INCÓGNITA (PENÚLTIMO CAPÍTULO)
quinta-feira, outubro 15, 2020INCÓGNITA
Penúltimo Capítulo
Cena
1: Rodovia próximo ao presídio ontem está Ronaldo / São Paulo / Exterior /
Noite
Continuação
imediata da última cena do capítulo anterior
Sonoplastia
da Cena: A Retirada, de Roger Henri (Trilha Instrumental da telenovela “Lado a
Lado”)
O
carro de Humberto é consumido pelo fogo. Ao longe, Pezão e os outros
presidiários avistam as viaturas da Polícia Civil se aproximando:
Pezão:
- Cacete!
Pezão
e os outros dois presidiários correm do local. Ronaldo fica estático,
observando a consumação do carro de Humberto pelo fogo. Foco da câmera em seus
olhos, com o reflexo das labaredas e da fumaça, que se espalha pela rodovia. De
repente, ele solta a arma, que caiu e despenca pela rampa da colina.
Num
rompante, o filho de Larissa é agarrado pelo antebraço por Pezão:
Pezão
(enraivecido): - Tu tá doido, maluco? Bora daqui moleque, ou você tá afim de
ter mais uma pena pra cumprir e mais um crime na tua ficha?
Ronaldo
não se mexe, e permanece estático. Ele ensaia um sorriso de felicidade, como se
estivesse satisfeito com a situação. Ele sabe e reconhece que o motorista e o
automóvel eram de uma só pessoa: Humberto.
Pezão,
tomado pela fúria, o arranca do local, arrastando-o até um matagal próximo. De
repente, Ronaldo se solta:
Ronaldo:
- Me deixa aqui, Pezão.
Pezão
(agarrando Ronaldo pelo pescoço): - Que? “Tu” cheirou, mano, tu tá doido? Bora
sair daqui a gente conseguiu, não estraga tudo agora, mano. Eu não fiz isso só
por mim não, mano, mas, por ti. Eu tenho consideração por ti, Ronaldo, mas se
“tu” não quiser vir com a gente agora (T) eu não vou insistir.
Ronaldo
se aninha nos abraços de Pezão, dando-lhe um rápido, mas forte abraço. Depois
se solta, apanha um boné surrado em meio às roupas de presidiário, de dentro do
saco preto, e corre na direção oposta à de Pezão e dos outros detentos. Corta
para:
Cena
2: Mansão dos Silva / Sala de Estar / Interior / Noite
Larissa
adentra a mansão. Ela caminha lentamente até o centro da Sala de Estar e afasta
o mezanino de vidro do centro desta, enrola o tapete persa do centro e, com uma
pequena chave, abre um compartimento, no próprio assoalho.
No
mesmo instante, ainda portanto as luvas, ela abre o caixote, que mostra a arma
de caça travada. Sons de batidas de coração se misturam à respiração ofegante
da socialite. As gotas de suor condensam em sua testa. Num rompante, ela guarda
o malote dentro do compartimento, e o tranca, violentamente.
Em
seguida, começa a se despir: o sobretudo, as luvas e as roupas de baixo. Já
completamente nua, ela segue até o exterior da mansão, nos fundos, onde há um
pequeno quintal e um quarto com algumas velharias e produtos de limpeza. De lá,
ela tira um frasco de álcool e uma caixa de fósforos.
Em
ritmo de câmera lenta e gradual, ela despeja as roupas contra o chão,
juntamente ao álcool. Ela risca o fósforo, enquanto lágrimas despencam de seu
rosto. Ela agacha e desaba a chorar. Ela tem uma lembrança:
“Flashback
on”
Rua
Augusta / Bairro Cerqueira César / 1994
A
cena mostra Larissa, com o mesmo casaco de pele, amarrado por um cordão de
linho, correndo até Ronaldo, em meio a outras garotas, que também se
prostituíam naquele mesmo local:
Larissa
(beijando Humberto): - Meu amor!
Humberto:
- Você não sabe como eu estava ansioso pra te ver. Até meu irmão já percebeu os
meus rastros de felicidade, acredita?
