O Guarda-Chuva Rosa- Capítulo 10

quarta-feira, abril 17, 2019


O Guarda-Chuva Rosa
Cap 10


Cena 1/Cortiço/Casa de Johanna e Ednna/Sala/Interior/Noite
Continuação da cena anterior:

Johanna: Alfredo?!
Alfredo: Minha vida, minha mulher, meu amor!
Johanna dá um tapa na cara de Alfredo, que reage surpreso.
Alfredo: (Com a mão no rosto:) Ai!
Johanna: Só pode ser carma!
Alfredo: Agressiva como sempre, adoro isso!
Johanna: Não, não...Não pode ser, é assombração, é alma penada...É perseguição...É carma!
Alfredo: Meu amor, por favor, deixa eu explicar tudo pra você!
Johanna: Explicar? Explicar?! Isso não tem explicação!
Alfredo: Eu sei que é confuso, mas eu posso explicar!
Johanna: Seu canalha, ordinário, cafajeste, patife! (Dá outro tapa na cara de Alfredo).
Alfredo: (Com a mão no rosto:) Tá bem, eu mereci essa.
Johanna esbofeteia Alfredo de novo.
Alfredo: Essa também.
Johanna bate em seu rosto novamente.
Alfredo: E essa também.
E mais um tapa.
Alfredo: Tá bom, agora cê já tá exagerando.
Johanna: (Extremamente brava:) Eu quero acabar com você! A minha vontade é (Aponta para um vaso de flores:) pegar esse vaso, e quebrar na sua cabeça!
Alfredo: E o pior é que eu nem duvido.
Johanna gesticula para pegar o vaso. Alfredo segura as duas mãos de Johanna.
Alfredo: Johanna, por favor, me escuta.
Johanna: Como é que você tem coragem de me aparecer aqui depois de toda a papagaiada que você fez?!
Alfredo: É isso que eu tô tentando explicar!
Johanna: Vá se explicar no tobogã do inferno, seu exu caveirinha!
Johanna larga-se de Alfredo e vai até o balcão da cozinha. Atrás do balcão, ela joga todo tipo de coisa em Alfredo, como panelas, copos, potes, frutas e até novelos para costura.
Alfredo: (Se esquivando:) Calma, mulher! Eu só quero conversar!
Johanna: Ah, quer conversar. Conversa com isso! (Pega uma marmita e atira em Alfredo).
Alfredo: Ai, esse macarrão tá gelado!
Johanna: E ainda reclama?! Tome! (Arremessa as estatuetas de Pierre Redentor em Alfredo).
Alfredo: Estatuetas do Pierre Redentor? Isso é uma raridade!
Johanna: São falsos, do Mercado Livre! Tão falsos quanto você! (Pega um aquário e joga em Alfredo).
Alfredo: (Todo molhado, Alfredo cospe um peixe dourado:) E olha, quem diria, achei o Nemo.
Johanna: E você ainda tem coragem de fazer piadas?!
Alfredo: Por favor, eu só quero que você me receba aqui!
Johanna: E eu lá sou recipiente pra receber lixo?!
Alfredo: Johanna, por favor, me deixa explicar!
Johanna: Eu já ouvi o suficiente por hoje! (Pega um abacaxi).
Alfredo: Eu só fiz isso por causa da Ednna! (Fecha os olhos).
Johanna pausa o lançamento.
Johanna: (Confusa:) O que?
Alfredo: Eu...
Johanna: Fala logo sua lombriga esticada, antes que eu te faça ver estrelas!
Alfredo: A Ednna era apaixonada por mim, e você sabe disso! Ela me perseguia, era doente de amores por mim. Uma vez, ela até ameaçou acabar com você se eu não ficasse com ela!
Johanna: Isso é mais uma das suas mentiras, a cascavelzinha nunca faria isso!
Alfredo: Ah, então você não conhece ela direito!
Johanna: A única pessoa que eu desconheço aqui, é você, Alfredo Prata.
Alfredo: Me escuta! Eu fui embora para não magoar a Ednna, por que ela sofria por minha causa, e não queria deixar ela assim!
Johanna: Ah claro, o bom samaritano fez uma boa ação, não é? E nesse processo, você fugiu e me deixou à ver navios, como uma quenga que espera o boto! (Atira o abacaxi).
Alfredo: Eu sei que eu fiz mal, mas eu não tinha escolha!
Johanna: É claro que tinha, ficar do meu lado, não me abandonar. Mas você preferiu bancar o desertor, como Finn em Star Wars!
Alfredo: Quem? Ah, enfim...Acredita em mim, eu só quero me entender com você. (Começa a ir até Johanna).
Johanna: (Apontando um pepino para Alfredo:) Nem mais um passo, se não eu atiro!
Alfredo: Com um picles?
Johanna: É pepino!
Alfredo pega Johanna pelos braços e beija-a. Depois de alguns segundos, Johanna dá uma joelhada nas partes íntimas de Alfredo.
Alfredo: (Com as mãos nas partes:) Ai!
Johanna pisa no pé de Alfredo, dá outro tapa na cara, enfia o pepino em sua boca, e o empurra, fazendo o cair no chão com o pepino na boca.
Johanna: Sai daqui, Alfredo. Sai antes que eu faça coisa pior.
Apavorado, Alfredo (ainda com o pepino na boca) levanta e sai correndo pela porta.
Johanna: (Passando a mão na boca:) Vou ter que tomar um banho de desinfetante pra tirar esse vírus do meu sistema! Desgraçado, cretino, pamonha, pedaço de lixo! (Olha para o peixinho se contorcendo no tapete:) Ai, Nemo, aguenta firme!



















