Redenção - Capítulo 10
sexta-feira, maio 04, 2018
REDENÇÃO - CAPÍTULO 10
“CONTRA A PAREDE”
CENA
1/HOSPITAL/QUARTO DE LAÍS/INTERIOR/TARDE
ELVIRA: Fala,
Marcela, ou será que você foi colocada contra a parede?
LAÍS: Quem é Norma!?
MARCELA: Esquece
isso, filha. Não é ninguém.
ELVIRA: Se você não
vai falar, eu falo! Norma era sua tia, Laís, que infelizmente faleceu há muitos
anos. A Marcela fez questão de contar pra mim, não foi?
LAÍS: Mãe, por que
você nunca me contou nada dela?
MARCELA: Pra quê eu
vou tocar num assunto que me fez sofrer durante anos? Quando eu soube que a
Norma morreu, eu sofri muito, cheguei até a querer me matar. Sua vó não tava no
Brasil. Na época, ela viajou pra Itália junto com o seu avô, que morreu lá
mesmo.
ELVIRA: Uma viagem
amaldiçoada que tirou a vida do meu velho.
LAÍS: Nossa, desculpa,
eu não queria tocar nesse assunto. Mãe, é sério, me perdoa?
MARCELA: Claro que
eu te perdoo. Você não tem culpa de nada, quem tocou no assunto não foi você,
foi essa bruxa velha que só me traz problemas!
JOANA: Ei, respeita
sua mãe! Será que é pedir demais?
MARCELA: Calma aí... Eu vou respeitar. – (Pega a carteira e abre). – Quanto te devo?
JOANA: O que?
MARCELA: Não ouviu?
Além de sonsa é surda? Quanto eu te devo? Quero você no olho da rua hoje mesmo!
ELVIRA: Não, você
não vai demitir ela!
MARCELA: Ué, por que
não? É eu que pago o salário dela todo mês, que, aliás, é muito caro! Você,
Elvira, não vale tudo isso. Quanto eu te devo, Joana? Anda! Fala, garota!
LAÍS: Mãe, por
favor... Não demite ela. A vovó gosta muito dela.
MARCELA: Foda-se a
sua vó! Eu quero demitir ela, e eu vou demitir! Essa sujeita já passou dos
limites comigo. Não dei toda essa liberdade.
ELVIRA: Ela você não
vai demitir!
LAÍS: Mãe, se não
for fazer pela vovó, faça por mim, por favor. Ela promete que não vai se
intrometer, não é, Joana?
ELVIRA: Fala, Joana!
JOANA: Sim, eu
prometo. Eu não vou mais me intrometer.
MARCELA: Ótimo, se
for assim tá bom demais. E eu acho melhor que não se intrometa mesmo, você não
vai querer me ter como inimiga, né garota? Você não sabe do que eu sou capaz! –
(Guarda a carteira na bolsa e vai até a porta do quarto). – Cinco minutos pra
conversarem, depois eu quero que a minha filha descanse! – Sai do quarto.
CENA
2/JARDIM ORESTES/PENSÃO DA DONA SANDRA/QUARTO DE SANDRA/INTERIOR/TARDE
Norma dá um copo de
água com açúcar para Sandra.
NORMA: Pronto, toma
essa água com açúcar, você vai se acalmar.
SANDRA: Obrigada. –
Bebe a água.
NORMA: Você gostava
muito dela, né?
SANDRA: Gostava. Foi
um choque, tanto pra mim, quanto pro Júnior e pro Cláudio.
NORMA: Então o nome
daquele moço é Júnior...
SANDRA: Você conhece
ele?
NORMA: Conversamos
um pouco no dia do baile, você tinha sumido. Eu vi ele conversando com um
traficante que tava cobrando ele.
SANDRA: Pois é, foi
esse traficante que morreu. O Cláudio matou ele, fiquei sabendo.
NORMA: Nossa, aquele
garoto matou o traficante? Fez muito bem feito! Pra mim bandido merece é pena
de morte.
SANDRA: Certamente
foi vingança. O mesmo traficante que tava cobrando o pai dele, foi o mesmo que
atirou na Renata, a mãe.
NORMA: Que coisa...
Onde esse Brasil vai parar com tanta violência e falta de segurança?
SANDRA: Acho que não
tem mais solução, vamos chegar num momento que ninguém vai poder sair mais na
rua. É violência pra todo lado, é roubo, é político ladrão... O Brasil não tem
mais jeito, o povo também não sabe votar, né? Se fodemos. Mas, mudando de
assunto... Me diga: quando vai ser o aniversário da sua filha?
NORMA: Daqui a algumas semanas, no dia 10.