Larissa
expande um semblante de preocupação.
Larissa:
- Humberto, eu tenho medo. Do jeito que você fala do teu irmão, ele vai acabar
descobrindo sobre a gente, uma hora ou outra isso vai acontecer.
Humberto:
- Relaxa, meu anjo. Continua com ele. Ele vai poder te dar uma vida abastada,
cheia de luxos. Se a gente fizer tudo direitinho, você vai poder usufruir o
melhor dos dois mundos: o do dinheiro dele, e o do meu amor.
Humberto
e Larissa e se beijam novamente. / Flashback off
A
câmera vai se afastando da fogueira montada por Larissa. De repente, alguém
bate à porta. Ela se assusta. Corta para:
Abertura
Cena
3: Mansão dos Silva / Sala de Estar / Interior / Noite
A
câmera foca em Larissa, descendo rapidamente as escadas, já enrolada num robe
avermelhado. Ela fecha todas as janelas, tranca as portas e guarda as chaves
consigo, e acende alguns incensos para disfarçar o cheiro vindo da fogueira. A
pessoa à porta continua batendo insistentemente:
Larissa:
- Já vai.
A
mão de Larissa hesita antes de girar a chave da porta principal. Ela observa
pelo visor da porta e se surpreende: é Ronaldo, com as vestes furtadas do
vestiário dos policiais, e com o boné surrado cobrindo sua careca. Ele está com
seus antebraços encostados sobre a porta gigante e amadeirada, suplicando para
entrar.
Larissa
abre rapidamente:
Larissa
(surpresa): - Ronaldo?
Ronaldo:
- Mãe (T).
Ronaldo
e Larissa se abraçam fortemente. Ambos choram, takes alternados entre as
lágrimas e a fogueira feita por Larissa, que vai diminuindo conforme a emoção
gradual dos dois.
Larissa:
- Meu filho, o que é isso?
Ronaldo
(passando as mãos pelo rosto de Larissa): - Acabou, mãe. (T) Acabou. Eu te
salvei, pela primeira vez na vida eu consegui te salvar.
Larissa:
- Salvar de que, Ronaldo?
Ronaldo:
- O tio Humberto (T) Ele tá morto.
Larissa
tenta esboçar um tom de surpresa, ao mesmo tempo que demonstra tristeza e
preocupação:
Larissa:
- Como isso, meu filho? Aonde você viu isso?
Ronaldo
se aproxima de Larissa, segurando seus braços, em plena felicidade:
Ronaldo:
- Fui eu, mãe. Eu (T) eu fugi da prisão com um pessoal e a gente tinha uma arma
(T) uma arma boa. Daí eu vi o carro vermelho dele, aquele chamativo, daí eu (T)
Instala-se
um silêncio na sala. Mãe e filho se observam. Câmeras alternadas nos olhares
dos dois. Após, a câmera foca no olhar de Larissa, receosos pela fala de
Ronaldo:
Ronaldo
(com a câmera focada nos olhos de Larissa): - Eu atirei.
Larissa
fecha as mãos, em sinal de perplexidade. Ele entrelaça suas mãos com as de
Ronaldo:
Ronaldo
(emocionado): - Eu te salvei, mãe. Eu pude te ajudar, te salvar pela primeira
vez. Esse pesadelo acabou.
Larissa
(desconversando): - Ronaldo, você deveria ter me contado dessa fuga, meu anjo,
pelo amor de Deus, o primeiro lugar que a Polícia vai te procurar vai ser aqui!
Ronaldo
(emocionado): - A primeira coisa que eu quis fazer depois disso foi vir aqui te
contar, mãe.
Ronaldo
abraça Larissa novamente, completamente emocionado:
Larissa:
- Agora você sobe, tira essa roupa e me dá, rápido. Depois a gente come uma
coisa quente e raciocina, você não pode ficar aqui.
Ronaldo
assente, mantendo o semblante de felicidade congelado em seu rosto. Larissa
bufa, em claro sinal de preocupação. A câmera desfoca e mostra a mesma estátua
de coruja repousada sobre a estante da Sala de Estar, colocado lá pelo Dr.