Cena 2/Rua em frente ao Cortiço/Exterior/Noite

Após sair de casa sem ter sido visto, Ícaro sai das dependências do cortiço e anda por alguns quarteirões até avistar um ônibus que passava. Ele faz sinal, e o ônibus para. Ícaro entra no ônibus e começa a ir até os bancos, até o motorista lhe chamar a atenção.
Motorista: Ei menino, não tá esquecendo de nada não?
Ícaro: Eu?
Motorista: Não, eu. A passagem moleque, não vai pagar não?
Ícaro: Passagem? Mas eu...
Motorista: É menino, passagem, sabe? Ou vale transporte, tanto faz.
Ícaro: É que eu sai tão rápido que nem me lembrei disso...
Motorista: Então tu não tem passagem? Nem dinheiro pra pagar?
Ícaro: Não senhor, mas será que eu não posso ficar devendo? A minha irmã é uma modelo super famosa e eu sei que assim que souber vai vim pagar o senhor...
Motorista: Modelo, né? E a minha irmã é a Rainha da Inglaterra.
Ícaro: É sério?
Motorista: É claro que não, moleque. Escuta só, pega esses teus trapinho e vaza do meu ônibus, aqui não tem fiado.
Ícaro: Mas moço, eu não tenho dinheiro e preciso chegar na minha mana! Por favor eu...
Motorista: Por favor coisa nenhuma. Ou você sai daqui agora ou eu te largo à ponta pé daqui.
Ícaro fica assustado. Mara, que estava na fileira de trás e que ouvia a conversa decide levantar e ir até os dois.
Mara: (Tira um passe da bolsa e dá ao motorista:) Eu pago pra ele, toma. Vem menino, esse tipo de gentinha não tem respeito nem pelos de menor.
Ícaro: Nossa moça, muito obrigado!
Mara: Vem, vem.
Mara e Ícaro se sentam nos bancos.
Mara: Cê não acha que é muito novo pra ficar se aventurando nas rua aqui do Rio, pentelho? Imagina se eu não tivesse aqui pra ti tirar dessa.
Ícaro: É que eu tô indo atrás da minha irmã. Não deu mais pra ficar em casa...
Mara: Ah é, e quem é a tua irmã?
Ícaro: Desculpa, mas é confidencial. Super secreto.
Mara: Confidencial? Eu acabei te salvar guri, tu me deve essa!
Ícaro: É que eu não te conheço direito, desculpa.
Mara: É isso que a gente ganha por fazer boa ação, oxe!
O ônibus para duas quadras antes da Guarda-Chuva Rosa.
Ícaro: Obrigado mesmo, moça! Um dia eu te pago! (Começa a sair).
Mara: Vai com calma, pivete. Se cuida!
Ícaro sai do ônibus. Ao passar pela janela de Mara, ele fala:
Ícaro: E moça...Só pra cê saber, o nome dela é Yasmin. Tchau!
Mara: Yasmin, que legal...Espera, Yasmin?
Mara olha pra janela e vê o menino indo em direção à Guarda-Chuva Rosa.
Mara: Oxe! É o irmão da Yasmin, o pivete fugiu de casa! (O ônibus começa a andar:) Motorista, pare esse ônibus!
Motorista: Nem ferrando, mulher, a gente tá no meio da avenida!
Mara: Oxe.





Cena 3/Shopping Rio Sul/Interior/Noite

Eddy e Téo entram no shopping e passam a andar pelos corredores.
Téo: (Nervoso:) Ai, ai, ai. Onde é que eu fui me meter, isso é suicídio...
Eddy: O Téo é muito chato.
Téo: Eu não sou chato, eu só penso em todas as probabilidades, reações, ações e...
Eddy: E blá blá blá. O Téo fala demais. O Téo quer ou não quer levar a Kate pra sair?
Téo: Que pergunta, é claro que eu quero!
Eddy: Então cala essa boca de brejo e vamos indo, se a prima Donna descobre que eu roubei o cartão dela...
Téo: (Gritando e assustado:) Você fez o que?!
Eddy: (Tapa a boca de Téo:) Não grita, animal!
Téo: Você! (Sussurrando:) Você roubou da Donna Cabonna? Cê não tem noção da idiotice que você fez?!
Eddy: O Eddy fez isso para um bem maior...
Téo: Bem maior, bem maior?! Isso é uma insanidade, uma loucura, uma maluquice...É uma mer...
Eddy: Olha o palavriado, mocinho. O Eddy sabe o que faz. A Donna gasta tanto que nem vai notar um aumentinho aqui ou ali, ela nem vai perceber.
Téo: Mas isso é errado...Nós estamos roubando...
Eddy: Nós não estamos roubando.
Téo: Não?!
Eddy: Não, só eu que estou.
Téo: Ai, ai...
Eddy: Escuta aqui, cê quer conquistar a Kate? Pra fazer isso você precisa ser você mesmo, original. Não pode bancar alguém que não é. Mas pra sair, você precisa de roupas decentes, não de um terno inglês! Não vamos gastar muito, é só essencial. E depois eu pago, ponho de volta o dinheiro no lugar, não precisa se preocupar. E aí, o que acha?
Téo: Não sei não...
Eddy: Vou aceitar como um sim (Pega Téo pela mão e começa a leva-lo pelos corredores).
Eddy e Téo vão às lojas e pegam diversas peças de roupa, com Téo sempre com uma expressão apreensiva. Eddy senta-se no banquinho ao lado do provador, e Téo veste as roupas e se mostra para Eddy, para ver o que ele acha.
Téo: (Fazendo pose:) Que acha dessa?
Eddy: Muito boa...Se quiser ser palhaço de circo.
Téo: E essa?
Eddy: Queima antes que reproduza.
Téo: Ah qual é, cê não gosta de nada?
Eddy: O Téo parece um pinguim de geladeira.
Téo: Ah, então o que é que o senhor sugere?
Eddy: Se liga nessa.
Após muitos modelos provados, Eddy finalmente encontra um modelo perfeito para Téo.
Trilha Sonora: All About That Bass – Meghan Trainor








