Redenção - Capítulo 11
segunda-feira, maio 07, 2018
REDENÇÃO - CAPÍTULO 11
“FOGO
DA PAIXÃO”
CENA
1/MANSÃO DOS DELATORRE/SALA DE JANTAR/INTERIOR/NOITE
Close em Marcela
surpresa com a filha.
MARCELA: Você já tá
passando dos limites, Laís! Duvidando da própria mãe... Onde já se viu? Você
aprendeu a responder assim pra sua mãe com seus amigos, foi? Se for, eu acabo
com essa amizade agora!
LAÍS: Não, não tem
nada a ver. Eu só quero tirar essa dúvida.
MARCELA: Pois eu já
falei o que tinha pra falar e você cala essa boca e fica quieta na sua! Não
ouse fazer esses tipos de perguntas sem pé nem cabeça pra mim de novo, senão eu
cancelo essa sua festa e você vai comemorar seu aniversário em casa de castigo!
LAÍS: Tá bom, não precisa
ficar brava comigo.
MARCELA: Não vou
ficar. Eu quero é que você, Elvira, pare de colocar minhoca na cabeça da minha
filha, senão eu vou ter que ser ainda mais rude com você! Eu não tenho dó de
ninguém, já deixo claro.
ELVIRA: A menina só
estava com dúvida...
MARCELA: E daí?
Precisava ter falado aquilo?
LAÍS: Mãe, não
começa...
MARCELA: Eu quero
que você vá já pro seu quarto! Leva ela, Joana, e não ouse me desobedecer,
porque eu tive dó uma vez, não sei como, mas eu tive... Agora eu não vou ter!
Anda, leva ela que eu mando a comida lá pro quarto.
Joana puxa a cadeira
de rodas de Elvira.
ELVIRA: Nem precisa
mandar a comida pro meu quarto, eu perdi totalmente a fome.
MARCELA: Ah, vai pro
inferno, ou melhor: volta pro Egito Antigo você e esse seu vitimismo que me dão asco! Vai pra múmia que pariu, sua velha!
Joana empurra Elvira
e a leva até o elevador.
Marcela começa a rir sozinha.
MARCELA (rindo): Vai pra múmia que pariu... Essa foi boa. - (Para de rir e fica séria). - Mas que porra, que palhaçada eu ser afrontada dentro da minha própria casa. Às vezes tenho vontade
de meter uma faca na minha garganta e me matar.
LAÍS: Que horror,
não fala isso.
MARCELA: É verdade.
RICARDO: Calma,
amor, você tá muito nervosa.
MARCELA: Queria só
um tempo pra relaxar, viajar pra algum lugar. Sei lá, ficar uns meses fora do
Brasil. Queria ir pra Las Vegas, jogar num cassino, fiquei sabendo que a comida
de lá também é muito boa.
LAÍS: Eu quero ir.
RICARDO: Eu posso
cuidar de comprar as passagens.
MARCELA: Não, se eu
for, eu vou sozinha! Queria dar um tempo de tudo.
LAÍS: Até de mim e
do papai?
MARCELA: Não é isso
que eu quis dizer.
LAÍS: Você só tá
piorando as coisas. – Levanta da cadeira e sai da sala.
MARCELA: Vai atrás
dela e conversa, porque se eu tentar, capaz de sair até morte. Eu esgano essa
garota!
RICARDO: Tá bom. –
Se levanta e sai da sala.
MARCELA: Garota
frescurenta, credo.
CENA
2/MANSÃO DOS DELLATORRE/QUARTO DE MARCELA/INTERIOR/NOITE
Ricardo entra
correndo e todo alegre em seu quarto. Ele pega o celular, liga para Camila e
ela rapidamente atende.
RICARDO (celular):
Amor? Tenho uma novidade... – Sorri.
Joana passa pelo
corredor e ouve tudo.
RICARDO (celular): A
otária da Marcela vai viajar pra Las Vegas em breve, a gente pode trepar aqui
mesmo no meu quarto. Se você soubesse o quanto é macio esse colchão...
CAMILA (celular):
Você ficou maluco, Ricardo? E se a sua filha e sua sogra descobrir tudo?
RICARDO (celular): A
Laís e a velha não vão descobrir o nosso caso. Com a Marcela longe daqui, tanto
a Laís quanto a velha vão ficar livres dela. A Laís vai poder ir pra balada,
vai sair muito de casa, e a velha tá doida pra sair daqui também, pra passear,
quase não vão ficar aqui.