Eduardo. Corta para:
Cena
4: Departamento de Polícia / Sala do Delegado / Interior / Noite Chuvosa
A
câmera passeia pelo interior do Departamento de Polícia, próximo à Rodovia onde
ocorreu o óbito de Ronaldo. Os bombeiros que controlaram as chamas estão no
interior da Sala do Delegado (Dr.
Paulo) conversando sobre o caso, quando o Dr. Eduardo adentra o local:
Policial:
- Com licença (T) Dr. Eduardo, da 10ª DP, do Largo São Francisco.
Dr.
Eduardo e Paulo apertam as mãos:
Dr.
Eduardo: - Dr. Paulo, eu estou ciente do óbito do Sr. Humberto Figueiredo do
Silva na noite de hoje, e tenho motivos concretos pra pedir a remoção do caso à
10ª DP.
Dr.
Paulo se senta, esboçando um semblante inquisidor:
Dr.
Paulo: - E qual é motivo, Dr.? Há alguma suspeita de conexão de crimes?
Dr.
Eduardo: - Há. Talvez o Sr. ainda não saiba, mas, há poucas horas houve um
motim e fuga em massa da Penitenciária Masculina, e o Sr. Ronaldo Figueiredo
Silva é um dos fugitivos.
Dr.
Paulo: - Sim, já recebi a notificação sobre a evasão, inclusive os policiais já
estão lá averiguando tudo. Afinal, Dr., que provas são essas que o Sr. tem?
Dr.
Eduardo: - Dr., eu recebi uma ligação anônima de um dos vizinhos da Sra.
Larissa Figueiredo Silva, que afirmou veementemente que viu o Sr. Ronaldo
adentrando a mansão na Avenida Angélica, sem o uniforme do presídio, e que pode
ouvir o meliante assumindo ter matado o tio. Creio que (T) mediante essas
evidências, um mandado de prisão é mais do que crucial.
Dr.
Paulo se revira na cadeira, passando a mão no queixo:
Dr.
Paulo (assentindo): - De qualquer maneira, sendo ele culpado ou inocente, o
mais importante agora é que ele é um fugitivo. Eu vou emitir um mandando e
mandar todas as viaturas até lá.
Dr.
Paulo se levanta, e estende a mão, em sinal de cumprimento ao Dr. Eduardo.
Dr.
Eduardo: - Está sendo sensato, Dr.
Dr.
Paulo: - E justo com o meu ofício. O Sr. pode aguardar do lado de fora,
gostaria que nos acompanhasse, tudo bem?
Dr.
Eduardo assente. Após o cumprimento mútuo, ele se evade da sala, e ergue o
celular, já desbloqueado. A câmera foca na tela, que mostra imagens de Ronaldo
descendo as escadas da mansão dos Silva. A câmera corta novamente, mostrando o
sorriso diabólico de Dr. Eduardo. Corta para:
Cena
5: Mansão dos Silva / Sala de Jantar/ Interior / Noite
Ronaldo
e Larissa estão sentados à mesa, cada qual com sua respectiva tigela de caldo
de galinha, de onde o calor libera algo fumegante. Eles se observam,
carinhosamente:
Larissa:
- Gostoso?
Ronaldo:
- Muito. Aonde você aprendeu a cozinhar isso?
Larissa
(suspirando): - Numa dessas entrevistas pra revistas de culinária (T) cuidados
com a casa (T). Eu sempre tive que manter um padrão de imagem, ao menos esses
benefícios ele me trouxe.
Ronaldo
continua a tomar o caldo, quando Larissa o interrompe:
Larissa
(risonha): - Mas, esse tipo caldo eu preparava quando você tinha aqueles picos
de 39ºC de febre, lembra?
Ronaldo
para, de repente, com um semblante reflexivo:
Ronaldo
(olhando para Larissa): - Não. E é tão doloroso não lembrar. Eu acho que a
minha memória, minha capacidade de lembrar, só deu espaço pro que eu vivi de
ruim. Os socos, os pontapés, as humilhações (T).