Cena 4/Guarda-Chuva Rosa/Recepção/Interior/Noite

Brigitte e Brígida estão pondo arquivando alguns documentos e fazendo alguns balanços dos gastos da empresa.
Brígida: (Bufa:) Ah... que dor de cabeça.
Brigitte: Cê não acha que reclama demais não hein, baby?
Brígida: Brigitte, cuida da sua vida e vê se não me enche.
Brigitte: Eu hein, que mal humorada ela...
Brígida: (Olhando o computador:) Ah, que droga!
Brigitte: Que que aconteceu, se viu no espelho?
Brígida: Nossa, como você é engraçada hein Brigitte, hahaha, quase morro de rir com esse seu senso de humor.
Brigitte: Sei que sou única. Mas e aí, o que houve?
Brígida: Já vai fazer cinco anos do desaparecimento da Mei Mei...
Brigitte: Meia quem?
Brígida: Não é meia, sua neandertal, é Mei Mei.
Brigitte: Quem é ela na fila do pão?
Brígida: Ah, por favor, não vai me dizer que você não conhece ela.
Brigitte: Se eu tô perguntando é por que não sei né, inteligente.
Brígida: Mei Mei Maksimunto, a modelo japonesa.
Brigitte: Nunca ouvi falar.
Brígida: Mas é claro que você, retrógrado do jeito que é, nunca saberia apreciar a beleza oriental daquela mulher...
Brigitte: Tá, tá ô baba-ovo, continua a história.
Brígida: 2013. Era dia de desfile em Salvador. Todas as modelos já haviam desfilado, e só faltava a Mei Mei. Bom, era óbvio que ela iria ganhar, todos sabiam disso. Me lembro como se fosse hoje...O apresentador chamou ela, e nada dela aparecer. Todos ficaram preocupados, até a polícia foi acionada. Depois de um mês de procura, ela foi declarada como morta, embora nunca tenham achado o corpo...
Brigitte: (Fazendo o Sinal da Cruz rapidamente:) Cruz em credo! Deus é pai...Coitada...
Brígida: Eu fiquei arrasada. Todos ficaram. Afinal, ela era única. Com certeza armaram pra ela...Mas enfim, o pior disso tudo foi depois que isso passou de história...Para lenda.
Brigitte: Lenda?
Brígida apaga as luzes da recepção e acende uma lanterna. Com ela, Brígida começa a ir em direção à Brigitte com um olhar sombrio.
Brígida: Rés a lenda...Que o espírito perturbado da japonesa, vaga pelas empresas do ramo modelístico, indo, aos poucos, concretizando sua vingança...
Brigitte: (Engole em seco, assustada:) Vingança?
Brígida: Sim...Ela quer se vingar de todos! Pelo erro de um...E agora, toda a...Ah, que dia é hoje?
Brigitte: Terça.
Brígida: Terça à noite! Ela vai aparecer, para cumprir sua revanche maléfica...
Brigitte: Pelo mega hair da Gisele Bündchen! Hoje é terça de noite!
Brígida: Então ferrou, ela vai aparecer.
Brigitte: (Põe a mão no peito:) Ai minha Nossa Senhora dos Corações Fracos. Como iremos saber?
Brígida: Bom, primeiro serão ouvidos ao longe passos de pessoa de saltos altos...Após, um vidro será quebrado, a luz apagará 8 vezes sem que ninguém mexa no interruptor, o telefone tocará...Mas ninguém falará! E por fim, Mei Mei Maksimunto vai abrir a porta...Atravessará o saguão e...PULARÁ EM VOCÊ!
Brigitte: (Grita:) AAAAAAAAAAH
Brígida: (Rindo muito:) Ai, adoro ver essa sua cara de manga mal chupada com medo, é hilário!
Brigitte: Isso não tem graça, ridícula!
Brígida: Ridícula é você, que tem medo de fantasmas...
Brigitte: Então a história era mentira?
Brígida: Na verdade não, Mei Mei Maksimunto realmente sumiu, mas eu não podia perder a oportunidade de criar um historinha fantástica só pra deixar você com as calças na mão, Gigi.
Brigitte: Mulherzinha repugnante. Eu vou folhear esses documentos que eu ganho mais.
Brígida: Vai, vai.
Passa-se alguns minutos. Brígida está sentada em uma cadeira afofada lendo um livro, e Brigitte está ajeitando alguns quadros de atrizes americanas na parede. Agora, passos são ouvidos.
Brigitte: Ah não, nem pensar...
Brígida: Será que dá pra calar a boca? Tô lendo Agatha Christie...
Brigitte: Pois eu acho que vou começar a resolver um mistério real agora...
Brígida: Como é que é?
Brigitte: Cê não tá ouvindo esses passos?
Brígida: Aham.
Brigitte: E você acha mesmo que eu sou burra de acreditar que é a fantasma xing-ling que tá aqui, hein? Eu sei que é você, sua venenosa.
Brígida: (Sem dar importância:) Brigitte, eu tô sentada bem aqui na  sua frente, como é que eu poderia fazer passos?
Brigitte: Hm, bom argumento. Deve ser bruxaria, sua feiticeira!
Brígida: (Folheando o livro:) Sabe Brigitte, às vezes você perde a oportunidade de ficar calada.
Brigitte: Mas então se não é você...Então...
Brígida: Então obviamente é a Manuela e a Yasmin desfilando naquela passarela, a própria Vera disse hoje de manhã que ia ensinar elas a usar saltos, então elas devem estar praticando, pronto.
Brigitte: Sei...
Brígida: Agora cala a boca que eu quero ver quem matou a Odete Roitman...
Um som de vidro quebrando adentra o local.
Brigitte: (Sobe na mesa da recepção, histérica:) Pelas calças sujas do Dave Jones! É a Made in China!
Brígida: Em primeiro lugar, o Dave Jones nunca sujou as calças em público, e em segundo lugar...A Mei Mei não é da China, é do Japão!
Brigitte: São tudo do olho puxado, é a mesma laia!
Brígida: Só mesmo uma ignorante como você pra não saber a diferença entre japoneses e chineses, sua pré-histórica!
Brigitte: E como é que você explica esse som de vidro se quebrando hein, Sherlock Brígida?
Brígida: Com certeza a Mara deve tá limpando alguma sala e deixou um copo cair, ela já fez isso cinco vezes só essa semana!
Brigitte: Até podia ser, se a Mara não tivesse saído há horas!
Brígida: Ah, saiu?
Brigitte: Faz tempo.
Brígida: Bom...Sendo assim então...Ah...Ah, que importância tem isso? Não vá me dizer que tu tá com medo da defunta oriental né, Brigitte.
Brigitte: Eu não duvido de nada, já vi copos flutuarem nessa empresa!
Brígida: Você tá falando da taça da dona Johanna? Ela era de metal, sua anta! Ela flutuou por que a luminária do teto tinha imãs, e não por que era amaldiçoada, sua protozoária mal formada!
Brigitte: Calúnia da oposição.
Brígida: Brigitte, sai daí antes que eu te tire à força.
As luzes começam a piscar numa sequência de oito vezes.
Brigitte: Acho que vou desmaiar.
Brígida: Aja saco pra tanto drama!
Brigitte: E como é que você explica isso?
Brígida: Será que eu preciso lembrar pra você que esse prédio foi herança de um tio pra dona Ednna, que essas paredes tem mais de 30 anos? A fiação tá velha, caramba! Os fuzil devem tá tudo queimado, pensa com a cabeça, mulher!
O telefone toca.
Brígida: Será que dá pra tirar esse seu pé magrelo de cima do telefone? Pode ser importante.
Brigitte: (Segurando o telefone:) Não, não!
Brígida: Ave saco, por que não?
Brigitte: Esse é o quarto sinal, é a ligação do inferno, a chamada do coisa ruim!
Brígida: Você tá mais perturbada do que a Carminha quando a Nina começou a se vingar, eu hein. Tira essa coisa feia daí! (Atende o telefone:) Guarda-Chuva Rosa, Brígida falando...Alô? Alô? Afe, esses pivetes com trotes de novo. Vá ligar pra quenga que te pariu! (Desliga o telefone).
Brigitte: Cê discutiu com a assombração?!
Brígida: Que mané assombração, toma tenência mulher, era só um trote! Você não pode ter medo!
De repente, a porta da frente se abre, e um trovão mostra a silhueta de uma figura estranha de saltos altos.
Brígida: Tá bom, agora pode. (Grita:) AAAAAAAAAHHHHH!
Brígida sobe na mesa junto de Brigitte. As duas se abraçam, completamente assustadas. A figura começa a atravessar o saguão e vai em direção às duas.
Brigitte: (Apavorada:) Eu nunca pensei que ia morrer assim!
Brigitte: E eu nunca pensei que ia ter que morrer junto duma cafona como você!
Brigitte: Será que nem no leito de morte você consegue ser gentil, sua cobra?!
Brígida: EU NÃO SOU GENTIL!
Brigitte: EU PERCEBI! AAAAAAH
Brígida: Sabe Brigitte, eu até que gosto desses seus sapatos...
Brigitte: Brígida eu usei tua escova de cabelo pra pentear a Laos.
Brígida: Quem é Laos?!
Brigitte: Minha cadela (Sorri).
Brígida: (Muito brava:) COMO É QUE É?!
Brigitte: Salve-se quem puder!
Brigitte e Brígida pulam para trás e se escondem atrás do balcão. As luzes voltam a ficarem acesas normalmente.
Brígida: Eu olho ou você olha?
Brigitte: As irrelevantes primeiros.
Brígida: Tá, então você vai primeiro.
Juntas, Brigitte e Brígida levantam a cabeça e olham para frente. Quando um trovão faz luz novamente, a figura do “fantasma” é revelada:
Brigitte e Brígida: Cego Durval?!
Cego Durval: Boas noites, senhoritas. Finalmente me ouviram.
Brigitte: Ouviram, como assim?
Brígida: Do que que esse zarolho tá falando? (Pega a luminária:) Fala agora ou te quebro para sempre!
Cego Durval: (Levantando as mãos pra cima:) Calma, calma! Eu só vim pedir um cubinho de açúcar.
Brígida: Cubinho de açúcar?
Cego Durval: Sim, eu chamei vocês tantas vezes, mas vocês não me ouviam! Então eu tentei chamar a atenção de vocês jogando esses meus saltos na parede pra vocês abrirem a porta.
Brigitte: Então não eram sons de passos?
Brígida: Mas e as luzes piscando?
Cego Durval: Bom...(Envergonhado:) É que eu acabei tropeçando nuns fios soltos lá no jardim e acho que isso fez com que as luzes ficassem dando defeito...
Brigitte: Se era você que jogou o salto, e apagou as luzes...Quem quebrou o vidro e ligou pra cá?
Cego Durval: Eu, ora. Não veem que eu só tô com um salto? É que o outro eu mirei pra jogar na parede mas acabou indo na janela. E o telefone fui eu, liguei do orelhão pra vocês me ouvirem, mas ele tava estragado, eu falava, falava, e vocês não ouviam...
Brígida: Durval...Então quer dizer que foi por sua causa que eu me estressei, subi numa mesa de uma forma grotesca e, ainda por cima, abracei a Brigitte?
Cego Durval: Bom, sim...Mas por uma boa causa. (Mostra uma xícara e sorri:) Pro ceguinho tomar cafezinho docinho...
Brígida: Ah, então você quer um cafezinho, né?
Cego Durval: De certo que sim, cairia muito bem...
Brígida: Pois então, Durval, deixa eu te contar uma coisa: Não é só o café que vai cair bem não...
Cego Durval: É mesmo?
Brígida: Claro. (Pega o guarda-chuva rosa:) Você vai também, só com a cara no asfalto, seu cretino!
Cego Durval: (Tira os óculos:) Ih, fedeu. (Sai correndo).
Brigitte: (Surpresa:) Gente, o cego Durval não é cego coisa nenhuma!
Brígida: Se ele não era antes, agora vai ser, por que eu furar as vistas desse farsante com esse guarda-chuva! Durval, volta aqui, seu cegueta do Paraguai!
E assim a cena acaba com Brígida perseguindo Durval pelo Jardim dando-lhe cacetadas com o famigerado guarda-chuva rosa.



