Herói Nacional - Capítulo 13
sábado, junho 23, 2018"A sua nova filosofia das oito hoje chega com um capítulo especial que promete fazer a todos derramar lágrimas de alegrias e emoções. Porém, por questões de sigilo e diálogos, achamos melhor você verificar algumas restrições abaixo:
CENAS E MOMENTOS: ESPIRITUOSOS/COMOVENTES
CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: 14 ANOS
CONTEÚDO: Agressão verbal e física, violência, racismo, preconceito, discriminação.
Então, é com orgulho que podemos prosseguir ao capítulo de Herói Nacional
uma novela de
FELIPE ROCHA
CENA 01. ÔNIBUS. GERAIS. INT. NOITE
Marilda informa ao policial.
MARILDA — Senhor policial, eu poderia descer antes
de o senhor me revistar? Tô com filho doente, chorando lá em casa, dá uma força
aí.
POLICIAL — Senhora, já foi informado que vamos
revistar todos! Espera, logo chega a sua hora.
Marilda senta no banco. O policial revista os
passageiros.
CORTA PARA:
CENA 02. HOSPITAL. RECEPÇÃO. INTERIOR. NOITE
No hospital, os paramédicos, habilitados em
socorro pré-hospitalar, chegam empurrando a cama hospitalar até o bloco
cirúrgico. Olímpia preenche a ficha na recepção enquanto conversa com
Melissa.
MELISSA — Será que podemos entrar?
OLÍMPIA — Não! Restrição no bloco cirúrgico,
notificado pelos paramédicos! Traga uma água para mim enquanto eu preencho a
ficha.
MELISSA — Ok.
Olímpia termina de preencher a ficha e se senta ao
lado de Guto, preocupado. Ele chora.
GUTO — Não é possível que está acontecendo isso,
minha mãe! Eu tô com medo de que possa acontecer o pior.
OLÍMPIA — Já refleti dessa maneira. Como ele ficou
nervoso com a Melissa, A pressão arterial deve ter subido, aí veio aquelas
complicações. Podemos contar que é a sexta vez que o seu pai tem um infarto.
GUTO — Já
passou na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e sobreviveu!
OLÍMPIA —
Sim, é. Sobreviveu! Mas, ao mesmo tempo que pensamos positivo ou negativo,
temos que olhar entre linhas, pelos dois lados.
GUTO — Então a Melissa é culpada?
OLÍMPIA — Não, não. Não disse isso. Também complica
pela arritmia cardíaca né. Esses dias seu pai tava reclamando de uma dor no
peito. Nós temos que ser fortes, meu filho.
Em seguida, Melissa traz um copo d’água para Olímpia
e Guto. Os três se abraçam.
CORTA PARA:
CENA 03. CASA DE TIA NÁ. INTERIOR. NOITE
Tia Ná, ajoelhada nos pés da santa Maria,
rezando um terço. Toma água benta. Isabela se aproxima dela e diz:
ISABELA — Quê isso? Você tá aí, até agora? Rezando?
E a Marilda? Não chegou ainda?
TIA NÁ — Nenhum sinal de vida. Não ligou nem para o
meu celular! Esse celular, também não serve para nada. Quando a gente atende,
desliga. Aí na hora que liga, é um número desconhecido. Não sei para que me
arrumaram essa porcaria.
ISABELA — Mas
você já tentou ligar? Talvez ela desligou o telefone, não?
TIA NÁ — Você acha que eu sou burra? Não tô falando!
Tentei, tentei, por várias vezes seguidas... Ah, eu sabia! Eu sabia... tinha
alguma coisa avisando aqui dentro de mim. Parece que era até um
pressentimento... Ainda podemos considerar que como tão religiosa que eu sou,
modéstia à parte, sou informada de tudo... Também tudo o que está acontecendo é
por culpa sua né? Se você não tivesse incentivado a Marilda, nada disso teria
acontecido!
ISABELA — Ah... agora a culpa é minha? era só uma
chance! E não pinta mais. Tratava-se do filho dela! O que uma mãe não faz pelo
filho?
TIA NÁ — Mas eu já disse... eu cansei de dizer, que
essa gente é perigosa. (a santa) Ah, minha santinha traga Marilda de volta pelo
amor de Deus.
ISABELA — Ó, ver você ficar ajoelhada aí no pé da
santa não vai adiantar nada.
TIA NÁ — Como assim não vai adiantar nada? Ah, é. É
claro! É sua mãe, vocês também né consideram a religião irracional. São
incapazes de crer, ter fé.
ISABELA — Não é nada disso, agora nos resta esperar.
