O Guarda-Chuva Rosa- Capítulo 10
quarta-feira, abril 17, 2019
O
Guarda-Chuva Rosa
Cap
10
Cena 1/Cortiço/Casa de Johanna e
Ednna/Sala/Interior/Noite
Continuação da cena anterior:
Johanna: Alfredo?!
Alfredo: Minha
vida, minha mulher, meu amor!
Johanna dá um tapa na cara
de Alfredo, que reage surpreso.
Alfredo: (Com
a mão no rosto:) Ai!
Johanna: Só
pode ser carma!
Alfredo: Agressiva
como sempre, adoro isso!
Johanna: Não,
não...Não pode ser, é assombração, é alma penada...É perseguição...É carma!
Alfredo: Meu
amor, por favor, deixa eu explicar tudo pra você!
Johanna: Explicar?
Explicar?! Isso não tem explicação!
Alfredo: Eu
sei que é confuso, mas eu posso explicar!
Johanna: Seu
canalha, ordinário, cafajeste, patife! (Dá outro tapa na cara de Alfredo).
Alfredo: (Com
a mão no rosto:) Tá bem, eu mereci essa.
Johanna esbofeteia Alfredo
de novo.
Alfredo: Essa
também.
Johanna bate em seu rosto
novamente.
Alfredo:
E essa também.
E mais um tapa.
Alfredo: Tá
bom, agora cê já tá exagerando.
Johanna: (Extremamente
brava:) Eu quero acabar com você! A minha vontade é (Aponta para um vaso de
flores:) pegar esse vaso, e quebrar na sua cabeça!
Alfredo: E
o pior é que eu nem duvido.
Johanna gesticula para
pegar o vaso. Alfredo segura as duas mãos de Johanna.
Alfredo: Johanna,
por favor, me escuta.
Johanna: Como
é que você tem coragem de me aparecer aqui depois de toda a papagaiada que você
fez?!
Alfredo: É
isso que eu tô tentando explicar!
Johanna: Vá
se explicar no tobogã do inferno, seu exu caveirinha!
Johanna larga-se de Alfredo
e vai até o balcão da cozinha. Atrás do balcão, ela joga todo tipo de coisa em
Alfredo, como panelas, copos, potes, frutas e até novelos para costura.
Alfredo: (Se
esquivando:) Calma, mulher! Eu só quero conversar!
Johanna: Ah,
quer conversar. Conversa com isso! (Pega uma marmita e atira em Alfredo).
Alfredo: Ai,
esse macarrão tá gelado!
Johanna: E
ainda reclama?! Tome! (Arremessa as estatuetas de Pierre Redentor em Alfredo).
Alfredo: Estatuetas
do Pierre Redentor? Isso é uma raridade!
Johanna: São
falsos, do Mercado Livre! Tão falsos quanto você! (Pega um aquário e joga em
Alfredo).
Alfredo: (Todo
molhado, Alfredo cospe um peixe dourado:) E olha, quem diria, achei o Nemo.
Johanna: E
você ainda tem coragem de fazer piadas?!
Alfredo: Por
favor, eu só quero que você me receba aqui!
Johanna: E
eu lá sou recipiente pra receber lixo?!
Alfredo: Johanna,
por favor, me deixa explicar!
Johanna: Eu
já ouvi o suficiente por hoje! (Pega um abacaxi).
Alfredo: Eu
só fiz isso por causa da Ednna! (Fecha os olhos).
Johanna pausa o lançamento.
Johanna: (Confusa:)
O que?
Alfredo: Eu...
Johanna: Fala
logo sua lombriga esticada, antes que eu te faça ver estrelas!
Alfredo: A
Ednna era apaixonada por mim, e você sabe disso! Ela me perseguia, era doente
de amores por mim. Uma vez, ela até ameaçou acabar com você se eu não ficasse
com ela!
Johanna: Isso
é mais uma das suas mentiras, a cascavelzinha nunca faria isso!
Alfredo: Ah,
então você não conhece ela direito!
Johanna: A
única pessoa que eu desconheço aqui, é você, Alfredo Prata.
Alfredo: Me
escuta! Eu fui embora para não magoar a Ednna, por que ela sofria por minha
causa, e não queria deixar ela assim!
Johanna: Ah
claro, o bom samaritano fez uma boa ação, não é? E nesse processo, você fugiu e
me deixou à ver navios, como uma quenga que espera o boto! (Atira o abacaxi).
Alfredo: Eu
sei que eu fiz mal, mas eu não tinha escolha!
Johanna: É
claro que tinha, ficar do meu lado, não me abandonar. Mas você preferiu bancar
o desertor, como Finn em Star Wars!
Alfredo: Quem?
Ah, enfim...Acredita em mim, eu só quero me entender com você. (Começa a ir até
Johanna).
Johanna: (Apontando
um pepino para Alfredo:) Nem mais um passo, se não eu atiro!
Alfredo: Com
um picles?
Johanna: É
pepino!
Alfredo pega Johanna pelos
braços e beija-a. Depois de alguns segundos, Johanna dá uma joelhada nas partes
íntimas de Alfredo.
Alfredo: (Com
as mãos nas partes:) Ai!
Johanna pisa no pé de
Alfredo, dá outro tapa na cara, enfia o pepino em sua boca, e o empurra,
fazendo o cair no chão com o pepino na boca.
Johanna: Sai
daqui, Alfredo. Sai antes que eu faça coisa pior.
Apavorado, Alfredo (ainda
com o pepino na boca) levanta e sai correndo pela porta.
Johanna: (Passando
a mão na boca:) Vou ter que tomar um banho de desinfetante pra tirar esse vírus
do meu sistema! Desgraçado, cretino, pamonha, pedaço de lixo! (Olha para o
peixinho se contorcendo no tapete:) Ai, Nemo, aguenta firme!
Cena 2/Rua em frente ao Cortiço/Exterior/Noite
Após sair de casa sem ter
sido visto, Ícaro sai das dependências do cortiço e anda por alguns quarteirões
até avistar um ônibus que passava. Ele faz sinal, e o ônibus para. Ícaro entra
no ônibus e começa a ir até os bancos, até o motorista lhe chamar a atenção.
Motorista: Ei menino, não tá esquecendo de nada não?
Ícaro: Eu?
Motorista: Não, eu. A passagem moleque, não vai pagar não?
Ícaro: Passagem?
Mas eu...
Motorista: É menino, passagem, sabe? Ou vale transporte, tanto faz.
Ícaro: É
que eu sai tão rápido que nem me lembrei disso...
