Outros Tempos - Capítulo 16

terça-feira, novembro 10, 2020

OUTROS TEMPOS


 Uma Novela Criada e Escrita por:
Raffa Lins

Apoio:
Web Novelas Channel (WNC)



CENA 01 / MANSÃO RODRÍGUEZ / QUARTO DE HÓSPEDES / INT. / NOITE /

Abrindo a porta do quarto, Liz depara com sua mãe parada de frente ao espelho, encarando-se.

LIZ: O que eu disse pra senhora, mãe? Não sai de casa até sabermos como anda sua saúde. Mas claro que você não iria obedecer. Sempre foi teimosa, toda vez foi/

GLÁUCIA: (corta/direta) Eu descobri os motivos pra aquela Malu Marinho te odiar.

LIZ: (estranha) Como?

Virando-se para trás, Gláucia encara sua filha, confusa.

GLÁUCIA: Eu fui atrás dela, fui pra confrontar, pra aquela cretina te deixar em paz. Mas eu acabei descobrindo tudo, o ódio, a raiva que ela tem de você!

LIZ: Mãe, explica essa história direito. Tudo o quê? O que a senhora sabe?

GLÁUCIA: (marejada) Quando seu pai morreu, eu te disse a verdade, lembra? Que você não era filha dele, era filha de outro homem...

LIZ: O que isso tem a ver com a Malu? A senhora tá confundindo as coisas, mãe.

GLÁUCIA: Não, não tô. Presta atenção e me escuta, Liz! (T)  Eu nunca quis contar a sua verdadeira origem, porque eu não queria trazer o meu sofrimento pra você.

LIZ: (abalada) Fala logo, mãe! A senhora tá me assustando...

GLÁUCIA: Malu conhece Esther Brandão. As duas estão juntas, isso explica o porquê dela estar tentando te destruir. Isso tudo foi por influência da Esther. Ela manipula a Malu, faz ela de marionete pra se virar contra você!

LIZ: Quem é Esther Brandão?

GLÁUCIA: (direta) Ela é filha de Alexandre Brandão, o seu verdadeiro pai!! Esther é a sua irmã!!

Liz recebe a notícia como uma bomba, chocada. Momento em que sua mãe tenta se aproximar, Liz recua.

Fade In - Instrumental, Suspense.

LIZ: (perplexa) Irmã? Eu tenho uma irmã? Como... onde... (nervosa) Como a senhora teve a coragem de esconder isso de mim?

GLÁUCIA: Eu posso explicar...

LIZ: (grita) ENTÃO EXPLICITA, VAI, ANDA!! Tenta achar as razões pra ter escondido algo, uma irmã!

GLÁUCIA: (em alto tom) EU NUNCA QUIS TE ESCONDER ESSA GAROTA, EU QUIS TE POPUPAR DE UM SOFRIMENTO... DE UMA DOR...

LIZ: (irritada) Que sofrimento? Que dor? Como que eu vou saber de algo se você nunca quis compartilhar comigo? Me poupar? É assim que as pessoas crescem, mãe. (marejada) Eu tenho uma irmã... irmã essa que tá nas garras da Malu.

GLÁUCIA: A Malu que tá nas garras dela. O único motivo pra todo esse ódio da Malu, quem fez ela ter foi a sua irmã, a Esther. Ela sabe de tudo o que passei...

LIZ: O que você passou, mãe? Me fala, porque pra ela saber e eu não, talvez eu tenha feito algo pra ela se virar contra mim. Algo que eu nem sei, já que a senhora é uma máquina de segredos...

GLÁUCIA: (voz embargada) Você tá sendo muito injusta comigo, Liz... muito injusta com a pessoa que se humilhou, batalhou pra você ter o futuro que você construiu hoje.

LIZ: Isso é loucura, eu/

GLÁUCIA: (corta/relembrando) Quando eu me engravidei de você, o meu único sentimento não era alegria, era medo... medo de colocar uma criança no mundo, filha de um ser desprezível, repugnante, horrendo, e isso é pouco pra descrever o seu verdadeiro pai, o Alexandre. (T) Eu fiquei presa ao lado deste homem por mais de dez anos, desde a nossa adolescência, sufocada, retraída. Agora me pergunta: por que eu nunca terminei ou larguei esse homem? (desaba a chorar) Por pavor, medo!! Eu fui agredida fisicamente e psicologicamente pelo Alexandre durante toda a minha gravidez. Ele dizia me amar, mas no fundo, eu sabia que não era amor... (T) Você não deve se lembrar, porque era novinha, tinha três anos, mas eu me lembro bem, como se fosse ontem... eu fugindo da nossa casa, fugindo do Alexandre... fugindo sem nenhum dinheiro no bolso, apenas com a coisa mais valiosa que eu já tive nos meus braços... você!

Não conseguindo segurar o seu choro, Liz também desaba a chorar, ouvindo o relato de sua mãe.

GLÁUCIA: Passamos meses morando na rua, sozinhas, sem ninguém... eu não poderia ir atrás de um familiar por medo do Alexandre nos encontrar. Foi carona atrás de carona que conseguimos sair de São João del-Rei e chegarmos em São Paulo. (T) Tudo começou a mudar quando o Fausto, o mesmo que você chamou de pai até à sua morte, passando de carro aonde estávamos. Ele me reconheceu do tempo da escola, quando ele também morava em São João del-Rei, me ofereceu uma carona, só que eu não precisava aceitar, porque eu não tinha pra onde ir... (lacrimeja) O Fausto nos acolheu por um tempo na casa dele, juntos com os pais. O seu avô me odiava, dizia que o Fausto era um frouxo por ter acolhido uma mulher solteira com uma criança. Só que ele te assumiu como filha, dizia pra todos que ele era o seu pai... só que eu nunca pedi pra ele te assumir, nunca, ele fez isso pro livre e espontânea vontade, sabe o porquê? (lacrimeja) O Fausto era gay... e se a família dele soubesse, ele seria deserdado, expulso de casa. Eu fui uma esposa de mentira pra ele, mas ele foi um pai de verdade pra você. Ele é o seu pai, ele é tudo o que você tem hoje!! (em prantos) E ele morreu amando, morreu assassinado aos braços do homem que ele amava de verdade...

LIZ: (chora/chocada) Por que você nunca me contou tudo isso? Quis me poupar da verdade? Se eu soubesse desde o início o que a senhora passou, eu estaria do seu lado! Mas você só me contou a parte boa, da felicidade, da família feliz... família essa que nunca existiu!