CORTA PARA:
CENA 04. MANSÃO DELLACOURT. SALA. INTERIOR. NOITE
Continuação da cena do capítulo antecedente.
TÉO — Você tá achando que eu tô mentindo, é? Não foi
com você! Eu fui assaltado. Levaram meu celular, acho que até invadiram meu
escritório. Não tá vendo eu caído aqui no chão.
MANUELA — Isso é drama meu pai! Um ladrão rouba por
completo, você acha que ele perderia a oportunidade de esvaziar tudo de valor
que tem nessa a casa? Até os quadros!
TÉO — Ah, não! Mas a minha sorte é que ele não levou
meu Van Gogh.
MANUELA — Quem liga para esse quadro meu pai? Mais
sem graça que tudo! Conheço pintores modernos bem mais interessantes
do que esse. Hoje existem novos tipos de artes, as pessoas vão se entretendo...
Isso é antiquado, não tem reconhecimento...
TÉO — Você não sabe reconhecer o que é uma arte.
Esse quadro é um fenômeno contemporâneo! Sabe o que eu vou fazer? Eu vou
tirar esses Girassóis de Van Gogh da sala. Vai que eles resolvem voltar.
Esse quadro aqui tem grande valor. Na época, foi caríssimo. Me custou uma nota.
Quase fiquei pobre. Pode ser vendido em qualquer país, tem grande valor.
Geralmente, se um pobre achar isso, fica feliz. E o Luigi? Notícias?
MANUELA — Estou começando a ficar surpresa. Lembrou
que tem mais um filho?
TÉO — Você vai entrar nessa conversa de novo? Então,
se você não quer me informar, deixa para lá.
MANUELA — Bom, o Luigi está internado. Pelo que a
mamãe me ligou.
TÉO — Internado? Vai estourar meu cartão! E serei
obrigado a trabalhar como burro para pagar a conta do hospital! Para quê isso?
Era só pedir um medicamento, mais barato e fácil.
MANUELA — O médico resolveu interna-lo. Também foi
por uma boa causa, né? Parece que o caso dele era grave. Agora eu vou subir.
Boa noite para você.
CORTA PARA:
CENA 05. RESTAURANTE. INTERIOR. NOITE
No restaurante, Gigi vem caminhando na calçada
tranquila. Um homem atendente pelo nome de Bruno sentado no banco do
restaurante, a jantar. Ele chama por Gigi.
BRUNO — Gigi!
GIGI — (a Bruno) Bruno!
BRUNO — Sente aqui comigo por favor.
Gigi sobe a rampa e se senta a frente de Bruno.
BRUNO — O que está fazendo sozinha a uma hora
dessas? Está tarde!
GIGI — Saí da casa de Artes agora. Nossa você não
sabe como tá difícil. Tá quase uma crise lá dentro. A gente não tá tendo nem
dinheiro direito. Atores, tá um caos! Já foi a época. Só tenho protagonistas
antigos. Quero fazer novos atores. Mas do jeito não dá. Tudo tá ruim para o meu
lado. Faxineiros? Mal se tem! É o cúmulo!
BRUNO — Então sua situação não é nada favorável né?
Lamento muito.
GIGI — E você? O que fazes aqui no Brasil?
BRUNO — Eu estava na Itália. Passei algum tempo em
Portugal. Não me adaptei, agora tô aqui no Brasil. Saudades da minha terrinha.
Definitivamente, o pássaro que canta aqui não canta lá e o relógio que soa aqui
não soa as mesmas baladas que lá. É tudo questão de adaptação. Para mim, o
Brasil é um país maravilhoso. Uma terrinha tropical, repleto de grande
variedades de espécies. O que mais me agrada aqui é o clima, orgulho de ser
brasileiro!
GIGI — Pelo visto você está muito inspirado. Mas não
gostou de alguma italiana?
BRUNO — Não, não! Eu agora quero iniciar uma nova
vida. Estou procurando alguém que me faça feliz. E você? Está casada ou
solteira?
CORTA PARA:
CENA 06. ÔNIBUS. GERAIS. INT. NOITE
O policial revista Marilda.
POLICIAL — Seus documentos, por favor.
Marilda pega os documentos da bolsa, porém segura. O
policial pede para ela soltar e arranca da mão. Eles analisam o cartão de
crédito, o CPF, a identidade.
POLICIAL — (olha para a bolsa) Tem mais alguma coisa
nessa bolsa aí?
MARILDA — Não, não! Isso aqui é são só coisas
íntimas minha! De mulher. Sabe como é, né? Mas eu não sou assassina. Foi só
isso que você viu. Eu não tenho carteira de motorista. Sou uma simples mulher.
