Redenção - Capítulo 33 (Antepenúltimo Capítulo)
quarta-feira, junho 06, 2018
REDENÇÃO – CAPÍTULO 33 (ANTEPENÚLTIMO
CAPÍTULO)
“A VERDADE SOBRE MARCELA DELLATORRE”
CENA
1/CASA DE NORMA/EXTERIOR/MANHÃ
Marcela e Amaral
fecham os vidros. Amaral acelera o carro em seguida.
CENA
2/GALPÃO/INTERIOR/MANHÃ
Hugo pega o
dinheiro. Marcela e Amaral entram no galpão.
MARCELA: E aí?
Comprou?
HUGO (sorrindo): O
parque de diversão é nosso!
MARCELA: Você tem
certeza de que lá é distante e de que não vai ninguém, né?
HUGO: Absoluta! O ex
dono afirmou que é.
MARCELA (sorrindo):
Perfeito. Vai ser um espetáculo de mortes!
CENA 3/CASA
DE NORMA/COZINHA/INTERIOR/MANHÃ
Sandra observa a
cozinha de Norma.
SANDRA: Meu Deus, eu
tô encantada... Norma, é tudo muito lindo.
NORMA: Tava pensando
em comprar um daqueles negócios que coloca embutido... Tipo aqueles fornos, sabe?
SANDRA: Sei, forno
elétrico de embutir.
NORMA: Isso! Isso
mesmo. Tava querendo colocar.
SANDRA: Coloca sim,
a cozinha vai ficar mais luxuosa do que já é.
Laís entra na
cozinha com o celular em mãos. Norma olha.
NORMA: Laís? O que
houve, filha?
LAÍS: Eu preciso ir
num enterro agora. Tudo bem?
NORMA: Enterro? Enterro de
quem?
LAÍS: Do pai do
Lucas, meu amigo do colégio. Parece que ele foi assassinado ontem, e eu preciso
ir lá dar uma força pra ele.
NORMA: Que horror, perder
um pai assim... Faz o seguinte: convida ele pro jantar que vai rolar daqui uns
dias, o que acha?
LAÍS: Não sei se ele
vai se sentir bem.
NORMA: É bom que eu
conheço ele.
LAÍS: Ele é gay e
pode ser que venha com o namorado. Tudo bem pra você?
NORMA: Claro que
sim! Por que não estaria? Não tenho preconceito algum, e cada um vive do jeito
que quiser.
LAÍS: Tá bom então.
NORMA: Ah, aproveita
que você tem o zap do Ricardo e convida ele e a futura esposa dele.
LAÍS: Tem certeza?
NORMA: Tenho! Eles
já vão sair do país mesmo.
LAÍS: Pode deixar
que eu mando mensagem.
CENA
4/CEMITÉRIO/EXTERIOR/TARDE
Lucas, Mateus e Laís
saem do cemitério. Alguns amigos da família abraçam Lucas, que usa um óculos
escuro para esconder seus olhos cheios de lágrimas. Laís é a última a abraçar
ele.
LAÍS: Forças, meu
amigo.
LUCAS: Obrigado
mesmo por ter vindo, Laís. – Termina de abraçá-la.
LAÍS: Imagina... Eu
conhecia seu pai, sabia que você amava muito ele, apesar dele ter sido sempre
homofóbico. E enquanto a Nina... Eu já não tenho mais contato com ela, se isso te
interessa. Pra mim, a minha amizade com ela já acabou faz tempo.
LUCAS: Foi aquela
vagabunda que matou ele, eu sei que foi.
LAÍS: E com certeza
ela vai pagar pelo que fez, cedo ou tarde.
LUCAS: Sério, a
minha vontade é de encontrar e de matar ela com as minhas próprias mãos!
LAÍS: Eu entendo,
mas se você fizer justiça com as próprias mãos, vai ser muito mais pior. Lembre-se que
você não é um assassino igual ela.
MATEUS: Foi isso que
eu disse pra ele.
LUCAS: Vou tentar me
controlar ao máximo, mas vai ser muito difícil.
LAÍS: Pra esquecer
um pouco isso, se descontrair, que tal ir lá em casa num jantar que a minha mãe
vai preparar? Você também tá convidado, Mateus.
LUCAS: Mas eu nem
conheço a sua mãe.
LAÍS: Ela mesmo que
pediu pra te convidar, quer conhecer você e seu namorado. E não se preocupe que
ela é de boa, tem zero preconceito.
LUCAS: Tudo bem, eu
vou ir. Quando vai ser mesmo?
