Redenção - Capítulo 05

sexta-feira, abril 27, 2018



REDENÇÃO - CAPÍTULO 05



“O REENCONTRO”

CENA 1/CHIQUE LINS/SALA DE MARCELA/INTERIOR/MANHÃ

Marcela e Ricardo conversam.

RICARDO: Eu juro que esse lado seu eu não conhecia.

MARCELA: Agora conhece! Eu não posso arriscar perder a minha filha. Só Deus sabe o que pode acontecer se ela descobrir tudo, o bocão que ela vai abrir.

RICARDO: Mas você também não pode fazer isso. A mulher acabou de sair da prisão, isso seria maldade demais. Além do mais, você mandou o trator passar na única casa que ela tinha.

MARCELA: O que é, Ricardo? Virou viado agora? Você tem que ser que nem eu, uma pessoa fria, sem escrúpulos. Eu vou matar ela e ponto final!

RICARDO: Você faz o que você quiser, só não me coloque nessa roubada.

MARCELA: Ô meu amor... Tá bravo comigo, tá?

RICARDO: Não tô, só acho isso muita maldade.

Marcela vai até ele e lhe dá um beijo.

MARCELA: Não fica bravo comigo, meu bem.

RICARDO (sorrindo): Só se você me deixar sair mais tarde.

MARCELA: Vai pra onde?

RICARDO: Lembra que eu tenho que preparar a festa da Laís? Vou no Buffet.

MARCELA: Claro que pode. Quanto mais rápido resolver isso, melhor. Só não contrata aqueles Buffet barato, tá? Ache o mais caro que tiver, porque a festa da minha filha tem que ser a festa do ano!

RICARDO: E como vai a inspiração?

Marcela vai até sua mesa e pega seus desenhos.

MARCELA: Olha. – (Entrega para Ricardo). – Ultimamente eu não estou com nenhuma inspiração pra criar vestidos novos. Mas vai voltar, pode ter certeza que vai voltar.

RICARDO: Deixa eu ir lá então. – Deixa os desenhos na mesa de Marcela.

Ricardo beija Marcela e sai da sala em seguida. Ele vai até a sua sala e chama Camila.

RICARDO: Pronto, tudo resolvido. Vamos?

Trilha Sonora: Corpo Sensual – Pabllo Vittar (Feat. Mateus Carrilho)

CAMILA (sorrindo): Claro, vamos foder loucamente!

CENA 2/COLÉGIO BOAVENTURA/SALA DE AULA/INTERIOR/MANHÃ

A professora Sônia está fechando as notas do bimestre. Lucas e Bruno conversam.

LUCAS: Olha só pra esse ser.

Eles olham para Mateus, que está mexendo no celular.

LUCAS: Jesus, como pode existir uma aberração dessas no mundo?

BRUNO: Eu não acho.

LUCAS: Ih... O que houve, Bruno? Não tô gostando nada disso. O que é? Mudou de time agora? Você não era assim.

BRUNO: Sei lá, mudei muito de uns anos pra cá.

LUCAS: Só espero que não seja pro outro lado.

Bruno ri. Lucas continua olhando pra Mateus.

Nina e Laís estão conversando.

NINA: Vai lá, amiga.

LAÍS (respira fundo): Coragem, Laís. Coragem...

Laís vai até Hugo e senta do lado dele, enquanto Nina olha.

LAÍS: Oi, bom dia. Você é novo aqui, né? Meu nome é Laís. Como vai?

Laís estende a mão direita para cumprimentá-lo, mas Hugo não responde nada e nem olha na cara dela. Laís fica sem graça.

LAÍS: Está conseguindo se adaptar no colégio?

Hugo segue não respondendo nada e nem olhando na cara dela.

LAÍS: Ok, tá bom então.

Laís voltar para seu lugar.

NINA: E aí?

LAÍS: Nada, o gato nem olha pra mim e nem conversa comigo, o que é estranho porque quase todos os garotos desse colégio ficam caidinhos por mim.

NINA: Ele deve ser tímido ou algo assim.

LAÍS: Ele não tem cara de tímido.

NINA: Vish, então ele só pode ser gay, o que faria dele uma tremenda aberração.