SANDRA: Já pensou em
algum plano?
NORMA: Quero entrar
de surpresa na festa, mas você vai precisar me ajudar.
SANDRA: Eu ajudo no
que for preciso. Me conta!
Norma segue dando
detalhes do seu plano para Sandra.
CENA
3/VILA MADALENA/ANOITECENDO
Trilha Sonora: Royals – Lorde
A chuva para e anoitece
na região. Close no apartamento de Nina.
CENA
4/APARTAMENTO DE NINA/SALA/INTERIOR/NOITE
Nina e Lucas entram
no apartamento se beijando. Ela tira a camisa dele e os dois deitam no sofá.
Nina fica em cima de Lucas, o beija e, em seguida, tira a calça do garoto,
junto com a cueca. Ela tira a calcinha, que é coberta pela saia e fica em cima
do pênis do garoto.
NINA: Ainda bem que
meus pais só viajam. Ai, vamos, se anima! Por que ainda não tá duro? Quer uma
ajudinha? Se quiser, eu posso bater uma pra você, ou até mesmo chupar. Quer?
LUCAS: Não, esquece.
– Se levanta.
NINA: O que você
tem, hein? Desde que voltou daquele maldito hospital tá diferente!
LUCAS: Eu só não
quero sexo, só isso.
NINA: Você não é
mais o Lucas que eu conheci. O antigo Lucas era bem safado.
LUCAS: E eu sou
obrigado agora? Se eu não quiser fazer sexo, eu não faço, oxe!
Nina se levanta do
sofá.
NINA: Tá gostando de
outra garota? É isso, não é? Bem que eu tava desconfiada mesmo. Homem não
presta mesmo! Cadê seu celular?
Nina pega a calça de
Lucas e tira o celular do bolso.
LUCAS: O que você
vai fazer? – Tentando impedir.
NINA: Vou ver quem é
essa vagabunda! Olha só... Vinte ligações perdidas. Deixa eu ver quem é a puta.
Lucas tenta pegar o
celular da mão dela, mas não consegue. Nina vê o nome do contato que ligou
diversas vezes pra Lucas.
NINA (chocada):
Calma aí... Mateus?
Lucas consegue pegar
o celular da mão dela.
NINA: É o Mateus do
colégio? Aquele viado? É ele mesmo... Gente.
LUCAS: Não é isso
que você tá pensando...
NINA: Claro, faz
todo o sentido... Ele tava naquele mesmo hospital, naquele dia que você demorou
pra caramba pra voltar do banheiro... Não era banheiro coisa nenhuma, você foi
é visitar ele. E eu achando que você tava de conversinha no Tinder com outra
garota.
LUCAS: Nina, eu
posso explicar...
NINA: Não vai
explicar porra nenhuma! – (Dá um tapa na cara de Lucas). – Então é por isso que
você não sente mais tesão por mim? Você é bicha?
LUCAS: Nina, a gente
só é amigo! Naquele dia eu só fui pedir desculpas pra ele por tudo que eu fiz,
já fui muito mal com ele. Fui um babaca todas as vezes.
NINA: Você só pode
tá tirando com a minha cara, não é?. Eu, uma garota gostosa, linda,
maravilhosa, ser trocada por um boiola... É o cúmulo!
LUCAS: Vou falar
pela última vez: eu e o Mateus somos só amigos. Não tem nada a ver com romance,
entenda. – (Ele acaricia o rosto dela). – Ei, quero que você entenda, tá bom?
Trilha Sonora: Demons – Imagine Dragons
Nina beija ele e
para em seguida.
NINA: Eu não sei o
que faria se eu te perdesse. Eu com certeza cometeria uma loucura. Sou louca
por você.
LUCAS: Você não vai
me perder. – Beija ela.
CENA 5/CASA
DE HUGO/SALA DE JANTAR/INTERIOR/NOITE
Hugo e Sílvia estão
jantando. A empregada aparece.
HUGO: Eu quero que
você faça uma limonada suíça que eu tô morrendo de vontade de tomar, ainda mais
num calor do inferno que tá fazendo aqui em Sampa. Choveu, mas parece que não
choveu. – (Encara a empregada) – O que você ainda tá esperando? Anda, é pra já!
EMPREGADA: Sim
senhor.
HUGO: Ah, e quero
que coloque um pouco de vodka no meio. É, deve ficar bom. Anda!
A emprega vai direto
pra cozinha.
SÍLVIA: Vodka? É
sério?
HUGO: Qual é, mãe?
Eu já tenho 17 anos, daqui à alguns meses eu faço 18, isso não é segredo pra
ninguém. Se eu quiser tomar vodka pura, eu tomo.