Cena 5/Supermercado/Caixa/Interior/Noite

Mostra-se Vera indo de corredor em corredor com um carrinho de compras, pegando produtos para beleza como perfumes, maquiagens e etc. Após pegar tudo o que desejava, Vera se dirige ao caixa. A moça do caixa passa todos os produtos.
Caixa: Dinheiro ou cartão, senhora?
Vera: Cartão, e eu sou senhorita (Dá o cartão).
Caixa: Tanto faz.
A caixa pega o cartão e passa-o na máquina.
Caixa: Ih senhora, temos um problema.
Vera: Ah menina não me torra a paciência, eu tenho compromisso agora, e eu já disse que sou senhorita. O que foi?
Caixa: Seu cartão tá bloqueado.
Vera: (Surpresa:) Como é, bloqueado?
Caixa: Bloqueado, inelegível, sem valor, essas coisas.
Vera: Você deve ter feito alguma coisa errada, evidentemente o cartão de Vera Lúcia de Morais nunca ia tá bloqueado. Passa de novo.
Caixa: (Desinteressada:) Senhora, pra que prestar esse papel tosco na frente de todo mundo? É só pagar com dinheiro e pronto.
Vera: A questão é que...(Olha para o lado. Depois, sussurra para a moça do caixa:) Eu não tenho dinheiro.
Caixa: Ah, não tem é?
Vera: Bem, agora não mas...
Caixa: Só um minuto senhora. (Pega o microfone:) Atenção Claudiomir, temos um 157. Repito, temos uma 157, quer levar sem pagar.
Vera: É o que?
O segurança pega Vera pelo braço e a tira de dentro do mercado.
Vera: (Abismada:) Mas que grosseria, que falta de respeito! Eu sou uma lady, uma dama, uma celebridade, e eu exijo respeito seu, seu...Brutamontes!
Claudiomir: Boa noite, senhora. (Sai).
Vera: Boa noite uma pinóia, uma péssima noite pra você. E eu já disse que sou senhorita! (Bufa:) Só pode ser carma!

