Redenção - Capítulo 06
segunda-feira, abril 30, 2018
“EXPLOSÃO”
CENA 1/ANTIGA
CASA DE NORMA/TARDE
Norma aponta a arma
para Marcela.
NORMA (apontando a
arma para a irmã): E agora? Hein? Quem tá com a arma agora?
MARCELA:
(debochando): Eu sei que você não vai fazer nada porque não é uma assassina!
NORMA: Tem certeza
que não? Por você eu posso virar uma! – Destrava a arma, aperta o gatilho e
dispara contra Marcela.
O tiro vai direto no
braço esquerdo da vilã, que cai no chão com o impacto do tiro.
MARCELA (grita de
dor): Desgraçada!
NORMA: Já viu que eu
posso ser assassina, não viu? Vai duvidar de mim de novo, sua puta?
Norma se aproxima da
vilã e aponta a arma pra cara dela.
NORMA: Como eu
queria atirar nessa sua testa pra abrir um buraco bem grande. Sabe, apesar de
tudo, eu sinto pena de você. Acho que nem vale a pena eu me esforçar pra
apertar esse gatilho pra gastar mais uma bala, você não vale nem isso. Só quero
que você saiba que eu vou sim reencontrar minha filha, você queira ou não. E
escuta aqui! – (Se agacha e encara Marcela nos olhos). – Isso ainda não acabou,
eu ainda vou dar o que você merece! – (Se levanta e começa a dar risada). – Ah,
e pro seu governo, não fui puta de ninguém lá na prisão, ninguém me comeu, ao
contrário de você, que aposto que já abre as pernas até pro primeiro cachorro
que achar na rua, como uma cadela no cio! Passar bem, ou melhor: passar bem
mal, sua vaca!
Norma sai do local.
Marcela tenta estancar o sangue, mas não consegue. Ela pega o celular no bolso
e liga para Ricardo.
MARCELA (chorando):
Ricardo? Por favor, eu levei um tiro... Ai, tá doendo muito...
Marcela continua falando
com Ricardo pelo celular.
CENA
2/COLÉGIO BOAVENTURA/EXTERIOR/TARDE
Lucas e Bruno correm
para separar Hugo e Miguel da briga.
MIGUEL: Me solta, vou
acabar com esse merdinha!
LUCAS: Calma,
Miguel, porra!
Bruno levanta Hugo.
HUGO: Me solta! – Se
solta dos braços de Bruno.
Hugo vai até Miguel
com o rosto todo machucado e sujo de sangue.
HUGO: Isso não vai
ficar assim, ouviu bem?
MIGUEL: Quer mais?
Isso é pra você aprender a respeitar uma mulher, seu vacilão do caralho! Filho
da puta!
Hugo olha para a
multidão que se formou em volta.
HUGO: Vocês gravaram
pra postar no Facebook depois, não é? Vão rir e zombar de mim, mas eu digo e
repito: isso não vai ficar assim! Não vai! Mexeram com a pessoa errada!
Hugo vai embora.
Laís olha para
Miguel.
LAÍS: Você é um
idiota mesmo, Miguel!
MIGUEL: Mas por quê?
LAÍS: E ainda
pergunta. É um imbecil mesmo.
Laís vai embora.
Nina, Bruno e Lucas vão atrás.
CENA
3/JARDIM ORESTES/ANOITECENDO
Anoitece na região.
Close na Pensão da dona Sandra.
CENA 4/PENSÃO
DA DONA SANDRA/QUARTO DE NORMA/INTERIOR/NOITE
Norma está deitada
em sua cama e olhando a fotografia de Laís. Alguém bate na porta.
Norma se
levanta imediatamente e vai atender. Ao abrir, ela se depara com Sandra, a dona
da pensão, com um prato de comida e um suco nas mãos.
SANDRA: Trouxe
comida e suco pra você.
NORMA: Não precisava
me trazer.
SANDRA: Claro que precisava,
você não veio jantar. E uma coisa que eu não gosto de deixar, é cliente meu
morrer de fome, então coma!
NORMA: Tudo bem
então, pode entrar. Coloca ali naquela mesa pra mim.
Sandra entra e
coloca a comida e o suco na mesa.
SANDRA: Então, me
conte sobre a sua história... O que te trouxe pra cá nesse fim de mundo?
NORMA: Minha casa
onde eu morava foi demolida... Eu descobri isso hoje.
