Redenção - Capítulo 17
terça-feira, maio 15, 2018
REDENÇÃO – CAPÍTULO 17
“MENTE DOENTIA”
CENA
1/APARTAMENTO DE NINA/SALA/INTERIOR/MANHÃ
Lucas e Mateus
continuam se beijando, enquanto Nina fica de boca aberta com a cena. Ela
imediatamente separa os dois.
NINA (furiosa): Mais
que porra é essa?
LUCAS (sorrindo):
Isso mesmo, eu e o Mateus estamos namorando.
MATEUS: Fica com
recalque não, tá amor?
NINA: Que nojo dois
homens se beijando... Eca! Deu até ânsia.
MATEUS: Acorda, querida.
Parou no tempo, seu projeto de cem anos que não deu certo? Beijo gay não é mais
tabú faz tempo, querida! Acorda!
NINA: Mas é uma
pouca vergonha, isso sim!
LUCAS: Blá, blá, blá,
blá, blá! Você tá com dor de cotovelo, isso sim. Sabia que por causa de você
meu pai quase me matou?
NINA: Era pra ter
matado mesmo! Nenhum pai merece um filho gay dentro de casa.
LUCAS: Você é mais
pior do que eu imaginava, é até pior que ele. Fez com intenção que eu voltasse
com você, que virasse hétero, não é? Mas isso não aconteceu. O que você fez, só
me fortaleceu pra eu contar toda a verdade pra ele, pra eu me assumir. Ele
deixou meu olho roxo, me expulsou de casa, mas você não imagina o quão leve eu
estou agora por ter dito a verdade. Finalmente vou viver minha vida ao lado do
meu verdadeiro amor.
MATEUS: É isso aí!
Joga tudo na cara dessa vadia.
NINA (furiosa):
Saiam daqui, eu vou chamar os seguranças!
LUCAS: Nem precisa chamar.
Eu vim aqui mais o Mateus só pra te falar isso mesmo, já estamos de saída. – (Vai
até a porta com Mateus). – Só não tente querer me separar do Mateus, por favor.
Vai viver a sua vida que eu vivo a minha, certo?
NINA (gritando):
Nunca vocês vão ser felizes, a sociedade não aceita aberrações que nem vocês!
LUCAS: Chama de
aberração quando tem tanta coisa verdadeiramente ruim no mundo... É filho
matando pai, pai matando filho, mas só se preocupa com os gays. Garota, para de
ser infantil e toma vergonha nessa sua cara! Uma menina tão jovem com um futuro
brilhante pela frente ter que se submeter a isso. Eu já vou indo e espero nunca
mais ter que olhar pra essa sua cara!
Lucas e Mateus saem
da casa. Nina fica completamente arrasada e chorando muito. Ela fecha a porta,
vai até a TV e joga no chão. Ela pega alguns vasos e também joga no chão,
totalmente furiosa.
CENA
2/MANSÃO DOS DELLATORRE/SALA DE JANTAR/INTERIOR/MANHÃ
Ricardo, Elvira e
Joana tomam café da manhã. Marcela aparece com a cara roxa e cheia de curativo.
Ela senta na mesa e pega um faca e um pão. Elvira e Joana olham pra ela.
RICARDO: Amor,
ninguém conseguiu encontrar a Laís?
MARCELA: Que porra
de Laís o quê! Quero mais é que ela se foda. Vem com esse draminha de
adolescente, eu não tô bem pra isso! Você viu muito bem como cheguei aqui
ontem. Não quero que nem você, nem ninguém vá atrás dela. Quero ver como ela
vai viver sem os luxos dela. Ela vai aprender a lição, só dar tempo ao tempo. –
(Sente dor). - Ai, minha cabeça.
ELVIRA (sorrindo):
Assim dizia a música do Renato Russo: “Tudo que você faz, um dia volta pra
você.”
Marcela se levanta,
pega a faca a qual estava cortando o pão, vai até Elvira e aponta pro pescoço
dela. Joana imediatamente se levanta para tentar apartar a briga.
MARCELA: Você que
não ouse se intrometer, sua sonsa! – (Aponta a faca pra ela. Em seguida, olha
para Elvira). – Você, Elvira, passou dos limites! – Aponta a faca novamente
para Elvira.
ELVIRA: Vai, me
mata! Prefiro a morte a ter que viver com um diabo igual você!
Marcela coloca a
faca no bolso da calça.