(ABERTURA)




















Cena 6/Cena de Transição/Rio de Janeiro/Noite

Cena de transição mostrando as paisagens do Rio durante a noite. Mostra-se Copacabana, o Pão de Açúcar, o Cristo Redentor iluminado por luzes claras e alguns prédios e apartamentos, até chegar à Guarda-Chuva Rosa, mostrando sua frente com a fachada iluminada e a fonte de água ligada. Tudo ao som de:
Trilha Sonora: I Will Follow Him – Little Peggy March





















Cena 7/Guarda-Chuva Rosa/Jardim das Rosas Vermelhas/Exterior/Noite

Yasmin e Joaquim estão namorando sentados no banco ao lado de um ramo de flores.
Yasmin: (Terminando de beija-lo:) Você comeu bala de menta, é sério?
Joaquim: É que a pasta de dente da guarita tava vencida, e dona Johanna não ia repor tão cedo.
Yasmin: (Com cara de nojo:) Ai, que nojo!
Joaquim: Ah para, cê não reclamou durante o beijo todo.
Yasmin: Se eu soubesse nem teria beijado...
Joaquim: Aham, sei.
Joaquim usa mão para segurar o rosto de Yasmin e volta-lo para ele, então os dois se beijam novamente. Durante o beijo, o celular de Joaquim vibra em seu bolso.
Joaquim: (Para de beijar, e tira o celular do bolso:) Sempre tem um inconveniente.
Yasmin: Quem é?
Joaquim: (Revirando os olhos:) Ah, é a Vera.
Yasmin: A sua tia, você quis dizer.
Joaquim: Dá no mesmo.
Yasmin: Cê não vai atender ela?
Joaquim: Quem sabe na próxima. (Desliga).
Joaquim recebe algumas mensagens de texto. Através das notificações, Yasmin pôde ver que era Vera que estava o chamando.
Yasmin: Joaquim, a sua tia tá te mandando mensagem, responde ela, pode ser importante.
Joaquim: Deve ser mais um chilique.
Yasmin: Como é que você vai saber se não for ver? E se tiver acontecido algo?
Joaquim: Mas Min...
Yasmin: (Cruza os braços e torce a sobrancelha:) Hm?
Joaquim: (Bufa:) Ah, tá bom, mas só vou olhar, pra ver se é importante.
Yasmin: Não faz mais que a obrigação.
Joaquim abre o aplicativo e vê as mensagens de Vera. São elas: “Por que você tem celular se não atende, hein?”. “Escuta, o meu cartão tá bloqueado, e o meu dinheiro ainda não foi depositado, será que você pode fazer a gentileza de ajudar a sua tia, Joca?”. “Você sabe que eu não posso ficar sem meus cremes, perfumes. Você sabe muito bem o que acontece quando eu fico sem meu o hidratante”.
Joaquim: (Decepcionado:) Eu sabia, sabia que era isso.
Yasmin: O que?
Joaquim: Beleza, beleza, beleza! É sempre com isso e só com isso que ela se importa, com a droga da beleza! (No impulso, ele pega uma rosa e arranca do canteiro, atirando no chão).
Yasmin: (Serena:) Você não acha que se estressa demais com isso? É só uma rosa, ela não tem culpa de nada.
Joaquim: Eu não fiz por gosto, eu...Eu...(Cai em si, arrependido pelo o que fez. Põe a mão na cabeça:) Me desculpa, por tá descontando em você e na flor, você não tem culpa de nada.
Yasmin: E nem a rosa.
Os dois ficam calados por alguns segundos.
Yasmin: Até quando você vai fingir que ela não existe?
Joaquim: Até o dia que ela ser sincera comigo.
Yasmin: Por causa do que aconteceu com a sua mãe?
Joaquim: Pelo o que não aconteceu com ela, você quis dizer, por que ela não morreu.
Yasmin: Olha Joaquim, eu entendo que você era muito pequeno quando ela sumiu, e que você sente como se ela estivesse viva...Mas, você nunca considerou a possibilidade dela realmente ter...Falecido?
Joaquim: Não fala isso, por favor, eu não quero brigar com você também.
Yasmin: Tá vendo! Você tá deixando essa sua obsessão te afastar dos outros, Joaquim.
Joaquim: Obsessão?!
Yasmin: Sim, obsessão! E não me vem dizer que é incompreensão minha, por que não é, e você sabe disso. Desde que você me contou essa história eu tentei te apoiar, te entender. Mas poxa vida cara, isso tá muito obsessivo. Primeiro que você não tem nenhuma prova de que ela esteja viva, e segundo...Você espera encontra-la só com esse colar? Existem milhares de pessoas nesse mundo, e você vai ir de uma em uma até achar a única pessoa entre outras sete bilhões que tenham o mesmo pingente?
Joaquim: Se for preciso, sim! A minha mãe tá aí, eu sei disso. Eu fui atrás de pistas, de muitas coisas, e entre as coisas que eu descobri foi que um coveiro que fez a cova dela me disse que tinham enterrado uma mulher loira, mas a minha mãe era ruiva!
Yasmin: Mas isso não é prova o suficiente, cara. Ela pode ter pintado o cabelo, sei lá. Você era muito novo pra ter certeza de que a última vez que viu ela...
Joaquim: É a coisa que eu mais lembro: A última vez que vi ela...Eu tava vendo desenho, na sala. Quando eu vi ela e a minha tia discutindo...

