mãe adotiva de uma das crianças que passaram por aqui. A minha filha havia dito que tinha deixado aqui no orfanato umas coisas pessoais dela. Como o antigo diretor não me deixou procurar, resolvi vir eu mesma tentar achar, já que ele não está mais entre nós!

DINORÁ: Olha, eu vou ser direta. Mesmo se ela tivesse deixado algo aqui, certeza que não estaria na sala do diretor. Segundo, arrume da próxima vez, uma desculpa melhor, porque essa não colou. E terceiro, espero que não tenha uma próxima vez, senão você se dará muito mal em mexer em coisas que não lhe pertence. (T) Agora, você pode sair da minha sala por favor, e quando tiver alguma dúvida, marcar horário. Prático, não acha?

Corte para:

CENA 14 / MANSÃO DUTRA / VARANDA DO QUARTO / INT. / MANHÃ /

Na varanda do quarto, Lívia e Priscilla mostram estar descontraídas.

PRISCILLA: (Cont./Animada) Quando cê me ligou, dizendo que tava grávida, eu não aguentei esperar, pra vir te abraçar. Ai meu Deus, eu vou ser titia.

LÍVIA: Titia e madrinha.

PRISCILLA: (Emocionada) Madrinha? Não me faz chorar a essa hora, biscate.

Lívia abraça Priscilla, com os olhos em lágrimas.

PRISCILLA: Cadê a Carla?

LÍVIA: Ela pediu demissão antes de eu te ligar. (T) Isso foi o suficiente pra entender que rolou sim alguma coisa entre os dois ontem. O melhor, é que ela caiu do cavalo, porque o Mauro veio até mim, pra terminar o nosso caso. O resto, já deu pra entender.

PRISCILLA: Eu ainda não consigo acreditar que ele te pediu em casamento assim, na lata. Qual foi a chantagem emocional que você fez desta vez?

LÍVIA: É difícil de acreditar que ele tenha feito o pedido por conta própria, sem forçar uma barra?

PRISCILLA: (Rindo) É!

LÍVIA: (Ri) Cachorra! (T) Mas isso não vem ao caso, o importante, é que já tá feito!

PRSICILLA: Isso não merece uma comemoração? Um champanhe?

LÍVIA: Esqueceu, meu amor? Grávidas não bebem. (T) Quando eu digo que irei cuidar dessa criança com todo o amor possível, eu tô falando sério. Eu vou dar tudo a ela, o que eu não tive a oportunidade de ter... Amor de mãe!

Corte para:

CENA 15 / HOTEL / SALA / INT. / TARDE /
Terminado a ligação, Vicente se aproxima de Simone, séria.

SIMONE: (Cel/Cont.) Ela fez um escândalo? (T) Claro, sigilo total. (T) Como o Mauro é idiota, puta que pariu. (T) Tá, tá, depois a gente se fala.

Desligando o celular, Simone o coloca no sofá, indo até Vicente.

SIMOME: Cê não imagina o que aconteceu!

VICENTE: O que foi?

SIMONE: O idiota do seu pai, pediu a ninfeta em casamento, acredita? (T) E mais, ele tava tendo um caso com a Carla. Esse tempo todo eu sabia que os dois tinham um lance, e debaixo do meu nariz!! QUE ÓDIO!!

VICENTE: (Surpreso) Ele vai se casar com a Lívia?

SIMONE: (Nervosa) É, vai! E cê sabe que isso é ruim pra gente né? Se esse casamento se concretizar, nós perdemos metade do que temos de direito. A herança não vai valer quase nada, filho.

VICENTE: Infelizmente não podemos fazer nada.

SIMOME: Como não? Se ela não se casar com o Mauro, ainda temos uma chance de dar uma rasteira no seu pai. (T) Precisamos dar um jeito de desaparecer com essa garota!

VICENTE: (Estranha) Do que cê tá falando, mãe?

SIMONE: Não entendeu? Se ela sumir, ou sei lá, morrer misteriosamente, não corremos riscos nenhum!

VICENTE: (Grita/Nervoso) VOCÊ TÁ MALUCA?! Olha o que cê tá dizendo, ameaçando uma pessoa de morte, por dinheiro?

SIMONE: (Grita) EU TÔ AMEAÇANDO UMA GAROTA QUE É UMA AMEAÇA PARA O NOSSO FUTURO!! (T) Quer o quê? Passar os próximos quatro ou cinco anos, chorando nos pés do Mauro por esmola? Com ela lá, do lado dele, viva, será muito difícil!!

