O Guarda-Chuva Rosa: Capítulo 13
segunda-feira, abril 29, 2019
O
Guarda-Chuva Rosa
Cap
13
Cena 1/Evento Carioca
Girl/Passarela/Interior/Noite
Continuação da cena anterior:
Johanna: (Com
a mão na cabeça:) Não pode ser verdade, não pode….
Ednna: Traidora,
ladra miserável...
Brigitte: Algum problema, dona Johanna?
Johanna: Sim,
um baita problema.
Ednna: Então
quer dizer que tinha sido essa víbora o tempo todo, ela roubou o Turquesa
Marinha, ela roubou o nosso vestido!
Brígida: Esse
é o Turquesa Marinha, o lendário vestido que nunca tinha sido usado e que foi
roubado?
Ednna: Era,
do verbo “não é mais”, parece que a senhora Cabonna encontrou ele.
Johanna: É
uma ladra, isso sim!
Brígida: Mas
ela também fez o vestido, tem direito de ter ele, não é?
Ednna: Sim
mas nós também fizemos, ela não podia simplesmente ter pegado e decidido usar
assim!
Johanna: Já
chega, eu vou lá dar uma prensa naquela sirigaita.
Vera: Não
vão baixar o nível, hein.
Johanna: Ah
minha querida, o meu nível já foi rebaixado há tempos!
Atravessando o salão, as
duas encontram-se com Donna, que levanta para recebe-las.
Donna: Ah,
queridas! E então, o que acharam da minha apresentação? Clássica, né?
Johanna: (Enraivecida:)
Você é uma cachorra, uma duas caras, sem vergonha!
Donna: Como
diria Maria do Rosário: “Mas o que é isso?”. Não estou entendendo...
Ednna: Escuta
aqui Donna, nós já fomos complacentes demais com você hoje. Como você a audácia
de vir apresentar esse vestido aqui, o nosso vestido?!
Donna: O
meu vestido!
Johanna: Nosso
vestido!
Donna: Meu
vestido! Não vejo o nome de vocês duas nele.
Ednna: Para
de graça, Donna. Você sabe muito bem que não fez esse vestido sozinha, nós
fizemos juntas!
Johanna: E
nós vamos reclamar com a Gigi, e vamos obrigar o júri a desclassificar você!
Donna: Errado,
meninas. Esse vestido é meu. Eu registrei ele, eu que fiz. E vocês não tem
prova nenhuma do que estão falando. Como vão provar que fizeram ele?
Documentaram, arquivaram, tiraram fotos ou fizeram um vídeo? Não. Portanto vão
cacarejar em outro lugar, isso é choro de perdedor!
Johanna: Eu
vou cacarejar na sua cara!
Ednna: Johanna,
não! Não se rebaixe no nível dela. Não vale a pena.
Donna: Nível,
mas que nível? Ah, o nível de uma renomada estilista.
Johanna: Uma
renomada bandida, x9 dos infernos! Como você pôde nos roubar? Nós gastamos
meses e até anos das nossas vidas pra fazer o vestido perfeito, chamamos você
pra nos ajudar, e você vai lá e rouba ele?! Você não tem direito a nada, a
única coisa que você fez foi segurar os alfinetes, e fez errado ainda, por que
nem pra isso você serve!
Donna: (Com
raiva:) Olha aqui. Eu acho melhor vocês duas irem abaixando o tom pra mim, por
que eu não vou tolerar essa falta de respeito!
Johanna: Respeito,
que respeito?! Eu não respeito vagabunda!
Ednna: Johanna
por favor, não se exalta.
Johanna: Exaltar?
Eu até tô sendo muito elegante com ela, a minha vontade é de encher essa sua
cara de porrada!
Donna: Ou
vocês duas saem daqui, ou eu vou ser obrigada a chamar a segurança pra tirar as
duas à força. Que que foi hein, Johanna? Já não basta o show de horrores que
você deu naquele palco? Será que eu vou ter que filmar você de novo passando
vergonha?
Johanna: O
que?
Ednna: Foi
você que filmou ela?!
Donna: Eu
nunca disse isso, queridas...(Ri).
Johanna: Infeliz,
bruxa, atrevida! Caluniadora, foi você que fez aquilo!
Donna: (Fica
cara a cara com Johanna:) Foi apenas uma amostra do que eu posso fazer com
vocês duas. Aquilo lá foi só a entrada, i prato principal e mais amargo vai
chegar quando eu ganhar essa competição e poder esfregar de vez a minha vitória
na cara de vocês. O gosto da vingança nunca esteve tão doce na minha boca!