Larissa
interrompe o filho:
Larissa:
- Ronaldo (T) Eu queria te pedir perdão. Por tudo. Eu já tentei te explicar que
todos esses anos eu só mantive meu casamento com o teu p/ (corta) com o
Emiliano porque eu não podia te dar uma vida confortável. Você sabe como era a
minha vida antes de/ (Ronaldo interrompe)
Ronaldo:
- Eu posso não ter lembranças bonitas, vividas, porque (T) porque as más
consumiram todas elas, como fogo. Mas, o que eu tenho no meu coração, é que eu
tive um afeto de mãe, que mesmo com tudo (T) (emite um pequeno soluço) mesmo
com tudo isso, sempre esteve do meu lado.
Larissa:
- Meu menino (T)
Larissa
e Ronaldo se abraçam, fraternamente, emocionados.
Ronaldo:
- Por isso, mãe, eu tenho que te pedir perdão, por nunca ter tido a mínima
coragem de te salvar, de te ajudar durante todos esses anos. Eu queria, eu juro
que sempre quis, mas hoje (T) hoje eu consegui isso.
Larissa:
- Ronaldo, você sempre foi o meu esteio durante todo o pesadelo que eu passei
com o Emiliano. Foi você que me deu razão de manter um matrimônio fantasioso,
esculpido em cima de lanças, de dor, de sofrimento. Nenhum de nós é culpado. A
realidade é nós somos vítimas. (T) Quando eu conheci o teu pai, ele não era
esse (T) esse demônio. Mas ele se transformou. Se transformou num homem
abusivo, agressivo, e eu tenho certeza, meu anjo, que existem milhares de
outras mulheres que vivem o mesmo tipo de sofrimento.
Os
dois continuam a chorar:
Larissa:
- Então, meu anjo, meu Ronaldo, meu filho adorado: o nosso perdão mútuo é o
passaporte pra uma nova vida, uma vida renovada. Você me salvou durante 23
anos.
A
câmera foca em suas mãos entrelaçadas sobre a mesa:
Larissa:
- E eu sei, Ronaldo, (T) eu sei que você não matou o seu tio.
Ronaldo
fica silente, ciente da real versão dos fatos. A câmera foca no momento em que
se vira para sua mãe, de modo a questioná-la:
Ronaldo:
- E (T) como você sabe?
Larissa: - Eu estava lá. / (corta)
De
repente, sirenes de viaturas policiais começam a ficar mais audíveis. A câmera
corta para o lado de fora da mansão, onde um batalhão de carros avança e faz um
cerco na Mansão dos Silva. A câmera corta novamente para Larissa e Ronaldo:
-Ronaldo
(assustado): - São eles, me descobriram aqui!
-Larissa:
- Eu avisei, eu filho, eu disse. Vai lá pros fundos, rápido.
Ronaldo
corre até o quintal fechado dos fundos, quando Larissa tranca a porta e guarda
a chave consigo. Ela desliga todas as luzes e esconde a tigela do filho, quando
ouve alguém batendo na porta. Foco em seu semblante, assustado:
Dr.
Eduardo (batendo à porta): - Sra. Larissa Figueiredo Silva, temos um mandado de
prisão ao Sr. Ronaldo Figueiredo Silva. Peço que a Sra. abra consensualmente a
sua casa, senão, teremos de tomar medidas mais drásticas.
O
Delegado está acompanhado de Dr. Paulo e outros policiais. A câmera corta de
volta. Larissa abre a porta gigante amadeirada e se depara com os agentes de
polícia, encharcados sob a chuva torrencial.
Larissa
(fingindo surpresa): - Desculpe, mas, o que está acontecendo aqui?
Dr.
Paulo: - O colega, Dr. Eduardo, recebeu uma ligação anônima, denunciando que a
Sra. estaria escondendo o seu filho aqui. Gostaríamos, (T) ou melhor, vamos
vasculhar a casa da Sra., com licença.
