Redenção - Capítulo 07

terça-feira, maio 01, 2018


REDENÇÃO - CAPÍTULO 07



“O ATENTADO E O TIROTEIO”

CENA 1/COLÉGIO BOAVENTURA/EXTERIOR/MANHÃ

Close no colégio em chamas. Algumas pessoas, do lado de fora, ligam imediatamente para os bombeiros. O clima é de tensão total. Hugo, de longe, sorri e vai embora.

CENA 2/COLÉGIO BOAVENTURA/PÁTIO/INTERIOR/MANHÃ

Close em Nina e em Bruno ensanguentados, e Marcela desesperada ao lado de Laís, que está desmaiada. 

Pais e alunos começam a correr desesperados pra fora do colégio.

MARCELA (desesperada/chorando): Filha, filha... – (Gritando). - Alguém me ajuda! Por favor!

Sandra está ao lado de Norma no chão.

SANDRA: Precisamos sair daqui, o teto pode desabar a qualquer momento!

NORMA (desesperada): Não, a minha filha... Ela tá desmaiada, eu preciso ajudá-la!

SANDRA: Não vai dar! Pelo amor de Deus, Norma, a gente vai acabar morrendo aqui!

Norma se levanta e Sandra também.

NORMA: Não, eu vou até ela! Eu vou ajudar minha filha.

SANDRA: Me desculpa. – Dá um soco na nuca de Norma, que desmaia.

Sandra pega Norma pelos braços e arrasta a mesma. Ela vê um homem.

SANDRA: Por favor, me ajuda a levar ela pra fora.

O homem pega Norma e os dois seguem até a entrada do colégio, que por enquanto ainda está intacta.

O fogo se alastra.

Marcela consegue levantar Laís, mas acaba deixando a garota cair por causa do braço ferido.

MARCELA (gritando): Merda!

Miguel corre para ajudá-las.

MIGUEL: Eu vou ajudar. – Pega Laís.

MARCELA: Muito obrigada.

Nina e Bruno se levantam ensanguentados.

NINA: Cadê o Lucas? Bruno, você viu onde o Lucas foi?

BRUNO: Não, mas eu sei que a gente precisa sair daqui, você tá mancando!

NINA: Eu não vou sair sem o meu namorado.

BRUNO: O Lucas já deve ter saído, vamos logo, ou você quer morrer queimada?

NINA: Merda! Me segura.

Bruno ajuda Nina.

CENA 3/COLÉGIO BOAVENTURA/BANHEIRO MASCULINO/PÁTIO/INTERIOR/MANHÃ

O fogo se alastra no banheiro. Mateus acaba se engasgando com a fumaça e desmaia. Lucas procura a chave.

LUCAS (desesperado): Cadê essa chave? – (Ele vai até Mateus). – Mateus, acorda!

Lucas vai até a porta, tenta quebrá-la dando chutes, mas não consegue. Ele vê uma janela no fim do banheiro.

LUCAS: A janela! – (Ele vai até a janela e quebra o vidro com o braço, mas acaba se cortando). – Porra!

Lucas grita por socorro e um homem, do lado de fora do colégio, corre para ajudá-lo.

LUCAS: Por favor, me ajuda!

HOMEM: Tudo bem, é só você? Pode vir. – Estende a mão.

Lucas olha para Mateus.

LUCAS: Eu não vou te deixar. – Vai até Mateus, pega o rapaz e entrega ao homem na janela, em seguida ele sai.

CENA 4/COLÉGIO BOAVENTURA/EXTERIOR/MANHÃ

O Corpo de Bombeiros e várias ambulâncias chegam ao local.

Close na parte superior do colégio coberta pelas chamas. Uma das janelas explode.

Close num helicóptero de uma emissora de TV sobrevoando o local.

CENA 5/JARDIM ORESTES/CASA DE JÚNIOR/QUARTO DE JÚNIOR/INTERIOR/MANHÃ

Renata assiste o jornal na TV, que fala sobre o terrível incêndio no Colégio Boaventura.

RENATA: Meu Deus, que tragédia...

De repente, Cláudio entra em seu quarto.

CLÁUDIO: Mãe, eu posso sair?

Renata se levanta.