Johanna: Pois
então se prepare, vaca. Que comece a guerra.
Donna: Como
queira, querida.
Ednna leva Johanna de volta
para o acento, enquanto Donna sorri sozinha.
Cena 2/Evento Carioca
Girl/Passarela/Interior/Noite
O júri já está a postos
para darem o seu veredicto.
Gigi: E
chegamos ao fim das atividades dessa noite. Quero lembrar ao senhores como será
feito a nossa competição: Serão 4 desfiles em 4 semanas diferentes, onde em
cada semana será avaliada determinada coisa a respeito das candidatas. Hoje,
dia de estreia, foi avaliado a compostura e performance de cada uma. Nos demais
dias serão avaliados o carisma, presença de palco e, no último desfile, será
avaliado criatividade do vestido e elegância na passarela. Cada desfile vencido
representa 500 pontos para a candidata, enquanto o segundo lugar fica com 200 e
os demais com 50. No último desfile, será o público que decidirá por meio e
votação quem ganhará o prêmio. Vamos aos
comentários do júri artístico, e logo após o júri técnico.
Ambos os júris elogiam a
estreia de Manuela e Yasmin, e criticam alguns pontos da apresentação de
Violeta e Cacau, Kiki se sai bem. Katherine é amplamente elogiada não só por
sua desenvoltura, mas também pelo modelo que veste.
Gigi: E
agora as considerações finais, por Manolo Reynald.
Manolo: Sem
dúvida ambas as candidatas mostraram um amplo conhecimento na passarela. Seus
modelos, criativos e práticos fizeram uma bom contraponto com seus jeitos de
desfilar e suas presenças. Porém, hoje nós escolhemos duas candidatas que, ao
nosso ver, melhor se posicionaram. Seriam elas Katherine McLamar e dupla de
iniciantes Yasmin Pacheco e Manuela Lima. Vale ressaltar que as apresentações
das demais não foram ruins, mas se ofuscaram na presença dessas aqui ditas. A
temática do jogo de xadrez, representado pela agência Guarda-Chuva Rosa com a
Rainha Branca e Vermelha foi um excelente salto para o quesito do que é ser a
moda. Katherine brilhou vestindo o lendário vestido Turquesa Marinha. Por isso,
hoje, nós do júri técnico em comum acordo com a artística, damos a vitória para
Katherine McLamar, representando a agência Donna Cabonna.
Aplausos correm pelo salão.
Cena 3/Evento Carioca
Girl/Camarim/Interior/Noite
Johanna, Ednna, Joaquim,
Brigitte, Brígida, Mara e Vera entram e flagram Manuela e Yasmin pulando de
felicidade.
Brígida: Ué,
não ganharam e tão comemorando?
Vera: Isso
mesmo meninas, devemos comemorar e muito, só de chegarmos no podium com uma
profissional americana já somos dignas de honra!
Joaquim: (Abraçando
Yasmin:) Parabéns, pensei que você não fosse ficar feliz por não ter ganhado.
Yasmin: Mas
é claro que eu ganhei! Eu quase ganhei da Katherine McLamar, cê tem noção
disso?! É um sonho!
Johanna: Parabéns,
meninas.
Manuela: É
impressão minha mas a senhora tá meio...
Johanna: Estressada,
brava, com raiva, P da vida?
Manuela: Eu
ia dizer nervosa.
Johanna: E
eu estou. Hoje a gente descobriu que a ladra Cabonna tá fazendo de tudo pra nos
destruir.
Mara: Donna
Cabonna...
Ednna: Conhece
ela, Mara?
Mara: E
como não ia conhecer aquele sapo cururu? Bandida...Eu era empregada dela. Até
que um dia ela me tratou mal e eu sentei a mão nas fuça dela. Chegou até cair
de tonta no chão, parecia um rato cego.
Johanna: Ah!
O que eu não daria só pra dar um tapinha na cara dela...
Ednna: Paciência,
meninas. Agora estamos entrando em terreno inimigo. A Donna declarou
abertamente que está contra nós e que fará de tudo pra nos fazer cair do
cavalo. Agora é que nós temos que ficar mais unidas do que nunca.
Cena 4/Guarda-Chuva Rosa/Sala da
Direção/Interior/Noite
Johanna e Ednna estão
tomando um chá sentadas à mesa conversando sobre o ocorrido.
Johanna: É
o cúmulo! (Larga a xícara na mesa:) É o cúmulo da cara de pau daquela
cascorenta!
Ednna: Eu
sei...
Johanna: Sabe,
sabe mas não fez nada!