GLÁUCIA: (limpando as lágrimas/direta) Sim, eu quis poupar você de tudo isso, não só por mim, mas foi um pedido do seu pai, o Fausto. Ele sempre dizia que não queria que você soubesse sobre a verdade dele, apenas me pediu pra dizer que no dia da sua morte, você soubesse que não era filha legítima, mas que mesmo assim, ele te amou como uma.

LIZ: (soluçando de tanto chorar/abatida) E a minha irmã? Onde ela entra nessa história toda? Como você soube dela?

GLÁUCIA: Quando eu me casei com o Fausto, você tinha uns sete anos, já tava uma mocinha esperta, valente, com uma ótima voz, o que explica o seu amor pela música. As fotos do nosso casamento foi publicada no jornal, ele era de uma família influente, naquela época as pessoas eram sempre interessadas no que uma família de classe média alta andava fazendo, aliás, até hoje. (T) Foi através dessas fotos no jornal que o Alexandre me encontrou... (relembrando) cê tava brincando no parquinho, eu estava conversando com algumas outras mães, foi quando eu vi, de longe, uma pessoa se aproximando de você...

A imagem se transcende junto com as palavras de Gláucia, de volta ao passado, através de um flashback.

FLASHBACK ON:

Gláucia (28 anos) está sentada em um dos bancos do parquinho, fumando, ao lado de outras mulheres. Elas conversam, distraídas.

A atenção de Gláucia é desviada ao ver, de longe, sua filha brincando junto com um homem mais velho. Ofegante, ela joga seu cigarro no chão, andando rapidamente em direção aos dois. 

GLÁUCIA: (grita) LIZ... LIZ!! SAIA JÁ DAÍ, VEM PRA CÁ!! AGORA!! 

Olhando para trás, Liz (7 anos) vê sua mãe se aproximando. Ao chegar perto, Gláucia lhe pega no colo, preocupada, afastando a filha deste homem. 

GLÁUCIA: (p/o homem, nervosa) Olha o seu tamanho pra querer ficar perto da minha filha, idiota! 

LIZ: Mas mamãe...

GLÁUCIA: (corta) Sem mas, vai já pra perto da Lúcia, rápido! 

Insatisfeita, Liz faz birra, saindo correndo de perto da sua mãe, indo em direção de Lúcia, uma das mesmas mulheres que conversava com Gláucia. 

Aquele homem continuava de costas, abaixado. Lentamente, ele se levanta, virando-se de frente para Gláucia, que automaticamente se assusta, vendo se tratar de Alexandre (31 anos), seu ex-marido.

GLÁUCIA: (assustada) Você? 

ALEXANDRE: (sério) Pensei que eu nunca veria você novamente, desgraçada!

Em choque, Gláucia vai dando pequenos passos para trás, enquanto Alexandre vai para cima. 

GLÁUCIA: (recuada) Não se aproxima, não chega perto. Se ousar tocar as mãos em mim novamente, eu grito, faço um escândalo, te coloco na cadeia! 

ALEXANDRE: Relaxa, eu não quero nada com você mais, só quis ver como estava minha filha, que agora chama um ricaço de pai. 

GLÁUCIA: Ele é o pai dela, não você. Se você pensa que veio até aqui correr atrás do tempo perdido, eu/

ALEXANDRE: (corta) Eu já disse que não vim atrás de você, nem da Elizabeth. Só vim aplaudir o seu sucesso de conseguir fisgar um homem rico pra te sustentar. (T) Eu também me casei, sabia? Larissa é o nome dela. Essa sim eu trato como deve ser tratada, como uma rainha. Também vamos ter uma filha, Esther vai ser o nome, bem parecido com o nome da minha pequena Liz. (T) Quero deixar claro que a diferença entre eu e você é que eu não fugi atrás da primeira coisa pra me sustentar, eu criei uma família novamente, uma família feliz. Sempre vai ser uma desqualificada, uma vagabunda, que eu tinha o prazer de te surrar todos os dias, sua cretina!!

GLÁUCIA: (marejada) Pois pegue essa sua esposa com essa sua nova filha, e vão pro inferno. (T) Não venha atrás de mim e nem da Liz, você não imagina o que eu sou capaz de fazer com você... só desejo que essas duas não passem pelo o que eu passei, ninguém merece ter você ao lado. (T) Você é um castigo, Alexandre!! 

Se afastando de Alexandre, Gláucia corre, olhando para trás, indo em direção de sua filha, ainda nervosa. 

Através dos olhares de Alexandre, ele observava sua ex-esposa e sua filha abraçadas, momento único, de mãe e filha.

FLASHBACK OFF.

De volta ao presente, Liz continua chorando, pávida. Gláucia tenta pegar nas mãos da filha, mas ela é mais rápida, se afastando.

LIZ: (chora) Por favor, não... agora não! É muita informação pra minha cabeça. Me deixe pensar, raciocinar tudo isso. Não venha atrás de mim...

Saindo do quarto de sua mãe, Liz bate a porta. Ao lado de dentro, Gláucia pensa em ir atrás, mas prefere dar espaço para sua filha.

Escorando na porta, Gláucia desliza até o chão, novamente desabando a chorar, soluçando.

Corte rápido para:

CENA 02 / MANSÃO MARINHO / ÁREA EXTERNA / NOITE /

Sozinha, sentada na beira da piscina, com seus pés encostados na água, Malu relaxa, olhando para cima, vendo o céu estrelado. Lentamente, ela fecha seus olhos, se deixando levar. Seus pensamentos afloram.

A medida em quem Malu respira, a imagem transcende, de volta ao passado através de um flashback. 

FLASHBACK ON:

Em seu caitveiro, poucos dias após ser pego pela sua filha, Alexandre (52 anos) tenta de todas formas se soltar, com seu corpo preso por uma corrente, em vão. Descendo as escadas, aos poucos Malu (21 anos) vai em sua direção. 

ALEXANDRE: Grcas a Deus é você, Esther. Caiu na real, né? Viu que isso aqui não vai te levar a nada. Me tira daqui, ME TIRA DAQUI!! 

MALU: Irredutível como sempre, hein papai? Só passou uns dias, bem pouco pela contribuição que você ainda tem que pagar. 

