O Guarda-Chuva Rosa- Capítulo 08

sexta-feira, abril 12, 2019


O Guarda-Chuva Rosa
Cap 8

Cena 1/Guarda-Chuva Rosa/Recepção/Interior/Manhã

É manhã na Guarda-Chuva Rosa. Mostra-se Yasmin levantando e indo até o banheiro, tomando café e se vestindo. Ela desce pela escada até a recepção onde Brígida está pondo uma pizza de ontem no forno.
Yasmin: (Entra se espreguiçando:) Ah, que preguiça..
Brígida: Essa juventude de hoje em dia...
Yasmin: E então, Bibi, como vão as ações?
Brígida: E eu lá tenho cara de acionista?
Yasmin: Nossa, que mal humor.
Brígida: Ah, não me amola, garota. Tô cheia de assunto do desfile pra resolver.
Yasmin: (Animada:) O desfile?!
Brígida: Tá surda, menina?
Yasmin: Nossa, era justamente disso que eu queria falar.
Brígida: Virei enciclopédia ambulante agora também...
Yasmin: Me diz como é! As pessoas, as músicas, os vestidos...
Brígida: As pessoas são um bando de perua recatada de nariz empinado te olhando de cima a baixo como se tu fosse manequim, as músicas são uns pops pregas que mais parecem sinfonia de enterro, e os vestidos, bem, isso você tem que ver com a dona Ednna, ela que monta os modelos de vocês duas.
Yasmin: Pensei que ela não fazia mais vestidos...
Brígida: E não faz, é tudo emprestado da dona Gigi.
Yasmin: A promotora do evento! Gioconda Vanouse, certo?
Brígida: (Sem dar importância:) Uhu, certa resposta.
Yasmin: Isso é tão legal! Mas ao mesmo tempo é tão triste...
Brígida: As minhas reações?
Yasmin: O que? Não...Na verdade também, mas, eu to falando da dona Ednna.
Brígida: Ah você se acostuma. Depois do rolo todo que deu, ela nunca mais fez nenhum vestido.
Yasmin: Rolo? Que rolo?
Brígida: Ah, é claro, você não sabe. A dona Ednna era apaixonada por um tal de Alfredo Prata, dono das indústrias Prata, uma rede de cosméticos. Ela se apaixonou por ele, e os dois viviam felizes mas...A dona Johanna também se apaixonou. Como era de se esperar, as duas brigaram por ele dia e noite, se descanso. No final das contas, ele deu no pé, e as duas ficaram sem marido. Depois disso é a mesma história de sempre: Johanna criou a Top Model, dona Ednna herdou a Tecelagem, atual Guarda-Chuva Rosa, e nunca mais se falaram. Bem, pelo menos até você chegar.
Yasmin: Eu?
Brígida: A modéstia não combina com você não, querida. É óbvio! Foi você que uniu as duas de novo!
Yasmin: Mas elas já estavam juntas no cortiço antes de eu “uni-las”, como você disse.
Brígida: Aquilo foi só um acaso. Garanto que se você não tivesse aparecido isso aqui tudo nunca teria acontecido. Estamos bem financeiramente, conseguimos pagar todas as despesas do prédio. Sabe que, se você não tivesse juntados essas duas loucas aí, Johanna não teria onde morar, afinal a Top Model foi pelos ares, não tem concerto, uma única modificação e aquele monte de concreto vai ao chão, que nem MC de funk. Além do mais, graças a você eu e a cabelo espanado da Brigitte temos salário, coisa que as duas não nos pagavam há pelo menos quinze meses...Até mesmo aquela faxineira e o guardinha atrapalhado arrumaram emprego por sua causa...
Yasmin: (Avoada:) Joaquim...
Brígida: (Debochando:) Ai Joaquim...
Yasmin: O que?
Brígida: Quanto interesse no guarda hein, modelo.
Yasmin: Ah, não diga besteiras.
Brígida: Besteira nada, meu amor, eu conheço o furor de um coração apaixonado.
Yasmin: Pois eu acho melhor você guardar as suas conclusões pra você mesma, Bibi.
Brígida: (Cantando:) Coração apaixonado...
Yasmin: Ah, me poupe. (Começa a ir até a porta).
Brígida: Calma, monamour, onde vai?
Yasmin: Ver a dona Ednna. Ah, e Brígida, não esquece da sua pizza no forninho.
Brígida: Que mané pizza no forni...Espera. (Desesperada:) A pizza no forninho!
Brígida corre até o forno e, na pressa de tirar a pizza, acaba queimando os dedo e deixando ela cair no chão.
Brígida: Desgraça! Isso aqui mais parece carvão do que comida. É o ó!