Ednna: Johanna
eu tô tão brava quanto você, mas no momento a única coisa que a gente pode
fazer é investir nas meninas pra ganhar dela. Ficar xingando e brigando com ela
não vai resolver ada, só vai piorar. Ainda mais ela que é a rainha de fazer
dramas.
Johanna: Eu
tô com tanto ódio, mas com tanto ódio...Que eu seria capaz de pegar aquela
imunda e atirar do Grand Canyon!
Ednna: Eu
sei, sei disso. Mas tenta se acalmar. Não vamos deixar que ela nos separe com
os joguinhos falsos dela. As meninas foram bem, muito bem aliás, quase ganharam
dela...
Johanna: Eu
sei, mas não é suficiente, a gente precisa mostrar pra Donna que não somos as
mesmas idiotas de 15 anos atrás! Precisamos mostrar pra ela que a gente é capaz
sim de vencer essa competição!
Ednna: E
nós vamos fazer isso. (Levanta:) Mas hoje não. Já tá tarde e amanhã nós temos
muito o que fazer.
Johanna: É,
tem razão.
Ednna: Aliás
já recebi 7 emails de sites do sul e nordeste querendo nos entrevistar.
Johanna: Mas
já?
Ednna: Hoje
a mídia não perde tempo. E, quer saber de uma coisa? Acho que eu consigo me
reacostumar com essa vida de estilista famosa.
Johanna: É,
eu também.
As duas dão os braços e
saem juntas da sala, apagando a luz.
Cena 5/Copacabana Palace/Quarto de
Donna/Varanda/Exterior/Noite
Enquanto beberica um pouco
de seu whisky, Donna está sentada em uma cadeira olhando o Rio de Janeiro ao
relento da noite. Ela pega um telefone, e liga para alguém:
Donna: Tudo
correu bem, como sempre. O controle foi reestabelecido, e elas mal podem
esperar pela nossa surpresa, meu querido.
Cena 6/Guarda-Chuva Rosa/Recepção/Interior/Dia
Brigitte e Brígida estão
redigindo documentos no computador da empresa.
Brigitte: (Bufa:) Ah, mal posso esperar pra que a grana da publicidade entre logo,
um computador só pra controlar tudo não tá dando certo. Tenho mais azar do que
a Mei Mei Maksimunto.
Brígida: É,
concordo com você. (Gemendo:) Ah, que dor nas costas, aquele mexicano é um
doido mesmo, nem sabe desentupir alguém.
Brigitte: Eu que o diga.
Johanna e Ednna descem as
escadas.
Johanna: Bom
dia, meninas.
Brígida: E
o que que tem de bom?
Ednna: Nossa,
Brígida, mal humorada tão cedo?
Brígida: Duvido
que a senhora ficasse presa num banheiro e tentasse sair por uma janela
minúscula e ajudada por um mexicano falsário iria achar o dia tão bom assim...
Johanna: Ligeirinho
Troca-Tapa?
Brígida: Esse
jagunço aí, filhote de cruz credo. Nunca que eu vou pro México...
Ednna: Enfim,
meninas, eu e Johanna acabamos de ler um email e...Precisamos da ajuda das duas
pra fazer uma coisa, por nós.
Brigitte: Do que se trata?
Johanna: Um
jornal local de Salvador nos enviou um email pedindo uma entrevista, sobre a
nossa volta à moda. O problema é que eu e Ednna vamos ter muitos assuntos pra
resolver com a Gigi hoje, e não teremos tempo e nem disponibilidade. Nós
precisamos muito do dinheiro que eles estão nos oferecendo...
Ednna: O
dinheiro do brechó já foi, e a indenização da Johanna também tá quase no
fim...Precisamos mesmo do dinheiro pra pagar as contas do prédio, e também pra
comprar matéria-prima pra fazer os vestidos, cadernos de desenho, etc.
Brígida: O
que vocês querem exatamente?
Johanna: (Sorrindo:)
Precisamos que vocês duas vão até a Bahia e deem a entrevista por nós.
Após um momento de
silêncio, Brigitte e Brígida riem descaradamente.
Brigitte: Tá de brincadeira, né?
Ednna: De
jeito manera! É rápido meninas, daqui até lá são só algumas horas de ônibus...
Brígida: Ah,
então temos que ir de ônibus, ainda por cima?
Johanna: Brígida
querida, nós mal temos dinheiro pra pagar a conta da água, e você acha mesmo
que a gente vai pagar avião de primeira classe só por que as “bonitas” não
querem ir de ônibus?