RENATA: O que foi que o seu pai disse, Cláudio? Não pode, você tá de castigo!

CLÁUDIO: Eu juro que eu não vou mais me envolver com nada errado, é sério. Só quero jogar bola com a galera.

RENATA: Se fosse por mim, eu deixava, mas seu pai não quer. Você tem que obedecer as ordens dele, não é assim.

CLÁUDIO: Tudo bem então, desculpa.

RENATA: Ei, não fica assim. Vem assistir TV com a mamãe.

CLÁUDIO: O pai disse que eu não posso assistir TV.

RENATA: Ah, seu pai passou dos limites! Pois eu deixo! Vem.

Renata e Cláudio deitam na cama para assistir TV.

CLÁUDIO: Que incêndio foi esse?

RENATA: Aconteceu agora pouco naquele colégio de playboy aqui perto.

CLÁUDIO: Foi feio o negócio, hein?

RENATA: Pois é.

CLÁUDIO: Mãe, quer saber de uma coisa?

RENATA: Que coisa?

CLÁUDIO: Eu te amo.

RENATA: Eu também te amo, filho. – Abraça Cláudio.

CENA 6/HOSPITAL/QUARTO DE LAÍS/INTERIOR/TARDE

Laís, dormindo, recebe cuidados médicos enquanto uma enfermeira enfaixa o braço de Marcela.

MARCELA: Vai ficar tudo bem com ela, doutor?

MÉDICO: Vai sim, ela só precisa descansar um pouco. Isso que aconteceu no colégio vai gerar um grande trauma pra todos.

MARCELA: Eu vi a morte de perto. Ainda bem que não chegou a minha hora. – Ela ri.

MÉDICO: Qualquer coisa é só me chamar.

MARCELA: Tá bom, doutor. Obrigada.

O médico sai do quarto e a enfermeira também. Marcela se levanta e olha o interior do quarto.

MARCELA: Não podiam ter trazido eu e a minha filha pra outro hospital não? Ah, odeio hospital público.

Miguel entra no quarto.

MIGUEL: Com licença.

MARCELA: Você é o...?

MIGUEL: Miguel, sou amigo da Laís, só queria ver como ela tá.

MARCELA: Te agradeço por ter me ajudado lá na hora.

MIGUEL: Foi nada, eu só fiz o que era certo. Gosto muito da sua filha, dona Marcela.

MARCELA: A Laís nunca me falou de você, já dos outros amigos dela...

MIGUEL: Ela nunca foi chegada em mim mesmo, mas a verdade é que eu sempre fui apaixonado por ela. Desculpa falar assim.

MARCELA: Você tem coragem de vir aqui falar pra mãe dela que é apaixonado por ela?

MIGUEL: Mas eu sou mesmo.

MARCELA (debochando): É uma piada? Minha filha com um pé rapado que nem você? Porque só pode ser pé rapado com esse tipo de roupa parecendo um mendigo. Eu já te agradeci, agora faça o favor de se mandar daqui!

Miguel sai do quarto e ela fecha a porta. Alguém bate na porta.

MARCELA: Mas será possível que esse moleque não vai me deixar em paz?

Marcela abre a porta e se depara com Ricardo.

RICARDO: Vim o mais rápido possível quando eu fiquei sabendo da notícia. – (Abraça e beija Marcela). – Como ela tá?

MARCELA: Ela teve alguns arranhões e desmaiou por causa da fumaça, mas não foi nada de tão sério assim, ela só precisa descansar.

RICARDO: Certo!

Marcela observa Ricardo.

MARCELA: Por que tá com essa cara?

RICARDO: Cara de quê?

MARCELA: De quem comeu e não gostou... Por quê?

RICARDO: Eu tava no meio de uma coisa importante e de repente recebo essa notícia, então...

MARCELA: Que coisa importante?

FLASHBACK:

Close em Camila transando com Ricardo em cima da cadeira do escritório.

CAMILA (gemendo de prazer): Vai. Vai. Isso... Ah, isso! Mais rápido, mais rápido!

O celular de Ricardo toca, ele para o que estava fazendo, se levanta e atende o celular.

RICARDO: Alô? ... (tempo)... A Laís? No hospital? ... (tempo)... Ok então. Já, já chego aí. – Desliga o celular.