MARCELA: Não. –
(Sorrindo). – Eu não vou dar o que você tá pedindo. – Puxa a cadeira de rodas.
JOANA: Para, você
vai maltratar ela!
MARCELA: E posso
fazer muito pior com você! Vem atrás de mim pra você ver se eu não corto esse
seu pescoço. Eu tô falando sério! Me testa pra ver!
Marcela puxa a
cadeira de rodas de Elvira até o elevador.
MARCELA: Você tá
precisando de um bom corretivo, sua múmia.
ELVIRA: O que você
vai fazer?
MARCELA (sorrindo):
Vai ver... Você vai ver. – Entra no elevador com Elvira na cadeira de rodas.
Joana olha para
Ricardo.
JOANA: Meu Deus,
você não vai fazer nada? O único homem da casa e é inútil desse jeito.
RICARDO: Eu bem que
queria, mas você não conhece a Marcela como eu conheço, e aconselho você a
ficar bem longe dela.
JOANA: Seu frouxo!
RICARDO: Eu vou indo
pra empresa que eu ganho mais. – Se levanta.
JOANA: Liga pra
polícia! A dona Elvira é idosa, essa palhaçada pode custar a vida dela!
RICARDO: E vai
adianta de quê? A Marcela é poderosa, tem muito dinheiro, com um piscar de
olhos ela sai da cadeia. Se ela quiser, compra promotor, juiz, tudo que ela
quiser! Seria perca de tempo, vai por mim. Agora tchau!
CENA
3/MANSÃO DOS DELLATORRE/QUARTO DE VISITAS/INTERIOR/MANHÃ
Marcela abre a porta
e entra com Elvira. Elvira chora com medo.
ELVIRA (chorando):
Por favor...
MARCELA: Ué, mas não
tava tão sarcástica hoje tirando uma com a minha cara? – (Tranca a porta do
quarto e esconde a chave). – Você vai ter um momentinho a sós comigo. – Levanta
a cadeira de rodas e joga Elvira no chão.
Em seguida, sem a
menor piedade, tira a calça e a camisa de Elvira.
Marcela pega a faca
em seu bolso e se ajoelha do lado da mãe. Elvira chora.
MARCELA: Você não
sente os pés, né? – Passa a faca nos pés de Elvira.
Foco no sangue
escorrendo.
ELVIRA
(chorando/desesperada): Para, por favor...
MARCELA: Ora, mas nem
tá doendo que eu sei. Você é aleijada, então não sente as pernas, mas e os
braços? – (Sorrindo). – Ah, os braços você sente, não é mesmo? – (Passa a faca
no braço esquerdo de Elvira, que sangra e grita de dor, enquanto a vilã ri
escandalosamente). – Ah, aí sente. Eita, tá na hora do seu remedinho de pressão,
né? Pois não vai tomar! Aposto muito bem que você tramou com aquela puta da
Norma quando eu tava fora, não foi? Confessa!
ELVIRA (chorando):
Eu não tramei nada, por favor.
Marcela dá um tapa
no rosto de Elvira.
MARCELA: Mentirosa!
Sua puta velha e mentirosa, fala a verdade!
Joana, do lado de
fora, bate na porta diversas vezes, totalmente desesperada.
MARCELA (gritando):
Fica quieta, sua vaca sonsa! Eu disse pra você não se intrometer!
JOANA: Por favor,
Marcela! Me coloca no lugar dela, pode me torturar à vontade, mas não faz isso
com a pobrezinha. Ela é sua mãe!
MARCELA: Foda-se! E
pobrezinha? – (Rindo). – Essa pobrezinha é uma cobra! Não viu como ela me
enfrentou ontem na festa e eu meti a mão na cara dela?
JOANA: Isso é crime!
Se você não parar de fazer isso agora, eu ligo pra polícia. Eu juro que São
Paulo inteiro vai ficar sabendo o que você faz com a sua própria mãe!
MARCELA (grita):
Não! – Ela se levanta, pega a chave, corre até a porta e abre.
JOANA: Você tá
completamente louca.
MARCELA: Escuta,
você não vai fazer nada! Experimenta ligar pro 190 agora, sua vaca! Você ainda
não me viu completamente louca. – Agarra Joana pelos cabelos e bate forte com a
cabeça dela na parede rapidamente.
Joana desmaia com a
cabeça sangrando.
Marcela, rindo, vira
para trás e olha para Elvira no chão e chorando muito.