Brígida: Isso
é um absurdo! Eu sou uma secretária, cursei anos de curso pra secretariar, e
não pra fazer turismo no nordeste!
Brigitte: Idem, eu também!
Brígida: Se
você fala “idem” não precisa falar “eu também”, Brigitte.
Johanna: Olha
meninas, por favor...
Em fúria, Ednna fala:
Ednna: Por
favor é uma pinóia! Escutem aqui, embaixadoras dos direitos humanos. Nós somos
as patroas de vocês, a gente que paga o salário que vocês recebem! E se a gente
quer que vocês vão até, vocês vão até lá! A gente vai falir, falir! Sem esse
dinheiro não vamos conseguir chegar nem mesmo na semi final! E eu tenho
certeza, Brígida, que você não vai querer ir morar no cortiço com a gente, não
é?
Brígida pensa por um tempo.
Brígida: Está
certo, nós vamos.
Brigitte: Mas o que?!
Brígida: Mas
que fique claro que eu não vou dar autógrafo pra jornalista em nome de vocês
não, hein.
Ednna: (Acalma-se
rapidamente:) Obrigada, queridas. (Entrega as passagens:) Aqui estão as
passagens.
Brígida: Que
hora partimos?
Johanna: Hm,
deixa eu ver...(Olha o relógio:) Ah, agora!
Brigitte e Brígida: (Surpresas:) Agora?!
Ednna: Claro
né, minhas queridas. Aliás, se eu fosse vocês correria, falta cinco minutos pro
ônibus ir...
Brígida: (Bufando:)
Afe, só pode ser carma!
Rapidamente, Brígida e
Brigitte pegam suas roupas e vão porta a dentro até a rodoviária.
Gigi liga para Johanna:
Gigi: Oi,
queridas! Eu liguei por que eu queria marcar alguma coisa para nós
fazermos...Bom, na realidade, eu tive a ideia de dar uma pequena festinha
particular para nós numa parte privada da praia, e pensei que pudesse chamar o
pessoal da Guarda também, afinal eles fazem parte disso tudo.
Johanna: Nossa
Gigi, é muita bondade sua, mas nós nem ganhamos...
Gigi:
Ah, eu sei, mas isso não importa! Só de ficar em segundo vocês já provaram que
estão se dedicando. Que tal amanhã, a partir das 19? Eu mando uma limusine
pegar vocês na empresa.
Ednna: Ah,
limusine...Há quanto tempo que eu não ouço esse nome...
Gigi: É
a Ednna? Bom, se for diz pra ela que essa é daquelas com piscina embutida!
(Ri). Ok meninas, eu tenho algumas coisas do evento pra acertar com vocês,
primeiramente sobre a segunda parte...
Gigi continua a falar com
as duas.
Cena 7/Pensão Dona Nicoleta/Saguão/Interior/Dia
Katherine passa pela rua em
frente a Pensão. Ela entra no local e vai falar com Nicoleta, que anota algumas
coisas no balcão.
Katherine:
Sorry, lady, será
que pode me dar um informação?
Nicoleta: Não temos vagas.
Katherine: Ah, não é isso. Eu gostaria de saber se uma pessoa em específico se
hospedou aqui.
Nicoleta: Muita gente se hospeda aqui, menina. Me diz o nome, que eu ainda não
virei adivinha.
Katherine: Ah, claro. É Téo.
Téo: Kate?
Katherine vira pra trás e
olha Téo no topo da escada, lhe dando um sorriso.
{ABERTURA}
Música: Stuck in the Middle With
You – Grace Potter
Cena 8/Pensão Dona Nicoleta/Sala de
Estar/Interior/Dia
Téo e Kate estão sentados
no sofá da Pensão.
Katherine: Eu fiquei tão preocupada...
Téo: Eu
também, você saiu e nunca mais voltou, até pensei que tinha me dado um bolo...
Katherine: É que as coisas estão...Difíceis, lá no hotel.
Téo: Cê
tá bem?
Katherine: Ah, sim, só tô um pouco cansada, mas deixa pra lá. O Eddy deu o dinheiro
pra você?
Téo: Deu
e eu não aceitei.
Katherine: O que, por que?
Téo: Eu
não preciso que você faça isso, Kate, eu não vou ficar na rua.
Katherine: Mas você disse que tava mal de money.
Téo: Sim,
mas não tanto pra ser despejado. Eu vou arranjar um emprego. Até lá o dinheiro
da minha demissão e as economias que eu guardava embaixo do colchão vão servir.
Katherine: Tem certeza, posso confiar?
Téo: Claro
que pode, não precisa se preocupar.
