DIVERGENTES

Novela de Raffa Lins 

CAPÍTULO 06 

CENA 01 / MANSÃO VASCONCELLOS / INT. / MADRUGADA /
Lurdinha dá um beijo na testa de Daniel, deita o menino sobre a cama, e o cobre. Ela vai a direção da janela, e fecha a cortina do quarto. Indo até a porta, Lurdinha a deixa entreaberta.
Um corte de cena rápido, para Lurdinha chegando as escadas. Ela então, antes de descer, se assusta. A imagem se alterna entre Lurdinha e Luana, que aparece imóvel no último degrau da escada, olhando pra cima.

LURDINHA: (Assustada) Menina, que cê tá fazendo parada aí, igual uma assombração? Quase me mata de susto!

Sem resposta, Lurdinha dá o primeiro passo no degrau da escada, mas por um deslize, ao colocar o primeiro pé na escada, acaba escorregando em um líquido, e com um alto grito, ela bate a cabeça no corrimão, e vai rolando até o último degrau. A imagem segue os olhos de Luana, sem mostrar o que aconteceu amplamente. Então, ela vai se afastando, e observa Lurdinha, ao chão, desacordada, com a cabeça sangrando. Corte rápido para Daniel no alto da escada.

DANIEL: (Chorando/Grita) O QUÊ VOCÊ FEZ?!

Luana desvia do corpo, e sobe as escadas com cuidado. Ela então pula o degrau que fez Lurdinha cair, e chega até Daniel, descontrolado.

DANIEL: (Grita) EU VOU CONTAR O QUE VOCÊ FEZ!!

LUANA: (Fria) Você não vai contar nada, sabe por quê? Vão chamar a polícia, eu vou confessar que você me ajudou nisso, e cê vai pra cadeia. (T) Vai pra cadeia, e vai ficar longe dos seus pais. Imagina só, não viver junto com sua família? É isso que você quer? Crescer no meio de crianças sem vida, acabar com essa mordomia?

DANIEL: (Chorando) Isso é mentira...

LUANA: Se você acha, então vai lá, confessa, que eu farei de tudo pra te deixar longe dos seus pais, longe do amor que você recebe...

DANIEL: (Apreensivo) O que eu fiz pra você?

LUANA: Por enquanto nada! (T) Mas agora, você vai fazer tudo o que eu mandar!!

Corte rápido para:

CENA 02 / MOTEL / QUARTO / INT. / MADRUGADA /

Lívia se choca com a proposta de Mauro.

LÍVIA: (Cont./ Perplexa) Vinte mil? Tá me oferecendo vinte mil reais pra ser sua acompanhante em um mês?

MAURO: É pouco? É o que eu posso oferecer no momento...

LÍVIA: Não, claro que não. (T) É uma proposta tentadora, claro, mas eu posso pensar?

MAURO: Claro que pode, mesmo eu achando que não tem o que pensar.

LÍVIA: Eu vou ser rápida!

Corte rápido para:

CENA 03 / MANSÃO VASCONCELLOS / SALA / INT. / MADRUGADA /

A porta de entrada se abre, Beatriz e Sidney, eufóricos, entrando correndo em casa, e se deparando com Lurdinha ao chão.

BEATRIZ: (Apavorada/Grita) DANIEL! (T) DANIEL!!

Beatriz vai a cozinha e se depara com Daniel e Luana, sentados, de mãos dada. Ela corre até o seu filho, e o abraça, preocupada.

BEATRIZ: (Desesperada) Dan, o que aconteceu? Me fala, o que aconteceu?

SIDNEY: Beatriz, a ambulância chegou!

BEATRIZ: Fica aqui, a mãe já tá voltando...

Beatriz da um beijo no seu filho, apreensivo, e ignora Luana.
Corte para Sidney na sala, vendo colocarem Lurdinha na maca.

SIDNEY: (Preocupado) Ela vai ficar bem?

PARAMÉDICO: (Sério) Não sabemos ainda, vamos fazer alguns exames pra ver. (T) Vocês são parentes?

SIDNEY: Não, ela é babá do nosso filho!

O corpo de Lurdinha é retirado da casa. Desolada, Beatriz vai até Sidney e o abraça.