Os
policiais, acompanhados dos Delegados começam a vasculhar a Mansão em busca de
Ronaldo. Eles sobem primeiramente as escadas, acompanhados de Larissa. De
repente, ela finge um mal-estar, e justifica o seu retorno até a porta que dá
para os fundos. Ela agarra um pano e gira a chave lentamente, na tentativa de
inibir qualquer ruído que chame a atenção. Em seguida, ela apanha a chave do
carro alugado e entrega a Ronaldo:
Larissa:
- Eu estacionei o carro na próxima esquina, pra não chamar a atenção. Corre e
foge daqui.
Antes
de partir, Ronaldo dá um rápido abraço em Larissa, que se afasta. Ela volta e
tranca a porta. Quando se vira, de repente, vê o Dr. Eduardo, à sua frente.
Takes alternados nos olhares dos dois, que se encaram:
Dr.
Eduardo (gritando): - Fugitivo se evadindo do local, fugitivo se evadindo do
local!
A
câmera corta para o exterior da Mansão, onde Ronaldo corre em direção ao
automóvel, enquanto os policiais descem as escadas, respondendo ao chamado do
Dr. Eduardo. Num rompante, ele agarra Larissa pelo ombro e a arrasta até o
carro.
Dr.
Eduardo (debochado): - Vamos caçar o teu filhinho, quem sabe ele não teu o
mesmo destino do teu amante.
Larissa
tenta se esquivar, sem sucesso. É jogado no banco da frente do carro do
Delegado, que segue o batalhão de viaturas numa perseguição, em busca do filho
da socialite. Corta para:
Cena
6: Perseguição Policial / Exterior / Noite Chuvosa
A
chuva cai torrencialmente, com raios incandescentes. Ronaldo está no carro
alugado por Larissa, dirigindo em alta velocidade, enquanto o batalhão de
automóveis o segue, atrás. No carro de Dr. Eduardo, Larissa está algemada ao
freio de mão do carro:
Larissa:
- Me solta, seu delinquente, pra que tudo isso, pra que?
Dr.
Eduardo: - Quem sabe você revendo a Morte na sua frente você não resolva abrir
essa sua boca e confessar que matou o teu marido, hein (T) meu amor?
Num
rompante, Larissa cospe em Eduardo, da mesma forma que fez com Humberto. No
mesmo instante, o Delegado, que se aproxima do automóvel de Ronaldo, dispara
diversos tiros, que atingem a traseira do carro alugado. A câmera corta para o
interior do carro de Ronaldo, que se assusta.
As
sirenes continuam ensurdecedoras, e a pista cada vez mais perigosa por conta da
chuva torrencial. Ronaldo ultrapassa o primeiro sinal vermelho com êxito, e
continua mantendo a mesma alta velocidade.
Dr.
Eduardo continua atirando. De repente, logo depois de um tiro, a câmera foca no
semblante de Ronaldo: seu carro ultrapassa o sinal num cruzamento, quando um
caminhão vem pelo lado esquerdo e colide com o automóvel. A cena transita de
modo gradual, lento, mostrando os vidros se estilhaçando e Ronaldo sendo jogado
para fora carro, tamanha a força da batida.
Os
carros da polícia param, assim como o de Dr. Eduardo. A câmera foca no rosto de
Larissa por detrás do vidro do carro, desesperado, gritando por socorro e por
alguém que a libertasse para ver seu filho. E o Eduardo não o faz: a deixa
presa, algemada ao freio de mão, enquanto clama por alguém que a liberte. Corta
para:
Cena
7: Um dos cruzamentos da Avenida Angélica em São Paulo / Exterior / Noite
Chuvosa
Larissa
continua tentando se soltar das algemas, desesperada, enquanto observa os
doutores Eduarda e Paulo junto à uma ambulância do SAMU. O corpo de Ronaldo
está a 4 metros do carro acidentado. De repente, outro automóvel chega, com o pior:
em sua lateral está a sigla, em letras garrafais: “IML”. Os paramédicos haviam
constatado a morte instantânea.