CAMILA: O que houve?

RICARDO (desesperado): A minha filha... Parece que sofreu um acidente... Depois a gente continua, eu tenho que ir. – Abre a porta da sala.

CAMILA: Calma aí...

RICARDO: O quê?

CAMILA: Vai sair assim?

RICARDO: Assim como?

CAMILA: Sem cueca, de camisinha e de pau duro!

RICARDO (sorrindo): Ah, é mesmo...

FIM DO FLASHBACK

RICARDO: Não é nada que você precise se preocupar, agora para com esse interrogatório!

MARCELA: Sei...

CENA 7/HOSPITAL/CORREDOR/INTERIOR/TARDE

Lucas, Nina e Bruno estão sentados em cadeiras no corredor do hospital. Nina está com a perna enfaixada.

LUCAS: Cara, valeu por ter ajudado ela, você é um amigão.

BRUNO: Ela queria ter ficado lá pra te encontrar. Uma loucura.

NINA (furiosa): É mesmo... Onde você se meteu de verdade? Vacilão! – Dá um tapa no braço de Lucas.

LUCAS: Eu só fui no banheiro e o papo com a mãe da Laís tava um saco também.

NINA: Mas você nem me avisou nada!

LUCAS: Só pro Bruno. Tá bom, desculpa, eu errei, era pra eu ter avisado diretamente pra você. – Se levanta.

NINA: Vai pra onde?

LUCAS: No banheiro.

NINA: De novo? Você tá me achando com cara de otária, é? Esse pau seu aposto que você só não usa pra urinar.

LUCAS: Como assim?

NINA: Quem é a vagabunda?

LUCAS: Eu acho que você tá ficando paranoica, eu só vou no banheiro.

NINA: Tô de olhos bem abertos... Vai!

LUCAS: Eu, hein! Parece que nesse acidente você bateu com a cabeça. – Sai de perto do amigo e da namorada.

Lucas vai em direção ao banheiro, até que vê a porta de um quarto aberto, ele olha e se depara com Mateus, que está deitado na cama. Lucas vai até a porta.

LUCAS: Posso entrar?

MATEUS (surpreso): Lucas? O que você veio fazer aqui?

LUCAS: Só vim te ver.

MATEUS: Não, pode dar o fora daqui! Anda!

LUCAS: Deixa eu conversar com você...

MATEUS: Eu já disse que não!

LUCAS: Vim em missão de paz, ok? Eu só quero conversar, não vou demorar muito, eu prometo.

MATEUS: Entra então.

Lucas entra no quarto e vai até Mateus.

LUCAS: Ainda bem que não aconteceu nada de grave com você.

MATEUS: O que houve com você, Lucas? Você me odeia, esqueceu?

LUCAS: Se lembra daquilo que aconteceu no banheiro?

MATEUS: O que? O beijo? Aquele beijo, eu aposto que não passou de um joguinho seu, pra me humilhar de novo como fez comigo mais cedo!

LUCAS: Não é bem isso...

MATEUS: Poderia ser o quê então?

LUCAS: Mateus, eu sou gay.

Mateus se surpreende.

CENA 8/JARDIM ORESTES/PENSÃO DA DONA SANDRA/QUARTO DE NORMA/INTERIOR/TARDE

Sandra traz gelo para Norma.

SANDRA: Aqui, um gelo.

Norma pega o gelo e coloca sobre sua nuca.

SANDRA: Você sabe que foi preciso fazer isso, não sabe?

NORMA: Sandra, eu ia ajudar a minha filha.

SANDRA: Mas a gente ia morrer lá, Norma! Tenta entender.

NORMA: Esquece... De qualquer forma ela não poderia me ver mesmo, já que aquela vaca da Marcela tava lá.

SANDRA: Você pode se reencontrar com ela qualquer outro dia.

Norma tem uma ideia.

NORMA: Calma aí... Tô tendo uma ideia.

SANDRA: Que ideia?

NORMA: O aniversário dela tá chegando, eu sei porque ela faz dia 11 de maio agora. – (Sorrindo). – Eu poderia aparecer no dia do aniversário dela e fazer uma surpresa. O que acha?