SANDRA: Poxa, que
chato. Quem fez isso? A prefeitura?
NORMA: Não, foi a
minha irmã. E como se não bastasse me colocou na cadeia por um crime que eu não
cometi...
Sandra se assusta.
SANDRA: O que? Você
foi presa? É ex-presidiária? Desculpa, mas esse tipo de gente eu não posso
aceitar aqui na minha pensão.
NORMA: Eu fui presa,
mas não cometi crime nenhum, minha própria irmã armou pra mim. É sério, eu não
cometi crime algum.
SANDRA: O que a sua
irmã fez?
NORMA: Matou meu
ex-marido e jogou toda a culpa em cima de mim.
SANDRA (irônica): Isso
que é irmã, hein!
NORMA: E como se não
bastasse, tirou a minha filha de mim.
SANDRA: Sua filha
tinha quantos anos na época?
NORMA: Só nove
meses.
SANDRA: Nossa, me desculpa
por não ter acreditado em você logo de início.
NORMA: Não se
preocupa dona Sandra. Tava no seu total direito de desconfiar de mim. Agora
minha única meta é reencontrar minha filha.
SANDRA: Mas você
sabe onde encontrá-la?
NORMA: Ela mora aqui
na Vila Madalena junto com a traidora da minha irmã.
SANDRA: Calma aí...
Eu acho que eu posso te ajudar. Sua irmã é rica ou algo assim?
NORMA: Sim, ela se
chama Marcela.
SANDRA: Marcela do
quê?
NORMA: Marcela
Dellatorre. Ela tinha o Silveira no nome, mas assim que se casou, colocou o
sobrenome do marido.
SANDRA: Ah, é a
Marcela... Por que não falou antes? Eu conheço, ela é bem famosinha aqui na
Vila Madalena pelos vestidos que ela cria.
NORMA: Mas como você
vai me ajudar?
SANDRA: Se a sua
filha agora é bem rica mesmo, é capaz dela ter ido pra um colégio que eu
conheço muito bem, que é particular e é o único na região! Minha amiga trabalha
lá.
NORMA: Ótimo! Que
colégio é?
SANDRA: Colégio
Boaventura. Com toda a certeza sua filha estuda lá!
NORMA: E tem como
esperar ela lá do lado de fora?
SANDRA: Melhor, eu
posso até te colocar lá dentro. Mas me diga: como pretende reconhecê-la?
NORMA: Eu posso
perguntar o nome dela pra algum aluno lá.
SANDRA (sorrindo):
Perfeito! Amanhã mesmo a gente vai lá.
NORMA (sorrindo):
Obrigada mesmo pela ajuda. Outra no seu lugar, aposto que não me ajudaria,
ainda mais sabendo que eu sou uma ex-presidiária.
SANDRA: Dá pra ver nos
seus olhos que você é uma pessoa boa, e eu também perdi minha filha há muitos
anos.
NORMA: Nossa. Alguém
roubou ela de você?
SANDRA: Não, minha
única filha morreu nos meus braços após levar uma bala perdida no peito.
NORMA: Sandra, eu
sinto muito.
SANDRA: Tudo bem.
Mas chega de falar em coisas tristes! – (Sorrindo). - O que acha de ir no baile
hoje?
NORMA: Baile?
SANDRA: Querida,
você está numa favela. É baile funk, hoje em dia tem muito isso.
NORMA: Ótimo, eu
preciso mesmo me divertir, dançar um pouco. Mas, e a comida?
SANDRA: Não se
preocupa não, você pode esquentar lá no micro-ondas da cozinha a hora que você
quiser! Vamos!
CENA 3/MANSÃO
DOS DELLATORRE/SALA DE JANTAR/INTERIOR/NOITE
Marcela, Ricardo,
Laís, Elvira e Joana estão jantando. Marcela está com parte do braço esquerdo
enfaixado.
RICARDO: Quer ajuda
pra comer?
MARCELA: Não
precisa, eu consigo sozinha. Nossa, a violência nesse país tá demais!
LAÍS: Quase tive um
surto quando soube que você levou um tiro.
MARCELA: Mas vai
sarar e vou voltar ao normal. – (Olha para Ricardo e sorri). – Ainda bem que
meu amorzinho me socorreu.
RICARDO: Pois é,
entrei em desespero naquele momento.
MARCELA: Como foi no
colégio hoje, filha?
LAÍS: Nada demais, só
a mesma chatice de sempre. Ah, e amanhã vai ter reunião de pais e mestres.