CAMILA (celular):
Tem certeza disso?
RICARDO (celular):
Absoluta! E aqui tem uma sauna. Pensa na gente trepando, nos nossos corpos
suados bem molhadinhos naquela sauna quente.
Joana coloca a mão
sobre a boca, chocada com tudo.
RICARDO (celular): O
que acha, hein?
CAMILA (celular): Eu
topo! Tô louca pra conhecer sua casa também.
RICARDO (celular):
Sabe que eu até tenho brinquedinhos?
CAMILA (celular):
Sério? – (Ela ri). – Você é tipo o Christian Grey do 50 Tons de Cinza?
RICARDO (celular):
Não tenho todo arsenal que ele tem, se é que podemos dizer assim, mas sou até
melhor que ele. Vem que eu tô louco pra usar esses brinquedinhos em você, minha
senhorita Grey.
CAMILA (celular):
Quase gozei aqui só de você falar. Pode deixar que assim que ela for embora do
Brasil, eu vou aí todos os dias. Bye, tô preparando janta, até mais.
RICARDO (celular):
Tchau, minha gostosa. Te amo. – Desliga o celular.
Joana, do lado de
fora, imediatamente entra no quarto de Elvira.
Elvira olha para
Joana.
ELVIRA: Nossa, que
demora.
JOANA (chocada): A
senhora não vai acreditar...
ELVIRA: No quê? Por
que tá com essa cara? Me conta, filha.
JOANA: A Marcela vai
viajar pra Las Vegas.
ELVIRA (sorrindo):
Então Jesus Cristo ouviu minhas orações.
JOANA: E eu ainda
não te contei tudo, a senhora vai ficar chocada com o que eu vou falar agora.
ELVIRA: Por Deus, o
que é?
JOANA: Eu estava
passando pelo corredor e ouvi o Ricardo conversando com uma pessoa pelo
celular...
ELVIRA: Na certa era
algum amigo.
JOANA: Não era
nenhum amigo, era a amante dele.
Elvira fica chocada
e surpresa.
ELVIRA: Amante? Ele
trai a Marcela?
JOANA: Sim, e disse
que quando a Marcela for viajar, que quer a amante aqui dentro de casa, porque
ele disse que tanto a senhora, como a Laís, não vão ficar muito aqui depois que
a Marcela viajar.
ELVIRA: Nossa, que
canalha.
JOANA: A senhora vai
contar alguma coisa pra Marcela?
ELVIRA: Se a Marcela
me tratasse bem, até que eu ia contar, mas eu não vou fazer isso! A Marcela
merece tudo isso e muito mais, merece ser a corna que é, e vou manter esse
segredo até o fim!
CENA
3/CASA DE MATEUS/SALA DE JANTAR/INTERIOR/NOITE
Lucas e Mateus
jantam.
MATEUS: Quem diria
que a gente ia se tornar grandes amigos... – (Sorrindo). - O gay do colégio com
o hétero de Taubaté, que demais!
Lucas ri.
LUCAS (rindo):
Hétero de Taubaté, você é muito engraçado.
MATEUS: Eu sempre
gostei de ser bobão assim. Antes, da quinta até a sétima série, eu era o bobão
da sala, gostava de fazer os outros rirem, parecia um palhaço. E da oitava até
agora no terceiro ano, eu deixei de ser bobão e virei a piada da sala, mas sem
ressentimentos... Vida que segue!
LUCAS: Você se
assumiu quando tava na oitava série?
MATEUS: Sim, eu
tinha uns 14 anos na época. E você? Vai se assumir quando?
LUCAS: Eu ainda tô
no armário e parece que a chave já foi jogada fora.
MATEUS: Quer um
conselho de uma pessoa que já viveu isso? Não demora, vai ser pior pra você
depois. Eu sei, é um choque, tanto pra quem tá se assumindo, quanto pra quem é
da família, mas no fim tudo dá certo. No dia seguinte, você já sente seu corpo
mais livre, sua consciência fica mais leve, tudo muda.
LUCAS: Mas com o meu
pai é tudo diferente, ele é muito homofóbico.
MATEUS: Os pais na
maioria das vezes são mesmo homofóbicos, já que viveram numa época em que homem
tinha ficar com mulher e mulher tinha que ficar com homem, ninguém tinha o
direito de se assumir, e se assumisse algum dia, além de apanhar, dava até
morte. Pois é, os próprios pais matavam seus filhos. E não é muito diferente de
hoje em dia não. Já ouvi muitos casos assim com meu pai.