LAÍS: Ele também não tem jeito de gay.

NINA: Depois continua tentando, quem sabe... Você e ele combinam muito, diferente de você com o Miguel.

LAÍS: O Miguel é ridículo, nem chega aos pés do Hugo.

Miguel, do fundo da sala, olha para Laís.

CENA 3/JARDIM ORESTES/APRESENTAÇÃO DE CENÁRIO/MANHÃ

Apresentação de uma fictícia comunidade chamada Jardim Orestes, na Vila Madalena. Podemos ver o sol escaldante, comércios, som alto com funk, meninas dançando funk na rua, crianças tomando banho de mangueira na calçada, jovens soltando pipa em cima da laje, donas de casa estendendo roupas no varal e a Pensão da dona Sandra.

Close na casa de Júnior.

CENA 4/CASA DE JÚNIOR/SALA/INTERIOR/MANHÃ

Júnior se prepara para mais um dia de trabalho. Renata olha para o marido.

RENATA: Cê tá lindo, amor.

JÚNIOR: E você tá mais ainda. – Ele a beija.

RENATA: Depois a gente vai no supermercado fazer despesa, já tá acabando as coisas. Falta leite, óleo, açúcar e a mistura que já tá quase acabando.

JÚNIOR: Tá bom, mais tarde a gente vai, assim que eu sair do serviço. Agora eu realmente preciso ir. Cadê esse moleque que não desce logo?

RENATA: Deve tá lá em cima jogando vídeogame.

JÚNIOR: Chama ele, porque senão ele vai perder a primeira entrevista de emprego.

RENATA: Mas antes, meu beijo.

JÚNIOR (sorrindo): É claro. – Beija Renata.

CENA 5/CASA DE JÚNIOR/QUARTO DE CLÁUDIO/INTERIOR/MANHÃ

Cláudio coloca um fone de ouvido e um filme pornô no computador. Em seguida, sentado, ele tira sua bermuda, a cueca, coloca uma toalha em cima do seu pênis. Ele coloca a mão debaixo da toalha e ali começa a se masturbar.

Renata, sua mãe, entra bem na hora e vê a cena. Ela grita bem alto.

RENATA (grita): Cláudio!

Cláudio se assusta e deixa o fone de ouvido se desconectar do computador, e o barulho dos gemidos do filme pornô o deixa mais constrangido ainda. Tentando desligar o computador, acaba não conseguindo, pois o mesmo trava na hora. Close nele envergonhado e Renata observando ele sem bermuda e com ereção.

CENA 6/PENSÃO DA DONA SANDRA/INTERIOR/MANHÃ

Norma se ajoelha no chão.

NORMA: Por favor, me ajuda, eu preciso só de um quarto!

SANDRA: Eu já disse, não dá! A pensão está lotada, não tem mais vaga.

NORMA: Eu durmo em qualquer lugar mesmo. Só quero um lugarzinho pra descansar.

SANDRA: Tá bom, eu vou te ajudar, mas só tem um lugarzinho lá nos fundos, é pouco espaço.

NORMA: Não tem problema.

Sandra estende as mãos.

NORMA: O que?

SANDRA: Tem que pagar antes.

Norma abre a bolsa e procura dinheiro, mas só acha algumas moedas.

NORMA (sorrindo): Serve?

SANDRA: Desculpa, mas você não pode ficar aqui já que não tem dinheiro pra pagar.

NORMA: Poxa, qual é? Me ajuda aí... Logo eu arrumo um emprego e te pago certinho, só tô pedindo uma ajuda e um voto de confiança da senhora.

SANDRA: Ah, quer saber? Tá bom, pode ficar. – Entrega a chave para Norma.

NORMA: Obrigada mesmo, senhora.

SANDRA: Por favor, me chame só de Sandra, tá bom?

NORMA: Tudo bem, obrigada mesmo.

Norma vai para o quarto.

SANDRA: Esse meu coração mole ainda vai acabar me quebrando.

CENA 7/CASA DE JÚNIOR/SALA/INTERIOR/MANHÃ

Cláudio desce a escada correndo enquanto Renata corre atrás dele com um chinelo nas mãos. Júnior olha.