MARCELA: Ricardo vai
ter que ir.
RICARDO: Eu? Mas...
MARCELA: Mais nada!
Você vai e ponto final.
LAÍS: É bom mesmo,
porque a mamãe precisa descansar. Mas quem vai cuidar da empresa?
MARCELA: Merda!
Então vai pra empresa, Ricardo, e eu vou pra essa maldita reunião. É muito
melhor eu ir nessa reunião do que ir pra empresa, já que não posso movimentar
meu braço.
RICARDO: Tudo bem.
ELVIRA: Joana,
amanhã você pode me levar ao parque? Adoro ver os passarinhos... - Ela sorri.
JOANA (sorrindo): Claro
que posso te levar. A senhora tem que sair um pouco e não ficar só trancada
aqui.
MARCELA: E com
permissão de quem você vai sair?
ELVIRA: Ora bolas,
até isso não pode? Isso está ficando longe demais!
MARCELA: Não quero
que você saia! Fique apenas aqui no jardim da mansão e ponto final! Aí sai
daqui de casa, acaba sendo atropelada e morre, e vai dar trabalho pra quem? Pra
mim! Não quero mais problemas pra minha vida.
ELVIRA: Perdi o
apetite. Por favor, Joana, me leva pro meu quarto.
MARCELA: É melhor
mesmo.
Joana empurra a
cadeira de rodas de Elvira e a leva para o elevador da mansão.
LAÍS: Mãe, a vovó
está certa. Não tá indo longe demais?
MARCELA: Cala a boca
e come! Eu sei o que eu tô fazendo e não preciso que ninguém venha opinar!
LAÍS: Ok, desculpa.
E, pai... Como vão os preparativos pra minha festa?
RICARDO: Já
encomendei o Buffet, é o melhor da cidade!
LAÍS (sorrindo): Que
bom. Nessa festa de 18 anos, eu quero diferenciar das minhas outras festas.
MARCELA: Como assim?
LAÍS: Todo mundo vai
ter que usar máscaras.
MARCELA: Pra quê
isso?
LAÍS: Sei lá, quero
sair da mesmice de todo ano.
MARCELA: Fazer o
quê, né! É sua festa, então usa o que você quiser.
LAÍS: Obrigada. – (Se
levanta). – Sabia que você é a melhor mãe do mundo? – Beija Marcela no rosto.
MARCELA (sorrindo):
Sim, eu sei que eu sou. Esse meu coração mole ainda vai acabar comigo.
CENA 4/JARDIM
ORESTES/VILA MADALENA/BAILE FUNK/NOITE
Carro com o som alto
tocando o funk “Baile de Favela”, do MC João.
Close em meninas
dançando até o chão, jovens usando drogas e bebendo bebidas alcoólicas, meninas
fazendo sexo com os traficantes no meio da rua. Foco em alguns traficantes
completamente armados. No meio da multidão estão Sandra e Norma.
NORMA: Jesus, esse
lugar é perigoso demais.
SANDRA: E é mesmo!
Jovens usando drogas, tiroteio já teve aqui. Aqui também rola muito sexo.
Sandra vê um amigo.
SANDRA: Fica aqui,
tá? Eu vou ali conversar com um amigo. – Vai até o amigo.
Norma vê Júnior
chegando do trabalho e alguns traficantes o encurralando.
TRAFICANTE: Passa a
fita aí, parceiro.
JÚNIOR: Que fita?
TRAFICANTE: O
dinheiro que o teu filho tá devendo pra boca.
JÚNIOR: O quê? Meu
filho devendo pra boca? Ele não usa essas coisas não.
TRAFICANTE: Caralho,
se ele não usasse a gente taria aqui te cobrando? Tu não cuida do menor, dá
nisso. Ele disse pra gente pegar o dinheiro com você.
JÚNIOR: Pode deixar
que eu vou ter uma conversa com o Cláudio. Quanto que é?
TRAFICANTE:
Cinquenta.
JÚNIOR: Cinquenta,
vai roubar no inferno!
O traficante
imediatamente coloca a arma na cabeça de Júnior, fazendo com que o boné dele
caia no chão.
TRAFICANTE: Tá
louco, porra? Quer morrer? Dá logo a merda do dinheiro, caralho!
Júnior abre a
carteira, pega o dinheiro e dá para o traficante.
TRAFICANTE: Vai,
circula!
Júnior vai embora.