ALEXANDRE: Para com isso, Esther. (desespera) ME SOLTA DESSAS CORRENTES, ME TIRA DESSE LUGAR!! 

MALU: (berra) NUNCA!! NUNCA!! A ÚNICA FORMA DE VOCÊ SAIR DAQUI, É MORTO, NO CAIXÃO!! 

ALEXANDRE: (respira fundo/apreensivo) Tá bom, eu já entendi, você tá com raiva, tá com ódio, mas vamos conversar... vamos bater um papo. Você pensa em querer fazer justiça pela sua mãe, mas não é assim que as coisas funcionam, aliás, tem muita coisa que você não sabe. 

MALU: (fria) O que eu preciso saber é o suficiente. 

ALEXANDRE: Então você não iria querer saber que tem uma irmã? Que ela é rica? 

Malu recebe a notícia como uma bomba, perplexa ao saber da existência de uma irmã. 

MALU: (boquiaberta) Irmã?

ALEXANDRE: Isso mesmo, Esther. Rica, famosa e cantora, tudo o que você desejou. Se eu disser quem é ela, você me solta? 

MALU: (interessada) Quem é ela? 

ALEXANDRE: Promete que vai me deixar ir se eu disser?!

MALU: (nervosa) Quem é? Fala!! 

ALEXANDRE: (incisivo) Promete? 

MALU: (respirando fundo) Prometo! 

ALEXANDRE: A sua irmã se chama Elizabeth, ou melhor, Liz Rodríguez. Ela é a sua irmã! 

MALU: (chocada) Liz Rodríguez é a minha irmã?! 

FLASHBACK OFF.

A cena volta para o presente, onde Malu derruba algumas lágrimas, marejada.

MALU: (emocionada/pérfida) Ela teve tudo o que eu não pude ter... Liz esteve no lugar que eu merecia, o sucesso... a vida que ela teve agora é minha, minha!!!

Limpando suas lágrimas, Malu olha fixamente para o céu, onde ela solta um algo grito, em um misto de emoções.

O grito de Malu aos poucos vai ficando em off, onde a imagem se desvanece por completo.

Fade Out - Instrumental, Suspense.

Corte para:

CENA 03 / PLANOS GERAIS / EXTERNAS / NOITE - DIA /

Fade In - Rolling In The Deep, Adele.

A noite de São Paulo passa agilizada por bares, restaurantes, comércios ainda abertos.

Dia seguinte, amanhece. Passam-se imagens curtas dos pontos turísticos da capital, completamente em movimento. Avenidas congestionadas, ruas lotadas. Tempo nublado.

Close na fachada do kitnet de André.

Corte rápido para:

CENA 04 / KITNET / QUARTINHO / INT. / MANHÃ /

Lavando seu rosto na pia, André se enxuga na toalha. Colocando em volta de seu pescoço, saindo do banheiro, ele logo se depara com Esther, com uma mala aberta, terminado de colocar suas roupas dentro. Ele estranha.

ANDRÉ: (estranha) Uai, já vai?

ESTHER: (apressada) Graças a Deus sim, tenho planos maiores e melhores do que passar minha vida num quartinho sujo desses.

ANDRÉ: Cospe mesmo onde te acolheu. Esse lugar sujo, a Malu passou boa parte da vida, sem reclamar.

ESTHER: (ri) A Malu? Sem reclamar? Passar nisso aqui eu acredito, mas aposto que ela fez de te tudo pra sair. E saiu! (T) Ah, você tem um servicinho vindo direto dela.

ANDRÉ: Você se encontrou com ela?

ESTHER: Não interessa isso agora. Já percebeu que a Malu tá nas mãos daquele crápula do Laerte, né? Então, temos que ser rápido. Ela mandou você ir no antigo apartamento dele e procurar pelas provas que ele tem.

ANDRÉ: A Malu pirou. Como eu vou entrar lá?

ESTHER: Se vira, da o seu jeito. Sem dar bandeira, claro.

Fechando sua mala, Esther puxa, segurando. Indo em direção da porta, ela para, virando-se para trás.

ESTHER: Ela me passou o endereço, deixei aí em cima da sua cama e a chave do apartamento. Agora é sério, temos que tirar a Malu dessa, das garras do Laerte. (T) Não pense que eu estou saindo pra um bem bom não, faz parte do nosso plano, que infelizmente você faz parte. Boa sorte, André. Até mais!

Abrindo a porta, Esther rapidamente sai, fechando em seguida. Respirando fundo, André pega em cima de sua cama o endereço e uma chave, encarando.

ANDRÉ: (aflito) Que dê tudo certo, minha cretina!

Fade Out - Rolling In The Deep, Adele.

Corte para:

CENA 05 / MANSÃO MARINHO / COZINHA / INT. / MANHÃ /

No fogão, tentando fazer panquecas, Malu acaba se queimando com os respingos, desligando o fogão em seguida.

MALU: (nervosa) Que inferno!!

LAERTE: (off) Mas é um desastre mesmo na cozinha, não é possível!

Vendo Laerte na porta, todo arrumado, pronto para o trabalho, Malu revira os olhos.

MALU: Quer vir fazer?

LAERTE: Dispenso, tenho mais o que fazer. (T) A mesma regra, tá bom?

Saindo da cozinha, Laerte se distancia de Malu, que rapidamente fica contra a parede, parada por segundos, esperando por algo.

Momento em que a porta é batida, para alívio de Malu, que pega o celular que ela conseguiu com Esther debaixo de um dos panos de prato.

Ela disca rapidamente, fazendo uma ligação.

MALU: (cel./aflita) Alô, Esther? Onde você tá? (T) Já tá indo? (T) Não, pode ficar tranquila, ela não vai desconfiar. Do jeito que planejamos. (T) Vai dar certo, é só você seguir muito bem o roteiro que vamos conseguir! (T) Confia em mim!

Malu desliga, guardando o celular, apreensiva.

Corte rápido para:

CENA 06 / MANSÃO RODRÍGUEZ / SALA DE ESTAR / INT. / MANHÃ /

Pegando sua bolsa, pronta para sair, Liz para, ao ser chamada por Gláucia.

GLÁUCIA: Filha, espera, vamos conversar. Não sai assim, sem antes resolvermos tudo.

LIZ: Eu pedi um tempo, mãe. Respeite.

GLÁUCIA: (marejada) Não faz isso comigo, Liz... eu já não sofri o suficiente?