Motorista: Então tu não tem passagem? Nem dinheiro pra pagar?
Ícaro: Não
senhor, mas será que eu não posso ficar devendo? A minha irmã é uma modelo
super famosa e eu sei que assim que souber vai vim pagar o senhor...
Motorista: Modelo, né? E a minha irmã é a Rainha da Inglaterra.
Ícaro: É
sério?
Motorista: É claro que não, moleque. Escuta só, pega esses teus trapinho e vaza do
meu ônibus, aqui não tem fiado.
Ícaro: Mas
moço, eu não tenho dinheiro e preciso chegar na minha mana! Por favor eu...
Motorista: Por favor coisa nenhuma. Ou você sai daqui agora ou eu te largo à ponta
pé daqui.
Ícaro fica assustado. Mara,
que estava na fileira de trás e que ouvia a conversa decide levantar e ir até
os dois.
Mara: (Tira
um passe da bolsa e dá ao motorista:) Eu pago pra ele, toma. Vem menino, esse
tipo de gentinha não tem respeito nem pelos de menor.
Ícaro: Nossa
moça, muito obrigado!
Mara: Vem,
vem.
Mara e Ícaro se sentam nos
bancos.
Mara: Cê
não acha que é muito novo pra ficar se aventurando nas rua aqui do Rio,
pentelho? Imagina se eu não tivesse aqui pra ti tirar dessa.
Ícaro: É
que eu tô indo atrás da minha irmã. Não deu mais pra ficar em casa...
Mara: Ah
é, e quem é a tua irmã?
Ícaro: Desculpa,
mas é confidencial. Super secreto.
Mara: Confidencial?
Eu acabei te salvar guri, tu me deve essa!
Ícaro: É
que eu não te conheço direito, desculpa.
Mara: É
isso que a gente ganha por fazer boa ação, oxe!
O ônibus para duas quadras
antes da Guarda-Chuva Rosa.
Ícaro: Obrigado
mesmo, moça! Um dia eu te pago! (Começa a sair).
Mara: Vai
com calma, pivete. Se cuida!
Ícaro sai do ônibus. Ao
passar pela janela de Mara, ele fala:
Ícaro: E
moça...Só pra cê saber, o nome dela é Yasmin. Tchau!
Mara: Yasmin,
que legal...Espera, Yasmin?
Mara olha pra janela e vê o
menino indo em direção à Guarda-Chuva Rosa.
Mara: Oxe!
É o irmão da Yasmin, o pivete fugiu de casa! (O ônibus começa a andar:)
Motorista, pare esse ônibus!
Motorista: Nem ferrando, mulher, a gente tá no meio da avenida!
Mara: Oxe.
Cena 3/Shopping Rio Sul/Interior/Noite
Eddy e Téo entram no
shopping e passam a andar pelos corredores.
Téo: (Nervoso:)
Ai, ai, ai. Onde é que eu fui me meter, isso é suicídio...
Eddy: O
Téo é muito chato.
Téo: Eu
não sou chato, eu só penso em todas as probabilidades, reações, ações e...
Eddy: E
blá blá blá. O Téo fala demais. O Téo quer ou não quer levar a Kate pra sair?
Téo: Que
pergunta, é claro que eu quero!
Eddy: Então
cala essa boca de brejo e vamos indo, se a prima Donna descobre que eu roubei o
cartão dela...
Téo: (Gritando
e assustado:) Você fez o que?!
Eddy: (Tapa
a boca de Téo:) Não grita, animal!
Téo: Você!
(Sussurrando:) Você roubou da Donna Cabonna? Cê não tem noção da idiotice que
você fez?!
Eddy: O
Eddy fez isso para um bem maior...
Téo: Bem
maior, bem maior?! Isso é uma insanidade, uma loucura, uma maluquice...É uma
mer...
Eddy: Olha
o palavriado, mocinho. O Eddy sabe o que faz. A Donna gasta tanto que nem vai
notar um aumentinho aqui ou ali, ela nem vai perceber.
Téo: Mas
isso é errado...Nós estamos roubando...
Eddy: Nós
não estamos roubando.
Téo: Não?!
Eddy: Não,
só eu que estou.
Téo: Ai,
ai...
Eddy: Escuta
aqui, cê quer conquistar a Kate? Pra fazer isso você precisa ser você mesmo,
original. Não pode bancar alguém que não é. Mas pra sair, você precisa de
roupas decentes, não de um terno inglês! Não vamos gastar muito, é só essencial.
E depois eu pago, ponho de volta o dinheiro no lugar, não precisa se preocupar.
E aí, o que acha?
Téo: Não
sei não...
Eddy: Vou
aceitar como um sim (Pega Téo pela mão e começa a leva-lo pelos corredores).
Eddy e Téo vão às lojas e
pegam diversas peças de roupa, com Téo sempre com uma expressão apreensiva.
Eddy senta-se no banquinho ao lado do provador, e Téo veste as roupas e se
mostra para Eddy, para ver o que ele acha.
Téo: (Fazendo
pose:) Que acha dessa?
Eddy: Muito
boa...Se quiser ser palhaço de circo.
Téo: E
essa?
Eddy: Queima
antes que reproduza.
Téo: Ah
qual é, cê não gosta de nada?
Eddy: O
Téo parece um pinguim de geladeira.
Téo: Ah,
então o que é que o senhor sugere?
Eddy: Se
liga nessa.
Após muitos modelos
provados, Eddy finalmente encontra um modelo perfeito para Téo.
Trilha Sonora: All About That Bass – Meghan
Trainor
Cena 4/Guarda-Chuva Rosa/Recepção/Interior/Noite
Brigitte e Brígida estão
pondo arquivando alguns documentos e fazendo alguns balanços dos gastos da
empresa.
Brígida: (Bufa:)
Ah... que dor de cabeça.
Brigitte: Cê não acha que reclama demais não hein, baby?
Brígida: Brigitte,
cuida da sua vida e vê se não me enche.
Brigitte: Eu hein, que mal humorada ela...
Brígida: (Olhando
o computador:) Ah, que droga!
Brigitte: Que que aconteceu, se viu no espelho?
Brígida: Nossa,
como você é engraçada hein Brigitte, hahaha, quase morro de rir com esse seu
senso de humor.
Brigitte: Sei que sou única. Mas e aí, o que houve?
Brígida: Já
vai fazer cinco anos do desaparecimento da Mei Mei...
Brigitte: Meia quem?
Brígida: Não
é meia, sua neandertal, é Mei Mei.