Ao
momento que o carro do Instituto chega, Larissa paralisa. Suas emoções não se
afloram mais. Ela entende, tanto a impossibilidade de se libertar das algemas,
quanto a de poder salvar seu filho. A câmera traz o foco para a suas lágrimas,
que já não despencam de um semblante desesperado, mas, agora, gélido, triste,
sem vida, imotivado.
Não
há diálogos, não há explicações, as imagens e cenas traduzem por si só a
situação.
Larissa
fecha os olhos e se recorda do último momento com Ronaldo. “Flashback
on” nas sequências da cena 5: abraços fraternos entre mãe e filho. “Flashback
on”
De
repente, Dr. Eduardo ingressa no carro, ao mesmo tempo que o carro do IML parte
com o corpo de Ronaldo:
Dr.
Eduardo (rindo): - O que você aposta? Que o Ronaldo foi pro céu, ou pro
inferno? É, porque, ele até pode virar um anjinho lá do lado de Deus, mas até que
(ele dá uma gargalhada), um pulinho no purgatório não seria nada mal pra ele.
Nesse
mesmo instante, Larissa ergue o braço não algemada contra o Delegado e arranha
o seu pescoço. Ele sangra instantaneamente, ao mesmo tempo que ele hesita em
revidar. Ele dá a partida no carro.
Dr.
Eduarda (enraivecido): - Se pudesse, sabe o que eu faria? Te surrava e deixava
sal nas tuas feridas pra você aprender, sua vadia! Tinha que ser uma prostituta
fuleira como você pra se comportar que nem um bicho. Teu marido não te ensinou
nada não?
Larissa
(gritando): - Me ensinou (T) Ele me ensinou a nunca mais baixar a cabeça pra
nenhum filho da puta igual a você. (T) Pra onde você tá me levando?
Dr.
Eduardo: - Pra Delegacia (T) A gente tem muita coisa pra botar em pratos
limpos. Corta para:
Cena
8: Delegacia de Polícia / Sala do Dr. Eduardo / Interior / Noite Chuvosa
A câmera caminha pela sala do Delegado. Não há luz, apenas uma lamparina velha ilumina o recinto. É aterrorizante, insalubre, incomodo. A câmera vai revelando aos poucos quem está presente: Larissa e Dr. Eduardo, ambos encharcados, sentados sobre uma desconfortável cadeira de madeira. Takes alternados dos olhares de ambos, atentos às reações um do outro:
Larissa:
- Sabe que, (T) de todas as maldades que você cometeu contra mim, e contra a
minha família, não me deixar ver o meu próprio filho foi a pior delas.
Dr.
Eduardo: - E quem disse que você não vai vê-lo? Velório e sepultamento existem
pra isso.
Larissa:
- Você é muito cínico. Você acabou com a única felicidade, com o único
resquício de sentimento que ainda restava e ainda age desse modo frio, asqueroso?
Dr.
Eduardo (rindo): - Que felicidade, meu anjo? Um delinquente de 23 anos, com
histórico de trago e pó, e que ainda acha, por uma miragem, que matou o teu
amante? De fato, é um cara perturbado, e isso não é sinônimo de felicidade,
convenhamos.
Larissa:
- Que? Como assim, como que (T) como você sabe que ele não matou o tio e que o Humberto
foi meu amante?
Dr.
Eduardo: - Vou responder às suas perguntas com calma. (T) Vai ser até
divertido. (T) Eu instalei uma câmera dentro da sua casa.
Larissa:
- O que?
Dr.
Eduardo: - No dia que você foi até a minha modesta casa “pra” aquela rodada de
queijos e vinhos, eu sabia que você tinha um plano em mente. Eu basicamente
troquei as taças, você desmaiou, e eu armei o flagra. Foi com uma singela
estátua de coruja, colocada, até agora, no alto da sua estante, que eu consegui
obter esta confissão sua:
Dr.
Eduardo desbloqueia um tablet e liga um vídeo, referente à cena 1 do Capítulo 7.