POLICIAL — Já que essa foi a última mulher a ser
revistada. Nossa missão não foi completada. Sem êxito. (ao motorista) Pode
andar com o ônibus!
CORTA PARA:
CENA 07. HOSPITAL. RECEPÇÃO. INT. NOITE
A família de Guto abraçada na recepção hospitalar. O
médico de atendimento se aproxima deles.
OLÍMPIA — E aí doutor? Como ele tá? Tá fora de
perigo?
DR. LÁZARO — Olha, pela nossa avaliação. Levamos
para o bloco cirúrgico. Porém, o caso está ainda mais que complicado. Será
necessário um tratamento entubado na UTI, a arritmia não está totalmente
recuperada.
OLÍMPIA — Mas até quanto tempo leva isso Doutor?
DR. LÁZARO — Olha, eu não posso afirmar. Ele teve
uma oscilação de pressão. A pressão dele subiu e desceu. Foi para 6.9 e depois
para 18.9. A sorte é que não houve riscos mais graves. A pressão arterial podia
ter causado danos no cérebro, podia ter até mesmo morte cerebral. Os médicos do
pronto também me ajudaram, analisamos cada detalhe. Agora o que nos resta é
esperar pela recuperação do paciente. Vocês podem ir para casa. As visitas da
Unidade de Terapia Intensiva só permite visitas até as 22h.
OLÍMPIA — Está bem doutor, muito obrigada! Cuide bem
dele. (aos filhos) Vamos!
CORTA PARA:
CENA 08. CASA DE TIA NÁ. INTERIOR. NOITE
Marilda chega em casa assustada. As luzes estão
apagadas. Ná sentada no sofá, mas implícita, sem que Marilda perceba. Ela vai
até a cozinha toma um copo d’água. A mãe de Luigi ouve barulhos do caminhar, Ná
acende as luzes da cozinha e diz:
TIA NÁ — Boa noite para você também.
Marilda se assusta.
MARILDA — Mãe? Você me assustou ainda mais?
TIA NÁ — Eu te assustei? Pois é eu que estou
assustada! Você não ligou, não deu sinal de vida. Mas se bem que minha santinha
nunca falha né, fez até o favor de trazer você de volta para mim. Isabela e eu
ficamos desesperadas. Chegamos até pensar que você tinha passado desta para
melhor.
MARILDA — Ah, mãe. Também não exagera, né? Só por
que eu sou mulher? Sei muito bem me defender, muito bem! E deixei o celular
desligado.
TIA NÁ — Mas pelo menos conseguiu alguma coisa?
MARILDA — Não... eu... eu... corri risco de vida!
TIA NÁ — Ah, eu sabia. Ele te ameaçou de novo né?
Agora desista dessa ideia maluca de conseguir o Luigi de volta! Eu te disse, a
sorte que você está bem, da próxima vez escute o conselho dos mais velhos.
Seguiremos no mesmo caminho, no caminho da luz, da esperança, da Aurora da Boa
Nova! (grita) Viva! Você está viva!
MARILDA — Agora é hora dessa gritaria? Pare de
drama! Os vizinhos vão reclamar! E você acha que eu sou qualquer uma né? Eu
quero o Luigi de volta, e vou ser persistente para isso! Eu vou ter o meu filho
nos meus braços, se não for a última coisa que eu faça. Agora, me dê licença.
Eu vou tomar banho para dormir e relaxar. Tô com a cabeça a mil!
A bolsa de Marilda cai. Tia Ná estranha. Perplexa,
olha para bolsa. Vê que há algo de bom tamanho. Abaixa, porém com problema na
coluna. Abre a bolsa. Tira os documentos e encontra uma arma. Ela se assusta e
dá um tiro para o alto.
Marilda que se assusta de novo, chega na sala e
questiona.
MARILDA — O que foi isso mãe?
TIA NÁ — O que foi isso? Eu quero que você me explique
o que é isso nas minhas mãos! Eu exijo! Marilda, eu sabia, você não desiste
mesmo né? Vamos, que cara é essa?
Marilda olha para a arma na mão de Tia Ná.
CORTA PARA:
CENA 09. HOSPITAL. QUARTO. INTERIOR. NOITE
Luigi internado no quarto do hospital. Ele dorme.
Lígia sentada na cama. Glorinha e Matilde olham para ele. Lígia faz cafuné em
Luigi. Ela se aproxima das irmãs.
LÍGIA — Que dia! Tensão total!
MATILDE — Eu ainda não tenho nada a reclamar, o
importante é que ele está entre nós e aos cuidados dos médicos! Sempre isso
acontece, gente. Pelo menos nós temos condições para pagar um atendimento
médico de urgência. Temos que agradecer a Deus, a luz maior! Reflitam comigo...