CLÁUDIO (assustado): Pai, olha a mãe aqui!

JÚNIOR: O que aconteceu?

RENATA: Sabe o que o seu filho tava fazendo lá no quarto?

JÚNIOR: Não, o que?

RENATA (falando baixo): Batendo!

JÚNIOR: Batendo o quê, Renata? Fala logo.

RENATO: Batendo uma!

JÚNIOR: Uma o quê?

RENATA (grita): Se masturbando, Júnior! Ele tava batendo aquilo!

Cláudio fica envergonhado.

CLÁUDIO: Mãe, pelo amor de Deus.

Júnior começa a rir.

JÚNIOR: É normal, Renata. O moleque tem só 17 anos, tem que se divertir um pouco.

RENATA: Normal? Você como pai acha isso normal?

JÚNIOR: É, eu já fiz isso, não nego. Eu adorava uma punhetinha, inclusive! É coisas da idade dele.

RENATA: Você, hein! Esse moleque precisa é de uma namorada!

JÚNIOR: Bora lá, moleque!

CLÁUDIO: Tá, eu já tô pronto.

RENATA: Vou tentar esquecer isso que eu vi. Isso que dá deixar ele o dia inteiro na internet, só aprende coisa errada e que não presta.

JÚNIOR: Relaxa, amor, pelo menos não tá lá na boca usando o que não presta.

RENATA: Isso é, né!

Júnior beija Renata. Em seguida ele e Cláudio saem da casa.

RENATA: Esses jovens de hoje em dia... Misericórdia!

CENA 8/COLÉGIO BOAVENTURA/EXTERIOR/TARDE

De fora do colégio, pode-se ouvir o barulho estrondoso do sinal. Os alunos começam a sair aos poucos. No meio da multidão de alunos, Laís vem com Nina, Lucas e Bruno. Miguel vem logo atrás. Ele coloca a mão no ombro de Laís.

LAÍS: O que você quer, Miguel?

MIGUEL: Você. – Faz biquinho.

Laís para de andar.

LAÍS: Para de ser idiota, garoto. Eu, uma menina linda e maravilhosa ficar com você? Me poupe, aliás, se poupe! Se enxerga, garoto! Dá licença que eu tenho mais o que fazer.

MIGUEL: Não precisa ser rude comigo assim, meu bem.

LAÍS: Vê se me deixa em paz. Que merda!

Lucas e Bruno riem.

LUCAS (rindo): Cara otário, mano.

Laís e os outros seguem deixando Miguel pra trás. Nina vê Hugo.

NINA: Amiga, olha o gato ali.

Laís olha para Hugo.

LAÍS: Acho que vou desistir de tentar ficar com ele.

NINA: Não desiste. Um gato desses a gente não encontra todo o dia. Ou você prefere o Miguel no seu pé?

LAÍS: É, vou tentar de novo.

Laís vai até Hugo.

LAÍS: Podemos conversar?

Hugo olha pra ela de cima pra baixo.

Miguel olha os dois de longe.

HUGO: O que você quer?

LAÍS: Vou direto ao assunto: eu me encantei por você. Acho que a gente pode marcar alguma coisa, sair algum dia, quem sabe! Aceita sair comigo?

Hugo ri da cara de Laís.

Miguel vai até eles.

HUGO: Sai fora, nunca sairia com uma menina vulgar e oferecida que nem você!

MIGUEL: Ei, fala direito com ela!

HUGO: E quem é você? Nem te conheço. Que mania de pobre querer se intrometer na vida alheia.

MIGUEL: Respeito é bom e eu gosto!

LAÍS: Deixa pra lá, Miguel! Desculpa, Hugo.

Laís se vira para ir embora.

HUGO: Ei, ei, ei! Onde pensa que vai? Se ajoelha.

Laís vira novamente e olha pra Hugo.

LAÍS: Tá louco, garoto? Já te pedi desculpas.

HUGO: Já que está louca pra me pegar, se ajoelha que eu abaixo minha calça e você chupa meu pau, pode ser?

MIGUEL: Filho da puta! - Dá um soco na cara de Hugo.

Em seguida, Miguel pega Hugo pelo colarinho da camisa e começa a socar a cara dele com força.