Norma vê o boné dele no chão e pega. Ela corre atrás de Júnior para entregar o
boné a ele.
NORMA: Moço, o boné
caiu. – Entrega para Júnior.
JÚNIOR: Obrigado.
NORMA: É sempre
assim aqui?
JÚNIOR: Pra você
ver... Nós moradores que nos fodemos mesmo. A polícia não faz nada.
NORMA: Que coisa...
Eu sou nova aqui, acabei de chegar, tô morando ali na pensão da dona Sandra. Conhece?
JÚNIOR: Conheço, ela
é muito amiga minha e da Renata.
NORMA: Nunca
participei desses tipos de festa, ela me deixou sozinha aqui e foi conversar
com um amigo.
JÚNIOR: Quer um
conselho? Vai pra casa e dorme que vai ser muito melhor pra você. Desse tipo de
festa só sai o que não presta.
NORMA: Acho que eu
vou fazer isso mesmo. Primeira e última vez que eu venho.
JÚNIOR: Olha, eu vou
ir pra casa, tô morrendo de cansaço, ainda tenho que resolver uns problemas com
meu filho, meu trampo é pesado demais. Mas eu gostei de conversar com você.
Qual é seu nome?
NORMA: É Norma.
JÚNIOR
(cumprimenta): Prazer, eu sou o Júnior. Qualquer dia a gente conversa mais, já
que moramos tão perto um do outro, tudo bem? Agora tenho que ir mesmo. Me
desculpa por sair assim.
NORMA (sorrindo): Se
preocupa não, pra mim você já é um amigo.
JÚNIOR: Tchau. Boa
noite. – Vai para a casa.
NORMA: É, acho que
eu vou pra casa também.
CENA
5/CASA DE JÚNIOR/QUARTO DE CLÁUDIO/INTERIOR/NOITE
Júnior termina de
bater em Cláudio com um cinto, que chora.
JÚNIOR: Você ficou
maluco, porra? Eu podia ter levado um tiro por sua culpa! – Dá mais algumas cintadas
em Cláudio.
CLÁUDIO (chorando): Eu
não comprei nada, ele empurrou a droga pra cima de mim! Eu juro.
JÚNIOR: É mentira!
Como ele ia vir aqui me cobrar sendo que você não comprou? Cláudio, você tá
usando essa porra? Após o primeiro uso dessa merda, ela te vicia, você não
consegue mais parar, agora só com tratamento! Mas vou tentar de outro método...
Ai meu Deus, no que eu errei, hein? No que eu errei? A partir de hoje você vai
ficar de castigo, não quero ver você saindo mais de casa! Já que não vai pra
escola mesmo e já perdeu o ano letivo, então vai ficar em casa trancado! Fora
que eu quero você sem internet, sem TV, sem celular e sem videogame por um mês,
e se reclamar vai pra dois meses! Se eu te pegar usando essa porcaria, vou te
dar uma boa surra pra você aprender!
Júnior sai do quarto
do filho e Cláudio chora.
CENA 6/MANSÃO
DOS DELLATORRE/QUARTO DE MARCELA/INTERIOR/NOITE
Marcela e Ricardo
conversam na cama.
RICARDO: Foi um
péssimo plano esse de tentar matar a sua irmã. Eu avisei... Deixa a mulher
viver em paz.
MARCELA: Deixar
viver? Ela tá disposta a tirar a minha filha de mim! Criei tão bem essa menina,
dei de tudo pra ela, pra depois ver ela longe de mim, com uma pobretona igual a
Norma? A menina vai viver sem os luxos dela? O que vão falar de mim? Faça-me o
favor, Ricardo!
RICARDO: E se ela
casar um dia?
MARCELA: Ricardo,
espaço aqui nessa casa é o que não falta. Pode vir morar marido, sogra, filho,
o que for!
RICARDO: Tô pensando
num presente aqui pra ela... Já sabe o que vai dar?
MARCELA: Já, mas é
segredo.
RICARDO (sorrindo):
Não é nenhum pinto de borracha, ou é?
Marcela, sorrindo,
dá um tapa na cara de Ricardo.
MARCELA: Você me
respeita. – Beija ele em seguida e fica em cima do homem.
RICARDO: Você acha
que a Laís ainda é virgem?
MARCELA: Não sei,
mas só sei que ela menstrua todo santo mês, e quando menstrua parece uma
cachoeira, não para mais. Acho que ela sempre tem que dar uma de Moisés pra
abrir o mar vermelho, porque puta que pariu...