E os pobres? Que vivem na miséria, têm que esperar na fila! Nós devemos
agradecer.
GLORINHA — Pela primeira vez eu vou ter que
concordar com a Matilde, por incrível que pareça!
LÍGIA — Adoro o espírito de vocês. Tão otimistas.
Mas o que mais me preocupa é a ausência implícita do pai nesse momento.
GLORINHA — Eu já te disse no primeiro momento que
você não seria feliz, se tivesse me ouvido.
MATILDE — O Téo não é flor que se cheire, Lígia! Você
não acha que seria melhor você mesma criar seus filhos longe dele?
LÍGIA — É impossível. Por mais que eu não queira
falar isso, eu dependo do dinheiro do meu marido. A Boutique não é tão
movimentada assim. A concorrência tá acirrada. Tem lojas aí, melhor que a
minha, fazendo marketing. O dinheiro não seria suficiente para criar dois
filhos, sozinha.
MATILDE — Infelizmente você depende do dinheiro
dele. Mas pense Lígia, nós podemos conseguir, com nosso esforço.
GLORINHA — Eu também posso ajudar! O Téo não dará
futuro nenhum aos meninos, não vale a pena ter um pai mau caráter como esse. Os
seus filhos não são felizes com ele, você sabe.
MATILDE — Pode ser até a chance de você recomeçar
uma nova vida longe do Téo e quem sabe ter sorte, casar de novo e dar um
presente para os seus filhos, o pai que eles merecem!
LÍGIA — Vocês estão certas minhas irmãs. Talvez eu
devo pensar que eu não sou feliz, e não sei até hoje!
CORTA PARA:
CENA 10. CASA DE BARTOLOMEU. SALA. INT. NOITE
Na casa de Bartolomeu, Horácio e Diva conversam
sentados no sofá.
DIVA — Está difícil não é? Manter o Bartolomeu,
aqui, preso. Sem nenhum contato com o mundo. Tem hora que eu chego até a
pensar: o que estamos fazendo com ele? Até quando vamos proteger nosso filho
desse jeito Horácio? Até quando? Ele não nos vai ter pela vida toda!
HORÁCIO — Por outro lado, eu até concordo com você.
Mas o médico já nos disse, Bartolomeu é frágil. E também por questões de
convívio social. Síndrome de down hoje não é nada comum, você mesmo sabe. As
pessoas humilham, fazem fotos, gera até violência. Ele permanecerá aqui até...
veremos o que vamos fazer.
CORTA PARA:
CENA 11. CASA DE BARTOLOMEU. SALA. INT. NOITE
Bartolomeu assiste a um vídeo no celular em que
todos os amigos dele do Colégio, inclusive os coordenadores, a diretora, as
professoras se reúnem e fazem um discurso.
“Você nos
conquistou com o primeiro olhar simpático, com os seus toques, com o seu jeito
de agir, o seu espírito bom. Aprendemos muito e temos a aprender até hoje. Lembra
daquela canção “Aquarela” que você gostava de ouvir a todo recreio. Foi lá que
o Colégio renasceu! Você representa a alma desse colégio! Nós estamos com
saudade de você, volte logo para desfrutarmos outros momentos juntos,
Bartolomeu”.
Em seguida, Bartolomeu imagina junto com várias
crianças brincando, sorrindo, feliz, alegre. Todos brincando na roda, no
parquinho:
BARTOLOMEU — (a Tangerina) Os seus irmãos,
Tangerina! Nossos amigos.
CORTA PARA:
CENA 12.CARRO. FRENTE DO APTO. INT. NOITE
Gigi e Bruno estão dentro do carro dele, em frente
ao apartamento.
BRUNO — Então é isso né? Trazendo você aqui eu
lembro do nosso tempo juntos! Nós morávamos lá em São Paulo. Saíamos tarde do
teatro... mas até que você resolveu casar com um playboy, aí. Me abandonou. Mas
assim é a vida.
GIGI — Era tudo perfeito, mas se você me permite, eu
não quero falar disso agora. Agradeço a carona. Boa noite. (salta do carro)
BRUNO — Espera. Não vai nem me passar meu telefone?
GIGI — (sorri) O telefone continua sendo o mesmo.
Eles sorriem um para o outro. Bruno arranca o carro.
Em seguida, o marido de Gigi também chega ao hotel.
MARLON — (bate palmas) Que espetáculo! Chegando em
casa fora do horário combinado. Quem é esse homem no carro hein?
Marlon ameaça Gigi.
CORTA PARA:
FIM DO CAPÍTULO
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