Cena 2/Guarda-Chuva Rosa/Ateliê/Interior/Manhã

Ednna está, escondida de todos, montando um novo modelo de vestido.
Ednna: (Com uma trena, ela mede algumas marcações:) Dois centímetros ou quatro? Acho que o babado poderia ser mais curto...Onde é que ta aquele catálogo sueco de noventa e nove... ?
Yasmin chega sem que Ednna percebe, e a observa encantada.
Ednna: Era mais fácil quando eu tinha mais doze tecelãs aqui...Ah, acho que se eu adicionar uns brilhantes na área do busto e mangas talvez dê um toc a mais...
Yasmin: (Entra na sala:) Jura? Eu acho que ta lindo desse jeito.
Assustada, Ednna pega a roupa e a esconde atrás de si.
Ednna: (Gaguejando:) O-o-o-que você ta fazendo aqui? Mas que audácia é essa, vo-vo-cê não pode entrar no recinto de uma dama sem que, ah, que desastre!
Yasmin: (Serena:) Calma, fica calma.
Ednna: Calma? Como eu posso ter calma?! Olha só isso aqui não é nada do que você ta pensando não...Eu apenas estou, eu estou...Eu só estava...
Yasmin: Fazendo o que você mais gosta: Criar!
Ednna: Escute aqui, eu...Eu...
Yasmin levanta uma das sobrancelhas.
Ednna: (Larga o vestido:) Ah, a quem estou enganando? Que embaraçoso...
Yasmin: Então quer dizer que Ednna Caffona, a Dama dos Bibelôs não se aposentou de verdade, hein?
Ednna: Ah, não seja tola, menina. Ninguém se aposenta! Aposentadoria é apenas uma denominação que o estado dá pra provar que você não tem mais capacidade de fazer o que fez por trinta, quarenta anos. Quem faz o que gosta, nunca se aposenta.
Yasmin: Mas a Brígida me disse a pouco que você tinha largado isso há tanto tempo...
Ednna: Brígida não sabe de nada. Ninguém sabe. Mas é melhor, ninguém precisa saber dessas, dessas coisas...
Yasmin: (Senta:) Dona Ednna, por que você paga pra Gigi emprestar vestidos para nós se você mesma pode fazê-los?
Ednna: Sabe, garota, existe uma coisa chamada confiança própria. É quando alguém se sente bem e confiante no que está fazendo.
Yasmin: E a senhora não se sente bem com isso?
Ednna: (Com entusiasmo:) É claro que eu gosto! Menina, eu faço isso desde pequena. Quando eu era pequena, ia até o milharal da minha avó e fazia vestido para as minhas bonecas com as folhas do sabugo. (Sorrindo:) Até uma meia virava um artigo de luxo na minha mão.
Yasmin: (Sorri:) Eu imagino.
Ednna: Ah, você nem pode imaginar! Sabe Fernanda Montenegro? Regina Duarte? Glória Menezes? Todas vestiram os modelos de Ednna Caffona! Quem compôs os vestidos da Viúva Porcina fui eu! Não tinha uma única atriz nesse país que não me procurasse pra fazer um modelo único e próprio! E não eram só as pessoas das artes cênicas que vinham até mim não, Yasmin. De quem você acha que eram as roupas que a Hebe Camargo vestia?
Yasmin: (Admirada:) Ah não! Não me diga que...
Ednna: Meus, eram meus! Eu perdi as contas de quantas vezes eu fiz um modelito pra Patrícia Pillar quando ela dava uns beijos no Fagundes naquela novela dos bois, pra Maitê Proença quando ela fazia a vigésima Helena em uma novela...Até montei a roupa que a Fernanda Montenegro usou quando foi pro Oscar...