Brigitte: Quem é ela na fila do pão?
Brígida: Ah,
por favor, não vai me dizer que você não conhece ela.
Brigitte: Se eu tô perguntando é por que não sei né, inteligente.
Brígida: Mei
Mei Maksimunto, a modelo japonesa.
Brigitte: Nunca ouvi falar.
Brígida: Mas
é claro que você, retrógrado do jeito que é, nunca saberia apreciar a beleza
oriental daquela mulher...
Brigitte: Tá, tá ô baba-ovo, continua a história.
Brígida: 2013.
Era dia de desfile em Salvador. Todas as modelos já haviam desfilado, e só
faltava a Mei Mei. Bom, era óbvio que ela iria ganhar, todos sabiam disso. Me
lembro como se fosse hoje...O apresentador chamou ela, e nada dela aparecer.
Todos ficaram preocupados, até a polícia foi acionada. Depois de um mês de
procura, ela foi declarada como morta, embora nunca tenham achado o corpo...
Brigitte: (Fazendo o Sinal da Cruz rapidamente:) Cruz em credo! Deus é
pai...Coitada...
Brígida: Eu
fiquei arrasada. Todos ficaram. Afinal, ela era única. Com certeza armaram pra
ela...Mas enfim, o pior disso tudo foi depois que isso passou de
história...Para lenda.
Brigitte: Lenda?
Brígida apaga as luzes da
recepção e acende uma lanterna. Com ela, Brígida começa a ir em direção à
Brigitte com um olhar sombrio.
Brígida: Rés
a lenda...Que o espírito perturbado da japonesa, vaga pelas empresas do ramo
modelístico, indo, aos poucos, concretizando sua vingança...
Brigitte: (Engole em seco, assustada:) Vingança?
Brígida: Sim...Ela
quer se vingar de todos! Pelo erro de um...E agora, toda a...Ah, que dia é
hoje?
Brigitte: Terça.
Brígida: Terça
à noite! Ela vai aparecer, para cumprir sua revanche maléfica...
Brigitte: Pelo mega hair da Gisele
Bündchen! Hoje é terça de noite!
Brígida: Então
ferrou, ela vai aparecer.
Brigitte: (Põe a mão no peito:) Ai minha Nossa Senhora dos Corações Fracos. Como
iremos saber?
Brígida: Bom,
primeiro serão ouvidos ao longe passos de pessoa de saltos altos...Após, um
vidro será quebrado, a luz apagará 8 vezes sem que ninguém mexa no interruptor,
o telefone tocará...Mas ninguém falará! E por fim, Mei Mei Maksimunto vai abrir
a porta...Atravessará o saguão e...PULARÁ EM VOCÊ!
Brigitte: (Grita:) AAAAAAAAAAH
Brígida: (Rindo
muito:) Ai, adoro ver essa sua cara de manga mal chupada com medo, é hilário!
Brigitte: Isso não tem graça, ridícula!
Brígida: Ridícula
é você, que tem medo de fantasmas...
Brigitte: Então a história era mentira?
Brígida: Na
verdade não, Mei Mei Maksimunto realmente sumiu, mas eu não podia perder a
oportunidade de criar um historinha fantástica só pra deixar você com as calças
na mão, Gigi.
Brigitte: Mulherzinha repugnante. Eu vou folhear esses documentos que eu ganho
mais.
Brígida: Vai,
vai.
Passa-se alguns minutos.
Brígida está sentada em uma cadeira afofada lendo um livro, e Brigitte está
ajeitando alguns quadros de atrizes americanas na parede. Agora, passos são
ouvidos.
Brigitte: Ah não, nem pensar...
Brígida: Será
que dá pra calar a boca? Tô lendo Agatha Christie...
Brigitte: Pois eu acho que vou começar a resolver um mistério real agora...
Brígida: Como
é que é?
Brigitte: Cê não tá ouvindo esses passos?
Brígida: Aham.
Brigitte: E você acha mesmo que eu sou burra de acreditar que é a fantasma
xing-ling que tá aqui, hein? Eu sei que é você, sua venenosa.
Brígida: (Sem
dar importância:) Brigitte, eu tô sentada bem aqui na sua frente, como é que eu poderia fazer
passos?
Brigitte: Hm, bom argumento. Deve ser bruxaria, sua feiticeira!
Brígida: (Folheando
o livro:) Sabe Brigitte, às vezes você perde a oportunidade de ficar calada.
Brigitte: Mas então se não é você...Então...
Brígida: Então
obviamente é a Manuela e a Yasmin desfilando naquela passarela, a própria Vera
disse hoje de manhã que ia ensinar elas a usar saltos, então elas devem estar
praticando, pronto.
Brigitte: Sei...
Brígida: Agora
cala a boca que eu quero ver quem matou a Odete Roitman...
Um som de vidro quebrando
adentra o local.
Brigitte: (Sobe na mesa da recepção, histérica:) Pelas calças sujas do Dave Jones!
É a Made in China!
Brígida: Em
primeiro lugar, o Dave Jones nunca sujou as calças em público, e em segundo
lugar...A Mei Mei não é da China, é do Japão!
Brigitte: São tudo do olho puxado, é a mesma laia!
Brígida: Só
mesmo uma ignorante como você pra não saber a diferença entre japoneses e
chineses, sua pré-histórica!
Brigitte: E como é que você explica esse som de vidro se quebrando hein, Sherlock
Brígida?
Brígida: Com
certeza a Mara deve tá limpando alguma sala e deixou um copo cair, ela já fez
isso cinco vezes só essa semana!
Brigitte: Até podia ser, se a Mara não tivesse saído há horas!
Brígida: Ah,
saiu?
Brigitte: Faz tempo.
Brígida: Bom...Sendo
assim então...Ah...Ah, que importância tem isso? Não vá me dizer que tu tá com
medo da defunta oriental né, Brigitte.
Brigitte: Eu não duvido de nada, já vi copos flutuarem nessa empresa!
Brígida:
Você tá falando da taça da dona Johanna? Ela era de metal, sua anta! Ela
flutuou por que a luminária do teto tinha imãs, e não por que era amaldiçoada,
sua protozoária mal formada!
Brigitte: Calúnia da oposição.
Brígida: Brigitte,
sai daí antes que eu te tire à força.
As luzes começam a piscar
numa sequência de oito vezes.
Brigitte: Acho que vou desmaiar.
Brígida: Aja
saco pra tanto drama!
Brigitte:
E como é que você explica isso?