LAÍS: Ainda essa
semana, acho que na quarta, dia 6. É que um amigo meu vai sair do hospital depois de ter tentado suicídio, aí ela vai fazer esse jantar. Por favor, não falta. Eu te envio
por mensagem o endereço e o horário, pode ser?
LUCAS: Tudo bem,
Laís. Pode deixar que eu e o Mateus vamos.
LAÍS: Mateus?
MATEUS: Claro que
vamos, quero conhecer sua mãe também.
LAÍS (sorrindo):
Perfeito!
CENA
5/PARQUE DE DIVERSÃO/TARDE
Marcela, Amaral e
Hugo chegam de carro num enorme parque de diversão bem afastado da cidade. O parque
está completamente vazio. Close nos diversos brinquedos. Marcela, Amaral e Hugo
descem do carro.
MARCELA: Nossa, é
bem grande aqui.
HUGO: Foi caro essa
porra, hein? Mas compensou.
MARCELA (sorrindo):
Tô tão orgulhosa de você, filho. Já com 18 anos, é dono de um parque.
HUGO: Tudo eu faço
por você, mamãe.
AMARAL: Eu ainda tô
arrumando os capangas que a senhora me pediu.
MARCELA: Por favor,
não me chama de senhora, me sinto velha desse jeito. Me chame de você, ou de Marcela,
como preferir, mas não de senhora.
AMARAL: Tudo bem.
MARCELA: É, aqui é
bem afastado da cidade, não vai ter polícia pra vir encher o saco. Todos esses
brinquedos funcionam, filho?
HUGO: Todos
funcionam.
MARCELA (sorrindo):
Ótimo! Só que eu vou usar somente um brinquedo.
HUGO: Só um? Qual?
MARCELA (sorrindo):
A torre! – Aponta pra torre de queda livre.
Trilha Sonora: Saga – Filipe Catto
A CAM se aproxima da
torre.
Close em Marcela
sorrindo enquanto aponta para a enorme torre de queda livre.
CENA 6/CASA
DE NORMA/EXTERIOR/TARDE
Três dias depois...
Ao som de “Saga”, de
Filipe Catto, close no exterior da casa nova de Norma e nela entrando dentro de
sua casa com Laís e umas sacolas de compras. Sandra sai do carro com muitas
sacolas nas mãos.
Um carro preto de vidros escuros está no local. Dentro dele,
está Amaral, que observa atentamente cada passo de Norma. Após Sandra entrar na
casa e fechar a porta, Amaral pega seu celular dentro do carro e liga para
Hugo.
CENA 7/GALPÃO/INTERIOR/TARDE
Hugo atende seu
celular.
HUGO: Amaral?
AMARAL (celular):
Ela tava entrando na casa agora pouco com umas sacolas de compra, acho que vai
fazer algum almoço especial, ou jantar.
Hugo tira o celular
do rosto e olha para Marcela.
HUGO: Ela tava
entrando em casa com umas sacolas de compra, parece que vai fazer um almoço, ou
jantar, não sei.
MARCELA: Com certeza
vai ser jantar. Almoço a essa hora? Nunca! A Norma não almoça tão tarde assim.
HUGO: Com certeza. –
(Coloca seu celular sobre o rosto novamente). – Vai ser um jantar. Olha, faz o
seguinte: você vem pra cá, mas não esquece de trazer seu pessoal, tá bom?
AMARAL (celular):
Certo.
HUGO (celular): E é pra já! – Desliga o celular.
MARCELA (sorrindo):
É hoje que eu vou dizer tudo na cara daquela puta sonsa!
CENA
8/HOSPITAL/EXTERIOR/TARDE
Cláudio e Júnior
saem do hospital.
CLÁUDIO: Eu vou chamar
um Úber. Deixa eu chamar? Me dá o celular.
Júnior entrega o
celular para Cláudio.
CLÁUDIO: Tem
crédito?
JÚNIOR: Tem. Filho,
tá tudo bem com você? Parece que não tá feliz que saiu desse inferno.
CLÁUDIO: Claro que
eu tô.
JÚNIOR: Quer
conversar?
Cláudio para de
mexer no celular e olha para Júnior.
CLÁUDIO: Eu já falei
tudo que eu tinha que falar lá dentro, o motivo de eu ter feito o que eu fiz. Me
senti tão distante da mamãe... Mas, olha, eu vou superar, tenho que superar! Não é tirando minha própria vida que isso vai acontecer.
JÚNIOR (sorrindo):
Fico feliz agora pensa assim. Ela lá em cima deve estar morrendo de orgulho de
você.