{FLASH BACK}

Casa de Vera/Sala/Interior/Noite

Nota: Os flash back são mostrados em preto e branco, um tanto foscos e borrados.
Joaquim está vendo televisão, enquanto Vera e Giovana discutem.
Vera: Até quando você vai se prestar a isso?!
Giovana: (Nervosa:) Você sabe que eu não tenho escolha! Ou é isso, ou ele chega até o Joaquim!
Vera: Como é que você pode ter tanta certeza?
Giovana: Por que eu tenho! Por favor, para de discutir e faz isso por mim!
Vera: Mas isso é uma loucura, uma insanidade!
Giovana: Eu faço qualquer coisa pra salvar o meu filho das garras dessa gente!
Vera: Mas e se der errado?
Giovana: Tudo está previsto e nada será mudado. Eu e a Jasmin vamos resolver isso.
Vera: A sonsa da Jasmin não sabe fazer nada direito, isso é um tiro no escuro!
Giovana: Ela é a minha melhor amiga, ela foi a única que acreditou em mim e se jogou de cabeça pra me ajudar, diferente de você, que mesmo sendo a minha irmã...Não é capaz de fazer nada por mim.
Vera: Giovana...
Giovana: (Segura as mãos de Vera:) Por favor, não faça isso por mim...(Olha para Joaquim:) Faça isso por ele.
Vera reluta por um instante...
Vera: Tem certeza do que você tá fazendo?
Giovana: (Deixando uma lágrima deslizar ao rosto:) O pai dele nunca pode saber que ele está aqui.
Vera: Como ele soube que você estava grávida?
Giovana: Ela contou.
Vera: Almerinda...?
Giovana: Sim...Mas você também pode chama-la pelo nome artístico dela...
Vera: A...(É interrompida).
Vera não consegue revelar o nome da suposta pessoa, pois Joaquim acaba se machucando, fazendo ela e Giovana irem ao seu socorro.

{FIM DO FLASH BACK}


Joaquim: A minha tia ia dizer o nome dessa mulher, mas eu cai, e depois disso não lembro de mais nada.
Yasmin: Será que não foi só um sonho, um pesadelo? Que te marcou muito, e você acabou confundindo com uma coisa que aconteceu de verdade?
Joaquim: (Ri:) Você parece a dona Vera. Ela disse a mesma coisa quando eu comecei a duvidar das historinhas dela...Acha mesmo que eu ia criar tudo isso da cabeça? De onde eu tiraria isso? E essa tal Jasmin, é da cabeça? Min, por favor, acredita em mim, eu não inventei isso, eu...
Yasmin: (Segura as mãos de Joaquim e olha diretamente em seus olhos:) Eu acredito em você. Sério, de verdade. E se você tem mesmo certeza que ela tá viva, eu vou te ajudar a procurar ela. Mas você precisa me prometer só uma coisa.
Joaquim: O que?
Yasmin: (Pega a rosa arrancada, e oferece para Joaquim:) Que você vai ir com calma, parar de se afastar dos outros e que volte a falar com a sua tia.
Joaquim: Mas ela...
Yasmin: Eu sei que você acha que ela mente pra você, mas eu posso apostar que ela só tá escondendo a verdade, se é que está mesmo, é pra te proteger, por que foi isso o que a sua mãe pediu pra ela antes de morrer, pra ela cuidar de você. Então, essa é a minha condição. Aceita?
Joaquim: (Olha para a rosa:) Eu vou tentar.
Yasmin: Ótimo. (Entrega a rosa para Joaquim:) Agora toma vergonha na sua cara e planta ela de novo no canteiro, o caule ainda pode fazer ela produzir raízes e voltar ao normal.
Joaquim: (Dando continência apenas com a mão:) Sim, senhora.
Yasmin e Joaquim dão um selinho. Antes de continuar o beijo, os dois ouvem alguém chamando por Yasmin.
Yasmin: (Se soltando de Joaquim:) Cê ouviu isso?
Joaquim: (Resmungando:) Ai, ai, hoje não é mesmo o nosso dia.
Yasmin: (Forçando a vista:) Quem tá vindo ali?
Joaquim: Deve ser a Brígida batendo no Durval. (Pegando na cintura de Yasmin:) Deixa isso pra lá, tu tá um chuchu com esse batom...
Yasmin: (Se solta novamente de Joaquim:) É sério, olha lá!
Os dois olham para o horizonte e veem alguém atravessando o portão e correndo na direção deles.
Yasmin: (Surpresa e confusa:) Ícaro?!
Joaquim: Quem?
Ícaro: (Correndo até Yasmin:) Mana, mana!
Ícaro pula no colo de Yasmin, dando muitos beijos em suas bochechas.
Yasmin: O que que você tá fazendo aqui?
Ícaro: (Sorri:) Eu fugi de casa.
Yasmin e Joaquim: (Surpresos:) Que?!
Ícaro: (Olhando para Joaquim, desconfiado:) E quem é o moço aí?
A cena acaba com Yasmin e Joaquim se olhando, assustados.