Brígida: Será
que eu preciso lembrar pra você que esse prédio foi herança de um tio pra dona
Ednna, que essas paredes tem mais de 30 anos? A fiação tá velha, caramba! Os
fuzil devem tá tudo queimado, pensa com a cabeça, mulher!
O telefone toca.
Brígida: Será
que dá pra tirar esse seu pé magrelo de cima do telefone? Pode ser importante.
Brigitte: (Segurando o telefone:) Não, não!
Brígida: Ave
saco, por que não?
Brigitte: Esse é o quarto sinal, é a ligação do inferno, a chamada do coisa ruim!
Brígida: Você
tá mais perturbada do que a Carminha quando a Nina começou a se vingar, eu
hein. Tira essa coisa feia daí! (Atende o telefone:) Guarda-Chuva Rosa, Brígida
falando...Alô? Alô? Afe, esses pivetes com trotes de novo. Vá ligar pra quenga
que te pariu! (Desliga o telefone).
Brigitte: Cê discutiu com a assombração?!
Brígida: Que
mané assombração, toma tenência mulher, era só um trote! Você não pode ter
medo!
De repente, a porta da
frente se abre, e um trovão mostra a silhueta de uma figura estranha de saltos
altos.
Brígida: Tá
bom, agora pode. (Grita:) AAAAAAAAAHHHHH!
Brígida sobe na mesa junto
de Brigitte. As duas se abraçam, completamente assustadas. A figura começa a
atravessar o saguão e vai em direção às duas.
Brigitte: (Apavorada:) Eu nunca pensei que ia morrer assim!
Brigitte: E eu nunca pensei que ia ter que morrer junto duma cafona como você!
Brigitte: Será que nem no leito de morte você consegue ser gentil, sua cobra?!
Brígida: EU
NÃO SOU GENTIL!
Brigitte: EU PERCEBI! AAAAAAH
Brígida: Sabe
Brigitte, eu até que gosto desses seus sapatos...
Brigitte: Brígida eu usei tua escova de cabelo pra pentear a Laos.
Brígida: Quem
é Laos?!
Brigitte: Minha cadela (Sorri).
Brígida: (Muito brava:) COMO É QUE É?!
Brigitte: Salve-se quem puder!
Brigitte e Brígida pulam
para trás e se escondem atrás do balcão. As luzes voltam a ficarem acesas
normalmente.
Brígida: Eu
olho ou você olha?
Brigitte: As irrelevantes primeiros.
Brígida: Tá,
então você vai primeiro.
Juntas, Brigitte e Brígida
levantam a cabeça e olham para frente. Quando um trovão faz luz novamente, a
figura do “fantasma” é revelada:
Brigitte e Brígida: Cego Durval?!
Cego Durval: Boas noites, senhoritas. Finalmente me ouviram.
Brigitte: Ouviram, como assim?
Brígida: Do
que que esse zarolho tá falando? (Pega a luminária:) Fala agora ou te quebro
para sempre!
Cego Durval: (Levantando as mãos pra cima:) Calma, calma! Eu só vim pedir um cubinho
de açúcar.
Brígida: Cubinho
de açúcar?
Cego Durval: Sim, eu chamei vocês tantas vezes, mas vocês não me ouviam! Então eu
tentei chamar a atenção de vocês jogando esses meus saltos na parede pra vocês
abrirem a porta.
Brigitte: Então não eram sons de passos?
Brígida: Mas
e as luzes piscando?
Cego Durval: Bom...(Envergonhado:) É que eu acabei tropeçando nuns fios soltos lá no
jardim e acho que isso fez com que as luzes ficassem dando defeito...
Brigitte: Se era você que jogou o salto, e apagou as luzes...Quem quebrou o vidro
e ligou pra cá?
Cego Durval: Eu, ora. Não veem que eu só tô com um salto? É que o outro eu mirei pra
jogar na parede mas acabou indo na janela. E o telefone fui eu, liguei do
orelhão pra vocês me ouvirem, mas ele tava estragado, eu falava, falava, e
vocês não ouviam...
Brígida: Durval...Então
quer dizer que foi por sua causa que eu me estressei, subi numa mesa de uma
forma grotesca e, ainda por cima, abracei a Brigitte?
Cego Durval: Bom, sim...Mas por uma boa causa. (Mostra uma xícara e sorri:) Pro
ceguinho tomar cafezinho docinho...
Brígida: Ah,
então você quer um cafezinho, né?
Cego Durval: De certo que sim, cairia muito bem...
Brígida: Pois
então, Durval, deixa eu te contar uma coisa: Não é só o café que vai cair bem
não...
Cego Durval: É mesmo?
Brígida: Claro.
(Pega o guarda-chuva rosa:) Você vai também, só com a cara no asfalto, seu
cretino!
Cego Durval: (Tira os óculos:) Ih, fedeu. (Sai correndo).
Brigitte: (Surpresa:) Gente, o cego Durval não é cego coisa nenhuma!
Brígida: Se
ele não era antes, agora vai ser, por que eu furar as vistas desse farsante com
esse guarda-chuva! Durval, volta aqui, seu cegueta do Paraguai!
E assim a cena acaba com
Brígida perseguindo Durval pelo Jardim dando-lhe cacetadas com o famigerado
guarda-chuva rosa.
Cena 5/Supermercado/Caixa/Interior/Noite
Mostra-se Vera indo de
corredor em corredor com um carrinho de compras, pegando produtos para beleza
como perfumes, maquiagens e etc. Após pegar tudo o que desejava, Vera se dirige
ao caixa. A moça do caixa passa todos os produtos.
Caixa: Dinheiro
ou cartão, senhora?
Vera: Cartão,
e eu sou senhorita (Dá o cartão).
Caixa: Tanto
faz.
A caixa pega o cartão e
passa-o na máquina.
Caixa: Ih
senhora, temos um problema.
Vera: Ah
menina não me torra a paciência, eu tenho compromisso agora, e eu já disse que
sou senhorita. O que foi?
Caixa: Seu
cartão tá bloqueado.
Vera: (Surpresa:)
Como é, bloqueado?
Caixa: Bloqueado,
inelegível, sem valor, essas coisas.
Vera: Você
deve ter feito alguma coisa errada, evidentemente o cartão de Vera Lúcia de
Morais nunca ia tá bloqueado. Passa de novo.
Caixa: (Desinteressada:)
Senhora, pra que prestar esse papel tosco na frente de todo mundo? É só pagar
com dinheiro e pronto.
Vera: A
questão é que...(Olha para o lado. Depois, sussurra para a moça do caixa:) Eu
não tenho dinheiro.