Yasmin: Que coisa incrível...A senhora vestiu tanta gente...
Ednna: É, mas o meu auge nessa época não era nada quando eu conheci a Johanna. Por que quando nós duas entramos no ramo da moda, nos desfiles...A nossa carreira subiu de uma maneira tão fenomenal que eu nem consigo explicar...
Yasmin: E por que deixou isso?
Ednna: (Suspirando:) É como diz o ditado: Nada é para sempre. Um dia esse sucesso todo ia acabar, e acabou, até mais rápido do que eu imaginava...E agora, depois da fama, vem a temida decadência. Antes eu, que montava artigos de estampa num escritório milionário no centro...Agora fico parada costurando uns pedaços de pano velho na antiga sala tecelãs...
Yasmin: O que? (Levanta e pega o vestido:) Você ta chamando isso aqui de pano velho?!
Ednna: Isso aí é um trapo comparado com o que eu fazia quando tinha...
Yasmin: Confiança. Mas quer saber de uma coisa, dona Ednna? Com ou sem confiança a senhora conseguiu transformar um “pedaço de pano velho” numa das coisas mais bonitas que eu já vi. E olha que nem ta pronto.
Ednna: Olha, eu sei que você ta tentando me animar e tal, mas confiança perdida é uma coisa impossível de se recuperar.
Yasmin: Sabe, uma vez o meu padrasto me disse que eu nunca ia conseguir ser uma modelo. Ele dizia que eu era magrela, feia, sem compostura e delicadeza. E o pior de tudo foi que eu acreditei nele, nesse instante eu perdi a minha confiança. O que eu sonhei pela vida toda evaporou aos poucos de mim. Mas a culpa não foi dele, foi minha, por que eu me deixei levar pelo o que ele me dizia. Eu nunca tive coragem de enfrentar os meus problemas por que eu nunca achei que tinha força o suficiente pra fazer isso. Mas tudo isso mudou no momento em que vi a senhora e a dona Johanna entrando pela porta do cortiço. É como se...Um feixe de luz tivesse entrado em cheio dentro do meu peito...Eu senti uma coisa tão estranha, mas ao mesmo tempo tão boa. E quando eu finalmente consegui unir vocês duas aqui, quando eu consegui que duas inimigas de anos unissem as suas forças pra poder dar a volta por cima, quando eu vi que vocês passaram por cima do orgulho e da mágoa, eu entendi que eu também podia recuperar a minha confiança, e eu recuperei. Eu me esforço a cada dia para melhorar, seja na academia ou nas aulas com a dona Vera. Eu e a Manu damos força uma para a outra, por que a gente confia no potencial uma da outra. E, se eu consegui isso, eu acho...Aliás, eu tenho certeza, que a senhora consegue também. Eu gostaria de conversar mais mas... (Larga o vestido no manequim:), tenho umas coisas pra fazer agora. Foi bom ter falado com a senhora.
Antes de sair, Yasmin olha para Ednna.
Yasmin: E, quer saber de uma coisa, dona Ednna? Eu confio na senhora. (Sai).
Ednna fica confusa por uns segundos. Após isso, ela põe seus óculos, pega a fita e fala:
Ednna: Acho que ainda falta apertar a área da cintura...(Sorri).