CLÁUDIO: Eu sei que
sim. Pai, a gente tem que ir mesmo naquele jantar?
JÚNIOR: Sim, é hoje, dia 6.
A Norma pediu pra gente ir direto pra lá.
CLÁUDIO: Tudo bem,
mas você tem que me falar o endereço pra eu colocar aqui no aplicativo.
JÚNIOR: Tudo bem, coloca
aí!
Júnior fala o
endereço para Cláudio, que procura no mapa do aplicativo.
CENA
9/RUA/TARDE
Nina, totalmente
suja, anda pelas ruas da cidade, tentando se esconder das viaturas de polícia
que ali passam. Ela observa uma padaria e entra no estabelecimento. Ela olha
para um homem comendo um pedaço grande de pizza.
NINA: Moço, eu tô
com fome, muita fome mesmo. Poderia pagar um lanche pra mim?
HOMEM: Você acha que
eu tô cagando dinheiro assim, garota? Vai arrumar um serviço que você ganha
mais!
Nina, cabisbaixa,
sai da padaria. Ao sair, ela ouve uma notícia na televisão, que a faz parar e
observar a TV.
Na TV, uma repórter
conversa com Lucas.
REPÓRTER: O nome
dessa mulher que matou seu pai é Nina Carrão? Então é a mesma que foi acusada de matar
Bruno Carvalho no apartamento dela?
LUCAS: Eu fiquei
sabendo ontem que o Bruno tinha sido assassinado no apê dela, então com certeza
foi ela quem matou, tanto que fugiu, tá foragida agora. Essa mulher é completamente
desequilibrada, fala o que quer, a polícia tem que encontrá-la, não pode ficar
livre! Eu tenho até uma foto dela aqui no meu celular. Deixa eu ver...
Lucas procura a foto
de Nina no celular e mostra para a repórter, que imediatamente mostra para a
câmera.
REPÓRTER: Então essa
mulher é Nina Carrão, a mesma pessoa que matou Bruno Carvalho e Pedro Tavares, pai de Lucas, e que está à solta!
LUCAS: Gente, se alguém ver
essa mulher, não exite em ligar pra polícia. Ela é muito perigosa e é uma
ameaça pra Vila Madalena.
Nina imediatamente
vai embora dando longos passos.
NINA (furiosa): Isso não vai
ficar assim!
Foco no olhar
sombrio dela e nela apertando suas mãos com força e com muito ódio.
CENA
10/CASA DE NORMA/SALA/INTERIOR/TARDE
Laís, Júnior,
Cláudio, Miguel, Cátia, Ricardo e Camila estão reunidos na sala onde conversam
e dão gargalhadas enquanto esperam o jantar.
CLÁUDIO: Já pensou
no que vai fazer quando se formar, Laís?
LAÍS (sorrindo): Eu
tava pensando em Medicina.
CLÁUDIO: É bem
complicado.
LAÍS: Eu na verdade
não sei se eu quero mesmo Medicina, tô ainda decidindo. Tanta coisa que
aconteceu nesses últimos tempos que eu nem parei pra pensar direito no meu futuro.
JÚNIOR: O Cláudio
disse que quer cursar Direito.
CLÁUDIO: Sim, eu
tava pensando nisso.
LAÍS: Assim como Medicina,
Direito também é complicado.
CLÁUDIO: Pretendo me
esforçar ao máximo.
LAÍS: Parece que o
Miguel falou pra mim uma vez que queria cursar Direito também, não foi Miguel?
MIGUEL: Sim, e eu
ainda quero. Não vejo a hora de me formar logo, deixar esse Ensino Médio e
correr atrás do meu futuro.
JÚNIOR: Que
maravilha, todos já sabem o que vai ser.
LAÍS: Menos eu,
ainda tenho que decidir. Mais perdida que cego em tiroteio.
Todos riem.
Júnior olha para
Cátia.
JÚNIOR (sorrindo): E
você, menina?
LAÍS: É Cátia. O
nome dela é Cátia.
JÚNIOR: Cátia, me diga:
o que vai fazer depois que se formar?
LAÍS: Na verdade, a
Cátia não estuda, nunca terminou os estudos pra falar a verdade.
JÚNIOR: Nossa, por
quê?
CÁTIA (confusa):
É...
LAÍS: Quer mesmo
contar, Cátia?
CÁTIA (decidida):
Tudo bem, eu conto. - (Olha para Júnior). - Eu saí de casa muito cedo e na rua eu me envolvi com drogas
e, logo mais tarde, virei prostituta.