Caixa: Ah,
não tem é?
Vera: Bem,
agora não mas...
Caixa: Só
um minuto senhora. (Pega o microfone:) Atenção Claudiomir, temos um 157.
Repito, temos uma 157, quer levar sem pagar.
Vera: É
o que?
O segurança pega Vera pelo
braço e a tira de dentro do mercado.
Vera: (Abismada:)
Mas que grosseria, que falta de respeito! Eu sou uma lady, uma dama, uma
celebridade, e eu exijo respeito seu, seu...Brutamontes!
Claudiomir: Boa noite, senhora. (Sai).
Vera: Boa
noite uma pinóia, uma péssima noite pra você. E eu já disse que sou senhorita!
(Bufa:) Só pode ser carma!
(ABERTURA)
Cena 6/Cena de Transição/Rio de Janeiro/Noite
Cena de transição mostrando
as paisagens do Rio durante a noite. Mostra-se Copacabana, o Pão de Açúcar, o
Cristo Redentor iluminado por luzes claras e alguns prédios e apartamentos, até
chegar à Guarda-Chuva Rosa, mostrando sua frente com a fachada iluminada e a
fonte de água ligada. Tudo ao som de:
Trilha Sonora: I Will Follow Him – Little Peggy
March
Cena 7/Guarda-Chuva Rosa/Jardim das Rosas
Vermelhas/Exterior/Noite
Yasmin e Joaquim estão
namorando sentados no banco ao lado de um ramo de flores.
Yasmin: (Terminando
de beija-lo:) Você comeu bala de menta, é sério?
Joaquim: É
que a pasta de dente da guarita tava vencida, e dona Johanna não ia repor tão
cedo.
Yasmin: (Com
cara de nojo:) Ai, que nojo!
Joaquim:
Ah para, cê não reclamou durante o beijo todo.
Yasmin: Se
eu soubesse nem teria beijado...
Joaquim: Aham,
sei.
Joaquim usa mão para
segurar o rosto de Yasmin e volta-lo para ele, então os dois se beijam
novamente. Durante o beijo, o celular de Joaquim vibra em seu bolso.
Joaquim: (Para
de beijar, e tira o celular do bolso:) Sempre tem um inconveniente.
Yasmin: Quem
é?
Joaquim: (Revirando
os olhos:) Ah, é a Vera.
Yasmin: A
sua tia, você quis dizer.
Joaquim: Dá
no mesmo.
Yasmin: Cê
não vai atender ela?
Joaquim: Quem
sabe na próxima. (Desliga).
Joaquim recebe algumas
mensagens de texto. Através das notificações, Yasmin pôde ver que era Vera que
estava o chamando.
Yasmin:
Joaquim, a sua tia tá te mandando mensagem, responde ela, pode ser importante.
Joaquim: Deve
ser mais um chilique.
Yasmin: Como
é que você vai saber se não for ver? E se tiver acontecido algo?
Joaquim: Mas
Min...
Yasmin: (Cruza
os braços e torce a sobrancelha:) Hm?
Joaquim: (Bufa:)
Ah, tá bom, mas só vou olhar, pra ver se é importante.
Yasmin: Não
faz mais que a obrigação.
Joaquim abre o aplicativo e
vê as mensagens de Vera. São elas: “Por que você tem celular se não atende,
hein?”. “Escuta, o meu cartão tá bloqueado, e o meu dinheiro ainda não foi
depositado, será que você pode fazer a gentileza de ajudar a sua tia, Joca?”.
“Você sabe que eu não posso ficar sem meus cremes, perfumes. Você sabe muito
bem o que acontece quando eu fico sem meu o hidratante”.
Joaquim: (Decepcionado:)
Eu sabia, sabia que era isso.
Yasmin: O
que?
Joaquim: Beleza,
beleza, beleza! É sempre com isso e só com isso que ela se importa, com a droga
da beleza! (No impulso, ele pega uma rosa e arranca do canteiro, atirando no
chão).
Yasmin: (Serena:)
Você não acha que se estressa demais com isso? É só uma rosa, ela não tem culpa
de nada.
Joaquim: Eu
não fiz por gosto, eu...Eu...(Cai em si, arrependido pelo o que fez. Põe a mão
na cabeça:) Me desculpa, por tá descontando em você e na flor, você não tem
culpa de nada.
Yasmin: E
nem a rosa.
Os dois ficam calados por
alguns segundos.
Yasmin:
Até quando você vai fingir que ela não existe?
Joaquim: Até
o dia que ela ser sincera comigo.
Yasmin: Por
causa do que aconteceu com a sua mãe?
Joaquim: Pelo
o que não aconteceu com ela, você quis dizer, por que ela não morreu.
Yasmin: Olha
Joaquim, eu entendo que você era muito pequeno quando ela sumiu, e que você
sente como se ela estivesse viva...Mas, você nunca considerou a possibilidade
dela realmente ter...Falecido?
Joaquim: Não
fala isso, por favor, eu não quero brigar com você também.
Yasmin: Tá
vendo! Você tá deixando essa sua obsessão te afastar dos outros, Joaquim.
Joaquim: Obsessão?!
Yasmin: Sim,
obsessão! E não me vem dizer que é incompreensão minha, por que não é, e você
sabe disso. Desde que você me contou essa história eu tentei te apoiar, te
entender. Mas poxa vida cara, isso tá muito obsessivo. Primeiro que você não
tem nenhuma prova de que ela esteja viva, e segundo...Você espera encontra-la
só com esse colar? Existem milhares de pessoas nesse mundo, e você vai ir de
uma em uma até achar a única pessoa entre outras sete bilhões que tenham o
mesmo pingente?
Joaquim: Se
for preciso, sim! A minha mãe tá aí, eu sei disso. Eu fui atrás de pistas, de
muitas coisas, e entre as coisas que eu descobri foi que um coveiro que fez a
cova dela me disse que tinham enterrado uma mulher loira, mas a minha mãe era
ruiva!
Yasmin: Mas
isso não é prova o suficiente, cara. Ela pode ter pintado o cabelo, sei lá.
Você era muito novo pra ter certeza de que a última vez que viu ela...
Joaquim: É
a coisa que eu mais lembro: A última vez que vi ela...Eu tava vendo desenho, na
sala. Quando eu vi ela e a minha tia discutindo...
{FLASH BACK}
Casa de Vera/Sala/Interior/Noite
Nota: Os flash back são
mostrados em preto e branco, um tanto foscos e borrados.