Katherine: Então assim eu fico mais...(Olha para Téo e fica sem jeito:)
Tranquila...Digo, cê sabe, fico feliz de você estar bem...
Téo: Eu
também. (Sorri).
Lentamente os dois vão se
aproximando. Quando estão prestes a se beijar, Nicoleta mete a mão no meio.
Nicoleta: Nem que a vaca tussa, coleguinhas. Servergonhagem na minha Pensão não! A
não ser que vocês queiram alugar a nossa suíte presidencial com vista pro mato,
aí eu posso fazer um desconto pro casal, é tão romântico...
Katherine: Ah, eu tenho que ir. (Levanta:) Te vejo mais tarde, tenho que voltar.
Téo: Tá
bom então...
Kate dá um beijo no rosto
de Téo, que fica levemente envergonhado. Kate sai.
Téo: (Suspirando:)
Ai...
Nicoleta: Aham né, devasso.
Téo: O
que?
Nicoleta: Já tá avisado, sem-vergonhice só no quarto da Nice!
Téo: Quem
é Nice?
Nicoleta: É só jeito de falar ô da modelo.
Trilha Sonora: Mamãe Eu Quero – Carmen Miranda
Cena 9/Ônibus/Interior/Tarde
A tarde está quase no fim,
e Brigitte e Brígida estão no ônibus rumo a Salvador. Na estrada de terra, o
veículo balança mais que bailarina no palco da Broadway:
Brígida: Santa
Cecília, por que me tiraste do ventre de mamãe pra sofrer tamanho flagelo?
Brigitte: Ah, até que esse sacode-sacode tá divertido, me sinto como numa montanha
russa.
Brígida: E
eu me sinto como se tivesse dentro de uma batedeira...
Brigitte: Você é muito negativa, Bibi. Pensa pelo lado positivo: Tem várias
lojinhas de beira de estrada pra você poder comprar essas suas bijuterias
baratas.
Brígida: (Indignada:)
Bijuterias? Mas era só o que faltava! (Mostra os brincos:) Isso aqui é ouro,
viu?
Brigitte: Ouro da mina de carvão, só se for.
Brígida: Não
me irrita, Brigitte, não me irrita! Já não basta tá dentro duma lata velha
fedida, apertada, que parece mais um forno à 40 graus, ainda ter que aturar
você, é demais pra mim!
O ônibus passa por cima de
uma grande falha, fazendo os passageiros literalmente “voarem de seus bancos”,
Brígida acaba batendo a cabeça no teto nesse meio tempo.
Brígida: (MUITO brava:) Ah! Não é possível, é
inacreditável!
Brigitte: É carma...
Brígida: Cala
a boca, Brigitte!
Brigitte: (Põe a mão na cabeça:) Ah, não acredito!
Brígida: Nem
eu...Vai formar um galo...
Brigitte: Não é isso...É que...Eu me esqueci de trazer roupa.
Brígida ri como uma gralha.
Brígida: (Limpando
as “lágrimas de riso”:) Ai Brigitte, cê é mesmo uma anta categórica. Onde já se
viu sair pra viajar e não levar roupa...
Brigitte: Não tem problema, eu uso as suas.
Brígida: Mas
nem que o Lula admita ser ladrão! São minhas, não tenho culpa se você é uma
dementezinha de carteirinha. Até rimou...
Brigitte: Se você trouxe roupas, onde elas estão?
Brígida: (Olha
para o lado:) Estão bem aqui...
Ao olhar, Brígida não
encontra sua mala.
Brígida: Mas
o que? Eu juro que estava aqui!
Brigitte: (Debochando:) “Ai eu sou a Brígida e eu trouxe roupa”. Aham, tá!
Brígida: Só
pode tá de brincadeira, onde é que tá essa droga?!
A cena muda para a
Guarda-Chuva Rosa, onde Ednna pergunta pra Johanna:
Ednna: Ué,
de quem será essas malas?
Voltando às meninas...
Brígida: Eu
vou explodir!
Brigitte: Exploda pra lá então, não quero pedacinhos de Brígida pelo meu cabelo.
Brígida: (Levanta:)
Motorista pare esse ônibus!
Brigitte: Ih, lá vem bomba.
Motorista: Ô minha senhora, contenha-se por gentileza, ainda falta pra chegarmos.
Brígida: Chegarmos
coisa nenhuma, o senhor vai dar meia volta agora, eu não quero ficar mais
nenhum minuto nessa pocilga, nesse fim de mundo!
Motorista: (Ri:) Só por que a senhora quer né?
Brigitte: Bibi, senta aí, pra que passar mais vergonha?