Iara entra em cena, se aproximando das duas.

IARA: Com licença dona Liz, a senhora tem visita. Posso deixar entrar?

LIZ: Quem está aí?

Momento exato em que a porta da mansão é aberta bruscamente. Ambas se assustam, olhando diretamente para a porta.

Close em Esther, segurando a porta, encarando-as, respirando fundo.

ESTHER: (direta) Desculpa entrar assim, desse jeito. Mas eu não aguentava esperar, eu precisei entrar pra ver você... minha irmã!

ABERTURA:


CENA 07 / MANSÃO RODRÍGUEZ / SALA DE ESTAR / INT. / MANHÃ /

Continuação imediata. Confusa, Liz dá pequenos passos em direção de Esther, que se aproxima. Gláucia intervém.

GLÁUCIA: (agitada) Não chega perto dessa garota, Liz, para o seu bem. (T) Nós não conhemos ela, nem sabemos de onde veio, a única coisa que você sabe é que ela tá mancomunada com a cretina da Malu.

ESTHER: (retraída) Eu posso explicar, eu/

GLÁUCIA: (corta) Não tem o que explicar, vai embora daqui, antes que/

LIZ: (berra/por cima) CHEGA!! (p/Gláucia) Eu já perdi muita coisa... coisas essas que a senhora escondeu. Eu vou falar com a Esther, sozinha, queira você ou não. (p/Esther) Me acompanha!

Liz passa por Gláucia, Esther lhe segue, também passando. As duas sobem as escadas, rapidamente. Gláucia observa, infeliz.

CORTA P/ QUARTO PRINCIPAL: Entrando, Liz espera Esther entrar. Ao entrar, ela fecha a porta, ficando apenas as duas, sozinhas no quarto.

Por longos segundos, as duas se encaram, tensas, ainda sem trocar palavras. Esther respira fundo, se aproximando.

ESTHER: (sem graça) Eu... eu... eu nem sei por onde começar, é tanta coisa que temos que conversar.

LIZ: O que eu mais preciso saber agora é tão importante que dependendo da sua resposta, eu já te coloco pra fora daqui, longe da minha vida. (séria) Qual é a sua ligação com a Malu? Você esteve ao lado dela quando ela roubou o meu lugar?

Ao ouvir o que Liz diz, os olhos de Esther lacrimenjam.

Fade In - Instrumental, Melancolia.

ESTHER: (marejada) Eu não estive, aliás, eu não estou ao lado da Malu. (T) Eu fui uma vítima dela, uma pessoa inocente que desabafou sobre a sua vida pra pessoa errada... eu estava sendo manipulada a anos por ela...

LIZ: Manipulada?

ESTHER: Eu conheci a Malu num reformatório pra menores infratores. Eu fui parar lá depois de cometer um crime...

LIZ: (surpresa) No reformatório? Então foi lá que vocês se conheceram? Não, eu sabia que ela passou por esse lugar, mas não imaginava que fosse nesse lugar que... o que você fez pra parar lá?

ESTHER: (chora) Eu matei... matei o meu padrasto. Eu fui violada, perdi a minha inocência para um cara que deveria me defender, estar ao meu lado... mas eu não me arrependo de ter feito aquilo. Eu estava me defendendo...

Liz fica completamente chocada, sem palavras.

ESTHER: Quando eu cheguei neste lugar, a única pessoa com quem eu tive contato, foi a Malu... a única pessoa que me estendeu as mãos.

LIZ: (abalada) Eu não sabia... eu não sei nem o que dizer, Esther...

ESTHER: (em prantos) Este é um momento da minha vida que eu tento esquecer de todas as formas. Como também eu tento esquecer que todas as desgraças da minha vida, teve um responsável... Alexandre, o nosso pai. (T) Ele matou a minha mãe!!

Assustada, Liz se senta na cama, trêmula, em choque.

ESTHER: É muita informação, né? Mas foi por tudo isso que eu passei, exatamente isso. (T) Sabe como eu soube que eu tinha uma irmã? Através do nosso pai... o desgraçado me procurou no reformatório, ele me disse que quando eu saísse era pra te procurar...

LIZ: E porque não me procurou? Por quê? Eu estaria de braços abertos pra te receber.

ESTHER: (emocionada) Como eu iria adivinhar que a minha irmã rica, famosa, estaria em disposição pra ajudar a fedelha da irmã mais nova? Criminosa? Assassina? A Malu me fez acreditar que você me odiaria.

LIZ: Não fala isso, você não é assassina, apenas se defendeu como disse...

ESTHER: Eu não poderia arriscar, Liz, não poderia ter mais uma decepção na minha vida.

LIZ: (lacrimeja) Mas eu iria ajudar, iria te reestruturar. Apesar dos pesares, você é a minha irmã, sangue do meu sangue!

ESTHER: Como eu disse, eu passei por tanta coisa e a única pessoa que me estendeu a mão, foi a Malu... e eu contei tudo pra ela, sobre você. (T) Quando eu perdi contato com a Malu, eu só descobri anos depois que ela estava famosa, bem de vida. Eu fui atrás dela, cheguei ontem e fui procurar ela no mesmo momento. (T) Ela me contou que entrou na sua vida como forma de vingança, pra querer vencer sobre você por tudo o que me aconteceu.

LIZ: Eu não tenho culpa, eu soube ontem que eu tinha uma irmã. (T) Sou tão inocente nessa história tanto quanto você.

ESTHER: Mas pra Malu não, pra ela você tirou o meu futuro, a minha chance de ser feliz...

LIZ: Isso não faz sentindo, Esther.

ESTHER: Pra ela faz, sempre fez, na verdade, ela queria me fazer acreditar. (chora) Só que eu percebi que na verdade, ela usou isso pra justificar todas as atrocidades que ela cometeu com você... e isso nunca foi por mim. (T) Malu fez questão de me dizer que não me queria, que era pra eu voltar de onde eu vim... ela me humilhou e usou da minha história para o sucesso dela! Aquela desgraçada nunca se importou comigo...

Em prantos, Esther não consegue se controlar, desabando a chorar. Liz se levanta, caminhando diretamente em sua direção.

ESTHER: (lamentando) O meu maior arrependimento disso tudo, foi não ter te procurado. Se eu fosse atrás de você, eu acredito que eu seria feliz... agora, eu nunca mais vou ser, nunca mais vou ter uma família... ter o amor de irmã!