LUCAS: E seu pai?
MATEUS: Meu pai é um
homem que viaja bastante, não vive mais no Brasil.
LUCAS: E a sua mãe?
MATEUS: Eu sou
adotado, nunca conheci minha mãe e nem meu pai de verdade. E agradeço a Deus
todos os dias pra ter o pai que eu tenho. Aliás, nunca te contei? Meu pai
também é gay.
LUCAS
(impressionado): Seu pai? Nossa.
MATEUS: Pois é, por
isso que quando eu me assumi, ele aceitou de boa. Tinha medo do que ele falar,
mas eu segui de cabeça erguida.
LUCAS: Queria que
meu pai fosse assim também, que me entendesse.
MATEUS: É sempre
assim no começo, mas depois eles aceitam. Questão de tempo. E não se preocupe
que em tudo, exatamente tudo, eu vou te ajudar. Sempre que quiser vir aqui em
casa conversar, as portas sempre estarão abertas, pode contar sempre comigo.
Lucas pega na mão de
Mateus.
Trilha Sonora: Flutua – Johnny Hooker
(feat. Liniker)
LUCAS: Obrigado, amigo.
Eu sempre fui um filho da puta com você e mesmo assim você tá sendo tão legal
comigo.
MATEUS: Aquilo lá
ficou no passado, agora é o presente, e o futuro só Deus sabe. E nesse futuro,
eu vou querer estar ao seu lado pra te ajudar no que for preciso.
Os dois olham um pro
outro e um clima de romance toma conta da cena ao som de “Flutua”.
MATEUS: Bom, vamos comer
senão a comida vai esfriar... O que achou do meu peixe?
LUCAS (sorrindo): Tá
bom demais, você é um excelente cozinheiro!
MATEUS (sorrindo):
Obrigado, é muito gentil da sua parte.
Os dois seguem
conversando, comendo, sorrindo e tomando champanhe.
CENA
4/VILA MADALENA/AMANHECENDO
Ao som de “Flutua”,
a Lua dá lugar para o Sol formando um belo dia. O céu está azulado e os
pássaros estão cantarolando.
Close na comunidade
Jardim Orestes e na casa de Júnior.
CENA 5/JARDIM ORESTES/CASA DE JÚNIOR/SALA/INTERIOR/MANHÃ
Júnior está tomando
café. Cláudio aparece triste e com a mochila da escola nas costas.
JÚNIOR: Filho, pra
onde você vai?
Cláudio não
responde.
Júnior se levanta e
segura Cláudio.
JÚNIOR: Pelo amor de
Deus, fala comigo! Eu não aguento mais você dando um gelo em mim!
CLÁUDIO: Eu vou pra
escola. Tá feliz agora?
JÚNIOR: Você sabe
que se não quiser ir, não vai.
CLÁUDIO: É melhor eu
ir, já faltei muito esse ano. E é bom também pra eu tentar esquecer um pouco do
que aconteceu.
JÚNIOR: Senta aqui
pra tomar um café antes.
CLÁUDIO: Eu não
quero.
JÚNIOR: Mas você nem
jantou nada ontem...
CLÁUDIO: Eu já disse
que não quero, que saco!
JÚNIOR: Tudo bem, só
não me dá um gelo de novo por causa daquela discussão, eu te peço. A gente não
pode brigar numa altura dessas. Você precisa de mim e eu preciso de você.
CLÁUDIO: Tchau!
JÚNIOR: Tchau, vai
com Deus! Leva a cópia da chave que hoje eu vou pro trampo. – Dá a cópia da
chave para Cláudio.
Cláudio sai da casa.
Júnior termina de beber o café, coloca o copo na mesa, pega sua bolsa, coloca
seu boné, pega as chaves e sai de casa em seguida.
CENA 6/JARDIM ORESTES/MANHÃ
Na descida do morro,
Júnior percebe que esqueceu sua marmita em casa.
JÚNIOR: Porra, esqueci
minha marmita! Eu e essa maldita pressa!
Ele vê a pensão da
dona Sandra e entra em seguida.
Na recepção, ele
fala direto com Sandra.
SANDRA: Júnior, bom
dia. Como você tá?
JÚNIOR: Tô levando a
vida.
SANDRA: É importante
nunca desistir, não é? Em que posso ajudar?
JÚNIOR: Você ainda
tá vendendo aqueles salgados que você vendia antes?
SANDRA: Claro que
sim, inclusive acabei de fritar, ou melhor, pedi pra minha amiga fritar
enquanto eu cuidava da recepção. Vai querer?
