Redenção - Capítulo 27 (Últimos Capítulos)

terça-feira, maio 29, 2018


REDENÇÃO – CAPÍTULO 27 (ÚLTIMOS CAPÍTULOS)



“PROVANDO DO PRÓPRIO VENENO”


CENA 1/PRAÇA/NOITE

Marcela continua apontando a arma para Hugo, completamente surpresa e chocada.

MARCELA (chocada): Mãe? Como assim, moleque? É o quê? É uma pegadinha do Sílvio Santos? Do João Kléber? Cadê as câmeras?

HUGO: Quem eu acreditava que era, não era. A Sílvia me enganou durante anos me fazendo acreditar que ela era a minha mãe, mas na verdade a minha mãe é você. Ela me disse isso hoje e eu fiquei surpreso também, do jeito que você tá. – (Sorrindo). – E olha pra você... Você tá viva, é um milagre!

Marcela abaixa a arma.

HUGO: Pra provar que eu não tô mentindo, que é alguma pegadinha...

Hugo abaixa a calça e mostra a marca de nascença na coxa. Marcela fica mais chocada ainda ao ver a marca, e começa a se emocionar.

MARCELA (emocionada): Filho? Mas... Mas como?

HUGO: Eu também tô querendo entender essa história. A gente precisa ir na minha casa pressionar a Sílvia. O que acha?

MARCELA: Sílvia... Eu bem lembro da vagabunda. Bem até demais! Ah, mais aquela vaca me paga!

CENA 2/IML/EXTERIOR/NOITE

Norma, Sandra e Laís saem do IML.

NORMA: Eu ainda não tô conseguindo engolir tudo isso.

SANDRA: Então foi ela mesmo que iniciou o incêndio e matou sua mãe antes mesmo do incêndio se alastrar. Matou ela, essa Joana e a empregada tudo antes. A autópsia dizia claramente.

NORMA: Não, essa mulher não pode ficar à solta assim. Vamos na polícia!

SANDRA: Isso! Agora sim. Quero a vagabunda na cadeia comendo o pão que o diabo amassou!

Norma se lembra de algo.

NORMA: Merda!

LAÍS: O que foi?

NORMA: Me lembrei que o Júnior nos convidou pra ir num jantar na casa dele.

SANDRA: Ah, amiga, ele pode esperar.

NORMA: Se eu for na polícia agora, pode demorar muito mesmo, e eu vou chegar muito tarde. Acho que vou deixar pra amanhã cedinho.

SANDRA: Vai deixar de denunciar sua irmã psicopata que tá à solta pra ir num jantar?

NORMA: Eu não posso fazer essa desfeita, Sandra. Ele disse que é o menino dele que tá cozinhando, e que tá super alegre agora depois da morte da mãe. Se eu desmarcar assim do nada, eu vou estar sendo muito má com os dois, e ainda mais com o menino, que pode voltar a ficar triste.

SANDRA: Verdade. Melhor deixar pra amanhã então.

NORMA: Além do mais, ela não é louca ao ponto de aparecer com a fuça na rua. Mas sabendo como a Marcela é, eu só espero que essa mulher não faça mais nenhuma vítima de hoje pra amanhã.

CENA 3/REVIERA BAR/INTERIOR/NOITE

Lucas, todo arrumado, entra no restaurante cheio e senta na mesa que ele mesmo reservou. Um garçom aparece.

GARÇOM: Quer fazer algum pedido agora?

LUCAS: Eu tô esperando uma pessoa chegar.

Nina, numa mesa com o cardápio que cobre a cara completamente, abaixa o cardápio e rapidamente vê Lucas. Ela levanta o cardápio novamente, cobrindo seu rosto.

GARÇOM: Alguma coisa pra beber enquanto espera?

LUCAS: Uma água com gás, por favor.

GARÇOM: É pra já! – Se afasta.

Nina, escondida, pega seu celular e manda uma mensagem para Bruno.

CENA 4/CASA DE MATEUS/EXTERIOR/NOITE

Bruno, do lado de fora da casa de Mateus, recebe uma mensagem de Nina. Ele abre o aplicativo de mensagens e lê.