SÍLVA: Não vai ser
eu que vou impedir.
HUGO: Como a senhora
tá indo lá no hospital?
SÍLVIA: Tô indo bem.
Que estranho, você nunca me perguntou. E como foi seu dia?
HUGO: Foi muito bom.
Estourei mesmo os cartões de crédito.
SÍLVIA: E o
dinheiro?
HUGO: Ah, eu fui num
lugar aí. Não quis esperar fazer 18 anos primeiro.
SÍLVIA: Esse lugar
seria o que eu tô pensando que seria?
HUGO: Sim, eu fui
numa casa de prazer, ou melhor, num puteiro. Elas amam novinhos! Eu também não
sou mais virgem faz tempo, e você sabe disso!
SÍLVIA: Filho, eu não
quero que você vá nesses lugares. Você é tão lindo... Melhor é você arrumar uma
namorada, não acha?
HUGO (rindo): Nem
morto. Namorada só dá trabalho! Um horror. Lá no puteiro eu tenho mais
liberdade.
SÍLVIA: Ah, chega de tocar nesse assunto enquanto a gente janta.
HUGO: Tudo bem, eu
paro. Mas eu adorei aquele puteiro, só que eles me disponibilizaram uma puta
muito, mais muito atrevida. Falou até da minha marca de nascença na coxa. Essa
marca é estranha mesmo, você mesmo não tem.
Sílvia imediatamente
larga o talher.
HUGO: O que houve,
mãe?
SÍLVIA: Não, nada.
HUGO: Por que ficou
assim só porque eu falei da marca?
SÍLVIA: É que eu
acho que já comi muito. Ai, vou dormir, tô cansada e tenho que acordar cedo
amanhã. – (Se levanta e vai até Hugo para beijá-lo). – Boa noite. – Beija Hugo
na bochecha e sai da sala em seguida.
HUGO: Que
estranho... – (Ele se levanta e grita). – Cadê a minha limonada suíça que eu
pedi!?
CENA
6/HOSPITAL/EXTERIOR/ESTACIONAMENTO/NOITE
Laís, Marcela e
Ricardo caminham até o carro.
LAÍS: Finalmente saí
desse lugar, já não aguentava mais. Eu nem sei por que fiquei tanto tempo aí se
eu nem me machuquei pra valer.
MARCELA: Mas foi
necessário. E ainda bem que nada sério aconteceu.
LAÍS: Pai, como vai
os preparativos pra minha festa?
RICARDO: Já está
quase tudo pronto, só falta eu ver a decoração da mansão como vai ficar, mas
você mesmo pode ver isso, já que a festa vai ser sua.
LAÍS: Eu vejo sim.
Tô louca pra essa festa chegar logo.
MARCELA (sorrindo):
E pensar que você já vai fazer dezoito anos... Lembro até hoje quando eu te
pegava no colo, a coisa mais fofa da mãe. Você lembra, Ricardo?
RICARDO (sorrindo):
Claro que eu me lembro. A Laís não parava de chorar, tinha muito medo de
helicóptero, não podia ver ou ouvir um que já abria o berreiro.
Todos riem.
MARCELA: É, logo,
logo vai entrar pra faculdade também. Meu bebê tá crescendo.
LAÍS: Eu não sou
mais um bebê, mãe. Agora vou ter que eu mesma tomar minhas decisões.
RICARDO: Já pensou
no que vai ser?
LAÍS: Ainda não, mas
eu estou mais interessada por medicina.
MARCELA: Medicina é
bom, mas é bastante complicado. Queria que você fosse uma empresária famosa
assim como eu.
LAÍS: Desculpa, mas
eu acho que ser empresária é mais complicado do que ser médica.
MARCELA: Bom, eu não
quero me intrometer, você que decide, é o seu futuro.
O celular de Laís
toca, ela tira da bolsa e atende.
LAÍS: Quem é? –
(tempo) – Miguel? Como você...? – (tempo) – Quem te passou meu número? –
(tempo) – Eu vou matar a Nina! – (tempo) - Não, eu não quero que me ligue mais!
Vou te bloquear... – Desliga o celular.
MARCELA: Miguel?
LAÍS: Sim, um
carinha que vive dando em cima de mim.
MARCELA: Acho que eu
sei quem é. Veio aqui no hospital atrás de você, mas eu dei um bom pontapé
nele.
LAÍS: Chato demais,
vou bloquear ele.
MARCELA: Bloqueie
mesmo, não quero você de conversinha com um tipinho que nem ele. Última coisa
que eu ia querer é minha filha se engraçando com um pé-rapado desses que não
tem onde cair morto.