Ao chegar até Esther, Liz segura suas mãos, lhe encarando.

LIZ: (chora) Eu estou aqui... por você, minha irmã!

Ofegante, surpresa com a declaração de Liz, Esther lhe dá um forte abração, bem apertado. As duas permacenem abraçadas por um longo tempo, enquanto desabam a chorar.

Close na porta do quarto se abrindo aos poucos, Gláucia entra lentamente, vendo o abraço das duas. Esther percebe, encarando Gláucia, mudando sua feição, ficando séria.

Liz percebe a entrada de sua mãe, Esther muda novamente sua feição, ficando emocionada.

LIZ: (p/Esther, emocionada) Eu preciso sair, ir pra gravadora, vou ser rápida e tentar repor o nosso tempo perdido. Juro que todas as mágoas que você passou, eu vou te fazer esquecer, porque eu sou sua irmã, sua família e partir de hoje, sempre estarei ao seu lado. (p/Gláucia) Cuide dela enquanto eu estiver fora, apenas isso que eu te peço. (p/Esther) A Iara vai te preparar um quarto, um almoço bem gostoso, você pode ficar aqui, a vontade. A casa é toda sua!

ESTHER: (limpando as lágrimas) Nem sei como te agradecer...

Voltando novamente sua atenção para Esther, Liz dá um beijo em seu rosto. Se despedindo novamente, ela se prepara, pronta pra sair do quarto.

LIZ: (sorri) Eu vou, mas eu volto!

Liz sai do quarto, deixando Gláucia e Esther, que se encaram, sérias.

GLÁUCIA: (direta) Não sei o que você disse, mas já não me desce. Se você fizer algo contra a minha filha, eu acabo com você!!

Gláucia também sai do quarto, deixando Esther sozinha. Ela respira fundo, aliviada.

ESTHER: (ofegante/tranquila) Nem sei aonde que eu arrumei tanta lágrima pra chorar... até que eu sou uma boa atriz!

Esther se joga na cama, contente, aliviada com a concretização de seu plano.

Fade Out - Instrumental, Melancolia.

Corte para:

CENA 08 / CONDOMÍNIO GEORGE SAND / ESTACIONAMENTO / EXT. / MANHÃ /

Fade In - Instrumental, Ação.

Estacionado no seu Audi Q3 Ambition, André abaixa o vidro, olhando a garagem de um dos prédios do condômino George Sand.

Ansioso, ele balança a perna, ofegante. A garagem do prédio se abre, um dos carros sai. O portão automático da garagem começa a fechar, André liga seu carro, acelerando em direção da garagem, conseguindo entrar, momento em que o portão se fecha por completo.

Respirando fundo, aliviado, ele consegue uma vaga, estacionando. Imediatamente, André desce do carro, ligando o alarme.

Pegando o mesmo papel que ele encontrou sobre sua cama, ele vê o número do apartamento.  Dirigindo-se até o elevador, ele aperta um dos botões, esperando.

Atrás dele, um casal desce de um dos carros, indo em direção ao elevador, onde André espera. Ele olha para trás, amedrontado.

HOMEM: Bom dia!

ANDRÉ: (sorri) Bom dia!

MULHER: Bom Dia. Morador novo?

ANDRÉ: (disfarça) Eu? Não! Só tô indo visitar um amigo que mora aqui.

A mulher o repara da cabeça aos pés, estranhando o seu traje. A porta do elevador abre, eles entram. A porta se fecha.

Corte rápido para:

CENA 09 / PRÉDIO / APARTAMENTO / INT. / MANHÃ /

Saindo do elevador, sozinho, ele olha para os lados, vendo ninguém no corredor. Indo até uma das portas do andar, ele pega a mesma chave que conseguiu com Esther, colocando na fechadura desta porta. Conseguindo girar, a porta se abre.

ANDRÉ: (aliviado) Meu Deus, abriu!

Entrando no apartamento, ele fecha a porta rapidamente.

Close por todo este lugar, todo arrumado, chique, um requinte.

ANDRÉ: O safado tem uma boa grana pra manter isso aqui... (focado) Bora pro trabalho!

Começando pela sala, André vai diretamente até o rack da sala, abrindo suas gavetas, revirando os papéis encontrados, olhando um por um.

CORTA P/ QUARTO PRINCIPAL: No quarto, André olha por debaixo das camas, indo até o closet, abrindo todas as portas, gavetas, checando se tem algum fundo falso. Não encontrando nada, ele vai até o banheiro do quarto, também olhando as gavetas, box, tudo, sem sucesso. Voltando para o quarto, ele retira os quadros da parede, não encontrando nenhum cofre.

CORTA P/ COZINHA: Chegando na cozinha, exausto após ter revirado o apartamento todo, ele começa abrir os armários, abrindo os potes, vidros, tudo o que ele encontrar pela frente. Indo até a pia, ele olha por todas as panelas, formas, vasilhas, encontrando nada.

Ele levanta, ofegante, nervoso.

ANDRÉ: (irritado) O desgraçado escondeu bem ou nenhuma cópia das provas estão aqui! (olhando o forno/rindo) Não é possível que ele vai esconder essas provas no forno... bom, se eu olhei as panelas, não custa nada olhar ali.

Indo até o forno, André o abre, colocando sua mão dentro, passando por todo o forno. Ao esbarrar em algo, seus olhos arregalam.

Puxando, ele retira bem do fundo do forno, uma pasta. Rapidamente, colocando sobre a mesa, ele abre a pasta. Olhando o que tem nela, ele fica boquiaberto, surpreso.

ANDRÉ: Pen drive, documentos, fotos... (animado) é a cópia do dossiê da Malu!! Eu consegui!!

No momento em que André vai fechar a pasta, ele ouve um barulho vindo da sala, como se fosse uma porta se abrindo.

Automaticamente, André se assusta, apavorado.

Corte rápido para:

CENA 10 / AVENIDA PAULISTA / CARRO / INT. / MANHÃ /

Tranquilo em seu carro, parado no trânsito, Laerte ouve seu celular tocando. Ele o pega, estranhando ser um número desconhecido, em seguida, atendendo.

LAERTE: (cel.) Pois não? (T) Sim, eu mesmo! (em choque) Como é que é?

Imagens alternadas entre Laerte e outro homem, dentro de uma sala contendo diversas câmeras.