Os dois riem.
MARCELA: Também nem
ligo se ela já trepou ou não! Com aqueles gatos do colégio dela, até eu dava
sem reclamar. Adoro um novinho.
RICARDO: Isso é pedofilia.
A maioria daqueles moleques tem 17 anos.
MARCELA: Tô nem aí,
quero é me divertir.
RICARDO: Ei, não
gosta mais de mim?
MARCELA: Claro que
eu gosto, só que eu também quero um presente seu. – Sorri.
Trilha Sonora: Saga - Filipe Catto
RICARDO: Que
presente?
Marcela olha pra
cueca de Ricardo.
MARCELA (sorrindo):
Um presente que está dentro da sua cueca.
Ricardo tira a
cueca.
RICARDO (sorrindo):
Esse presente? – Segura o pênis.
MARCELA: É esse
mesmo.
Ricardo beija
Marcela. Marcela tira a calcinha em cima de Ricardo, dando leves movimentos em
cima dele.
Marcela pega o pênis
de Ricardo e coloca em sua vagina. Os dois começam a transar.
CENA
7/JARDIM ORESTES/VILA MADALENA/PENSÃO DA DONA SANDRA/QUARTO DE SANDRA/INTERIOR/MANHÃ
Sandra está
dormindo. Norma bate na porta e, em seguida, entra no quarto.
NORMA: Dona Sandra?
– (Se aproxima dela). – Dona Sandra, acorda!
SANDRA: O que é?
NORMA: Lembra que
você falou que ia no colégio comigo?
SANDRA: Calma, só
mais um pouquinho.
NORMA: Mas já vai
dar 9 horas...
Sandra imediatamente
se desperta.
SANDRA: Tudo isso? O
máximo que eu acordo é às 6 horas. Já se trocou?
NORMA: Sim, já.
SANDRA: Ótimo, vou
tomar banho, tomar um cafezinho e fechar a recepção. Nossa, eu bebi um pouco a
mais ontem no baile. Você veio pra casa?
NORMA: Vim, não
aguentei ficar no meio daquela zoeira.
SANDRA: Você se
acostuma. Bom, vou levantar logo antes que a gente se atrase ainda mais! – Se
levanta da cama.
CENA 8/COLÉGIO
BOAVENTURA/SALA DE AULA/INTERIOR/MANHÃ
Miguel vê no seu
celular algumas das suas selfies que tirou do lado de fora do colégio.
Lucas e Bruno
conversam.
LUCAS: Não acredito
que a gente vai ter aula logo em dia de reunião. Sinceramente, essa escola já
foi melhor.
BRUNO: Pois é, mas
pelo menos vamos ficar só duas horinhas.
Close em Nina e Laís
conversando.
NINA: Viu o Hugo,
Laís?
LAÍS: Não, acho que
ele não vem hoje, ainda mais com a cara toda inchada.
NINA: O Miguel deu
uma surra bem dada nele.
LAÍS: Miguel é um
trouxa, isso sim!
NINA: Ele pode ter
seus defeitos, mas te defendeu.
LAÍS: Por que pobre
tem que ser tão barraqueiro assim? Eu juro que eu não entendo! Mania de ficar
entrando na briga dos outros. O cara era gato, agora com essa surra, virou um
monstro. Miguel é um imbecil.
Mateus entra na
sala.
LUCAS (sorrindo): O boiola do
ano chegou!
Todos do grupinho riem,
menos Bruno. Mateus senta na cadeira sem dar atenção à Lucas.
LUCAS: E é dessa
maneira que ele senta em cima dos machos dele. – Ele ri.
Mateus se levanta e
encara Lucas.
MATEUS: O que eu te
fiz pra você me tratar assim, hein? Por que você não vai tomar naquele lugar
onde você adora?
LUCAS: Olha só... A
biba do ano mostrou suas garras. Imagina, eu não gosto de tomar naquele lugar,
quem gosta é você, e muito pelo jeito...
Todos riem.
MATEUS: Gosto muito
e não tenho vergonha de falar não! Sou gay com muito orgulho!
LUCAS: É uma
aberração, isso sim.
MATEUS: Aberração é
você! Homofóbico! Eu espero realmente que os seus filhos um dia se tornem gay.
LUCAS (sorrindo):
Olha só, Nina.