MARCELA (sorrindo):
É, parece que somos só você e eu agora. – Mostra a faca e fecha a porta em
seguida.
CENA
4/VILA MADALENA/MANHÃ
Norma e Sandra
abordam as pessoas na rua com a foto de Laís.
Em outro take, foco nas duas sentadas em um banco numa praça descansando.
NORMA (preocupada):
Jesus, me ajuda.
SANDRA: Não desista,
amiga. A gente vai encontrar ela. Com fé em Deus nós vamos encontrá-la.
NORMA (sorrindo):
Você é uma verdadeira amiga, sabia disso? Poucos fariam o que você faz: deixar
sua pensão com seus hóspedes pra vir me ajudar.
SANDRA: Tô aqui pra
isso. O que eu não pude fazer no passado, faço agora.
Norma abraça Sandra.
NORMA: Quero que
você saiba que você sempre estará no meu coração.
SANDRA: Ah, não me
faça chorar agora. – (Termina de abraçar Norma e se levanta). – Bora ir atrás
da sua filha! Nem que a gente tenha que andar essa cidade toda, nós vamos
encontrá-la!
Norma se levanta
sorrindo.
CENA 5/MANSÃO
DOS DELLATORRE/COZINHA/INTERIOR/TARDE
Marcela, segurando
um envelope volumoso, conversa com a empregada.
EMPREGADA
(sorrindo): É sério isso, dona Marcela?
MARCELA: Sim, fique
de férias o tempo que você precisar! Não tô te demitindo, mas acho que você
merece umas férias, o que acha? Aqui tá seu dinheiro. – Entrega para a
empregada.
EMPREGADA (sorrindo):
Muito obrigada mesmo.
MARCELA: Só que não
conte pra ninguém o que você viu ou ouviu aqui, tudo bem? Topa?
EMPREGADA: Mas pra
eu ficar de bico calado você precisaria esquentar minha mão mais um pouquinho.
MARCELA: Tá, fala...
Quanto você quer pra fechar essa matraca?
EMPREGADA: Cinco
mil.
MARCELA (chocada):
Cinco mil reais?
EMPREGADA: Não,
cinco mil dólares.
MARCELA (chocada):
Cinco mil dólares? Ah, vai pra casa do caralho! Vai roubar nos quintos dos
infernos! De mim você não tira mais nenhum centavo!
EMPREGADA: Tudo bem,
então assim que eu sair daqui, eu conto o que eu vi e ouvi aqui nessa mansão.
Hoje mesmo eu ouvi muitos gritos da sua mãe... O que será que tava acontecendo?
Enfim, acho que eu ia acabar com a sua reputação se eu abrisse minha boca, não
acha?
MARCELA: Merda! Tá
bom, eu vou te dar esses cinco mil dólares. Sorte que eu tenho dólares no cofre
lá em baixo no porão. Vamos lá!
EMPREGADA
(debochando): Eu no porão com você? Eu sei muito bem do que a dona é capaz... Confio
até no próprio diabo, mas em você não!
MARCELA: Tá
desconfiando de mim? Mas eu tenho um coração muito bom.
EMPREGADA: Hipócrita
você, hein? Tentando ser uma Flora da vida, mas não passa de uma Lívia Marine. É, eu
sou noveleira.
MARCELA: Você é
totalmente louca, paranoica.
EMPREGADA: Mais que
você? Impossível! Não é eu que torturo a minha própria mãe.
MARCELA: A partir de
hoje você tá demitida!
EMPREGADA: Tudo bem,
eu vou querer dez mil dólares.
MARCELA (furiosa):
Dez mil dólares? Tá me achando com cara de poço dos desejos agora? Vai roubar o
diabo, a mim não!
EMPREGADA: Tá bom. –
(Se afasta). – Vou contar tudo.
MARCELA: Tá bom,
porra! Vou dar essa merda desse dinheiro! Espera aí.
Marcela sai da
cozinha, vai até a porta do porão e abre. Em seguida, ela desce as escadas,
onde tem um cofre e Joana presa numa espécie de coleira de ferro. Joana está
acordando aos poucos, mas totalmente tonta.
MARCELA: Xiu, fica
quietinha, fica. – (Vai até o cofre). – Que ódio. O que gentinha que nem ela
faria com dólares no Brasil? Mania de pobre, viu.
Close em uma pistola
em cima da mesa. Marcela olha para a mesa, e vê a pistola e pega a arma.