BRUNO (lendo): “Ele acabou de chegar aqui no Reviera. O sinal tá verde pra você fazer a sua parte.” – (Fecha o aplicativo e imita Nina, debochando da mesma). – O sinal tá verde pra você fazer a sua parte... – (Fica sério). –  Ela fala isso como se eu fosse algum empregado dela. – Vai até a porta da casa de Mateus e toca a campainha.

Mateus rapidamente abre a porta.

MATEUS: Bruno? O que tá fazendo aqui?

BRUNO: É que... Que eu preciso te contar uma coisa. É sobre o Lucas. Posso entrar?

MATEUS: Claro, entra.

Bruno entra na casa e Mateus fecha a porta.

MATEUS: O que você quer me contar sobre o Lucas?

BRUNO: Ele tá te traindo.

MATEUS: Traindo? Mas como assim?

BRUNO: Ele marcou um encontro hoje com um amigo meu chamado Christian, no Reviera, agora de noite. Ele saiu, não saiu? Então ele foi pro encontro. Tenho certeza absoluta!

MATEUS: Que filho da puta desgraçado... Eu confiei nele, fui fiel, e ele faz isso comigo? Mas eu não vou deixar isso barato, eu mato ele!

BRUNO: A verdade é que você merece um cara que te ame de verdade, não um bosta traidor que nem o Lucas.

MATEUS: E quem seria esse cara?

BRUNO: Eu. – Beija Mateus.

Mateus rapidamente se afasta de Bruno após o beijo rápido.

MATEUS: Você tá louco? Como você vem aqui na minha casa me contar isso, e ainda me beija sabendo como eu tô?

BRUNO: Desculpa, eu sou muito apaixonado por você, desde a sétima série, lembra?

MATEUS (surpreso): Sério?

BRUNO: É sério. E se você flagrar ele lá, nesse restaurante, você pode desistir dele e fazer a fila andar comigo, o que acha? Eu sou bom de cama, tenho um físico de dar inveja e sou carinhoso e romântico. O que acha?

MATEUS (sorrindo): Interessante... Vamos lá.

Bruno, sorrindo, abre a porta.

CENA 5/CASA DE HUGO/SALA/INTERIOR/NOITE

Sílvia ainda está chorando no sofá. Hugo entra em casa e Sílvia rapidamente sai de cima do sofá e vai até ele.

SÍLVIA: Eu já tava preocupada com você, filho. Onde foi?

HUGO: Numa praça. E adivinha quem eu encontrei lá?

SÍLVIA: Quem?

De repente, Marcela entra dentro da casa e Sílvia dá um baita grito.

HUGO: Nossa, que escândalo.

MARCELA (sorrindo): O que foi, amiga? Surpresa em me rever depois de tantos anos?

Foco em Sílvia assustada e tensa ao mesmo tempo.



CENA 6/JARDIM ORESTES/CASA DE JÚNIOR/SALA DE JANTAR/INTERIOR/NOITE

Norma e Laís terminam de jantar. Cláudio traz a sobremesa em uma vasilha e coloca na mesa.

CLÁUDIO (sorrindo): Gostaram do jantar?

JÚNIOR: Eu gostei, filho. Tô muito satisfeito.

NORMA: Eu amei.

LAÍS: Nossa, você cozinha muito bem. Podia me ensinar qualquer dia, o que acha?

CLÁUDIO: Perfeito. Eu te ensino sim, do outro lado.

JÚNIOR: Como assim, filho? Do outro lado?

CLÁUDIO: Bobagem minha, não liga não. Bom, espero que aproveitem o pavê, tá de morrer! Eu infelizmente não vou provar porque tô mais do que satisfeito. Se eu comer mais, vou acabar explodindo. – Ele ri.

Cláudio se afasta.

JÚNIOR: Onde vai, filho?

CLÁUDIO (sorrindo): Vou ali na laje um pouquinho, ver o céu... Tá tão lindo. Só queria te agradecer, pai.

JÚNIOR: Ué, como assim? Me agradecer pelo quê?

CLÁUDIO (sorrindo): Por ser esse pai maravilho que o senhor é, por isso.

JÚNIOR (sorrindo): Imagina... Eu que tenho orgulho de ter um filho como você.

CLÁUDIO (sussurrando e sorrindo): Te amo.