Júnior, Cláudio,
Miguel, Camila e Ricardo ficam impressionados.
CÁTIA: Bom, é isso.
Mas ainda bem que eu já larguei essas drogas. Olha, vou te falar... Não foi fácil pra eu se livrar das
drogas, mas eu consegui. Quanto ao trabalho de prostituta, eu saí esses dias.
LAÍS: E você não me
disse isso.
CÁTIA: Eu queria te
contar essa noite.
LAÍS: E tá sem lugar
pra morar? Se quiser eu falo com a minha mãe pra ela te deixar ficar aqui. Quer?
CÁTIA: Obrigada
mesmo, mas eu tô com a Sandra, ela já havia me convidado pra morar lá na
pensão, em troca eu trabalho lá.
Norma e Sandra
aparecem.
NORMA (sorrindo):
Daqui a pouco vai anoitecer, e o jantar já vai tá pronto! Tão com fome?
JÚNIOR (sorrindo):
Muita.
NORMA: Ótimo, porque
eu quero todos com a barriga estufada de tanta comida.
LAÍS (sorrindo): Que
horror, eu não posso engordar não.
MIGUEL: Pra mim,
você gorda ou não, vou te amar dos mesmo jeito.
Todos se
impressionam e olham pra Miguel.
MIGUEL (sorrindo): O
quê? Foi só uma brincadeira.
Todos riem
novamente.
RICARDO (sorrindo): Gente,
nunca casem, é só um conselho.
Camila dá um soco no
braço de Ricardo, que ri.
LAÍS: Ué, mas você
vai se casar com a Camila, não vai?
CAMILA: Ele vai sim,
se não quer que eu corto um grande membro dele, que por sinal ele sabe usar
muito bem.
Eles riem.
RICARDO: Claro que
eu vou me casar com você. – Beija Camila.
LAÍS: Ai meu Deus...
Que casalzão.
CENA
11/CASA DE MATEUS/EXTERIOR/TARDE
Nina aparece na
frente da casa de Mateus, totalmente furiosa. Ela pisa na grama e vai até a
janela lateral da casa, onde é a cozinha. Ela observa Lucas beijando Mateus
pela janela.
Lucas e Mateus
terminam de se beijar. Nina continua observando tudo.
MATEUS: Vou arrumar
minha roupa pra ir no jantar hoje a noite.
LUCAS (sorrindo): Vai ficar um
gato como sempre.
MATEUS (sorrindo): Seus olhos.
Mateus sai da
cozinha deixando Lucas a sós.
Lucas anda de um
lado para o outro e, de repente, tira uma pistola que estava no bolso maior da
calça. Foco nele observando a arma.
LUCAS: Nina... Nina,
eu vou ainda fazer justiça com as minhas próprias mãos, você vai ver. Eu vou acabar
com a sua vida! Você vai se arrepender amargamente de um dia ter nascido!
Mateus aparece de
repente na cozinha com sua roupa nas mãos e Lucas esconde a arma em cima de uma pia atrás
dele.
Nina se abaixa.
NINA: Merda!
Na cozinha, Mateus
mostra a roupa para Lucas.
MATEUS (sorrindo): O
que achou dessa?
LUCAS (sorrindo): Amor, tudo
fica perfeito em você.
MATEUS: Ah, não.
Essa fica feia, né? Eu sabia! Vem aqui me ajudar a escolher.
LUCAS: Tem que ser
agora?
MATEUS: Sim, por
favor.
Mateus pega nas mãos
de Lucas, quase arrastando o namorado para fora da cozinha. Foco na arma em
cima da pia.
Do lado de fora,
Nina se levanta novamente e, da janela, observa atentamente a pistola em cima
da pia. Ela tenta abrir a janela, mas não consegue.
NINA: Abre, porra!
Nina usa toda sua
força e consegue abrir a janela, onde entra. Na cozinha de Mateus, Nina pega a
arma deixada por Lucas.
NINA: Mais é muito
burro mesmo, viu? Lucas, você quer me matar? Vamos ver quem vai morrer primeiro!
Nina observa o
interior da cozinha e consegue ver uma chave aparentando ser a chave de um
carro. Ela se aproxima e pega a chave de cima do balcão.
NINA (sorrindo): É
hoje o meu dia de sorte. – Segura firme a chave.
CENA 12/GALPÃO/INTERIOR/TARDE
Amaral apresenta os
capangas que contratou para Hugo e Marcela. Ele apresenta um por um.