SIDNEY: Calma meu amor, vai ficar tudo bem... E as crianças?

BEATRIZ: (Chorando) Como... Como isso pode acontecer?

Corte para:

CENA 04 / KITNET / INT. / MADRUGADA /

Priscilla é acordada por alguém batendo em sua porta. Ela levanta, um pouco sonolenta, com seu hobby, ela abre a porta.

PRISCILLA: (Sonolenta) Lívia? O que cê tá fazendo aqui a essa hora?

LÍVIA: (Animada) Ai, eu não aguentei, não aguentei esperar até amanhã e vim aqui te contar!

Lívia entra, eufórica, deixando Priscilla encabulada. Ela fecha a porta.

PRISCILLA: Fala logo, biscate, tá me matando de curiosidade...

LÍVIA: O cara lá, o bacana, que fui fazer o programa hoje/

PRISCILLA: (Interrompe/Nervosa) Eu sei quem é caralho, fala logo!

LÍVIA: Eu descobri qual o motivo dele ter me chamado novamente. (T) O cara não quer uma novinha pra se satisfazer não, ele quer pra... como posso te explicar, como uma psicóloga, pra desabafar!

PRISCILLA: Me explica, que eu não tô entendendo!

LÍVIA: Ô sua burra, presta atenção. (T) Ele me fez uma proposta, quer que eu seja exclusiva dele durante um mês! Calma, que ainda não é tudo. (T) Ele me ofereceu VINTE MIL REAIS, você sabe o que é isso?

PRISCILLA: (Assutada) COMO É QUE É?

LÍVIA: É isso aí, fiquei com essa mesma cara!

PRISCILLA: E você aceitou, né?

LÍVIA: Claro que não, e parecer fácil desse jeito? (T) Olha, raciocina comigo. Esse cara é um ricaço, tem família e tudo. Se ele prefere se abrir com uma prostituta, é porque ele não aguenta a própria família! Eu tô com uma idéia na cabeça...

PRISCILLA: Que idéia?

LÍVIA: (Fria) Eu vou fazer esse homem ser meu! (T) Vou ouvir e dizer tudo o que ele quer! Vou seguir a regra direitinho da menina pobre e indefesa, deixar esse homem louco, mas louco por mim! Eu vou destruir a família dele, e fazer a nossa própria família!

PRISCILLA: Como você vai fazer isso?

LÍVIA: Você vai ver... Nós vamos ficar ricas, e esse homem que vai nos dar tudo o que merecemos!!

Close no rosto de Lívia, decidida.

Corte para:

CENA 05 / MANSÃO VASCONCELLOS / QUARTO / INT. / MADRUGADA /

Beatriz coloca Daniel na cama, e acaricia seu rosto, tentando lhe acalmar.

BEATRIZ: Tá tudo bem meu filho, ela vai ficar bem...

Close em Daniel, sem reação.

BEATRIZ: (Falando baixo) Posso te perguntar uma coisa, e eu quero sinceridade! (T) O que aconteceu aqui?

DANIEL: (Sussurrando) Ela... Ela...

BEATRIZ: Ela o quê?

LUANA: (Séria) Ela caiu, Beatriz!

Beatriz e Daniel se assustam com Luana, entrando no quarto.

BEATRIZ: (Firme) Luana, vai para o seu quarto, agora!

LUANA: O que você tá tentando arrancar do meu irmão?

BEATRIZ: (Grita) VAI JÁ PRO SEU QUARTO, EU TÔ SEM PACIÊNCIA!!

LUANA: Quer ouvir dele, que eu tenho alguma coisa a ver com isso?

BEATRIZ: (Estranha) O quê? Claro que não!

LUANA: Não é o que parece! (T) Espero que cê ponha na sua cabeça, que tudo foi um acidente, infelizmente.

BEATRIZ: Você agindo desse jeito, só me faz ter mais desconfianças...

LUANA: Não acha que foi uma noite pesada para o Dan? Ele precisa descansar...

Luana vai indo em direção a cama de Daniel.

BEATRIZ: Aonde você vai?

LUANA: Dar um beijo de boa noite no meu irmão, posso?

Beatriz fica inquieta, e vê Luana se aproximando de seu filho, dando um beijo em sua testa.