JÚNIOR (sussurrando e sorrindo): Também te amo.

Cláudio sobe as escadas.

CENA 7/CADA DE HUGO/SALA/INTERIOR/NOITE

SÍLVIA: O que essa mulher tá fazendo aqui? Não tava morta? Quer saber? Fora da minha casa agora! Anda!

HUGO: Ela não vai à lugar nenhum! Essa casa também é minha.

MARCELA: Isso é jeito de tratar a sua melhor amiga, Sílvia?

SÍLVIA: Você nunca foi a minha melhor amiga.

MARCELA: Não era o que você tanto falava lá nos anos 90, não é? Lembra que a gente era muito mais do que amigas?

SÍLVIA: Hugo, trata de tirar essa mulher daqui! Ou sai ela, ou sai eu!

HUGO: Você não vai à lugar nenhum até nos contar essa história que você guardou por muitos anos!

MARCELA: Vamos sentar? Eu preciso ter uma conversa amigável com a minha amiga do peito. Mas antes... – (Olha para Hugo). – Se importa de eu fazer um sanduba primeiro? Ser pobre dói tanto no estômago.

HUGO: Claro que pode. Minha casa, é a sua casa, mãe.

MARCELA (sorrindo): Adorei você me chamando de mãe. Que fofo. Ai, eu já volto. Meu estômago tá só o ar. – Vai até a cozinha.

Hugo vai até o sofá e senta. Sílvia também.

SÍLVIA: Você trata de tirar essa mulher daqui, eu tô avisando!

HUGO: Ah, cala a boca. Você vai ficar aqui até nos explicar tudo!

Sílvia se levanta.

HUGO: Quer que eu repita de novo?

SÍLVIA: Eu só vou no meu quarto rapidinho, tá bom pra você?

Sílvia sobe as escadas.

HUGO (gritando): Volta logo!

Em seu quarto, Sílvia entra, vai até uma gaveta e abre. Em seguida, ela pega um revólver.

SÍLVIA: Eu sei muito bem do que essa puta é capaz. Ficar sem me defender? Nem morta.

CENA 8/REVIERA BAR/INTERIOR/NOITE

Lucas fica impaciente olhando toda hora pro seu relógio. Nina novamente abaixa o cardápio e sorri vendo Lucas.

NINA (em pensamento): Finalmente meu plano tá dando certo.

De repente, Mateus entra no restaurante e Bruno vem logo atrás. Ele para na frente de Lucas e encara o rapaz.

MATEUS: Que merda é essa, Lucas? Posso saber?

Nina rapidamente coloca o cardápio para cobrir seu rosto novamente. Ela novamente pega o celular, coloca na câmera e começa a gravar toda a discussão.

Lucas se levanta.

LUCAS: Mateus, eu posso explicar.

MATEUS: Explicar o quê? Você falou pra mim que ia na casa do seu pai, e eu, como um trouxa que eu sou, acreditei! Mas não, você veio foi pra um encontro com seu amante! Afinal, cadê ele? Te deu um bolo, não foi? Bem feito!

Todos observam o escândalo de Mateus e começam também a gravar.

MATEUS: Eu agradeço o Bruno por ter aberto os meus olhos, por ter me mostrado o canalha que você é!

Bruno sorri.

LUCAS (chorando): Eu errei, desculpa. Me dá mais uma chance?

MATEUS: Mais uma chance? Eu vou dar a sua chance! – Dá um tapa na cara de Lucas.
Nina começa a rir. Bruno continua sorrindo.

MATEUS: A Nina finalmente conseguiu o que sempre quis... – (Olha para Nina segurando o cardápio e sorri). – Só que não! – Ele vai até ela e rapidamente tira o cardápio das mãos de Nina.

NINA (surpresa): Mateus?

MATEUS: Ao vivo e em cores. Gostou da minha encenação? – (Ele vira) – Gostaram, gente? É, isso foi uma encenação. Sabem o porquê disso? Por causa dessa vadia recalcada que sempre teve inveja de mim e do meu namorado!

LUCAS: Isso é verdade.