AMARAL: Esse daqui é
o Jorge. Esse de cabelo comprido que parece um boiola é o Will. Esse que parece
o Bob Esponja com a cabeça meio quadrada é o Caixa.
MARCELA: Por que
Caixa?
AMARAL: O formato da
cabeça.
Marcela começa a
rir.
MARCELA: Me
desculpa, mas parece com aquele Tubarão-martelo, sabe?
Todos riem.
AMARAL: E por
último, o menor... Esse daqui é o Sapo, por causa dos olhos meio esbugalhados.
MARCELA (rindo): Meu
Deus, cada apelido... – (Ficando séria) - Enfim! Chega de papo furado agora.
Todos já sabem o que tem que fazer?
Os capangas balançam
a cabeça concordando.
MARCELA: Perfeito!
Logo mais a gente vai botar pra foder em cima daquela família ridícula! Ah, eu não vejo a hora de ter o sangue da Norma nas minhas mãos. – Ela
sorri.
CENA 13/VILA
MADALENA/ANOITECENDO
Num clima de
suspense, com um instrumental melancólico de fundo, anoitece na região de Vila
Madalena. O termômetro de rua marca 18 graus e o relógio marca exatamente 19h23.
Close na rua vazia e
na faixada da casa de Norma com todas as luzes acesas.
De repente, aparece
duas vans pretas seguido do carro de Amaral. Eles param na frente da casa de
Norma e os capangas descem das vans armados até os dentes.
CENA 14/CASA
DE NORMA/SALA DE JANTAR/INTERIOR/NOITE
Laís, Sandra,
Júnior, Miguel, Cláudio, Cátia, Camila e Ricardo se divertem. Norma aparece.
NORMA: Eu sinto
muito, Laís, mas já tá tarde e eu tenho que servir o jantar.
LAÍS: Tudo bem, eu
não sei porque o Lucas e o Mateus tão demorando tanto. Mandei várias mensagens
lembrando eles hoje.
NORMA: Eles devem ter
um bom motivo, ou se atrasaram mesmo. Se eles chegarem daqui a pouco, não vai
ter problema. A noite ainda é uma criança.
SANDRA: Quer ajuda
pra servir, amiga?
NORMA: Por favor.
Sandra se levanta e
vai até a cozinha junto com Norma. Cláudio olha para seu pai.
CLÁUDIO: A lua tá
tão linda hoje, né?
JÚNIOR: Maravilhosa!
CLÁUDIO: Vou no
banheiro. Onde é o banheiro, Laís?
LAÍS: No final do
corredor à esquerda.
Cláudio se levanta e
vai na direção do banheiro.
JÚNIOR: É, Deus é
bom demais.
LAÍS: Pois é,
ninguém vai estragar essa maravilha de noite.
De repente, a porta
principal da casa é arrombada com tudo, fazendo um estrondoso barulho. Os capangas
entram armados e correm até a sala de jantar, onde surpreendem todos que ali
estão.
Na porta principal, close em Marcela e Hugo entrando. Marcela entra
sorrindo enquanto segura uma pistola. Close em todos gritando desesperados na
sala de jantar.
Na cozinha, Norma e
Sandra se assustam.
NORMA (desesperada):
É um assalto. Meu Deus, os meus amigos, a minha filha!
Norma se afasta de
Sandra para ir à sala. Sandra segura firme o braço da amiga.
SANDRA: Não, você
não pode ir. Eles devem estar armados até os dentes!
NORMA: Eu preciso
ir, preciso tentar fazer alguma coisa.
SANDRA: O que você
vai fazer sem ter nenhuma arma, mulher?
Norma não obedece Sandra e se
solta dos braços dela. Ela corre até a sala de jantar onde se choca ao ver
seus amigos e sua filha virarem reféns.
No banheiro, Cláudio
está agachado no chão com muito medo.
Na sala de jantar, Marcela,
de repente, surpreende a todos ao entrar na sala. Ao pararem os gritos, os
reféns olham para Marcela sorrindo. Norma se choca ao ver a irmã.
RICARDO (chocado): O
quê?
CAMILA (chocada):
Não pode ser...
NORMA (chocada):
Marcela?
MARCELA (sorrindo):
Ora, ora... Norma Silveira. Já faz um tempinho, não é mesmo? Como vão as
coisas?
Norma, furiosa, corre
até Marcela, atacando a vilã.
NORMA (furiosa): Eu
vou te matar, sua puta desgraçada! Você matou a minha mãe!
Marcela não faz nada
e Amaral agarra Norma.
LAÍS (gritando):
Solta minha mãe!