Joaquim está vendo
televisão, enquanto Vera e Giovana discutem.
Vera: Até
quando você vai se prestar a isso?!
Giovana: (Nervosa:)
Você sabe que eu não tenho escolha! Ou é isso, ou ele chega até o Joaquim!
Vera: Como
é que você pode ter tanta certeza?
Giovana: Por
que eu tenho! Por favor, para de discutir e faz isso por mim!
Vera: Mas
isso é uma loucura, uma insanidade!
Giovana: Eu
faço qualquer coisa pra salvar o meu filho das garras dessa gente!
Vera: Mas
e se der errado?
Giovana: Tudo
está previsto e nada será mudado. Eu e a Jasmin vamos resolver isso.
Vera: A
sonsa da Jasmin não sabe fazer nada direito, isso é um tiro no escuro!
Giovana: Ela
é a minha melhor amiga, ela foi a única que acreditou em mim e se jogou de
cabeça pra me ajudar, diferente de você, que mesmo sendo a minha irmã...Não é
capaz de fazer nada por mim.
Vera: Giovana...
Giovana: (Segura
as mãos de Vera:) Por favor, não faça isso por mim...(Olha para Joaquim:) Faça
isso por ele.
Vera reluta por um
instante...
Vera:
Tem certeza do que você tá fazendo?
Giovana: (Deixando
uma lágrima deslizar ao rosto:) O pai dele nunca pode saber que ele está aqui.
Vera: Como
ele soube que você estava grávida?
Giovana: Ela
contou.
Vera: Almerinda...?
Giovana: Sim...Mas
você também pode chama-la pelo nome artístico dela...
Vera: A...(É
interrompida).
Vera não consegue revelar o
nome da suposta pessoa, pois Joaquim acaba se machucando, fazendo ela e Giovana
irem ao seu socorro.
{FIM DO FLASH BACK}
Joaquim: A
minha tia ia dizer o nome dessa mulher, mas eu cai, e depois disso não lembro
de mais nada.
Yasmin: Será
que não foi só um sonho, um pesadelo? Que te marcou muito, e você acabou
confundindo com uma coisa que aconteceu de verdade?
Joaquim: (Ri:)
Você parece a dona Vera. Ela disse a mesma coisa quando eu comecei a duvidar
das historinhas dela...Acha mesmo que eu ia criar tudo isso da cabeça? De onde
eu tiraria isso? E essa tal Jasmin, é da cabeça? Min, por favor, acredita em
mim, eu não inventei isso, eu...
Yasmin: (Segura
as mãos de Joaquim e olha diretamente em seus olhos:) Eu acredito em você. Sério,
de verdade. E se você tem mesmo certeza que ela tá viva, eu vou te ajudar a
procurar ela. Mas você precisa me prometer só uma coisa.
Joaquim: O
que?
Yasmin: (Pega
a rosa arrancada, e oferece para Joaquim:) Que você vai ir com calma, parar de
se afastar dos outros e que volte a falar com a sua tia.
Joaquim: Mas
ela...
Yasmin: Eu
sei que você acha que ela mente pra você, mas eu posso apostar que ela só tá
escondendo a verdade, se é que está mesmo, é pra te proteger, por que foi isso
o que a sua mãe pediu pra ela antes de morrer, pra ela cuidar de você. Então,
essa é a minha condição. Aceita?
Joaquim: (Olha
para a rosa:) Eu vou tentar.
Yasmin: Ótimo.
(Entrega a rosa para Joaquim:) Agora toma vergonha na sua cara e planta ela de
novo no canteiro, o caule ainda pode fazer ela produzir raízes e voltar ao
normal.
Joaquim: (Dando
continência apenas com a mão:) Sim, senhora.
Yasmin e Joaquim dão um
selinho. Antes de continuar o beijo, os dois ouvem alguém chamando por Yasmin.
Yasmin: (Se
soltando de Joaquim:) Cê ouviu isso?
Joaquim: (Resmungando:)
Ai, ai, hoje não é mesmo o nosso dia.
Yasmin: (Forçando
a vista:) Quem tá vindo ali?
Joaquim: Deve
ser a Brígida batendo no Durval. (Pegando na cintura de Yasmin:) Deixa isso pra
lá, tu tá um chuchu com esse batom...
Yasmin: (Se
solta novamente de Joaquim:) É sério, olha lá!
Os dois olham para o
horizonte e veem alguém atravessando o portão e correndo na direção deles.
Yasmin: (Surpresa
e confusa:) Ícaro?!
Joaquim: Quem?
Ícaro: (Correndo
até Yasmin:) Mana, mana!
Ícaro pula no colo de
Yasmin, dando muitos beijos em suas bochechas.
Yasmin: O
que que você tá fazendo aqui?
Ícaro: (Sorri:)
Eu fugi de casa.
Yasmin e Joaquim: (Surpresos:) Que?!
Ícaro: (Olhando
para Joaquim, desconfiado:) E quem é o moço aí?
A cena acaba com Yasmin e
Joaquim se olhando, assustados.
Cena 8/Copacabana Palace/Saguão/Interior/Noite
Eddy está arrumando a
gravata-borboleta de Téo, enquanto Kate não chega.
Eddy:
(Dando o último laçarote:) Pronto, até parece gente.
Téo: (Estático:)
Aham.
Eddy: Tomou
banho?
Téo: Aham.
Eddy: Botou
perfume?
Téo: Aham.
Eddy: Cê
tá nervoso?
Téo: Aham.
Eddy: Acalma
o faniquito, a Kate não vai gostar de um banana nervoso. Ah, e você tem que
puxar assunto, por que boy sem assunto é um porre...O Eddy vai ficar logo atrás
de vocês comendo uma pipoquinha enquanto vocês...Ah, e não esquece do dinheiro!
Téo: (Gritando:)
Chega! Será que você pode parar de me azucrinar a cada cinco minutos?! Será
possível, eu tô ficando louco!
Eddy: (Olhando
pra escada:) An, Téo...
Téo: Fica
quieto que eu não acabei ainda!
Enquanto Téo fala, Eddy
mantém o olhar na escadaria, com os olhos arregalados.
Téo: Eu
aturei o dia todo você me fazendo vestir essas porcarias chiques, que mais
parecem armaduras do século 13, de tão apertadas que são!
Eddy: Téo...