NINA: Se liga,
viado. Meus filhos nunca vão ser viadinhos não. Vão ter é que catar mulher,
assim como o pai, bem macho! Se continuar desse jeito, não vai ter crianças
nascendo, já que as crianças que estão nascendo, estão se tornando boiolas.
Lucas e Nina riem.
MATEUS: Tenho pena
de vocês.
LUCAS: Vai fazer uma
suruba com seus machos!
BRUNO: Para Lucas,
já chega.
LUCAS: Você tá
defendendo ele?
A professora entra
na sala.
PROFESSORA: Quero
todos sentados imediatamente!
Todos se sentam. Lucas
olha para Mateus.
LUCAS (sorrindo):
Ainda temos muito o quê conversar.
CENA
9/COLÉGIO BOAVENTURA/EXTERIOR/MANHÃ
Norma e Sandra
descem do ônibus.
SANDRA: É aqui!
NORMA: Que escola
enorme.
SANDRA: É de rico. –
(Olha a placa avisando da reunião). – Hoje é reunião.
NORMA: Então acho
que os alunos não vão estudar, perdemos a viagem.
SANDRA: Não custa
nada dar uma olhada, vai que a gente vê ela... Ainda bem que o portão tá
aberto.
Norma e Sandra
entram no colégio junto de outros pais.
CENA 10/COLÉGIO
BOAVENTURA/PÁTIO/INTERIOR/MANHÃ
Lucas e Bruno
conversam.
Mateus entra no
banheiro masculino e Lucas o observa.
LUCAS: Eu vou ali no
banheiro e já volto. Se a Nina perguntar por mim, fala que eu só fui dar uma
mijada.
BRUNO: Tá bom.
Lucas se afasta de
Bruno e vai na direção do banheiro.
Sandra e Norma veem
a multidão de alunos.
SANDRA: Falei pra
você... Não custou nada a gente ter entrado. Uma dessas alunas pode ser sua
filha.
NORMA: E agora? Como
faz pra achar?
SANDRA: Sei lá,
pergunta pra alguém.
Uma aluna passa
perto de Sandra.
SANDRA: Ei, mocinha!
ALUNA: Oi.
SANDRA: Você poderia
me dizer quem é Laura...? – Norma interrompe.
NORMA: É Laís...
SANDRA: É, ela deve
ser bem famosinha aqui.
ALUNA: Sim, ela está
ali no fundo.
NORMA: Onde?
ALUNA: É aquela
menina que uma mulher tá abraçando, acho que é a mãe dela.
Norma olha para
Laís.
NORMA: Ah, sim, eu
vi. Muito obrigada.
Norma vai andando
pela multidão de alunos e Sandra segue ela.
NORMA (emocionada):
Minha filha é tão linda...
No banheiro
masculino do colégio, Mateus lava suas mãos e seca. Lucas entra no banheiro e
tranca a porta. Ele tira a chave da porta e se aproxima de Mateus.
MATEUS: O que você
quer? Se veio pra me bater, me xingar, vai em frente, eu aguento.
LUCAS: Mateus, eu só
vim pra te pedir uma coisa.
MATEUS: Fala logo.
LUCAS: Me perdoa?
MATEUS: Te perdoar?
Ficou maluco? O que você faz comigo é imperdoável! Mas me responda: por que eu
faria isso?
LUCAS: Por causa
disso.
Lucas beija Mateus
com vontade e a chave da porta do banheiro acaba caindo em um ralo. Mateus
imediatamente se afasta de Lucas.
MATEUS: Você ficou
maluco?
Close alternativo em
Mateus e Lucas.
Do lado de fora do
banheiro, Norma e Sandra quase se aproximam de Laís.
NORMA (grita): Laís!
Marcela olha para
trás e vê Norma.
MARCELA
(desesperada): Não pode ser...
SANDRA: Como tem
certeza?
NORMA: É minha
filha. É ela! Eu sei que é ela! Os olhos, a boca... – (Sorrindo). – Gente, é a
minha filha e tá do lado da vaca! Vou gritar mais alto.
Do lado de fora do
colégio, Hugo usa um controle de bomba.
HUGO: Me humilharam,
zombaram de mim, mas isso não vai ficar assim! – (Aciona as dinamites). – Que
todos morram! – Ele aperta o botão e a escola explode na cozinha e no andar de
cima.
(A cena
congela com um efeito amarelado, que aos poucos vai se despedaçando como um
vidro, no colégio em chamas).
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