MARCELA: Isso lá é
jeito de receber uma visita, Norma? Cadê a educação que você tanto tinha? Foi
pro espaço, né? - (Olha para Laís). - E que nojo você chamando essa puta de mãe, sendo que fui eu que
criei você essa vida toda, sua mal agradecida do cacete!
LAÍS (furiosa): Eu
te odeio, seu monstro! – (Gritando). – Te odeio!
MARCELA: Nossa, meu
Deus. Pra quê tanto drama assim, gente? Me sinto numa novela mexicana.
Marcela se aproxima
de Norma e aponta sua arma para o rosto dela.
MARCELA (sorrindo):
Ah, eu sempre desejei fazer isso.
Norma cospe na cara
de Marcela, que dá gargalhadas.
NORMA: Você é
completamente louca!
MARCELA (sorrindo): Você que é
completamente louca! Não tá vendo que eu tô apontando uma arma pra tua cabeça? Tem
que ter muita coragem mesmo pra cuspir na minha cara.
NORMA: Foi você, não
foi? Você que colocou fogo na mansão e matou a nossa mãe, a Joana e a empregada,
não é? Foi você!
MARCELA: Teria sido
quatro se esse filho da puta do Ricardo não tivesse se soltado! Juro, eu até
hoje não sei como ele se soltou daquelas correntes.
RICARDO: Foi a
Joana. Ela me ajudou, graças a Deus.
MARCELA: Bem que eu
desconfiava. Aquela ali era muito intrometida, ainda bem que teve o fim que
mereceu. – (Sorrindo). - Abri um buraco na cara dela com uma escopeta. Que
sensação gostosa eu tive quando vi aquele sangue todo espirrando na minha cara
e os miolos dela saindo pra fora.
Enquanto Amaral
segura Norma, Marcela vai até Camila.
MARCELA: E como você
tá?
CAMILA: Bem, e você?
Marcela olha pro
lado sorrindo. De repente surpreende Camila com uma bofetada bem forte na cara
dela, que sangra.
MARCELA: Como eu adoro um sarcasmo! Olha, era isso...
Isso que eu tava desejando! Vagabunda, você roubou minha grana. E com a ajuda desse
filho da puta, desse cuzão do caralho, deu boa parte da grana pra essa puta que
eu tenho asco de chamar como irmã. E ela gastou bem pelo visto. Comprou essa
casa enorme com esse dinheiro! O que te fez aceitar essa grana, Norma? Hein?
Não tava morando na favela com essa vadia que você chama de amiga?
SANDRA: A única
vadia aqui é você!
MARCELA: Sapo, faz
essa puta calar a boca.
O capanga dá três
socos fortes na barriga de Sandra, que cai no chão. Norma ao ver aquilo começa
a chorar.
NORMA: Não... Para
com isso! Sua vagabunda, olha o que você fez!
MARCELA: Anda, me
responde!
NORMA (chorando): Eu
precisava da grana.
MARCELA (sorrindo):
Ah, precisava... Que belo argumento. Também, o que se esperar de uma
mulherzinha que passou a adolescência toda na rua, né?
LAÍS (furiosa): Nojo
de você! Nojo! Ela pode ter passado a vida toda na rua, mas nunca se envolveu
com nenhum tipo de droga, e foi estuprada, tanto na rua, onde vivia, quanto pelo
meu pai, o Carlos, que agredia ela durante anos.
MARCELA: É, já vi
que ela já te contou tudo, né? Pra você, Laís, eu tenho uma surpresinha. Pode
entrar, Hugo!
Hugo entra na sala
de jantar surpreendendo Miguel e Laís.
LAÍS (chocada): Você tá com
essa mulher?
MIGUEL (furioso):
Filho da puta, eu vou te matar!
Hugo dá risada.
MARCELA (sorrindo): Bom, lá no
lugarzinho onde a gente vai, conversamos mais. Chega de papo furado por agora. Podem
levá-los!
NORMA: Calma, pra
onde a gente vai?
MARCELA: Você vai
ver. Gosta de parques de diversão? Acho bom você gostar. Agora levem eles!
Os capangas e Amaral
levam os reféns para fora da casa. Close em Marcela e Hugo sorrindo.
Do lado de fora, os
capangas colocam os reféns dentro das vans.
Close em Marcela e
Hugo saindo da casa.
Dentro de uma das
vans, Norma chora.
NORMA (chorando):
Deus... Por favor. Por tudo que é mais sagrado...