HOMEM: (cel.) Um homem que ainda não identificamos, invadiu seu apartamento. Ele estava em atitude suspeita, e conseguiu entrar. Mandamos dois seguranças diretamente para lá, pra capturar esse homem.

LAERTE: (cel.) Mas isso foi agora? Como ele chegou até aí?

HOMEM: Não sabemos, mas quando estivermos com ele em nossas mãos, iremos ligar para a polícia.

LAERTE: (cel.) Não, polícia não. Preciso saber quem é ele primeiro. Depois eu te falo como prosseguir. Apenas segure esse rapaz e não o deixe fugir!!

Desligando o celular, Laerte o coloca no banco do carona.

LAERTE: (furioso) Espero que você não esteja aprontando, Malu!!

Fade Out - Instrumental, Ação.

Corte rápido para:

CENA 11 / MANSÃO MARINHO / SALA DE ESTAR / INT. / MANHÃ /

Sentada no sofá, despojada, Malu vê Laerte entrando em casa bruscamente. Ela estranha, sem entender.

MALU: (intrigada) O que cê tá fazendo aqui? Entrou desse jeito por quê? Vai tirar o pai da forca, é?

LAERTE: (ofegante) Eu corri... corri o mais rápido possível pra falar com você.

MALU: (ri) Ficou com saudades da sua esposa?

LAERTE: Melhor, vim te avisar antes de você saber, que o meu apartamento no Jardim Paulistano foi invadido.

Em choque, Malu dá um pulo do sofá, preocupada, já imaginando o pior.

MALU: (agitada) Invadido? Agora? Ele foi pego?

O celular de Laerte apita. Pegando de seu bolso, ele desbloqueia, recebendo uma imagem.

LAERTE: (cínico) Graças a Deus ele foi pego, amor. Acabaram de me mandar a foto do cretino, quer ver?

Virando o celular para Malu, seus olhos arregalam ao ver a foto de André sendo segurando por dois homens.

Fade In - Instrumental, Tensão.

MALU: (preocupada) Que isso, Laerte?

LAERTE: (ignora/debocha) Tava pensando se eu ligava pra polícia ou não, porque invasão a domicílio é crime, sabe se lá o que esse moço pode ter roubado. Mas eu pensei melhor, tô um pouco mais caridoso, vou deixar essa passar, sabe?

MALU: (apreensiva) Mande soltar ele, rápido!

LAERTE: Ei, calma aí. Também deixar ele todo livre não dá, né? Vai que ele resolve invadir meu apartamento novamente a mando de uma cretina qualquer? Não podemos correr o risco!

Discando para um número, Laerte espera para ser atendido.

LAERTE: (cel.) Eu de novo. (T) Não precisa chamar a polícia, o coitado é um rato, tava atrás de alimento. (T) Pode soltar ele sim, mas antes... (maléfico) quero um corretivo bem dado desse rato, pra ele aprender a ser mais obediente, seguir perfeitamente as regras.

MALU: (apavorada) Para com isso, Laerte. Fala que é mentira!!

LAERTE: (cel.) Isso mesmo, pode bater, pra valer! (T) Um trato bem dado no gigolô!

Desligando o celular, Malu vai pra cima de Laerte, que curte a situação.

MALU: (transtornada) NÃO, NÃO DESLIGA!! MANDE SOLTAR O ANDRÉ, POR FAVOR!!

LAERTE: (ameaçador) Eu tô dando uma colher de chá pro teu gigolô, e me agradeça por não fazer coisa pior com ele. (T) Nunca mais planeja esses seus planinhos sórdidos pelas minhas costas, que eu te entrego e o resto é consequência! Eu acabo com você, Malu, pode apostar!

MALU: (irritada/berra) VOCÊ NÃO VALE NADA!!

LAERTE: Não tanto quanto você, meu amor! (T) Aquele meu segurança, que você mandou pra delegacia, vai ficar aqui dentro, te fiscalizando até eu chegar. Agora sim, eu vou pro trabalho!

Indo até a porta de entrada, Laerte abre, deparando-se com o seu segurança, que entra. Saindo, Laerte fecha a porta, deixando o segurança ao lado de dentro, encarando Malu, transtornada.

MALU: (firme) Não chega perto de mim ou eu faço um escândalo! Seu verme, idiota!

SEGURANÇA: (sorrindo) Sim senhora!

Saindo da sala de estar, Malu dá um chute na pequena mesa, fazendo com que um dos quadros sobre ela caiam ao chão, se quebrando. O segurança começa a lhe seguir.

Corte rápido para:

CENA 12 / RUA VAZIA / BECO / EXT. / MANHÃ /

Um dos seguranças de Laerte termina de falar no celular, voltando para trás, vendo outro segurança segurar André, que tenta se soltar de todas as formas.

SEGURANÇA 01: (segurando André/firme) O que o chefe falou? Polícia ou não?

SEGURANÇA 02: Não, nada de polícia. Ele pediu pra dar um trato no rapaz aí, aquele bem dado.

ANDRÉ: (desespera) O quê?! Me solta. Tira as mãos de mim, filho da puta!!

SEGURANÇA 01: (p/André) Calma aí, cê não precisa nem gritar de tão rápido que vai ser. (p/Segurança 02) Ele é todo seu!!

ANDRÉ: (berra) ME SOLTA!! SOCORRO!!

O Segurança 02 vai se aproximando de André, que é segurado. Ele acerta um forte soco em seu rosto, sem poder sem defender. Novamente, ele lhe dá mais um soco, bem forte, fazendo com que André fique atordoado.

Caindo no chão, sem forças, André tenta rastejar, mas os dois seguranças, juntos, começam a lhe surrar, dando vários chutes pelo seu corpo, murros em seu rosto, incansavelmente, repetindo diversas vezes, firmes.

Close no rosto de André, já ficando todo machucado, sangrando, com os olhos cortados, boca já inchada, quase apagando.
Momento em que os dois seguranças, param, ofegantes, se afastando do corpo de André estirado ao chão, totalmente debilitado, surrado.

SEGURANÇA 01: (rude) O recado tá dado. Dá proxima, não haverá uma próxima.

Rapidamente, os dois seguranças se distanciam do local, entrando em um carro afastado, acelerando, fritando os pneus, fugindo do local.