LAÍS (gritando): Solta ele!

Uma multidão de alunos começa a se formar ao redor. Alguns pegam o celular pra gravar. Enquanto isso, Miguel joga ele no chão e soca com vontade a cara dele por várias e várias vezes.

Close em Miguel socando Hugo, que grita.

CENA 9/ANTIGA RUA DE NORMA/VILA MADALENA/TARDE

Norma passa pela sua rua antiga após 18 anos e vê sua casa toda desmoronada. A rua está completamente deserta.

NORMA (chorando): Tudo que eu construí foi destruído... Maldita prefeitura!

Norma passa pelos destroços da casa dela e vai até onde era o quintal, onde tem uma espécie de cobertura fechada, mas destruída. Ela ouve um barulho vindo do matagal que ali se formou.

NORMA: Quem é?

Norma vira pra trás de dá de cara com Marcela, que aparece de repente.

NORMA (surpresa): Você?

MARCELA (sorrindo): Eu mesma, ao vivo. Viu o que eu fiz com a sua casa? É, mandei o trator passar por cima disso tudo aqui.

NORMA: E eu pensando que fosse a prefeitura...

MARCELA: Juro, me surpreendeu, achei que você tinha morrido na cadeia, mas percebi que ficou na sua, ou não, porque se tivesse ficado na sua, tinha saído há muito tempo por bom comportamento.

NORMA: Eu passei o inferno lá naquela cadeia, você não tem ideia! Mas que bom que você tá aqui. Eu ia atrás de você mesmo, mas nem precisou. Não sabe o quanto eu esperei por esse momento.

MARCELA: Ah, eu sei sim, sei exatamente como é. Sei também exatamente como vai ser a sua morte! – Tira uma pistola da bolsa e aponta pra Norma.

NORMA (rindo): Jura? Esse é seu melhor plano? Me matar? Por isso tá aqui, né? Soube que eu ia sair da cadeia, e pra eu não me encontrar com a Laís, resolveu que o melhor a se fazer é me matar...

MARCELA (apontando a arma): Por que esse monte de perguntas? Não tem medo de mim não?

NORMA: Eu não temo o homem, eu temo é a Deus! Esse sim que me livra e me protege.

MARCELA: Você é muito ridícula mesmo. Deus não tá nem aí pra você!

NORMA: É aí que você se engana: ele vai me ajudar a reencontrar minha filha, queira você ou não.

MARCELA: Na minha filha você não vai chegar perto.

NORMA: Por que não? Fui eu que carreguei ela durante nove meses na minha barriga, eu que sofri a dor do parto. Você é tão má, uma pessoa tão ruim dessas que Deus resolveu castigar secando seu útero. Seu útero é seco que nem sua alma! Você pode ser rica, pode ter uma boa vida agora, mas continua sendo pobre. Pobre sabe de quê? Pobre de espírito!

MARCELA: E daí? Quem tem dinheiro, tem tudo. Eu tenho uma filha que me ama muito e um marido que é completamente fiel e apaixonado por mim.

NORMA (sorrindo): Tem certeza? Aposto minha vida que o seu marido está com outra agora, sabe por quê? Porque ele não tem uma mulher de verdade na vida dele. E sabe o que vai acontecer? Você vai acabar sozinha, esse é o fim que você merece... Ficar sozinha, sem ninguém!

MARCELA: Puta desgraçada!

No mesmo instante que Marcela iria agir, Norma é mais rápida e segura a mão da irmã, quase roubando a arma da vilã, mas a arma acaba caindo no chão.

Ali as duas entram em luta corporal e rolam no chão. Norma consegue pegar a arma e se levanta. No mesmo instante, Marcela também consegue se levantar.

NORMA (apontando a arma para a irmã): E agora? Hein? Quem tá com a arma agora?

MARCELA: (debochando): Eu sei que você não vai fazer nada porque não é uma assassina!

NORMA: Tem certeza que não? Por você eu posso virar uma! – Destrava a arma, aperta o gatilho e dispara contra Marcela.

A tela escurece no mesmo instante.

(Um efeito amarelado, que aos poucos vai se despedaçando como um vidro, congela na hora).

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