Cena 8/Copacabana Palace/Saguão/Interior/Noite

Eddy está arrumando a gravata-borboleta de Téo, enquanto Kate não chega.
Eddy: (Dando o último laçarote:) Pronto, até parece gente.
Téo: (Estático:) Aham.
Eddy: Tomou banho?
Téo: Aham.
Eddy: Botou perfume?
Téo: Aham.
Eddy: Cê tá nervoso?
Téo: Aham.
Eddy: Acalma o faniquito, a Kate não vai gostar de um banana nervoso. Ah, e você tem que puxar assunto, por que boy sem assunto é um porre...O Eddy vai ficar logo atrás de vocês comendo uma pipoquinha enquanto vocês...Ah, e não esquece do dinheiro!
Téo: (Gritando:) Chega! Será que você pode parar de me azucrinar a cada cinco minutos?! Será possível, eu tô ficando louco!
Eddy: (Olhando pra escada:) An, Téo...
Téo: Fica quieto que eu não acabei ainda!
Enquanto Téo fala, Eddy mantém o olhar na escadaria, com os olhos arregalados.
Téo: Eu aturei o dia todo você me fazendo vestir essas porcarias chiques, que mais parecem armaduras do século 13, de tão apertadas que são!
Eddy: Téo...
Téo: Eu tentei mudar a minha própria personalidade e estilo só pra agradar a Kate, mas quer saber de uma coisa, Eddy?! EU NÃO QUERO AGRADAR A KATE ASSIM! Eu quero que ela goste de mim pelo o que eu sou, e não por esse pinguim ambulante de bigode, que é o que eu tô parecendo! (Começa a tirar o terno e gravata-borboleta:) Eu detesto esse pedaço de pano tosco, e essa gravata de secretário de repartição, e esse perfume de rico que não tem cheiro de coisa nenhuma!
Eddy: É que...
Téo: É que eu tô maluco! Isso não sou eu, eu não me visto assim, e não vou me vestir assim só pra agradar alguém. A Kate é a mulher mais bonita que eu já vi na minha vida, e eu quero muito conhecer ela de verdade, mas eu não vou fingir ser quem eu não sou. Eu sou Téo, o garçom do Copacabana Palace, recebo pouco e moro no hotel, esse sou eu! E se ela quer um namoradinho almofadinha e que se acha o tal, ela achou o cara errado!
Eddy: A...
Téo: A o que?!
Eddy: A Kate tá bem atrás de você.
Téo: E daí que a Kate tá bem atrás de mim...Pera, que?!
Katherine: Oi, Téo.
Téo: Ai minha mãe, tô perdido.
Katherine: Sabe...Você tá certo.
Téo: Tô?
Katherine: Tava. Você não é um riquinho almofadinha que se acha o tal, nem é estúpido e de nariz empinado. Não é elegante, nem fino, muito menos culto.
Téo: (Cabisbaixo:) E eu até sei o que isso significa...
Katherine: Significa que...(Estende o braço:) É exatamente isso que eu queria que você fosse: Você mesmo.
Téo: O que?
Katherine: Eu sempre fui paparicada por pessoas fúteis, que não gostavam de mim, mas do meu dinheiro. Eu tô cansada disso. Eu sou um ser humano, eu preciso ficar perto de pessoas que sejam sinceras comigo, verdadeiras, que não ponham um rótulo em si mesmas pra me “conquistar”, por que eu não sou um prêmio a ser disputado. Sinceramente, eu pensei que você fosse mais um deles, até queria desistir de sair...Mas depois que você fez isso, e tirou essas...Essas roupas...Eu vi que você não é mais um babaca que nem os outros. (Sorri).
Eddy fica de boca aberta.
Téo: (Gaguejando:) Então...Você aceita sair comigo, Kate?
Katherine: Eu adoraria, Téo.
Téo: Então...Vamos?
Katherine: Let it go. (Sorri).
Assim, Kate e Téo dão os braços um para o outro e vão em direção a porta. Eddy está com um lenço no rosto, limpando as lágrimas e assoando o nariz. Quando ele larga o lenço, descobre-se que na verdade não era um lenço mas sim um guardanapo, que uma senhora usa para limpar a boca depois de ter jantado.
Quando os três saem, a câmera foca no alto da escada, onde Donna os observava atrás de uma planta, com um olhar furioso e suspeito.















Cena 9/Pensão Dona Nicoleta/Sala do Café/Interior/Noite

Mara desce do ônibus e vai indo pela calçada até as proximidades da Pensão.
Mara: (Apressada:) Oxente, eu preciso avisar Yasmin que o irmão dela fugiu de casa. Essa droga de celular fica sem bateria justo nessas hora de aperto...
Mara chega até o portão da Pensão. Ela abre o portão e vai até a porta da frente, pegando a chave no bolso e a abrindo, entrando em casa, sempre apressada. Mara acende a luz. E quando ela acende, flagra Nicoleta e Bino se agarrando nos beijos loucamente. Nicoleta está vestida de tigresa e Bino de Zorro.
Mara: (De boca aberta:) Pela madrugada...
Nicoleta e Bino param de se beijar, assustados. Quando percebe que Mara os pegou, Nicoleta começa a dar bofetes em Bino.
Nicoleta: Socorro, socorro! Estou sendo atacada por essa abusador barato, socorro!
Bino: É o que mulher?!
Nicoleta: Mara, me ajuda, esse tarado pelancudo tá me agarrando à força!
Mara: À força, jura? Pois parece que a senhora tava bem à vontade hein, dona Nick.
Nicoleta: Não seja besta menina, eu sou uma senhora de classe, jamais dividiria meu precioso DNA com esse bode véio safado! Safado! (Dá um tabefe em Bino).
Bino: (Com a mão na cara:) Ai Leta...
Nicoleta: Leta coisa nenhuma! Ponha-se daqui pra fora, seu sem vergonha!
Bino: Mas é uma duas caras mesmo. Admite que você gosta!
Nicoleta: Você é um cretino, filho duma égua, filhote de cruz credo!
Bino: E você é uma véia tarada, caidinha por esse bode véio aqui!
Nicoleta: Diabo de encruzilhada! Agente do mal, enganador barato!
Bino: Mulher mentirosa, rameira, quenga de esquina!
Nicoleta: Sua formiga atômica dos infernos, eu vou quebrar todos os seus dentes!
Bino: Ah é, então toma isso! (Pega Nicoleta e a beija selvagemente).
Nicoleta torce o mamilo esquerdo de Bino, fazendo-o gritar de dor.
Bino: (Assustado:) Sua marafona grosseira, cê torceu minha teta!
Nicoleta: E dê graças a Deus que eu não torci outras coisas!
Mara: E essas fantasias aí, dona Nick?
Nicoleta: Fantasia? Eu...É pro carnaval, pro carnaval...
Mara: Mas o carnaval é só ano que vem.
Nicoleta: Carnaval? Quem disse carnaval? Eu quis dizer Halloween!
Mara: Halloween em setembro?
Nicoleta: Ãn...
Mara: Eu vou deixar vocês sozinhos, pra não interromper essa...Confraternização gloriosa, hehehe...Tchau, tchau.
Nicoleta: Mara minha filha, pelo amor de Deus, você não acha que eu beijei esse búfalo asiático por que eu quis né?! Eu sou moça pura!
Mara: Eu não acho nada dona Nicoleta. A senhora fique tranquila, viu? Eu não vou contar pra ninguém desses seus...Fetiches selvagens...Até loguinho. (Sai).
Nicoleta: Mara, espere! Eu posso explicar, foi tudo um grande engano. Mara!
Bino: Bom, já que ela foi...Onde paramos?
Nicoleta: Paramos com você dando o fora da minha pensão, rua daqui seu infeliz, rua!
Bino: Mas Leta!
Nicoleta: Leta coisa nenhuma, ninguém mandou não ser discreto!
Bino: Mas a ideia foi sua!
Nicoleta: Cala a boca, fora daqui!
Bino: Ora, sua cafetina sem sal, eu nunca mais que boto os pés nessa pensão de araque!
Nicoleta: Tô pouco me lixando!
Bino: Tchau! (Sai).
Nicoleta: Tchau!
Passasse alguns segundos...
Nicoleta: Bino...Ei, Bino! Bininho, Binão! Rei, coração! Volta aqui, eu falei sem pensar...
Trilha Sonora: Estúpido Cupido – Celly Campelo


