Brígida: Eu
posso aturar tudo, menos ficar sem as minhas roupas. Paaaaaare o ônibus!
Motorista: Ó, ali tem uma rodoviária, eu vou parar um pouco. Depois nós vamos pra
Salvador e ai eu levo as duas de volta. Mas agora não dá pra voltar não...
Brígida: Serve.
(Senta-se).
O ônibus para na rodoviária
e Brigitte e Brígida vão até o banheiro dela.
Brígida: (Tirando
o batom da bolsa e passando-o:) Ah, pelo menos eu não esqueci a bolsa. Sem
maquiagem eu pareço um urubu...
Brigitte: Concordo plenamente. (Olha para o espelho e percebe que ele está
quebrado:) Ah, o meu tá quebrado!
Brígida: Já
falei pra você não se olhar no espelho, o mundo não tá acostumado com essa sua
feiura.
Brigitte: Aff!
Após se maquiarem, as duas
saem para a entrada. Ao chegarem, ela percebem que o ônibus já está na estrada,
indo embora.
Brigitte: Ônibus, as dozes horas!
Brígida: Que
que é agora hein?
Brigitte: Olha, o ônibus tá indo embora!
Brígida: O
ônibus não...(Olha pra frente:) O ônibus tá indo embora!
Brigitte e Brígida começam
a correr atrás do ônibus.
Brigitte: Ei, volta aqui!
Brígida: Ordinário,
cretino!
O motorista põe metade do
corpo pra fora da janela e dá “uma banana” para as duas dizendo:
Motorista: Aqui, ó!
Brigitte: Ah, nããããããão!
As duas param de correr e a
poeira é levada junto ao ônibus pela esburacada estrada de terra.
Brigitte: (Chora desesperadamente:) Ah, é o nosso fim!
Brígida: Só
podia ser um comunista, safado!
Brigitte: E agora, o que faremos?
Brígida: E
você pergunta pra mim? Que raiva!
Brigitte: Vamos pras cucuias...
Brígida: Calma,
deixa eu pensar...Eu...(Olha para a rodoviária, onde um comerciante anuncia algo:)
Ligeirinho Troca-Tapa: Venham
Hermanos, para la tienda del igenioso Ligeirito de la Mancha!
Brígida: Não
é possível, até no agreste esse mexicano nos persegue.
Brigitte: Oh...
Ligeirinho Troca-Tapa: Y hoy jo
estoy a vender el conjunto Calango del Sertón! Trago a usted este kit de cowboy
americano, com blusa, calça jeans, chapéu y buetas de cuero! Aliém de este
belíssimo alazón, el cavalo más hermoso in vinte séculos!
Brígida: Hm...
Brigitte: O que cê tá pesando hein?
Brígida: Vamos
roubar o cavalo.
Brigitte: Que?!
Brígida: É
isso ou morremos no relento.
Brigitte: Nós estamos na frente de uma rodoviária, é só comprar uma passagem pro
Rio e fica tudo certo!
Brígida: E
você por acaso tem dinheiro?
Brigitte: É claro que eu tenho, tá aqui na minha bol...Ah, não! Esqueci a bolsa no
ônibus!
Brígida: Parabéns,
querida.
Brigitte: E você não tem nada?
Brígida: Os
trocados que eu tenho não servem nem pra comprar chiclete.
Brigitte: Mesmo assim, esse cavalo deve ser a única forma dele viajar, não podemos
tirar isso dele.
Brígida: Brigitte,
cê acha mesmo que esse arriba arriba veio do Rio pra Bahia à cavalo? É óbvio
que não! Esse cara tá em toda parte, até parece político corrupto...
Brigitte: Ah, não sei não.
Bígida: Olha,
se você quer ficar aí esperando até que os corvos te achem, o problema é seu,
eu vou lá! (Começa a ir até a rodoviária).
Brigitte: Ah, só pode ser praga...
As duas se escondem atrás
de uma coluna e ficam observando Ligeirinho.
Brígida: Assim
que ele sair, a gente rouba o pangaré.
Brigitte: Ai, me sinto tão mal...
Ligeirinho Troca-Tapa: Bueno Pie
de Pano, voy molhar la goela e vuelvo ya. (Sai).
Brígida: É
agora ou nunca, vamos!
As duas vão até o cavalo.
Brigitte: (Acariciando o cavalo:) Calma bichano, calma...
Brígida: (Vestindo
as roupas de cowboy:) Ele não é um gato, Brigitte. (Entrega as roupas à
Brigitte:) Ó, veste isso.
Brigitte: Mas nem é halloween...