MATEUS: O fato é que essa preconceituosa maluca não aceita que eu esteja namorando o ex dela! Pra isso, criou um fake no Instagram pra flertar com o meu namorado e humilhar ele, coisa que não aconteceu, porque isso daqui não passou de um teatro! Se você, Nina, pensou que ia se dar bem, tava muito enganada! Se deu foi muito mal! Isso, gravem isso, gente!

Nina se levanta.

NINA: Você tá louco, só pode estar. Cadê o dono disso aqui? Eu quero falar com o dono! Esse restaurante vai decair mais ainda com um tipinho desses fazendo barraco.

MATEUS: Tipinho gay você quer dizer, né? É isso que você quer dizer? Sua preconceituosa! Ela não gosta de gays, sabiam? Pois é, gente.

NINA (gritando): E daí? Eu sou obrigada a gostar agora? Eu não gosto de gays mesmo e ponto final, sempre tive nojo e raiva! Aqui é um país livre, tenho meu livre-arbítrio. Se não gostam da minha opinião, o problema é de vocês!

LUCAS: É incrível como você é tão vazia de argumentos e de alma. Afinal... O ódio que te consome por dentro não deixa você enxergar isso, não é? Eu sou gay sim, e não tenho mais medo de assumir isso pro mundo! Passei tantos anos da minha vida me escondendo, sendo a pessoa que eu não era... Hoje em dia não tenho mais medo. Ligo o meu foda-se, e que se foda quem pensa o contrário ou quem não aceita! Não quer aceitar? Tudo bem. Mas isso não é motivo pra você destilar seu ódio e seu veneno contra mim e contra o meu namorado, pelo fato de saber que eu nunca mais vou voltar com você. E não ligo para o que você pensa, ou deixa de pensar! Você não paga minhas contas, né? Então não vem querer cuidar da minha vida!

Todos aplaudem Lucas. Foco em Nina se debulhando em lágrimas.

MATEUS: E não é só ela não, amor. Esse daqui também. – (Aponta o dedo para Bruno, que olha ele). – É, você mesmo... – (Olha para todos ao redor) - Esse daqui foi na minha casa com a maior cara de pau mentindo falando que o Lucas tava me traindo, e ainda roubou um beijo de mim. Olhem bem... Isso tudo com intenção de me separar do meu namorado. A verdade é que o Bruno sempre foi apaixonado por mim. Sim, eu percebia isso lá no colégio, das vezes que me defendia. Mas eu nunca, nunca me interessei por você, e hoje ficou provado que eu nunca vou me interessar mesmo por você! Tá na trambique junto com essa vagabunda aqui, isso com intuito de me separar do meu namorado. Você é um pau mandado, é isso que você é! Bruno, você é gay? Beleza. Mas lembre-se que essa víbora aqui que você tanto ajuda é homofóbica! Você tá ajudando uma cobra, que mais pra frente pode te dar um bote daqueles. Você que não abre o olho não pra você ver.

LUCAS: Que decepção, Bruno. Sempre achei que você fosse meu amigo, mas hoje em dia, vejo que não! Nunca passou de uma sombra, que só andava comigo pra ter status, e agora é um pau mandado de uma mina que te chama de amigo, mas que, com certeza, no fundo, tem nojo de você pelo que você é! Ela só tá te usando. Eu realmente espero que você abra o olho com essa daí antes que seja tarde demais!

Foco em Bruno com os olhos avermelhados e cheio de lágrimas.

MATEUS: Pronto, gente, é só isso. Peço perdão por essa baixaria, mas eu precisava desabafar.

Um garoto jovem que estava no fundo vem à frente.

GAROTO: Não precisam pedir desculpas. Eu preciso agradecer vocês! São um exemplo. Eu também sou gay e tava pensando em não me assumir por um bom tempo, mas eu vou sim! Hoje mesmo eu vou me assumir pros meus pais. E se aceitar, bem, se não aceitar, paciência. Eu quero sair desse mundo de indecisões e incertezas, um mundo que eu vivo só de aparências pra ir pra um mundo onde eu posso ser quem eu quiser ser!

Mateus e Lucas abraçam o garoto.

LUCAS (sorrindo): Vai em frente, você vai conseguir.

Todos, emocionados, aplaudem novamente Lucas e Mateus. Bruno e Nina observam os dois.