LUANA: (Mansa) Boa noite, maninho, amanhã será um novo dia...

Close em Beatriz encarando Luana com Daniel.

Corte rápido para:

CENA 06 / CASA DE CARLA / PORTÃO / EXT. / MANHÃ /
Pronta pra sair, Carla recebe uma ligação.

CARLA: (Cel) Alô? (T) Sim, é ela! (T) (Espantada) O QUÊ?! (T) Como... O que... Como ela tá? (T) Meu Deus do céu, qual é o hospital? (T) Tô indo para aí agora!

Carla desliga o celular. Ela tem uma pequena tontura, que a faz apoiar no muro de sua casa.

CARLA: (Abalada) Meu Deus, a Lurdinha...

Corte rápido para:

CENA 07 / MANSÃO VASCONCELLOS / SALA / INT. / MANHÃ/

Sentada ao sofá, impaciente, Beatriz vê a porta de entrada se abrindo. Ela corre até lá, ao ver a chegada de Sidney.

BEATRIZ: (Angustiada) Meu amor, e a Lurdinha, como ela tá?

SIDNEY: Eu acabei de avisar a amiga dela sobre o acidente, pra ela não ficar sozinha no hospital.

BEATRIZ: (Olhos Marejados) Ela tá bem?

SIDNEY: Infelizmente não. (T) Ela teve um coágulo na cabeça, o impacto foi muito forte... A Lurdinha tá na CTI.

BEATRIZ: (Chorando) CTI? (T) Aí meu Deus, então é grave...

Sidney se aproxima de Beatriz, e a abraça.

SIDNEY: Ela vai sair dessa, ela é forte!

BEATRIZ: (Indiganda) Como... como isso foi acontecer? Ela tá a anos com a gente, anos! Ela não iria cair assim de uma hora pra outra!

SIDNEY: (Estranha) O que você tá dizendo?

BEATRIZ: Presta atenção, Sidney. (T) O quarto da Lurdinha é aqui em baixo, ao lado da cozinha. O que ela foi fazer lá em cima de madrugada? Alguma coisa fez ela ir lá, é alguma coisa fez ela cair!

SIDNEY: Beatriz, cê não tá me dizendo que a/

BEATRIZ: (Interrompe) Que a Luana esteja envolvida? Não! Mas isso tá muito estranho, o nosso filho tá estranho. Então, eu não vou deixar nenhum minuto o Dan sozinho com ela. Aonde ele for, eu vou, até saber o que realmente aconteceu aqui!

SIDNEY: Eu acho que você ficou acordada por tempo demais, tá delirando. (T) Foi um acidente e acabou! Por favor, pelo bem do nossos filhos, não volte a tocar nesse assunto. Dá licença!

Sidney se afasta de Beatriz, indo ao seu quarto, a deixando inconformada.

Corte para:

CENA 08 / MANSÃO DUTRA / QUARTO / INT. / MANHÃ /

Arrumando sua gravata de frente ao espelho, Mauro está conversando no celular.

MAURO: (Cel) Não, claro, pode sim. (T) Não vai ser descontada em nada. (T) Melhoras a sua amiga... Abraços (T) Tchau!

Simone se senta na cama, intrigada.

SIMONE: Quem era?

MAURO: Carla. Uma amiga dela sofreu um acidente, e eu autorizei ela faltar hoje.

SIMONE: (Indignada) O quê? Você dispensou a minha empregada? Mauro, cê não viu a bagunça que tá aquela cozinha? Como eu vou tomar meu café, meu almoço?

MAURO: Você fica tanto tempo em casa, fofocando no telefone, ou sei la o que. (T) Quer se manter ocupada? Pega uma vassoura, ou uma esponja, e lava louça. Tenho certeza que vai ser menos reclamona, e ter um dia útil.

SIMONE: (Séria) Você está me ofendendo, Mauro!

MAURO: Agora serviços domésticos é ofença? Ah, por favor Simone, deixa de ser fútil.

SIMONE: (Nervosa) Acha que é fácil ser uma dona de casa? Eu tenho que receber técnico, limpador da piscina, o cara que ajusta a minha hidromassagem. A minha vida é difícil!