Dentro da casa,
Cláudio sai do banheiro, vai até a sala e olha, pela janela, Marcela e Hugo
entrando dentro de um carro. Ele observa a placa do carro, pega seu aparelho
celular e anota a placa num bloco de notas do celular. Em seguida, ele tira uma
foto.
CENA
15/CASA DE MATEUS/SALA/INTERIOR/NOITE
Lucas aparece todo
arrumado.
MATEUS: Você tá gato, mas
demorou pra cacete. A gente tá super atrasado pra esse jantar.
LUCAS: É, eu
imagino. Pega logo a chave do carro.
Mateus vai na
cozinha, procura a chave em todo o cômodo, mas não acha.
Na sala, Lucas
lembra que esqueceu a arma na pia da cozinha.
LUCAS (preocupada): Merda, a arma! E se
ele achar?
Mateus aparece
novamente sem as chaves na sala e Lucas questiona.
LUCAS: O que
aconteceu?
MATEUS: Você tá
lembrado se eu deixei a chave no bolso de alguma calça minha?
LUCAS: Não, seu
bolso você só usou pra colocar a carteira. Não achou?
MATEUS: Não achei. E
eu jurava que deixei na cozinha.
LUCAS: Você não viu
mais alguma coisa lá na cozinha?
MATEUS: Não. O que
eu deveria ter visto?
LUCAS: Bobagem minha.
Não esqueceu a chave dentro do carro?
MATEUS: Vamos ver.
Lucas e Mateus saem
da casa.
Mateus fecha a porta
da casa. Lucas vai até o carro, observa o interior do carro pelo lado de fora e
vê a chave do carro em cima do banco do motorista. Ele olha para Mateus.
LUCAS: Você esqueceu
aqui mesmo.
MATEUS: Que estranho... Eu nunca
tinha esquecido essa chave assim dentro do carro. E que eu me lembre, eu tinha trancado a porta do carro. Eu acho que tô ficando louco. – Tranca a porta da casa e
vai até o carro.
LUCAS: Eu tenho
vontade de voltar a dirigir. Deixa eu dirigir? Por favor.
MATEUS (sorrindo): Opa, claro que eu deixo.
Lucas abre a porta
do carro e Mateus também. Os dois entram. Dentro do carro, Mateus sente um
cheiro desagradável.
MATEUS: Que cheiro é
esse?
LUCAS: De quê? Seja
o que for, não sou eu.
MATEUS: Sei lá, um
cheirinho meio estranho de lixo e de quem não toma banho já faz dias.
Nina, que estava
agachada do lado de trás do banco, surpreende os dois com a arma nas mãos.
NINA: Tá bem
desagradável mesmo esse cheiro, né?
LUCAS (gritando):
Sua vagabunda!
NINA: Xiu... Olha o
que você vai fazer. Veja bem pra onde essa arma tá apontada.
Lucas vê que a arma
está apontada para a cabeça de Mateus.
NINA: Viu só? Agora
quero que faça exatamente o que eu mandar você fazer senão quiser que eu abro um buraco
na cabeça do seu namorado. Já foi um, que foi o seu pai, agora seu namorado? O
amor da sua vida? Será que você ia aguentar perder mais uma pessoa que você
tanto ama? Então faça o que eu mando e acelera esse carro, porra!
MATEUS: Faça isso, Lucas.
Lucas liga o carro e
dá a partida.
MATEUS: Pra onde a
gente vai?
NINA: Por que viado
é tão intrometido assim? A gente vai pra longe, bem longe de São Paulo, pro
interior na verdade. Vamos viajar um pouquinho. Que tal? – Ela sorri.
CENA
16/PARQUE DE DIVERSÃO/NOITE
As luzes do parque
de diversão se acendem.
A CAM foca em cada um dos reféns amarrados, enquanto
somente Norma está amarrada num brinquedo. A boca dela está com uma fita,
impedindo da mesma falar.
Close em Marcela.
MARCELA (sorrindo): Hoje vai
ter morte aqui, muita morte! Vocês devem estar se perguntando... Por que eu e o
Hugo estamos juntos?
LAÍS: É isso que eu
quero saber. Que eu saiba, você nunca falou com ele e nunca o viu!
MARCELA (sorrindo):
Tanta coisa que eu não contei pra vocês... Mas vamos lá!
Marcela e Hugo
dão-se as mãos.
MARCELA: Esse garoto
é sangue do meu sangue, é o meu filho, o meu filho que eu sempre acreditei que
estava morto.
Todos ficam
chocados.
MARCELA (sorrindo): Surpresos?
RICARDO (chocado):
Não pode ser... Filho?
LAÍS (chocada): Hugo
é meu primo?