VICENTE: Eu não vou entrar nesse seu jogo sujo, eu não sou assim, eu sou/

SIMOME: (Interrompe/Irritada) FROUXO, VOCÊ É UM FROUXO, ISSO SIM! (T) Pensei que tava virando um homem de verdade, mas a criança dentro de você não deixa. Acorda pra vida, garoto, a gente só cresce derrubando os outros.

VICENTE: Não mãe, não é assim. Tem gente que cresce sozinha, com os próprios esforços, e cê sabe de quem eu tô falando...

SIMONE: (Cínica) Não vem me dizer que cê tá falando daquele garoto, não vem!

VICENTE: É dele mesmo. Olha pra mim, desempregado, vivendo do dinheiro de um roubo, e você vivendo de uma mísera pensão. Isso vai durar até quando? (T) Quando vamos crescer de verdade, e dependermos de nós mesmos?

Simone encara seu filho, nervosa, sem ter o que falar.

SIMONE: (Grita) SOME DAQUI, SOME DA MINHA CASA!

VICENTE: Tá me expulsando?

SIMONE: (Nervosa) AGORA, RUA!!

Simone pega Vicente pelos braços, o levando até a porta, onde com todo o esforço, ela o coloca para o lado de fora.

VICENTE: Meu Deus, o que cê tá fazendo?

SIMOME: Pega esse seu bom moralismo, e leve pro INFERNO!!

Simone bate a porta na cara de Vicente, que fica ao lado de fora, assustado com Simone.

Corte rápido para:

CENA 16 / MANSÃO VASCONCELLOS / QUARTO / INT. / NOITE /

Em seu quarto, no notebook, Beatriz vai fazendo cópias dos documentos encontrados sobre Luana, os mandando para um lugar desconhecido.

BEATRIZ: Agora, eu descubro quem é você, demônia!

Confirmando o envio dos documentos, Beatriz demonstra estar confiante, ao enviar.

Corte para:

CENA 17 / CASA DE CARLA / PORTÃO / EXT. / NOITE /
Chegando em casa, Renan abre o portão, entrando. Antes de fechar, Renan se depara com Vicente, ao lado da janela, do lado de fora, parado.

RENAN: (Surpreso) Vicente, você aqui?

VICENTE: Eu preciso falar com você.

Entrando, Renan não fecha o portão, indo em direção a Vicente, sério.

RENAN: (Sério) Nós não temos mais nada pra falar um com o outro, o que tinha pra dizer já disse. Aliás, você também, depois daquele/

VICENTE: (Interrompe/Emocionado) Você tava certo, sempre esteve certo. (T) Eu sou assim, porque eu fui criado assim. Eu roubei meu pai, com medo de não ter um futuro digno, já que ele nunca demonstrou carinho por mim... Mais um erro meu! Eu acabei de sair de casa, após ouvir barbaridades da minha mãe, coisas que eu nunca imaginei ouvir dela.

RENAN: Sinto muito que você tenha percebido apenas agora. É difícil concertar o passado, com erros dos pais. Isso não justifica qualquer erro seu, Vicente, muito menos, vir até a minha casa, dizer isso pra mim.

VICENTE: (Chorando) Você não entendeu, Renan? (T) Eu poderia tá em qualquer lugar agora, me afundando em bebidas, ou fazendo alguma loucura. Mas eu vim aqui, porque eu tô sentindo uma coisa que não consigo dizer. (T) Quando eu tava vindo pra cá, eu tava sentindo um calor forte no peito, como se ele fosse sair pela minha boca.

Com os olhos lacremejando, Renan se aproxima completamente de Vicente, ficando em sua frente.

RENAN: O que você quer dizer com isso?

Vicente pega nas mãos de Renan, as levando até o seu peito.

VICENTE: Meu coração tá disparado, apenas por ter vindo até aqui. Eu sinto algo forte por você, que nem eu mesmo sei explicar...

RENAN: (Emocionado) Eu sei o que é isso...

Renan encosta seu corpo em Vicente, limpando suas lágrimas, onde um clima entre os dois acontece. Vicente toma a inicitiva, aproximando seus lábios em Renan, onde os dois se beijam.

CARLA: (Grita/Assutada) RENAN?!

Rapidamente, os dois param de se beijar, se assustando, ao ver Carla, no portão, em choque.