O vídeo apresenta a discussão entre Larissa e Humberto, sem som.
Dr.
Eduardo: - Pois é. Acontece que, no mesmo dia, outras duas coisas muito curiosas
aconteceram. A primeira, foi que você prometeu “agir” pra resolver o problema
com o Humberto/ (cortado por Larissa)
Larissa:
- Eu disse isso numa visita íntima com o meu filho!
Dr.
Eduardo: - A visita pode ser intima, mas não privativa, minha senhora. Os carcereiros
estão pra regulação da ordem assim como os espiões vivem de ouvir atrás das
paredes. E o segundo ponto dessa história intrigante foi a senhora voltando com
uma arma de caça dentro de uma maleta, e guardando ela dentro de um fundo falso
no assoalho.
Larissa
(enraivecida): - Seu desgraçado, canalha, eu vou acabar com você!
Dr.
Eduardo (gritando e esmurrando a mesa): - ACABA! Aproveita e acaba com a farsa
que você inventou no seu depoimento! (Se aproximando do rosto de Larissa) Já se
comunicou com a sua mãe morta por psicografia? Porque ela saiu da vida terrena
faz um bom tempo, não é?
Larissa:
- Minha mãe morreu sim, mas foi ela o motivo de eu ter estado no Largo São Francisco
no dia da morte do Emiliano, sim!
Dr.
Eduardo: - CALA ESSA BOCA! A senhora sabe, ou melhor (T) nós sabemos que isso é
mentira. Eu acreditei nessa lorota porque queria saber até onde ia a sua burrice.
E o pior foi a senhora ter entregado a sua cabeça de bandeja, ressaltando o
perfil agressivo do teu marido, o que só evidencia cada vez mais que a senhora
é foi a autora da morte dele!
Larissa:
- É MENTIRA!
Dr.
Eduardo (debochado): - As imagens das câmeras de segurança de vocês três também
eram mentira?
Larissa:
- Nas imagens “nós” só aparecemos de perfil, e bem inexpressivos pra falar a
verdade. Não me surpreenderia se isso não for montagem!
Dr.
Eduardo: - AH, e o que a senhora fala sobre os euros desviados e malocados no
cofre, no apartamento do Humberto, hein?
Dr.
Eduardo: CHEGA!
Instala-se
um silêncio na sala.
Dr.
Eduardo: - Confessa, minha querida. Confessa que você matou o teu marido, e de
quebra o teu amante, como queima de arquivo.
O
semblante de Larissa muda. Agora ela parece mais inquisidora, com dúvidas sobre
os fatos apresentados pelo Delegado.
Larissa:
- Espera aí. Eu posso ter sido irracional ou eloquente de ter usado a minha mãe
como álibi no meu testemunho, mas burra eu não sou: primeiro que a morte dele
tinha sido mantida à sete chaves, por que eu nunca tive uma boa relação com ela/
(cortada pelo Dr. Eduardo)
Dr.
Eduardo: - Investigações e pesquisas existem pra isso, meu anjo, pra buscar
informa. / (cortado por Larissa)
Larissa:
- Espera aí (T) meu passado e minha relação com o Humberto eram assuntos
restritos à minha família, e a história dos euros só o Humberto e o Ronaldo
sabiam. (T) Eu e o Humberto até chegamos a suspeitar que essa sua raiva irracional
contra a minha família poderia vir de um, “sei lá”, um (T) um dossiê deixado
pelo Emiliano, algo do tipo, mas (T) essas informações todas. A não ser/(corta).
Instala-se
mais uma vez um silêncio, agora, desconfortante para ambos. A câmera se
aproxima gradualmente do rosto de Larissa. Seus olhos se expandem no rosto meio
molhado pela chuva:
Larissa
(assustada) – A não ser que...o Emiliano esteja vivo. Corta para:
-GANCHO-
-Ligue para a Central de Atendimento à Mulher pelo número 180, e denuncie casos de violência contra a mulher.
E na próxima terça, às 20h30, desvende os mistérios e as surpresas do último capítulo de INCÓGNITA
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