JÚNIOR: Vou. Eu não
sei onde ando com a minha cabeça porque eu acabei de esquecer minha marmita lá
em casa e eu tô com preguiça de subir o morro. Às vezes também é bom a gente
provar outras coisas, tô cansado da minha comida todos os dias.
SANDRA: Entendo... Vai querer o quê? – Pega uma
caneta e tira um pedaço da folha do caderno.
JÚNIOR: Quero sete
esfihas, cinco risoles de presunto com queijo, cinco coxinhas e uma Coca de
dois litros pra viagem.
SANDRA: Ok, só um
minutinho que eu vou lá buscar.
Sandra sai da
recepção e vai até a cozinha. Norma sai do seu quarto e vai na direção de
Júnior.
NORMA (sorrindo):
Oi, você é o Júnior, né? Lembra de mim?
JÚNIOR (sorrindo):
Opa, claro que sim! Você é a... Noêmia, né?
NORMA: Não, eu sou a
Norma.
JÚNIOR (sorrindo):
Ah, claro, desculpa... Que cabeça é a minha. Como vai?
NORMA (sorrindo): Eu
vou bem, e você?
JÚNIOR: Tô seguindo
a vida depois do que aconteceu. Não sei se você ficou sabendo, mas a minha
mulher morreu no tiroteio.
NORMA: Sim, eu
fiquei sabendo, a Sandra me contou que ela era uma grande amiga, imagino como
deve ser difícil perder um ente tão querido assim. Meus pêsames.
JÚNIOR: Tudo bem,
vou superar isso.
Sandra traz os
salgados em uma sacola e a Coca.
NORMA: Vai se dar
bem hoje, os salgados dela são ótimos!
JÚNIOR: Salgado eu
só compro aqui, o da Sandra é o melhor.
SANDRA (sorrindo):
Obrigada.
NORMA: Recomendo a ler um bom livro tomando essa Coca-Cola.
JÚNIOR (rindo):
Imagina... Vou trampar, moça.
NORMA: Ah, tudo bem.
– Ela ri.
Júnior coloca o
lanche dentro da bolsa.
JÚNIOR: Tchau.
Obrigado, dona Sandra, e prazer em te reencontrar de novo, Norma. – Se despede
e vai embora.
SANDRA:
Desconfiada...
NORMA: Do quê?
SANDRA: Do seu olhar
pra ele.
NORMA: Normal.
SANDRA (sorrindo):
Sei, normal...
NORMA: Você e essas suas ideias... Eu vou ali e
já volto. – Norma sai da pensão.
De repente, um homem
bêbado, com uma garrafa de bebida alcoólica nas mãos, para ela.
O homem olha para os
seios de Norma.
HOMEM: Tu é gostosa,
hein branquelinha?
NORMA: Me erra, seu corno!
HOMEM: Vem aqui!
O homem agarra
Norma.
HOMEM: Vamos meter
ali em casa um pouco, gostosa? É rapidinho.
O homem tenta beijar
Norma.
NORMA: Me solta!
Você tá bêbado!
FLASHBACK:
NORMA (gritando): Sai daqui! Fora da minha casa!
Carlos, em seu momento de fúria, agarra Norma, arranca o vestido
dela. Ele tira a calcinha dela a força, vira ela de costas, tira sua calça, seu
pênis pra fora e começa a passar em volta do ânus da mulher.
CARLOS: Agora você vai ver o que é bom!
Carlos penetra em Norma com força. A mulher grita de dor e o sangue
aos poucos desce sobre a perna dela.
FIM DO
FLASHBACK
O homem joga Norma
no chão. Júnior vira para trás e vê toda a cena. Ele tira a bolsa de suas
costas, joga no chão, corre até o homem e dá um soco na cara do sujeito, que
cai sobre os vários sacos de lixo, e em algumas cadeiras, quebrando-as.
JÚNIOR: Aprende a
respeitar uma mulher, seu cuzão!
Júnior estende a mão
e levanta Norma do chão.
JÚNIOR: Machucou?
NORMA (assustada):
Não, obrigada.
O homem
imediatamente levanta, pega sua garrafa e quebra no chão. Ele aponta a garrafa
quebrada para os dois.
HOMEM: Me enfrenta
agora, seu filho da puta! Quero ver!
Close alternativo no
homem, em Júnior e em Norma.
(A cena
congela com um efeito amarelado, que aos poucos vai se despedaçando como um
vidro, em Norma completamente assustada).
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