André continua estirado no chão, gemendo de dor, tentando se mexer, mas seu corpo fica fraco. Ele começa a tossir, sua boca enche de sangue a cada tosse. André fecha os olhos, inerte.

Fade Out - Instrumental, Tensão.

Corte para:

CENA 13 / CASA DE JOANA / VARANDA / INT. / TARDE /

Sentado em uma das cadeiras, observando o céu nublado, o dia lindo, Valentin segura seu celular, a todo momento olhando. Ele o desbloqueia, fazendo uma ligação, esperando para ser atendido, ansioso.

VALENTIN: (cel./aliviado) Oi, alô... sou eu, Valentin.

Imagens alternadas entre Valentin e Inês, em sua casa, descontraída.

Fade In - Listen, Beyoncé.

INÊS: (cel./animada) Valentin, que bom que você me ligou. Estava pensando em você...

VALENTIN: (cel./surpreso) Estava?

INÊS: (cel.) Sim, estava. Eu gostei de passar o dia ontem com você, foi um dos meus melhores dias no ano... você e sua irmã foram muito gentis comigo.

Close em Joana, contra a parede de entrada da varanda, ouvindo a conversa, sorrindo.

VALENTIN: (cel.) Então não tem motivos pra dizer não pro meu pedido...

INÊS: (cel./curiosa) Pedido?

VALENTIN: (cel.) Quero te convidar pra sair comigo hoje de noite.

INÊS: (cel.) Tem certeza? Nós moramos tão longe um do outro...

VALENTIN: (cel.) Não tem problema, eu te busco.

INÊS: (cel./sorrindo) Se é assim, então aceito!

VALENTIN: (cel./aliviado) Ufa, pensei que iria recusar.

A conversa entre Valentin e Inês vai ficando em off, se abafando junto com Joana, completamente animada com o avanço do irmão, contente.

Fade Out - Listen, Beyoncé.

Corte para:

CENA 14 / GRAVADORA RODRÍGUEZ / ESTÚDIO / INT. / TARDE /

Presentes no estúdio, Giovani e Otávio observam Liz saindo de trás do vidro à prova de som. Eles se encontram.

GIOVANI: Hoje você tava bem avoada, hein? Mas deu pra finalizar. Vou terminar só algumas coisas e vou entregar pros produtores da Globo.

LIZ: (cabisbaixa) Obrigada. Tá acontecendo tanta coisa na minha vida, que se tivesse pra terminar essa música ainda, eu desistiria. Com licença, vou tomar um ar...

GIOVANI: Claro, vai lá.

Saindo do estúdio, ignorando a presença de Otávio, Liz fecha a porta. Pensativo, Otávio também sai do estúdio, indo atrás de Liz.

CORTE P/ ANTI- SALA: Se aproximando da janela, Liz não percebe Otávio vindo em suas costas. Ela vira-se para trás ao ser chamada pelo mesmo.

OTÁVIO: (atencioso) Aconteceu alguma coisa, Liz? Você ficou o dia todo pra baixo.

LIZ: (respira fundo) Só hoje, eu descobri que perdi uma boa parte da minha história, porque a minha mãe omitiu tanta coisa, principalmente uma irmã. Acredita que eu tenho uma irmã?

OTÁVIO: Irmã? Quem?

LIZ: Esther Brandão é o nome dela, mas isso nem é tudo. Por ela ficar afastada de mim, ela ficou nas garras da Malu, que usou da história dela pra querer se vingar de mim. Vingança essa que eu não tenho culpa de nada, Otávio. Ela esse tempo todo me fez parecer ser a vilã da história. (chora) Eu não queria que tudo isso acontecesse, não queria ficar afastado da Esther e nem ser o alvo dessa maluca da Malu. Será que as coisas nunca mais darão certo pra mim?

Se aproximando de Liz, Otávio pega em suas mãos, lhe encarando, limpando as lágrimas de Liz, abalada.

Fade In - Sentimental, Los Hermanos.

OTÁVIO: Não diz isso, porque partir de hoje eu prometo que tudo dará certo pra ti. Quando eu disse que estaria ao seu lado, mesmo tendo ficado magoado daquele momento seu com o Aloísio, eu fiquei, eu estou aqui, te ajudando, e sempre te amando... quanto mais eu ficava afastado de você, mais apaixonado eu ficava...

LIZ: Otávio...

OTÁVIO: (por cima/emocionado) Naquele dia que eu fui atrás de você, atrás da sua música, você tinha razão, eu não estava apenas querendo saber da música, estava querendo saber como você estava, sentir o seu cheiro, a sua presença... eu queria ficar ao seu lado. Foi tão difícil negar aquele beijo, o seu toque... mas eu não consigo mais. Sabe por quê? Eu te amo, Liz, sempre te amei!!

Marejada com o que ouve de Otávio, trocando olhares profundos, ele passa sua mão pelos cabelos de Liz, que beija sua mão, apaixonados.

Seus rostos se aproximam, se encarando fixamente, através de um longo suspiro, os dois se beijam, romanticamente, esquecendo tudo e todos em sua volta, focando apenas nesse beijo apaixonado, libertador, se entregando ao amor.

Close em Laerte, na porta da anti-sala, observando o beijo de Liz e Otávio, sem reação. Totalmente avulso, demonstrando tristeza, ele dá pequenos passos para trás, indo em direção de sua sala.

O beijo dos dois continua, agora, ainda mais excitantes, com Liz "presa" entre os braços de Otávio.

Fade Out - Sentimental, Los Hermanos.

Corte para:

CENA 15 / MANSÃO RODRÍGUEZ / COZINHA / INT. / TARDE /

Sentada na mesa, ao lado de Gláucia, Esther é servida por Iara, almoçando. Ela come, saboreando a comida, satisfazendo-se.

ESTHER: (p/Iara) Nossa, mas você tem mãos de fada, tá maravilhoso.

IARA: Obrigado, dona Esther. Sempre é bom ter alguém elogiando sua comida.

ESTHER: (encarando Gláucia) É, estou vendo mesmo, tem gente que nem tocou na comida.

GLÁUCIA: Tá falando de mim, garota?

ESTHER: Só temos nós três aqui e a Iara ainda não está comendo. (p/Iara) Aliás, ainda não entendi porque você não tá comendo com a gente. Vamos, pegue um prato, sirva-se e senta com a gente. E eu não aceito não!

IARA: (sorri, sem graça) Sim senhora.