MARCELA: Calma aí...
Para de ser burra, Marcela! Sempre tem um jeito melhor pra resolver as coisas.
Dinheiro meu ela não vai tirar! – (Vai até o armário, pega uma silenciadora e
coloca na pistola. Olha para Joana). – Depois eu volto pra você, intrometida do
cão!
Marcela sobe as
escadas e sai do porão. Ela vai até a cozinha e se reencontra com a empregada.
EMPREGADA: E aí?
Pegou? Hoje eu vou comer muito nesses restaurantes onde só rico entra!
MARCELA: Quer que eu
te dou dinheiro? – (Aponta a arma para empregada). – Pois eu vou te dar é bala
na cabeça! – Dá um tiro certeiro na cabeça da empregada.
CAM lenta na bala
acertando em cheio a cabeça da empregada, que cai no chão na mesma hora.
Foco em Marcela com
respingos de sangue sobre o rosto. Foco nos móveis sujos de sangue e no corpo
da empregada no chão com a bala alojada na cabeça.
MARCELA: Ah, meus
móveis... Que merda! E o que eu faço com esse monte de bosta agora?
De repente, o
telefone toca e ela atende.
MARCELA (telefone):
Quem é?
RICARDO (celular):
Amor, eu liguei pro seu celular, mas você não tava atendendo. Aconteceu alguma
coisa?
MARCELA (telefone):
É que eu tô aqui na cozinha. Mas pra quê que você ligou pra mim?
RICARDO (celular):
Você não vai vir pra empresa hoje não?
MARCELA (telefone):
E eu tô com uma cara boa pra ir pra empresa? Você não viu o estado que eu tô?
Minhas costas estão doendo, tô morrendo de dor de cabeça... Ah, se vira aí.
Quer saber a verdade? Já tô cheio dessa empresa já!
RICARDO (celular):
Desculpa, só queria perguntar.
Marcela desliga o
telefone.
MARCELA: Tenho que
dar um jeito de esconder esse corpo!
CENA 6/CHIQUE LINS/SALA DE RICARDO/INTERIOR/MANHÃ
Ricardo guarda o
celular.
CAMILA: Não vai vir?
RICARDO: Não, ela tá
furiosa. Disse que já tá cheia dessa empresa já.
CAMILA: Eu já disse
uma vez e volto a repetir: uma hora essa empresa vai entrar em estado de
falência, aí eu quero ver. A Marcela é muito irresponsável!
RICARDO: A Chique
Lins é só uns trocadinhos pra ela. Essa mulher é cheia da grana. E sabe o que
eu acho? Que ela não me ama mais como antes.
CAMILA: E você liga
pro amor dela por acaso? Você sempre me preferiu do que ela. Você só tá com ela
até hoje por causa do dinheiro.
RICARDO: Você sabe
que eu te amo pra cacete, né? É óbvio que eu só tô com ela por causa do
dinheiro.
CAMILA: Eu ainda não
desisti da gente se casar. Se separa dela, vamos viver a nossa vida.
RICARDO: Amor, eu já
te falei. Não é assim que as coisas funcionam. Olha, pra mim você é tudo, quero
passar o resto da minha vida com você, quero ter filhos com você. – (Sorrindo).
– É isso mesmo... Eu quero um dia ter filhos com você, mas entenda que não é o
momento certo ainda.
Camila beija
Ricardo.
CAMILA: Você nunca
disse palavras tão belas... – O beija novamente e logo termina de beijá-lo.
RICARDO: Eu te amo
demais, amor. Pra mim você não é só sexo, e você sabe muito bem que não é. Eu
quero te dar a vida que você merece.
CAMILA: Tudo bem, eu
espero, afinal, eu esperei todos esses anos, né? Só espero que não demore
muito. E aquele negócio de eu ir lá na mansão?
RICARDO: Com tudo
que aconteceu, com a Laís saindo de casa, eu acho que ela não vai mais viajar.
Mas quer saber? Eu vou convencê-la a viajar! Isso mesmo! Se você soubesse o
quanto eu tô louco pra usar aqueles brinquedinhos em você...
CAMILA: Tô morrendo
de vontade.
Os dois se beijam.
CENA 7/MANSÃO DOS DELLATORRE/PORÃO/INTERIOR/TARDE
Marcela termina de
guardar o corpo da empregada em um armário grande. Joana acorda.