MAURO: Só pode ser uma piada mesmo, não é possível! (T) Quer saber? Fui!

Mauro coloca seu blazer, seu relógio, e sai do quarto, rápido. Simone volta a deitar, furiosa.

SIMONE: (Brava) Você me paga, Mauro!

Corte para:

CENA 09 / HOSPITAL PÚBLICO / RECEPÇÃO / INT. / MANHÃ /

Apreensiva, Carla chega até a recepção.

CARLA: (Trêmula) Por favor, minha amiga deu entrada na madrugada aqui. Acabei de ficar sabendo, eu preciso ver ela...

RECEPCIONISTA: Pode me informar o nome da paciente?

CARLA: Maria de Lurdes.

A recepcionista olha os nomes que deram entrada ao hospital. Carla fica mais apreensiva, olhando para os lados.

RECEPCIONISTA: Então, ela deu entrada aqui ontem na emergência. Mas o estado dela teve uma piora, e ela foi levada ao CTI!

Ao ouvir as palavras da recepcionista, Carla cai em lágrimas.

CARLA: (Chorando) Aí meu Deus!! Eu não posso perder a minha amiga...

RECEPCIONISTA: Fica calma, senhora. O médico de plantão vai ter dar todas as informações do estado dela. (T) Toma um copo d'água, você precisa sentar, esperar e se acalmar. Ela vai ficar bem!

Completamente abalada, Carla olha para as pessoas no local, desamparada, se senta em uma das cadeiras, abalada.

Corte para:

CENA 10 / EMPRESA DUTRA / ESCRITÓRIO / INT. / MANHÃ /

Renan entra na sala de Vicente, com uma xícara de café nas mãos, sorrindo.

VICENTE: (Irônico) Que esperto, nem esperou eu pedir?! Tá com açúcar, né?

Renan se aproxima de Vicente, e quando ele vai entregar o café em suas mãos, Renan vira a xícara, derrubando todo o café nas pernas de Vicente, que levanta rápido, se debatendo.

VICENTE: (Grita/Nervoso) SEU DESGRAÇADO!! ESSA MERDA TÁ QUENTE!!

RENAN: (Irônico) É eu sei. Não verifiquei se tinha açúcar, mas fiz questão de saber se estava quente... E estava!

VICENTE: (Grita) EU MATO VOCÊ!

RENAN: (Grita) NÃO MATA NADA, PORQUE VOCÊ É UM NADA! (T) Pensou que eu iria me submeter a essas suas ordens, como se eu fosse seu empregado?

VICENTE: (GRITA) FORA, RUA! TÁ DEMITIDO!

Renan ri da exaltação de Vicente, e se senta, em sua frente.

VICENTE: (Nervoso) LEVANTA E SOME DAQUI! (T) Ou eu terei o prazer de te jogar na rua, e te dar uma surra como da última vez!

RENAN: Vai, faz isso, só quero ver no que vai dar. (T) Seu pai que me contratou, seu pai que me colocou como seu assistente, então é o seu pai que tem que me demitir. O engraçado é que ele não vai muito com a sua cara, né? Melhor pra mim! (T) O mais engraçado ainda, é saber se ele vai querer manter um filho na empresa que sai por aí, surrando garotos alheios na rua, por puro ódio. A reputação dessa empresa só iria de mau a pior! (T) Então vai lá, e diz pro seu papai o motivo da minha demissão, ele vai adorar saber!

Vicente fica calado diante as palavras de Renan. Mudando totalmente sua feição.

VICENTE: (Sério) Você tá brincando com fogo...

RENAN: (Cínico) Cê não sabia? Eu gosto de um fogo!

A porta da sala se abre, Mauro entra.

MAURO: Que isso, Vicente? Cê mijou na calça?

VICENTE: (Assutado) O quê?!

Renan ri de Vicente.

RENAN: (Descontraído) Desculpe Mauro, é que eu fui buscar café pro Vicente, e eu me descuidei, e derrubei nele. Me perdoe!

MAURO: (Estranha) Café pro Vicente? Você não tá aqui pra isso não? (P/Vicente) Vai já ao banheiro e se limpe. Não tem como trabalhar desta forma!