Cena 10/Parque de Diversões/Interior/Noite

Téo, Kate e Eddy chegam ao parque de diversões da cidade.
Téo: Então...Chegamos.
Katherine: Sim, of course.
Eddy: Ai que maravilha! Agora o Eddy vai ficar juntinho de vocês, não vai desgrudar, vai ficar pertinho dos melhores amigos do mundo! Hehehe...
Téo: Ah...Eddy, você não tá afim de ir pra algum brinquedo, jogar um joguinho, comprar uns bonecos de pelúcia...
Eddy: Tá expulsando o Eddy daqui?
Téo: Nãããããooo, longe de mim...
Katherine: My dear Eddy...Você iria se divertir aí por mim?
Eddy: No, american gringa...
Katherine: (Puxa algo de sua bolsa:) E nem por um biscoito Scooby?
Eddy: E o Eddy lá é cacho...Opa...Talvez...Mas é muito pouco, quero não...
Katherine: Afe, e que tal dois biscoitos Scooby?
Eddy: (De braços cruzados:) O Eddy é irredutível.
Katherine: (Com cara de impaciência:) E que tal um caixa inteira de biscoitos Scooby?
Eddy: Uma caixa inteira?! (Pega a caixa na bolsa de Kate e sai saltitando:) O Eddy tem biscoitos Scooby, o Eddy tem biscoitos Scooby! (Sai).
Téo: Ah, ainda bem que ele foi...Digo, eu sei que ele é seu amigo mas...
Katherine: Eu sei, ele é inconveniente às vezes.
Téo: Às vezes...?
Katherine: Enfim, vamos?
Téo: Vamos? Ah sim, vamos!
Téo e Kate saem lado a lado pelo parque. Primeiramente eles passam por uma barraca de tiro ao alvo, onde Téo atira vinte vezes em um pato, sem acertar uma única vez. Ao pegar a arma de brinquedo, apenas com um tiro Katherine já derruba o pato e o dá para Téo, que fica levemente envergonhado. Depois eles vão ao barco viking, onde Kate finge estar assustada e encosta a cabeça em Téo, que congela. Na Xícara Maluca, Téo fica enjoado, e Kate fica o esperando ao lado de um arbusto, enquanto ele vomita. Ao dois vão em diversos brinquedos, e riem e se divertem bastante. Téo está tentando a todo o custo pegar um bichinho de pelúcia para Kate, e para isso ele tenta acertar algumas latas de prêmios com bolinhas, porém não está acertando nenhuma. Do outro lado do parque, Eddy está testando sua força em um aparelho medido por uma bola de metal. Quando Eddy soca a superfície do brinquedo, tamanha foi a sua força, que fez a bola de metal se desprender e voar parque à dentro, caindo na barraca de prêmios e acertando uma das latas. Achando que foi Téo que acertou, o vendedor dá um urso marrom para ele, que o dá para Kate. Por fim, Téo e Kate vão à Roda Gigante, onde ficam juntos na cabine mais alta.
Téo: (Nervoso:) Ai minha mãe...
Katherine: O que foi? Não me diz que você tá com medo...
Téo: Eu, medo? Nunca em minha vida...Eu só...Ai...
Katherine: Calma (Segura a mão de Téo:), não precisa ter medo.
Kate encosta a cabeça no ombro de Téo, e ele passa o braço por trás dela, fazendo um carinho nela. A cena acaba com os dois na última cabine, à luz das estrelas, enquanto Eddy corre atrás de um peixinho que ganhou num jogo e que saiu do aquário indo saltitando até o mar.





Cena 11/Cortiço/Casa de Claudine/Interior/Noite

Claudine termina de lavar a louça e Roberval continua a dormir. Ela vai até o quarto de Ícaro para lhe dar boa noite.
Claudine: (Abrindo a porta do quarto:) Filho, por que você não foi me dar boa noite, você sempre dá...
Claudine tira o cobertor de cima da cama, e vê que há somente um amontoado de travesseiros e roupas.
Claudine: Ícaro? O que?
Nervosa, ela procura por toda casa algum sinal de Ícaro. A cena acaba com ela pondo as duas mãos na cabeça, muito perturbada e nervosa.

















Cena 12/Copacabana Palace/Corredor do Quarto de Donna/Interior/Dia

Téo e Kate param no corredor em frente à porta de Donna.
Téo: E o Eddy?
Katherine: Ah, ele sempre fica até tarde no saguão olhando desenhos, só assim que ele dorme (Ri).
Téo: (Sorri:) Claro. Bom, eu te vejo amanhã?
Katherine: Não sei se eu vou querer te ver...
Téo: (Desesperado:) Que?!
Katherine: Calma, eu só tô brincando, boy (Ri).
Téo: Ah, tá bom.
Os dois ficam quietos por um tempo.
Téo: Bom, eu vou indo.
Katherine: (Um pouco decepcionada por ele não tê-la beijado:) Ah, está certo então, bye bye.
Téo para de andar um pouco. Ele volta para trás e vai até Kate. Ele pega na sua cintura e a beija, ela corresponde o beijo. Depois de se beijarem, Téo olha meio tonto para Kate, como se tivesse realizado um sonho.
Téo: Bom...Tchau, tchau. (Sai).
Katherine: (Um pouco zonza:) Bye.
Com um sorriso no rosto, Kate entra no quarto. Ao fechar a porta, a luz se acende. Assustada, ela vira para trás e vê Donna, que levanta da cadeira e vem caminhando em sua direção.
Donna: Good night, miss McLamar, como foi sua noite? Acho que a gente tem muito o que conversar, não acha?
A cena congela com um guarda-chuva rosa parando ao lado de Kate, com uma expressão apreensiva.
Trilha Sonora: Cheap Thrills – Sia
GANCHO

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