CENA
7/APARTAMENTO DE NINA/QUARTO/INTERIOR/NOITE
Lucas e Nina estão
deitados na cama. Ela adormece a cabeça no peitoral dele num sono profundo. Ele
ainda está acordado, pega o celular numa mesinha do lado da cama, olha o
relógio e, em seguida, suavemente coloca a cabeça de Nina sobre o travesseiro e
se levanta da cama logo em seguida. Ele sai do quarto e vai até a cozinha. Lá
ele digita uma mensagem para Mateus.
LUCAS (digitando): “Tá
acordado? Me responde, por favor.” – Envia a mensagem.
Não demora muito e
Mateus o responde.
LUCAS (lendo):
“Não atendeu as minhas ligações, achei que não queria conversar mais comigo.” –
Digita. – “Amigo, me perdoa, realmente não deu pra eu responder porque a
Nina e até o meu pai não saíram da minha cola. Não deu mesmo” – Envia a
mensagem.
Lucas deixa o celular
na mesa, vai até a geladeira e pega uma lata de cerveja. Ele abre a latinha e
bebe. Não demora muito e Mateus responde de novo. Então ele pega o celular na
mesa e lê a mensagem.
LUCAS (lendo): “Não
quer vir aqui em casa agora pra gente conversar? Nem é meia-noite ainda. Tô
preparando uma coisinha pra gente comer.” – Digita. – “Claro, vou gostar
muito de ir aí conversar com você. Não sabia que cozinhava (rs). Eu to na casa
da Nina, mas eu posso ir aí sim. Bye, te vejo aí.” – Fecha o aplicativo de mensagens,
deixa a cerveja na mesa, coloca o celular no bolso da calça, vai até o quarto
onde Nina dorme, pega o par de sapatos e sai do quarto dando leves passos...
CENA
8/CASA DE MATEUS/COZINHA/INTERIOR/NOITE
Mateus tira o peixe
assado do forno, coloca sobre o balcão, vai até a mesa, coloca os pratos e os
talheres nos lugares e deixa o champanhe no gelo.
MATEUS (sorrindo):
Perfeito!
CENA
9/MANSÃO DOS DELLATORRE/SALA DE JANTAR/INTERIOR/NOITE
Marcela, Laís,
Ricardo, Elvira e Joana jantam.
LAÍS: Esse Terrines
e patês tá muito bom.
MARCELA: Arrumei uma
cozinheira de ouro que sabe fazer os melhores pratos franceses.
LAÍS: Simplesmente
fantástico!
MARCELA: Me passa o
vinho, Ricardo.
LAÍS: Mãe, bem que a
senhora podia deixar eu tomar um pouco, né?
MARCELA: Nem pensar.
LAÍS: Qual é? Vou
fazer dezoito anos, deixa eu beber. Please?
MARCELA: Não e não!
E não venha com essa gíria de “qual é” aqui em casa que você não é nenhuma
maloqueira!
RICARDO: Marcela,
deixa a menina beber só um pouquinho... Que mal pode fazer?
LAÍS: Por favor, eu
te imploro até de joelhos se precisar!
MARCELA: Não quero
que se rebaixe a tanto, pode beber. – Passa a garrafa para Laís.
LAÍS: Quer também,
vó?
ELVIRA: Não,
obrigada filha.
Laís coloca vinho em
seu copo.
LAÍS: Sabe o que me
deixou intrigada lá no hospital, mãe? É que a vovó falou que você conseguiu
tudo tão rápido. Tipo a fortuna, o dinheiro, tudo, até o papai.
MARCELA: Que isso,
garota? Então quer dizer que a Elvira anda colocando essas ideias malucas na
sua cabeça?
LAÍS: Não brigue com
ela, fui eu que perguntei, afinal, eu como sua filha mereço saber, não mereço?
MARCELA: É claro,
mas não foi tão rápido assim. E respondendo sua pergunta: tudo que eu consegui
foi com o suor do meu trabalho, meus vestidos muito bem criados, estudei muito
pra isso, foi tudo muito bem aceito e foi daí que eu conheci seu pai.
LAÍS: Mas eu tava
pesquisando e vi que você não teve nenhum estudo... Como assim? Mãe, eu quero
saber toda a verdade! Se você não me contar, uma hora ou outra eu vou acabar descobrindo... Como foi que você conseguiu tudo tão rápido?
Close em Marcela
surpresa com o interrogatório da filha.
(A cena
congela com um efeito amarelado, que aos poucos vai se despedaçando como um
vidro, em Marcela jogada contra a parede novamente).
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