Iara pega um dos pratos, se servindo, em seguida, se sentando na mesa, com olhares nada amigáveis de Gláucia.

GLÁUCIA: Pra quem chegou aqui agora a pouco, já tá mandando na empregada? Que rápida!

ESTHER: (cínica) Isso não é mandar, é o bom senso. Se você desconhece, eu posso te ensinar! Não é difícil, você pega na prática.

Irritada, pronta para responder, Gláucia é interrompida com o celular de Esther tocando. Tirando de seu bolso, ela percebe ser uma chamada de Malu.

ESTHER: (disfarça) Eu preciso atender, com licença.

Se levantando da mesa, Esther rapidamente se afasta, saindo da cozinha, indo para outro cômodo. Close em Gláucia, desconfiada.

CORTA P/ COPA: Atendendo, a imagem se alterna entre Esther e Malu, no banheiro de sua mansão.

ESTHER: (cel./sussurrando) Rápido, eu não posso falar agora, a Gláucia ta na minha cola!

MALU: (cel./falando baixo, preocupada) Eu preciso que você vai atrás do André. O Laerte descobriu que ele invadiu o apartamento dele e mandou dar uma surra nele. O desgraçado ainda colocou um dos seguranças dele pra me vigiar, o filho da puta tá indo atrás de mim em todo o lugar, tive que fugir vindo pro banheiro.

ESTHER: (cel.) O que eu vou falar pra sair daqui?

MALU: (cel.) Se vira, dá o seu jeito, mas eu preciso saber como o André está. Não demora!

Malu desliga o celular. Esther vira-se para trás, se deparando com Gláucia, que estava em suas costas.

GLÁUCIA: (intrigada) Algum problema?

ESTHER: (apressada) Não sei, mas eu vou ter que sair. Volto já!

Saindo rapidamente da copa, Esther se distancia de Gláucia, que vê de longe a mesma abrindo a porta de entrada, fechando ao sair.

Incomodada, Gláucia fica pensativa, intrigada.

GLÁUCIA: Essa garota não me engana, ela tá aprontando!

Corte rápido para:

CENA 16 / KITNET / QUARTINHO / INT. / TARDE /

Chegando na porta do kitnet, Esther estranha ao vê-la entreaberta. Amedrontada, ela abre aos poucos, esperando pelo pior.

Ao entrar, ela toma um susto ao ver André, no chão, completamente machucado, debilitado, atordoado.

ESTHER: (assustada) O que aconteceu com você?

ANDRÉ: (com dificuldades) A minha cabeça... levanta... levanta minha cabeca...

Correndo até a cama, Esther pega um dos travesseiros, colocando por debaixo da cabeca de André, no chão.

ESTHER: O que fizeram com você? Como você chegou aqui, assim?

ANDRÉ: (ofegante) A pasta... o dossiê... tá na cama... eu consegui antes deles me pegar... eu consegui...

FLASHBACK ON:

Continuação imediata da cena 09. André, assustado ao ouvir um barulho de porta se abrindo. Ele vai até a porta cozinha, vendo dois seguranças entrando. 

ANDRÉ: Fudeu! 

Correndo até a pasta, ele a fecha, abrindo a janela da cozinha, jogando a pasta pela janela.
Momento exato em que os dois seguranças chegam até ele.

FLASHBACK OFF.

ANDRÉ: (cuspindo sangue) Por incrível que pareça, ninguém pegou a pasta na rua... ela ficava em um lugar que não passava ninguém... fala pra Malu que eu peguei...

ESTHER: Eu vou falar, fica calmo. Eu vou te levar pro hospital, você vai morrer assim!!

Passando a mão na cabeça, apavorada, Esther pega o celular, fazendo uma ligação.

Corte para:

CENA 17 / TASTELT RESTAURANTE / INT. / NOITE /

Close em todo o restaurante, um local de requinte, mas nada exorbitante. O garçom acaba de sair da mesa de Valentin e Inês, toda arrumada.

Fade In - Sign Of The Times, Harry Styles. (música ambiente)

INÊS: Valentin, você deve tá gastando uma grana. Pra ter saído da zona sul de Uber pra me buscar em Itaquera já foi um dinheirão, imagina nesse restaurante?

VALENTIN: Vale a pena... por você!

INÊS: (sorri) Você tá me cantando?

VALENTIN: (gagueja) Eu... eu...

INÊS: (corta) Eu tô brincando, bobo. Sem estresse! (T) Quem diria, que no tempo da escola, você hoje iria me chamar pra jantar.

VALENTIN: Eu não era uma pessoa boa de cabeça, aliás, ainda não sou. Mas eu tento todos os dias mudar, ser uma pessoa diferente, uma pessoa melhor... você tá me ajudando muito nisso.

INÊS: Nem sei o que dizer... é bom estar com você!!

O garçom chega até a mesa dos dois, servindo ambos. Eles aproveitam, começando a comer. Ambos se encaram, dando um pequeno sorriso.

Fade Out - Sign Of The Times, Harry Styles. (música ambiente)

Corte para:

CENA 18 / MANSÃO RODRÍGUEZ / SALA DE ESTAR / INT. / NOITE /

Entrando em casa, Liz fecha a porta. Caminhando até o sofá, ela coloca sua bolsa sobre, sentando em seguida.

Encostando a cabeça no sofá, ela fecha os olhos lentamente, mas acorda com a presença de sua mãe, chegando na sala de estar.

LIZ: (sonolenta) Você tá aí... chama a Esther, por favor. Quero conversar um pouco com ela.

GLÁUCIA: Aquela garota não está!

LIZ: (intrigada) Pra onde ela foi?

GLÁUCIA: Não sei, mas saiu daqui com uma atitude muito suspeita. Recebeu um telefonema, atendeu e na mesma hora saiu, isso era horário de almoço e até agora não voltou.

A porta de entrada se abre, Esther entra rapidamente, mas mudando sua feição ao ver Liz, que se levanta do sofá, indo em sua direção.

ESTHER: (surpresa) Já chegou?

LIZ: Acabei de chegar, mas parece que não foi só eu quem saiu. Você me disse que não conhece ninguém nessa cidade, além da Malu. Veio pra cá sozinha, sem ninguém. (dura) Aonde você foi, Esther?

A câmera fixa em Esther, sendo questionada por Liz, congelada em tom amarelo em um disco de vinil, ao som de: "Huggin & Kissin, Big Black Delta."



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