Téo: Eu
tentei mudar a minha própria personalidade e estilo só pra agradar a Kate, mas quer
saber de uma coisa, Eddy?! EU NÃO QUERO AGRADAR A KATE ASSIM! Eu quero que ela
goste de mim pelo o que eu sou, e não por esse pinguim ambulante de bigode, que
é o que eu tô parecendo! (Começa a tirar o terno e gravata-borboleta:) Eu
detesto esse pedaço de pano tosco, e essa gravata de secretário de repartição,
e esse perfume de rico que não tem cheiro de coisa nenhuma!
Eddy: É
que...
Téo: É
que eu tô maluco! Isso não sou eu, eu não me visto assim, e não vou me vestir
assim só pra agradar alguém. A Kate é a mulher mais bonita que eu já vi na
minha vida, e eu quero muito conhecer ela de verdade, mas eu não vou fingir ser
quem eu não sou. Eu sou Téo, o garçom do Copacabana Palace, recebo pouco e moro
no hotel, esse sou eu! E se ela quer um namoradinho almofadinha e que se acha o
tal, ela achou o cara errado!
Eddy: A...
Téo: A
o que?!
Eddy: A
Kate tá bem atrás de você.
Téo: E
daí que a Kate tá bem atrás de mim...Pera, que?!
Katherine: Oi, Téo.
Téo: Ai
minha mãe, tô perdido.
Katherine: Sabe...Você tá certo.
Téo: Tô?
Katherine: Tava. Você não é um riquinho almofadinha que se acha o tal, nem é
estúpido e de nariz empinado. Não é elegante, nem fino, muito menos culto.
Téo: (Cabisbaixo:)
E eu até sei o que isso significa...
Katherine: Significa que...(Estende o braço:) É exatamente isso que eu queria que
você fosse: Você mesmo.
Téo: O
que?
Katherine: Eu sempre fui paparicada por pessoas fúteis, que não gostavam de mim,
mas do meu dinheiro. Eu tô cansada disso. Eu sou um ser humano, eu preciso
ficar perto de pessoas que sejam sinceras comigo, verdadeiras, que não ponham
um rótulo em si mesmas pra me “conquistar”, por que eu não sou um prêmio a ser
disputado. Sinceramente, eu pensei que você fosse mais um deles, até queria
desistir de sair...Mas depois que você fez isso, e tirou essas...Essas
roupas...Eu vi que você não é mais um babaca que nem os outros. (Sorri).
Eddy fica de boca aberta.
Téo: (Gaguejando:)
Então...Você aceita sair comigo, Kate?
Katherine: Eu adoraria, Téo.
Téo: Então...Vamos?
Katherine: Let it go.
(Sorri).
Assim, Kate e Téo dão os
braços um para o outro e vão em direção a porta. Eddy está com um lenço no
rosto, limpando as lágrimas e assoando o nariz. Quando ele larga o lenço,
descobre-se que na verdade não era um lenço mas sim um guardanapo, que uma
senhora usa para limpar a boca depois de ter jantado.
Quando os três saem, a
câmera foca no alto da escada, onde Donna os observava atrás de uma planta, com
um olhar furioso e suspeito.
Cena 9/Pensão Dona Nicoleta/Sala do
Café/Interior/Noite
Mara desce do ônibus e vai
indo pela calçada até as proximidades da Pensão.
Mara: (Apressada:)
Oxente, eu preciso avisar Yasmin que o irmão dela fugiu de casa. Essa droga de
celular fica sem bateria justo nessas hora de aperto...
Mara chega até o portão da
Pensão. Ela abre o portão e vai até a porta da frente, pegando a chave no bolso
e a abrindo, entrando em casa, sempre apressada. Mara acende a luz. E quando
ela acende, flagra Nicoleta e Bino se agarrando nos beijos loucamente. Nicoleta
está vestida de tigresa e Bino de Zorro.
Mara: (De
boca aberta:) Pela madrugada...
Nicoleta e Bino param de se
beijar, assustados. Quando percebe que Mara os pegou, Nicoleta começa a dar
bofetes em Bino.
Nicoleta: Socorro, socorro! Estou sendo atacada por essa abusador barato, socorro!
Bino: É
o que mulher?!
Nicoleta: Mara, me ajuda, esse tarado pelancudo tá me agarrando à força!
Mara: À
força, jura? Pois parece que a senhora tava bem à vontade hein, dona Nick.
Nicoleta: Não seja besta menina, eu sou uma senhora de classe, jamais dividiria
meu precioso DNA com esse bode véio safado! Safado! (Dá um tabefe em Bino).
Bino: (Com
a mão na cara:) Ai Leta...
Nicoleta: Leta coisa nenhuma! Ponha-se daqui pra fora, seu sem vergonha!
Bino: Mas
é uma duas caras mesmo. Admite que você gosta!
Nicoleta: Você é um cretino, filho duma égua, filhote de cruz credo!
Bino: E
você é uma véia tarada, caidinha por esse bode véio aqui!
Nicoleta: Diabo de encruzilhada! Agente do mal, enganador barato!
Bino: Mulher
mentirosa, rameira, quenga de esquina!
Nicoleta: Sua formiga atômica dos infernos, eu vou quebrar todos os seus dentes!
Bino: Ah
é, então toma isso! (Pega Nicoleta e a beija selvagemente).
Nicoleta torce o mamilo
esquerdo de Bino, fazendo-o gritar de dor.
Bino: (Assustado:)
Sua marafona grosseira, cê torceu minha teta!
Nicoleta: E dê graças a Deus que eu não torci outras coisas!
Mara: E
essas fantasias aí, dona Nick?
Nicoleta: Fantasia? Eu...É pro carnaval, pro carnaval...
Mara: Mas
o carnaval é só ano que vem.
Nicoleta: Carnaval? Quem disse carnaval? Eu quis dizer Halloween!
Mara: Halloween
em setembro?
Nicoleta: Ãn...
Mara: Eu
vou deixar vocês sozinhos, pra não interromper essa...Confraternização
gloriosa, hehehe...Tchau, tchau.
Nicoleta: Mara minha filha, pelo amor de Deus, você não acha que eu beijei esse
búfalo asiático por que eu quis né?! Eu sou moça pura!
Mara: Eu
não acho nada dona Nicoleta. A senhora fique tranquila, viu? Eu não vou contar
pra ninguém desses seus...Fetiches selvagens...Até loguinho. (Sai).
Nicoleta: Mara, espere! Eu posso explicar, foi tudo um grande engano. Mara!
Bino: Bom,
já que ela foi...Onde paramos?
Nicoleta: Paramos com você dando o fora da minha pensão, rua daqui seu infeliz,
rua!
Bino: Mas
Leta!