SANDRA: Norma, é perfeito!

NORMA: Tô louca pra ter a minha filha de novo perto de mim, você não tem ideia. Não vejo a hora.

CENA 9/JARDIM ORESTES/VILA MADALENA/TARDE

Close em várias viaturas de polícia subindo a comunidade. Alguns moradores se assustam. Um traficante vê.

TRAFICANTE 1: Porra, sujou!

CENA 10/JARDIM ORESTES/VILA MADALENA/BOCA DE FUMO/INTERIOR/TARDE

O traficante que viu os policiais bate na porta desesperadamente e o traficante “chefe” atende.

TRAFICANTE 2: O que aconteceu, porra? Quase quebrou minha porta.

TRAFICANTE 1: A polícia tão tudo aí, tio.

TRAFICANTE 2: Caralho! Chama os parceiro!

O traficante corre para chamar seus comparsas.

CENA 11/HOSPITAL/QUARTO DE MATEUS/INTERIOR/TARDE

Mateus se surpreende com Lucas.

MATEUS (chocado): Gay? Você é gay?

LUCAS: Parecia que não, né? Mas eu sou, sempre fui.

MATEUS: E por que se esconde no armário desse jeito? Por fora se faz de machão, é homofóbico, mas por dentro é gay que nem eu! – (Dá gargalhadas). – Você é muito ridículo, garoto!

LUCAS: Eu pude me soltar aquela hora que eu te beijei no banheiro, foi muito especial pra mim.

MATEUS: Pois pra mim não foi! Me humilhou na frente de todo mundo por eu ser gay, e depois me fala uma coisa dessas! Você é um sem noção, uma vergonha. Faça-me o favor e cai fora daqui, não quero olhar pra essa sua cara!

LUCAS: Não, eu vou até o fim. Vou me assumir pro meu pai, mesmo ele sendo homofóbico, vou terminar tudo com a Nina. Cansei de mentir. Cansei de ser quem eu não sou! Pra se ter uma ideia, eu não consigo dormir de noite pensando que todos os dias eu finjo ser o quem não sou. Tudo bem se não quiser ser meu amigo, mas me ajudaria muito se fosse.

Lucas se vira para ir embora, mas Mateus o chama.

MATEUS: Não vai embora, quero que fique. – Se levanta.

Lucas olha pra Mateus.

MATEUS: Eu acho que fui um babaca agora por te tratar assim... Não devia. Olha, não é pra tanto também, a Nina é bem mais pior. Enfim, ninguém nessa minha vida toda se abriu assim comigo. O que eu quero dizer é que eu te perdoo por tudo e te quero como meu amigo, e pode contar sempre comigo.

Lucas, emocionado, abraça Mateus.

LUCAS: Obrigado, amigo... Obrigado.

CENA 12/JARDIM ORESTES/VILA MADALENA/TARDE

Alguns comerciantes fecham suas lojas. O clima é de tensão total. Os policiais saem imediatamente de suas viaturas e todos sacam as armas. Policiais e bandidos ficam cara a cara. Renata sai do mercado com as verduras e algumas coisas nas sacolas e vê a cena. Os bandidos, armados, ficam frente a frente com a polícia.

POLÍCIA: Se entrega, vai ser melhor!

TRAFICANTE: Não aqui na minha favela, porra! – (Ele grita). – Podem matar esses filhos da puta! – Ele puxa um revólver do bolso.

Começa um grande tiroteio. Os bandidos se escondem em barreiras e dali ficam atirando nos policiais. Balas acertam janelas de casas. Moradores desesperados correm no meio do tiroteio. Cláudio, da janela de sua casa, vê tudo. Renata começa a correr.

Renata tenta se mover em meio ao caos, mas acaba levando um tiro de revólver na cabeça. Ela cai morta na hora, deixando as sacolas com as verduras caírem no chão. Cláudio vê a mãe caída no chão e se desespera.

(CAM lenta)

CLÁUDIO (grita): Mãe!

(CAM lenta no tiroteio)

Close na poça de sangue que se formou em volta de Renata.

(A cena congela com um efeito amarelado, que aos poucos vai se despedaçando como um vidro, em Renata morta com uma bala alojada na cabeça).


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