MARCELA: Garota,
você é tão insuportável... Eu te dei um soco na cara pra dormir faz dez minutos
e já acordou? Até pra dormir é insuportável!
JOANA: Me tira
daqui, por favor.
MARCELA: Implore
mais.
JOANA: Eu quero ver
a dona Elvira.
MARCELA: Aquela velha pelancuda? – (Começa a rir). – Ela já cantou pra subir faz tempo!
JOANA (desesperada):
Você matou ela, sua vagabunda? Você teve coragem de matá-la!? Ah, mas eu vou te
matar com minhas próprias mãos! – Tenta se soltar, mas não consegue.
MARCELA (rindo): É
brincadeira, ela por enquanto tá viva lá no meu quarto. Apesar de tudo, eu
tenho um coração mole às vezes, inclusive eu acho que eu vou até soltar.
JOANA: Por favor...
MARCELA (debochando):
Mais não agora! – Ri escandalosamente enquanto sobe as escadas.
CENA 8/MANSÃO DOS DELLATORRE/QUARTO DE VISITA/INTERIOR/TARDE
Marcela entra no
quarto e vê Elvira ainda deitada no chão, e sua urina e fezes ao lado.
MARCELA: Que nojo.
Eu que não vou limpar essa sua bunda não. Cú frouxo! Mas eu tenho que entender,
afinal, tem velho que não pode ver mamão, que come e já sai cagando a casa
toda. Um horror.
ELVIRA (chorando):
Era isso que você queria, não era? Você é um monstro, eu pari um monstro!
MARCELA: Ah, para de
drama. Você sempre me preferiu do que a Norma!
ELVIRA: Eu deveria
ter preferido ela mesmo! Se soubesse o que você ia virar...
MARCELA: Você fez
muita maldade, batia na Norma sem motivo, espancava ela. Eu fingia que ficava
com dó, mas no fundo eu tava dando gargalhadas, nunca gostei da Norma mesmo.
Daí teve um dia que ela deu uma de mulher adulta e decidiu sair de casa. Tenho
que dizer: foi um milagre que ela não voltou pra casa como uma cachorra
arrependida. E não é que a desgraçada conseguiu uma casa e formar uma família?
ELVIRA: Você é a pior
pessoa que existe nesse mundo! Como um ser humano como você pode estar viva
ainda? Você é má, é sínica. Nem o próprio diabo te quer!
MARCELA: Quer saber?
Você tá falando merda demais! – Vai até Elvira.
ELVIRA: O que você
vai fazer?
MARCELA: Ué, não
gosta de falar merda? – (Segura a cabeça de Elvira e vira ela de lado). –
Continua falando merda só que na sua merda! – (Empurra com força a cabeça de
Elvira nas próprias fezes e na urina dela). – Que fedor desgraçado... Mas
continua falando merda! Escuta aqui: você nem pense em manter contato com a
vadia da Norma, ouviu bem? Se eu pegar você de conversinha com ela ou sair da
mansão, eu te mato, e você sabe que eu sou capaz de fazer isso! Tá adorando a sua
merda? Hein? Tá? – Solta Elvira, que vomita de tanto nojo.
Marcela vai até a
porta e tampa seu nariz.
MARCELA: Jesus... Você
toma laxante, Elvira? Fedor do caralho! – (Observa Elvira). - Olha, eu vou
soltar sua cãozinha de guarda pra ela cuidar de você, te dar um banho e limpar
toda essa merda. Ah, e ela já tá sabendo desse recadinho que eu te dei, tá? Eu
tenho um coração tão mole às vezes que eu até me impressiono comigo mesma. –
Sai do quarto.
CENA 9/VILA MADALENA/BAR/INTERIOR/TARDE
Laís, com a cabeça
baixa, toda suja e com o vestido rasgado, entra em um bar. A maquiagem dela
está toda borrada. Alguns homens que estão sentados bebendo cerveja e olham pra
ela.
HOMEM 1: Essa aí se
dar um banho até que eu como.
HOMEM 2: Gostosinha
ela, né? O que faz aqui, princesa?
LAÍS: Por favor, eu
tô com fome.
HOMEM 2: Você não
quer ir ali atrás do bar primeiro não? Uma boa foda vai melhorar essa sua cara
e tirar a sua fome. Eu até pago um lanche pra você se quiser foder comigo.
Simone, que acaba de
abrir uma latinha de cerveja, vai até eles.