Nicoleta: Leta coisa nenhuma, ninguém mandou não ser discreto!
Bino: Mas
a ideia foi sua!
Nicoleta: Cala a boca, fora daqui!
Bino: Ora,
sua cafetina sem sal, eu nunca mais que boto os pés nessa pensão de araque!
Nicoleta: Tô pouco me lixando!
Bino: Tchau!
(Sai).
Nicoleta: Tchau!
Passasse alguns segundos...
Nicoleta: Bino...Ei, Bino! Bininho, Binão! Rei, coração! Volta aqui, eu falei sem
pensar...
Trilha Sonora: Estúpido Cupido – Celly Campelo
Cena 10/Parque de Diversões/Interior/Noite
Téo, Kate e Eddy chegam ao
parque de diversões da cidade.
Téo: Então...Chegamos.
Katherine: Sim, of course.
Eddy: Ai
que maravilha! Agora o Eddy vai ficar juntinho de vocês, não vai desgrudar, vai
ficar pertinho dos melhores amigos do mundo! Hehehe...
Téo: Ah...Eddy,
você não tá afim de ir pra algum brinquedo, jogar um joguinho, comprar uns
bonecos de pelúcia...
Eddy: Tá
expulsando o Eddy daqui?
Téo:
Nãããããooo, longe de mim...
Katherine: My dear
Eddy...Você iria se divertir aí por mim?
Eddy: No, american gringa...
Katherine: (Puxa algo de sua bolsa:) E nem por um biscoito Scooby?
Eddy: E
o Eddy lá é cacho...Opa...Talvez...Mas é muito pouco, quero não...
Katherine: Afe, e que tal dois biscoitos Scooby?
Eddy: (De
braços cruzados:) O Eddy é irredutível.
Katherine: (Com cara de impaciência:) E que tal um caixa inteira de biscoitos
Scooby?
Eddy: Uma
caixa inteira?! (Pega a caixa na bolsa de Kate e sai saltitando:) O Eddy tem
biscoitos Scooby, o Eddy tem biscoitos Scooby! (Sai).
Téo: Ah,
ainda bem que ele foi...Digo, eu sei que ele é seu amigo mas...
Katherine: Eu sei, ele é inconveniente às vezes.
Téo: Às
vezes...?
Katherine: Enfim, vamos?
Téo: Vamos?
Ah sim, vamos!
Téo e Kate saem lado a lado
pelo parque. Primeiramente eles passam por uma barraca de tiro ao alvo, onde
Téo atira vinte vezes em um pato, sem acertar uma única vez. Ao pegar a arma de
brinquedo, apenas com um tiro Katherine já derruba o pato e o dá para Téo, que
fica levemente envergonhado. Depois eles vão ao barco viking, onde Kate finge
estar assustada e encosta a cabeça em Téo, que congela. Na Xícara Maluca, Téo
fica enjoado, e Kate fica o esperando ao lado de um arbusto, enquanto ele
vomita. Ao dois vão em diversos brinquedos, e riem e se divertem bastante. Téo
está tentando a todo o custo pegar um bichinho de pelúcia para Kate, e para
isso ele tenta acertar algumas latas de prêmios com bolinhas, porém não está
acertando nenhuma. Do outro lado do parque, Eddy está testando sua força em um
aparelho medido por uma bola de metal. Quando Eddy soca a superfície do
brinquedo, tamanha foi a sua força, que fez a bola de metal se desprender e
voar parque à dentro, caindo na barraca de prêmios e acertando uma das latas.
Achando que foi Téo que acertou, o vendedor dá um urso marrom para ele, que o
dá para Kate. Por fim, Téo e Kate vão à Roda Gigante, onde ficam juntos na
cabine mais alta.
Téo: (Nervoso:)
Ai minha mãe...
Katherine: O que foi? Não me diz que você tá com medo...
Téo: Eu,
medo? Nunca em minha vida...Eu só...Ai...
Katherine: Calma (Segura a mão de Téo:), não precisa ter medo.
Kate encosta a cabeça no
ombro de Téo, e ele passa o braço por trás dela, fazendo um carinho nela. A
cena acaba com os dois na última cabine, à luz das estrelas, enquanto Eddy
corre atrás de um peixinho que ganhou num jogo e que saiu do aquário indo
saltitando até o mar.
Cena 11/Cortiço/Casa de Claudine/Interior/Noite
Claudine termina de lavar a
louça e Roberval continua a dormir. Ela vai até o quarto de Ícaro para lhe dar
boa noite.
Claudine: (Abrindo a porta do quarto:) Filho, por que você não foi me dar boa
noite, você sempre dá...
Claudine tira o cobertor de
cima da cama, e vê que há somente um amontoado de travesseiros e roupas.
Claudine: Ícaro? O que?
Nervosa, ela procura por
toda casa algum sinal de Ícaro. A cena acaba com ela pondo as duas mãos na
cabeça, muito perturbada e nervosa.
Cena 12/Copacabana Palace/Corredor do Quarto de
Donna/Interior/Dia
Téo e Kate param no
corredor em frente à porta de Donna.
Téo: E
o Eddy?
Katherine: Ah, ele sempre fica até tarde no saguão olhando desenhos, só assim que
ele dorme (Ri).
Téo: (Sorri:)
Claro. Bom, eu te vejo amanhã?
Katherine: Não sei se eu vou querer te ver...
Téo: (Desesperado:)
Que?!
Katherine: Calma, eu só tô brincando, boy
(Ri).
Téo: Ah,
tá bom.
Os dois ficam quietos por
um tempo.
Téo: Bom,
eu vou indo.
Katherine: (Um pouco decepcionada por ele não tê-la beijado:) Ah, está certo então,
bye bye.
Téo para de andar um pouco.
Ele volta para trás e vai até Kate. Ele pega na sua cintura e a beija, ela
corresponde o beijo. Depois de se beijarem, Téo olha meio tonto para Kate, como
se tivesse realizado um sonho.
Téo: Bom...Tchau,
tchau. (Sai).
Katherine: (Um pouco zonza:) Bye.
Com um sorriso no rosto,
Kate entra no quarto. Ao fechar a porta, a luz se acende. Assustada, ela vira
para trás e vê Donna, que levanta da cadeira e vem caminhando em sua direção.
Donna: Good night, miss McLamar, como foi sua
noite? Acho que a gente tem muito o que conversar, não acha?
A cena congela com um guarda-chuva
rosa parando ao lado de Kate, com uma expressão apreensiva.
Trilha Sonora: Cheap Thrills – Sia
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