Nervoso, Vicente pega sua bolsa de trabalho, e coloca em frente as suas pernas, a tampando. Ele sai da sala com olhares de ódios para Renan, que ri disfarçadamente. Mauro também sai.

RENAN: (Confiante) Seja forte, não deixe nada te abalar!

Corte rápido para:

CENA 11 / MANSÃO VASCONCELLOS / SALA DE ESTAR / INT. / TARDE /

Som ambiente da televisão ligada, televisonando o desenho Dragon Ball Z. Daniel sentado em frente a ela, apático, e sem ânimo. Beatriz observa seu filho, angustiada. Ela vai se aproximando dele, mas é impedida por Luana, que segura seu braço.

BEATRIZ: (Estranha) O que é isso?!

Luana solta as mãos do braço de Beatriz.

LUANA: Vai amolar o garoto pra quê? A noite já foi difícil demais pra ele, depois de você ficar enchendo o coitado de perguntas. Quer continuar fazendo isso?

BEATRIZ: Ele é o meu filho, eu tenho o direito de falar a hora que eu bem entender com ele. Ou você tá/

Beatriz é interrompida com o telefone de sua casa tocando.

LUANA: Não vai atender?

Luana dá um sorriso pra Beatriz, e vai indo até Daniel. Ela percebe que Beatriz está observando, e abraça o garoto, para provocar. Beatriz volta sua atenção ao telefone, onde ela se aproxima e o atende.

BEATRIZ: (Tel) Alô! (T) Sim, é ela! (T) (Se Assuta) Como é? Como foi isso? (T) Ela tá bem? (T) Não, pode deixar, eu aviso sim. (T) Tá bom, obrigada!

Beatriz coloca o telefone no gancho, boquiaberta. Luana se vira, interessada na conversa.

LUANA: Quem era?

BEATRIZ: A diretora da escola, avisando aos pais da sua classe, que uma das suas colegas foi atropelada perto da escola...

LUANA: (Fria) A Grazi morreu?

BEATRIZ: (Espantada) O quê? Não, claro que não. Ela não morreu! Que idéia é essa?

LUANA: A maioria das pessoas que são atropeladas, morrem! Não sabia disso?

Close no rosto assustado de Beatriz. Luana se aproxima de Daniel, e o abraça novamente, que se sente repulsa, deixando Beatriz completamente incomodada.

Corte rápido para:

CENA 12 / HOSPITAL / CTI / INT. / TARDE /

Já com trajes, uniformizada com as roupas do CTI, Carla higieniza suas mãos, ainda bem aflita. Ela é direcionada ao canto da sala, onde o médico a espera.

DOUTOR: Boa tarde, você é o que da Maria de Lurdes?

CARLA: (Angustiada) Eu sou amiga, mas como uma irmã.

DOUTOR: Ela não tem algum familiar que eu possa conversar?

CARLA: Não, ela é sozinha, sua família não é daqui, é do interior de Recife. Ela agora só tem a mim...

DOUTOR: Então, a Maria de Lurdes sofreu uma queda relativamente não muito drástica. O que está impactando no estado dela, é que nessa queda, ela bateu a cabeça muito forte. Ela teve um coágulo de sangue no cérebro, que impossibilita ela de acordar por agora. (T) O estado dela é grave, mas reversível.

CARLA: (Chorando) Grave?!

DOUTOR: Aqui temos os profissionais mais preparados pra esse tipo de situação, pode ficar tranquila que ela está em boas mãos. (T) Ajudaria muito se você não chorasse na frente da paciente. Ela não pode te ver, mas pode te ouvir ou te sentir. Motiva ela a se recuperar, a ser forte e sair dessa situação...

CARLA: Claro, você tem razão...

Carla limpa suas lágrimas, e é direcionada ao leito de Lurdinha. Ao se aproximar, Carla vê de longe a amiga, e se trava.

ENFERMEIRA: Pode se aproximar dela, segurar as mãos, conversar...

Carla toma coragem, e vai pra perto de Lurdinha. Ela entra ao leito da amiga, e a observa, entubada. Carla acaricia o rosto de Lurdinha, tentando lhe confortar. Ela pega em suas mãos, e a segura firme, se curvando.