SIMONE: Respeitem a
moça! Isso é jeito de falar com uma mulher?
HOMEM 2: Quem é
você, caralho?
SIMONE: Estão tão
bêbados que esqueceram? Não lembram que ontem vocês passaram lá no meu estabelecimento?
HOMEM 1: Ih, é
mesmo...
Simone olha para Laís.
SIMONE: Vem comigo.
Simone vai até o
balcão e Laís segue ela.
SIMONE: Diamante, me
traga dois mistos quentes e um suco de laranja pra já!
O funcionário atende
o pedido de Simone.
SIMONE: Senta aqui,
menina.
Laís senta do lado
da mulher. Simone tira um maço de cigarro do bolso, um esqueiro e acende o
cigarro ali mesmo.
SIMONE: Quer?
LAÍS: Não, obrigada.
DIAMANTE: Não pode
fumar aqui, você sabe muito bem.
SIMONE: Eu fumo
aonde eu quiser, foda-se quem se importa com isso! Vai cuidar do teu serviço
que eu cuido do meu pulmão!
Simone olha para
Laís de cima pra baixo.
SIMONE: Você é
linda, hein? Tem quantos anos?
LAÍS: Tenho dezoito.
SIMONE: Ui, novinha.
Por que tá tão sujinha?
LAÍS: É que eu fugi
de casa ontem, não aguentava mais. Tô morando na rua agora.
SIMONE: Ih, sei bem
como é que é... Eu também, quando era mais nova, fugi de casa. Meu pai me pegou
com uma mulher na cama e ameaçou cortar o bico do meu peito com um facão. Ele
me perseguia muito com aquele facão que ele adorava chamar de Capa-Bolas... Uma
loucura. Mas você me aparenta ser aquelas meninas ricas, sabe? Aquelas
patricinhas de ensino médio.
LAÍS: Só a aparência
mesmo.
SIMONE: Não tem
mesmo onde morar?
LAÍS: Não tenho, tô
dormindo na rua.
SIMONE: Mas a rua
não é um lugar seguro pra uma menina tão bonita e novinha assim como você. Eu posso
te ajudar se quiser.
LAÍS (sorrindo):
Sério?
SIMONE: Sério mesmo.
Tenho um lugar onde você pode ficar, eu sou dona de lá, mas você tem que
trabalhar pra mim, só que vai ter seu dinheirinho, sua roupa limpa, sua comida,
tudo certinho.
LAÍS: Eu amei a
ideia! Quero ser independente.
SIMONE: É assim que
se fala, garota!
O funcionário traz os
lanches junto com o suco.
SIMONE: Coma à
vontade, mata a sua fome. Depois vamos pra lá.
Laís não pensa duas
vezes, abocanha o pão e toma um pouco de suco em seguida.
CENA
10/CASA DE PRAZER BELLI/EXTERIOR/TARDE
Laís e Simone chegam
na porta.
SIMONE: É aqui.
LAÍS: Que estanho
essa casa.
SIMONE: É assim
mesmo.
Ambas entram dentro.
CENA
11/CASA DE PRAZER BELLI/INTERIOR/TARDE
Laís e Simone entram
e se deparam com as prostitutas.
LAÍS (confusa):
Calma aí... Isso daqui é um...
SIMONE: Puteiro? É
sim. Não tá procurando onde morar e um trabalho? A partir de hoje você pode
trabalhar pra mim como prostituta!
LAÍS: Prostituta?
Até parece. Eu vou embora!
Laís se afasta pra
ir embora, mas Simone impede ela.
SIMONE: Garota,
pensa bem: lá fora você pode ser estuprada e até ser morta, a rua é perigosa,
você nem imagina. Aqui pelo menos você vai se divertir, vai ter comida, roupa e
ainda vai ganhar seu dinheiro.
LAÍS: Tá me achando
com cara de puta que nem elas?
CÁTIA: Ei, puta não.
LAÍS: É puta sim!
Onde já se viu oferecer isso a uma pessoa? Me poupe!
SIMONE: Então
prefere morrer lá fora? Eu tô te dando uma grande chance de ser independente,
não é isso que você quer? Você tem duas opções: ou fica aqui ou morre lá fora.
Os cracudos adoram uma novinha. A decisão agora é sua! Vai aceitar ou não?
Foco em Laís.
(A cena
congela com um efeito amarelado, que aos poucos vai se despedaçando como um
vidro em Laís pensativa).
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