Mateus e Lucas terminam de abraçar o garoto e olham para Bruno e Nina.

LUCAS: Eu só vou repetir mais uma vez, Nina. E que isso sirva de exemplo pro falso do Bruno também: ninguém nunca jamais vai me separar do Mateus, porque o que eu sinto por ele é real, é verdadeiro. Então podem fazer o que quiser pra separar a gente, mas vocês só vão perder tempo, que poderia estar ocupando trabalhando ou cursando alguma coisa. O recado tá dado! Já falei demais! Vamos embora, meu amor.

MATEUS: Antes, eu só queria agradecer o dono do restaurante por deixar isso acontecer.
O dono acena no fundo.

MATEUS: Muito obrigado mesmo. Esse preconceito um dia precisa acabar. Gente, o mundo seria tão melhor se não tivesse esse tipo de coisa, se cada um cuidasse da sua vida. Concordam? Pois é. Mas até lá, eu junto com meu amor quero servir de exemplo pra milhares de jovens que escondem ser o que não é pra suas famílias. Mais uma vez, obrigado!

Todos aplaudem novamente e terminam de gravar o vídeo. Mateus e Lucas saem do restaurante. Nina senta na cadeira e Bruno observa. O dono do restaurante vai até os dois.

DONO: Desculpem, mas vocês dois não podem mais entrar aqui dentro. Por gentileza, saiam do meu restaurante onde vocês não são bem-vindos, agora, antes que eu chame a polícia!

Nina se levanta com a cabeça baixa completamente envergonhada e sai do restaurante. Bruno também.

CENA 9/CASA DE HUGO/SALA/INTERIOR/NOITE

Hugo, Marcela e Sílvia estão sentados.

HUGO: Pronto, pode começar a falar.

SÍLVIA: Desculpa, eu acho que eu não vou conseguir.

MARCELA: Vai sim, vai ter que conseguir! – (Aumenta o tom) - Eu preciso de uma explicação da sua parte. Se você soubesse o ódio que eu tô sentindo de você agora, sua puta, você abria essa porra dessa boca agora, antes que eu abra com uma bala!

HUGO: Calma, mãe.

SÍLVIA: Vamos do início.

MARCELA: Ótimo.

SÍLVIA: Marcela e eu éramos amigas lá nos anos 90. Como a mesma disse, mais que amigas, tínhamos um caso.

HUGO (chocado): Um caso? – (Olha para Marcela). – Você é... – Marcela interrompe.
MARCELA: Sou bissexual.

SÍLVIA: Ela me contou quando ficou grávida do Ricardo, seu pai. Desde o começo, ela não queria ter o bebê.

MARCELA: O que? Como ousa?

HUGO (olhando para Marcela): Como assim? Você não queria me ter, é isso?

MARCELA: Olha pra ela, tá distorcendo tudo! Fala a verdade!

SÍLVIA: Mas essa é a verdade, você nunca quis ter o Hugo, e começou a se drogar pra tentar matar ele ainda dentro da sua barriga!

Marcela se levanta, tira a arma do bolso e aponta para Sílvia.

MARCELA (furiosa): Você trata de falar a verdade agora!

Hugo se levanta.

HUGO: Isso é sério mesmo?

MARCELA: Eu tô te falando, ela tá distorcendo completamente tudo, tá louca!
Sílvia também se levanta.

SÍLVIA: Hugo, ela não conseguiu te matar apesar de tudo que fez. Você nasceu normal, sadio, nunca teve nenhum problema de saúde. No dia do seu nascimento, eu tava lá, e eu peguei você pra mim, falando que em seguida que você tinha morrido, pra ela pensar que se deu bem. Você não nasceu no hospital. O Ricardo só veio saber disso tudo depois.

HUGO (marejando): Isso é verdade, mãe? É verdade o que ela tá falando?

MARCELA: Não acredita nela! – (Para de apontar a arma para Sílvia e abraça Hugo). – Eu sempre quis ter você, sempre quis ter um filho, era meu sonho.
SÍLVIA: Mentirosa! Você sempre quis ter era uma filha, tanto que pegou a filha da sua própria irmã pra você! Fala a verdade!

Marcela termina de abraçar Hugo e aponta a arma para Sílvia novamente.