CARLA: (Emocionada) Eu quero que você saiba, que eu vou estar aqui, todos os dias, pra você sair dessa. (T) Você é forte, guerreira! Não vai ser um tombo que vai te derrubar não. (T) Sai dessa, minha amiga, sai dessa pra gente beber um pouco, jogar conversa fora... (T) As lágrimas que eu derramei hoje, você não vai vê-las mais. Eu vou cuidar de você com um sorriso no rosto, alegre, feliz... Do jeito que você leva a vida! (T) Eu te amo colega!!

Close em Carla, emocionada, segurando as mãos de Lurdinha, que não demonstra reação.

Corte para:

CENA 13 / MANSÃO VASCONCELLOS / QUARTO / INT. / NOITE /

Sidney vai tirando suas roupas, um pouco tenso. Beatriz adentra ao quarto, fechando a porta.

BEATRIZ: Você chegou hoje e não meu falou nada...

Sidney continua em silêncio.

BEATRIZ: Não vai querer saber dos seu filho?

SIDNEY: Como eles estão?

BEATRIZ: O Dan tá muito abalado, corta o meu coração ver o meu filho naquele estado!

SIDNEY: Eu disse eles... E a Luana?

BEATRIZ: Tá ótima, como se nada tivesse acontecido!

Sidney continua em silêncio, indo ao banheiro do quarto. Beatriz vai atrás dele, impaciente.

BEATRIZ: (Nervosa) Olha aqui, você tá me achando maluca, mas aquela garota não é normal! Ela age de uma forma muito suspeita. (T) Hoje, a diretora me ligou, pra avisar que uma das alunas da sala dela, foi atropelada... A reação dela foi de satisfação, sem um pingo de compaixão.

SIDNEY: Me fala o porquê de estar achando isso?

BEATRIZ: Eu fui contar pra ela, sabe o que ela me disse? (Imitando Luana)"A Grazi morreu?" (T) Eu nem citei o nome da garota!

SIDNEY: Talvez ela já tinha descoberto antes, sei lá.

BEATRIZ: Antes como? Ela nem na aula foi hoje, não tinha como saber.

SIDNEY: Você deve que comentou com ela, ou algo assim. Tira isso da sua cabeça, vai ser melhor pra gente.

BEATRIZ: (Olhos Marejados) Sidney, você percebeu que desde que ela chegou, a gente só brigou? (T) Lembra quando foi a nossa última briga? No aniversário de cinco anos do Dan, onde eu achava que tinha muito brigadeiro, e você pouco... A que ponto estamos chegando?

Sidney sai do banheiro, indo até a porta do quarto.

SIDNEY: Talvez você estava certa, tinha muitos brigadeiros mesmo...

Sidney sai do quarto, deixando Beatriz desolada.

Corte rápido para:

CENA 14 / CASA / ENTRADA / INT. / NOITE /
Carla abre a porta de casa, esgotada. Ela olha para a cozinha, e vê o ambiente completamente sujo. Sem reação, ela vai andando até a sala, sentando ao sofá, emocionada. Ivan sai do quarto.

IVAN: (Estranha) Doce, que cara é essa?

CARLA: (Chorando) De quem tá cansada... De quem quer PAZ!!

Neste momento, Carla cai em lágrimas. Ivan percebe a esposa abalada, e vai até ela, a abraçando.

IVAN: Ei, ei, que isso? Cê nunca foi disso, de reclamar da vida! (T) Limpa essas lágrimas, que elas não te merece.

CARLA: Eu tô com medo de perder a minha amiga... A Lurdinha tá internada, em estado grave...

IVAN: (Espantado) Meu Deus...

Ivan a abraça ainda mais forte, tenhanto lhe confortar. Ele limpa suas lágrimas. Carla chora nos braços de Ivan.

Corte para:

CENA 15 / MOTEL / QUARTO / INT. / NOITE /

Sentada sobre a cama, com as pernas cruzadas. Lívia observa a porta do quarto se abrindo. Mauro entra, e Lívia se levanta, indo até ele.

MAURO: Decidiu?

Lívia coloca suas mãos no rosto de Mauro, delicadamente.

LÍVIA: (Sorrindo) Eu aceito... Eu aceito ser sua, apenas sua!