Brígida: Vamos
Brigitte, não podem desconfiar que não somos daqui, veste logo isso.
As duas se vestem de
vaqueiras/cowboys, Brígida prendeu seu cabelo em duas maria chiquinhas.
Brigitte: (Olhando-se no espelho da entrada:) Quantas galochas não morreram pra
fazer essa belezinha aqui.
Brígida: Nossa,
eu tô um nojo com esse look aqui. Mas chega disso, vamos, sobe nesse cavalo.
Brigitte: Nessa criatura nefasta aqui? Nunca!
Brígida: Brigitte
não me faz botar você à força nesse asno, sobe logo!
Brigitte: Mas eu tenho medo de bichos!
Brígida: Tem
medo de si mesma? Ah, sobe!
Brigitte: Ah, tá!
Brigitte sobe toda
assustada no cavalo. Brígida sobe em seguida, ela guiará o bicho.
Brígida: Muito
bem, como faz pra ligar?
Brigitte: Isso é um animal, não um carro!
Brígida: Que
seja, como faz pra andar?
Brigitte: Talvez um empurrãozinho...
Brígida: Não,
não, acho que devemos pensar na melhor maneira de...
Brigitte tira a agulha de
seu broche e crava na traseira do cavalo, que relincha vorazmente e sai
cavalgando a mil por hora com as duas em seu lombo.
Ligeirinho Troca-Tapa: Muy bien
Pie de Pano, ahora vamos para las Cataratas del Iguaçu...(Olha para seu cavalo indo embora a toda com
duas forasteiras em cima dele:) Mi
cavalo, Pie de Pano! Auydem-me, ayudem-me! Furtaram mi asno, furtaram mi asno!
Socuero, socuero!
Cena 10/Cortiço/Casa de
Claudine/Sala/Interior/Tarde
Ícaro entra correndo no
pátio ao sair da van, ele traz uma revista na mão. Ele cumprimenta seus
vizinhos, sobe as escadas do cortiço e entra em casa.
Ícaro: Mãe,
cheguei!
Claudine: Oi bonitinho! (Beija Ícaro no rosto:) Como foi a aula?
Ícaro: Foi
legal, a nossa turma vai fazer uma equipe pra jogar no campeonato de futebol
mirim da escola.
Claudine: Jura? Que legal! E você vai entrar na equipe?
Ícaro: Acho
que sim, tem jogo sempre depois da escola...Posso ir?
Claudine: Eu até deixaria se alguém levasse e cuidasse de você lá, mas sabe como a
mãe é ocupada, e o Roberval também.
Ícaro: Eu
posso ir com a mãe de uma colega minha, ela me leva e busca. (Implorando:) Vai,
deixa, por favorzinho!
Claudine: Tá bom, pode.
Ícaro: Yes!
(Entregando a revista:) Ó, achei no chão, vê se cê gosta. (Sobe pro quarto).
Claudine: (Folheando a revista:) Que que eu quero com revista de moda? (Sorri:)
Ah, esse menino é uma figura...(Fica surpresa ao ver algo:) O que? Como
assim...Essas são...Yasmin e a Manu?
Claudine olha pra frente,
confusa com o que viu.
Cena 11/Cena de Transição/Rio de Janeiro/Tarde
Cena de transição mostrando
as paisagens do Rio durante o fim de tarde.
Trilha Sonora: I Will Follow Him – Little Peggy
March
Cena 12/Guarda-Chuva Rosa/Entrada/Exterior/Tarde
Ednna sai da empresa e vai
buscar algumas correspondências na caixa de correios:
Ednna: (Olhando
as cartas:) Conta, conta, conta, conta...Ah! Conta. Juros, juros, juros...E
mais juros. Revista de mercado, revista de loja...Revista de bar?
Enfim...(Encontra uma carta por escrito:) Ué, carta escrita? Em que século esse
cara vive? (Lendo:) “Para Ednna Caffona e ou Johanna Cabello”. Ah, pronto, qual
é a novidade? (Lendo:) “Olá, minhas conterrâneas. A pequena vitória que tiveram
ontem não significa que venceram essa guerra. Não subestimem sua adversária,
ela pode ter mais cartas do que vocês pra usar nesse jogo. Ah, ainda tem aquele
guarda-chuva rosa? Com carinho, O Rosa”.
Ednna rasga a carta e a põe
de volta na correspondência, voltando pra empresa.
Cena 13/Guarda-Chuva
Rosa/Academia/Interior/Tarde
Vera está fazendo
exercícios com os equipamentos da academia. Johanna chega.