CAMILA: Ricardo,
isso só pode ser uma brincadeira. É uma brincadeira de mal gosto dessa mulher!
MARCELA: Não é
não... Lembra daquela minha amiga, Ricardo? Lembra dela? Da Sílvia? Pois é. Ela
nos enganou e criou meu filho durante esse tempo todo.
RICARDO (emocionado):
E eu que pensava que ele tava morto. Filho!
Hugo tenta ir até
ele, mas Marcela impede.
MARCELA: Nada disso.
Ele não é seu pai, ele é um inimigo, o pior de todos os inimigos. Não consegue
ser pior do que a Norma, mas é!
Norma, chorando, se
contorce no banco do brinquedo.
MARCELA: Quer falar? Eu deixo você falar. – (Vai até Norma e tira a fita da boca da irmã). – Anda, pode falar. Mas cuidado
com o que vai dizer.
NORMA: Marcela, por
quê? Por que você tem tanto ódio assim de mim? O que eu fiz pra você? Você me
via apanhando da Elvira e não fazia nada! Vivia rindo por dentro que eu sabia.
O que eu fiz pra você?
MARCELA: Simples,
você nasceu. Pra mim, eu sempre tive em você como uma inimiga, uma baita de uma
inimiga. Se você soubesse a raiva que eu tinha de você, que eu tenho ainda até
hoje, você nem me perguntava isso. Essa raiva só cresceu dentro de mim!
Marcela olha para
todos os reféns.
MARCELA (falando
alto): Essa mulher podia apanhar em casa, mas era a preferida de todos no
colégio. Por causa dela, no colégio, eu apanhava bastante. É, naquela época os
professores podiam bater nos alunos. Essa daqui aprontava e eu tinha que levar
toda a culpa, porque ela com essa cara de boazinha, com essa cara de sonsa,
ninguém acreditava em mim, sempre acreditavam nela! – (Olha para Norma). –
Lembra daquele meu namoradinho, Norma? Aquele que me trocou por você?
NORMA: Você tá
revirando o passado, para com isso!
MARCELA: Sua cova já
tá pronta faz tempo, querida! Hoje eu não saio daqui enquanto eu te matar. Em
breve, eu não vou estar mais aqui pra contar história, você sabia disso? Não... - Vira novamente e
observa os reféns.
MARCELA (falando
alto): Vocês sabiam que eu não vou estar aqui em breve? É... Dia 7 de junho. É amanhã, não é? Marquem essa data, pois eu, Marcela, vou
estar em outro lugarzinho, um lugarzinho bem longe daqui. Lá embaixo. Lá embaixo com o Capeta
do lado. Olha, só de lembrar, eu fico toda arrepiada. – Dá gargalhadas.
NORMA: Você vai se
matar... Marcela, você tem chances, escolha a melhor opção! Escolha o certo, escolha a redenção.
MARCELA: Redenção? –
(Rindo). – Que porra de redenção, Norma? A minha alma já tá condenada no
inferno, e você vai junto comigo pra lá, porque eu vou te matar antes de eu ir!
NORMA: Mas como
assim? Por quê?
MARCELA: Quer saber
o porquê? O motivo de tudo isso foi por causa de um maldito pacto lá do
passado. É... Um pacto ao qual me trouxe a riqueza, me trouxe a glória, me trouxe tudo
que eu tinha e, que você, junto com essa puta da Camila e o puto do Ricardo roubaram de mim!
O close se alterna
em todos os reféns chocados com a revelação de Marcela. A CAM foca somente em Norma.
NORMA (com lágrimas
nos olhos): Um pacto? O quê? Como? Marcela, como você teve coragem de fazer isso?
MARCELA: Você não
sabe de toda a história ainda. No passado, esse pacto fez eu tirar a vida do
nosso pai, do Vando, lembra dele? Fui eu mesma que matei o nosso pai lá naquela
viagem à Itália que eu tinha falado pra você naquela época que a gente se reencontrou. Fui eu que deixei a nossa mãe
aleijada durante anos. E hoje, depois de tanto tempo, chegou o grande dia de eu
acabar de vez com você! Aqui agora, uma coisa que você pode ter certeza
absoluta: de hoje você não sai viva daqui, isso eu posso te garantir! Cada um de vocês vão ter o final que merecem!
Close alternados em Júnior, Miguel, Camila, Ricardo, Laís, Marcela e Norma.
(A cena
congela com um efeito amarelado, que aos poucos vai se despedaçando como um vidro
em Norma totalmente chocada e com muito medo).
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