MARCELA (furiosa): Boca de tremela, fala a verdade logo!

SÍLVIA: Mas essa é a verdade, o que mais quer que eu fale? A verdade dói, não dói?

MARCELA: Fala que isso que você falou é mentira, que distorceu exatamente tudo! Você quer que eu te dou um tiro pra isso?

Sílvia saca seu revólver e aponta para Marcela.

SÍLVIA: Pensa que eu também não sei me defender, sua puta?

HUGO: O que é isso? Tá parecendo um filme de faroeste. Vamos parar com isso e conversar tranquilamente!

MARCELA: Com essa puta mentindo na cara dura, não vai dar certo.

SÍLVIA: Esquece, não precisa disso. Eu não posso cometer uma loucura, não sou uma assassina. – (Abaixa a arma). – Hugo, eu vou embora. Eu vou embora porque pra mim não dá mais. Essa casa é sua porque eu coloquei no seu nome! Se quiser viver com essa mulher, a escolha é sua! Eu vou pra bem longe daqui.

HUGO: Tá bom. É melhor você ir mesmo.

SÍLVIA (surpresa): Tá bom?

HUGO: Sempre achei você um pé no saco mesmo, pra mim não vai fazer diferença se você for ou não.

SÍLVIA: Ótimo então, seu ingrato!

HUGO: Ah, agora que o faroeste acabou, vou tomar um banho porque tô precisando.

MARCELA: Eu mais que preciso também, tô parecendo um picolé de asfalto.

CENA 10/JARDIM ORESTES/CASA DE JÚNIOR/SALA DE JANTAR/INTERIOR/NOITE

Júnior, Norma e Laís estão se divertindo. Em cima da laje, Cláudio olha as estrelas e sorri.

A CAM foca na mão direita dele com a caixinha onde estão os remédios.

CLÁUDIO: Tá me vendo daí, mamãe? Hoje finalmente eu vou te encontrar aí em cima. – Se levanta.

Cláudio vai até a torneira, abre o registro e liga a mangueira. Ele abre a caixinha e tira todas as pílulas. De uma só vez, Cláudio coloca todas as pílulas em sua boca, coloca a mangueira e bebe a água. Após conseguir engolir todos os medicamentos, Cláudio solta a mangueira no chão, olha para o céu e vê uma estrela brilhando. Ele sorri.

CLÁUDIO (sorrindo): Mãe, me leva, eu quero ver você de novo.

CENA 11/CASA DE HUGO/CORREDOR/INTERIOR/NOITE

Do seu quarto, Marcela olha numa fresta da sua porta, Sílvia saindo de seu quarto com as malas. Após Sílvia sair, Marcela abre a porta do seu quarto e vai atrás dela.

No quarto de Hugo, no banheiro, close nele tomando banho enquanto canta uma música.

No andar de baixo, Sílvia abre a porta principal e sai da casa. Marcela vem logo atrás. Ela abre a porta bem devagar e sai.

Do lado de fora e furtivamente, Marcela olha para um lado e para o outro e vê a rua completamente vazia. Na sua frente está Sílvia com as suas malas, que não percebe que Marcela está logo atrás dela.

Sílvia senta na calçada chorando e ali espera um táxi. Marcela, furtiva, se aproxima de Sílvia e agarra a mulher pelo pescoço. Marcela arrasta ela, sufocando-a, que tenta se soltar, mas não consegue.

MARCELA (sorrindo): Tô te sufocando, é? – Solta um pouco.

Marcela coloca seu rosto do lado do rosto de Sílvia e sussurra no ouvido dela.

MARCELA (sussurrando/sorrindo): Avisa pro Capeta lá embaixo que a minha hora ainda não chegou, e que Marcela Dellatorre tá apenas começando! – Quebra o pescoço de Sílvia, que morre na mesma hora.

Foco em Marcela sorrindo e segurando a cabeça de Sílvia, já morta.

(A cena congela com um efeito amarelado, que aos poucos vai se despedaçando como um vidro em Marcela sorrindo).

You Might Also Like

0 Comments

Popular Posts

Total de visualizações de página

Translate

ONLINE

Formulário de contato

Nome

E-mail *

Mensagem *