Johanna: Botando
a saúde em dia?
Vera: (Pedalando:)
Sempre. Posso estar velha, mas não quero ficar caquética. Já descuidei demais
do meu corpo, tá na hora de voltar à forma.
Johanna: Tá
certo.
Vera: O
que achou da apresentação das meninas ontem?
Johanna: Foram
ótimas, melhor do que eu pensei.
Vera: Elas
são promissoras, vão conseguir levar essa.
Johanna: Com
você ajudando elas, claro que conseguem.
Vera: Ah,
não exagera!
Johanna: Que
exagerar, você é ótima. Eu lembro do desfile de 91, se lembra?
Vera: E
como eu ia esquecer? (Para de pedalar:) Foi lá que eu ganhei o meu primeiro
lugar...Nunca vou esquecer. Quem diria que faltava 9 anos pra tudo aquilo
acontecer...
Johanna: Giovana?
Vera: É.
Johanna: Nunca
esqueci disso, foi muito...
Vera: Dolorido.
Não precisamos falar disso.
Johanna: Claro,
me desculpe. Mas e aí, qual desses “brinquedinhos” você recomenda pra mim?
Vera: Johanna
Cabello fazendo exercícios?
Johanna: E
por que não? Nunca é tarde pra tirar um pneu aqui ou ali...
As duas riem e Vera explica
a Johanna sobre os equipamentos da academia.
Trilha Sonora: Tiro ao Álvaro – Péricles
Cena 14/Sertão/Exterior/Tarde
Cena onde só haverá a
música de fundo: Ruby Rider. A câmera mostra uma visão da imensidão do sertão.
Ela vai descendo até encontrar Brígida e Brigitte. Brígida está cansada, em
cima do cavalo, enquanto Brigitte quase corcunda vai guiando o animal. Estão perdidas.
Deve-se mostrar cortes de cenas rápidas, mostrando Brigitte tirando um quilo de
areia da bota, Brígida batendo no cantil pra sair alguma gota de água e as duas
extremamente cansadas.
Brigitte: (Chorando:) Oh, que sofrimento.
Brígida: (Com
a garganta seca:) Cala a boca Brigitte, os urubus podem nos ouvir...
Brigitte: Cê tá é delirando...(Olha pro horizonte:) Aquilo é uma piscina de quinze
metros?!
Brígida: É
uma poça de barro. Já tá tendo alucinações...
Brigitte: Ah...
As duas continuam a
cavalgar, perdidas.
Ao anoitecer, as duas param
e sentam-se. Brigitte pega dois gravetos e começa a esfrega-los um no outro.
Brígida: O
que cê tá fazendo hein?
Brigitte: Não tá vendo? Fogo...
Brígida: Isso
não funciona, criatura da floresta. Esses gravetos estão secos...
Brigitte: E desde quando você virou especialista em sobrevivência no deserto?
Brígida: 5
temporadas de Animal Planet.
Brigitte: Não nega as origens...(Mexe na pequena bolsa presa ao cavalo e encontra
uma viola:) É hora do grand finale...
Brígida: Ah
não, show sertanejo no meio do nada não...
Brigitte: Você reclama demais, precisa de música pra acalmar o coração...
Brígida: Eu
preciso de um rivotril, antes que eu exploda...
Brigitte: Deixa a música fluir...(Cantando desafinadamente e com tristeza:) “Tem
dias que a gente se sente, como quem já partiu ou morreu...”
Brígida começa a chorar.
Brigitte: “Esposaria Apucaim, um jovem caçador, a indiazinha assustada disse: “Não
ó meu senhor...”. Eu amo Itaerê, u u u uuuuu uuu, eu amo Itaerê, aurrrr.
Rapidamente, uma mulher
vestida com roupas de cangaceira aparece e aponta uma espingarda para as duas.
Brigitte e Brígida pulam de susto se abraçam.
Brigitte: (Muito assustada:) Ai minha mãe, não me mata, não me mata!
Brígida: É
a mulher-macho, é a mulher-macho!
Brigitte: Ai não!
Cangaceira: Quem são vocês?!
Ao olhar diretamente para o
rosto da mulher, Brígida fica de boca aberta:
Brígida: Não
é possível...
Brigitte: Não faz contato visual, ela pode nos esquentar na chaleira!
Brígida: É
você...Mei Mei Maksimunto?
Mei Mei: Brígida?
A cena congela com um guarda-chuva
rosa parando ao lado de Mei Mei, ainda com a espingarda apontada para as duas.
Trilha Sonora: Malaguena – The Bambi Molesters
GANCHO
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