Cena 3/Cortiço/Casa de Claudine/Interior/Manhã

Claudine está arrumando a mochila para Ícaro ir à escola, Roberval está deitado no sofá.
Claudine: Caderno de geografia, história, português e matemática. Você fez o tema, filho?
Ícaro: Claro né, mãe, com você me lembrando toda hora eu não me esqueço nunca.
Claudine: (Beija a testa do filho:) Bonitinho.
Ícaro: Rob, pode me alcançar o copo de leite?
Roberval: Você tem dois braços e duas pernas, pode muito bem pegar essa droga sozinho. E eu já disse que não quero que você me chame de Rob,moleque.
Ícaro: (Envergonhado:) Desculpa...
Claudine: Bem que você podia tentar ser um pouquinho mais gentil com ele, não é, Roberval? É só uma criança.
Roberval: Então eu vou te falar uma coisa, Claudine, quem manda aqui sou eu. Não sou empregado de ninguém, quem tem que servir aqui é você. E mais, mulher minha não me contradiz e nem exige nada, entendeu?
Claudine: (De cabeça baixa:) Sim, desculpe.
Roberval: Desculpa não resolve nada. E onde é que você tava ontem que chegou de noite?
Claudine: Eu fui atrás da Yasmin. A dona Raimunda me disse que agora era trabalha com a...
Roberval: Pouco me importa com quem aquela pirralha trabalha, eu já não tinha dito que não queria você fora de casa, muito menos pra procurar vagabunda?
Claudine: Agora você já ta exagerando, Roberval! A Yasmin é minha filha, e eu não vou deixar que você...
Roberval: Como é que é? Você ta me respondendo, me desafiando? (Levanta e pega o braço de Claudine com força:) Hein, Claudine, cê ta me desafiando?
Claudine: (Assustada:) Roberval, pro favor, não na frente do menino!
Roberval: É bom pra que ele aprenda como é que a gente controla o lixo que desobedece.
Ícaro: Larga a minha mãe!
Roberval: (Debochando:) Ah, o pequeno quer bancar o herói da mamãe? Oh...Que bonito.
Claudine: (Se põe na frente de Ícaro:) Ele não quis dizer nada. Me desculpe ter saído, eu juro que não faço mais. Mas por favor, deixa ele.
Roberval: (Fica em silêncio e depois ri:) Você é ridícula, Claudine. (Vai em direção à porta).
Claudine: Onde é que você vai? O café vai esfriar!
Roberval: Não é da sua conta. E mais: Não tenho hora pra voltar. E esse café ta uma droga, igual a quem fez ele. (Sai).
Ícaro: (Triste:) Mãe...
Claudine: Vai filho, a van já ta te esperando.
Ícaro sai. Claudine pega sua bolsa.
Claudine: Desculpa, Roberval, mas não vou conseguir cumprir a minha promessa. (Sai atrás de Yasmin).



Cena 4/Copacabana Palace/Quarto de Donna/Interior/Manhã

Katherine e Eddy estão jogando xadrez.
Katherine: Ta, agora você pega o cavalo e pode usar ele pra capturar o peão.
Eddy: (Com a mão apoiada no queixo:) Hm, Eddy não pode.
Katherine: Não pode? Como não pode?
Eddy: Kate é burra!
Katherine: Burra, eu?!
Eddy: Sim. Mamãe disse pro Eddy que os cavalos são animais irracionais, por tanto, cavalos não podem pegar peões...
Katherine: (Deboche:) Ah, não diga. Eu acho que não são só os animais que são irracionais...
Donna entra.
Donna: Atenção, patifes, vão se preparando, hoje temos coisas pra fazer. (Pisa em uma peça de lego e grita:) Ai! Com mil sardinhas, o que é isso?! Quem foi a anta patológica que botou esse instrumento mortífero aqui?!
Katherine: Adivinha.
Donna: (Com raiva:) Eddy!
Eddy: Ah...Eddy tava tão entediado de ficar aqui, que decidiu fazer um castelinho...
Katherine: E por que você não foi fazer castelos na areia? A praia fica do outro lado da rua.
Eddy: Não, não, mamãe disse que o Eddy não pode ir pra praia sozinho, nem andar na rua sem ta de mão dada...
Donna: Pois vá fazer castelos no inferno! Ah, que ódio!
Katherine: Tenha calma, Lady Cabonna, a gente se acostuma.
Donna: Acostuma?! Eu não consigo me acostumar nem com você que já é uma mosca morta, imagina esse brutamontes fã de unicórnios...
Katherine: Mosca morta, eu?
Donna: Ah, deixe pra lá. Enfim, arrumem-se a partir das sete. Hoje vamos a um evento com Gioconda Vanouse.
Katherine: Gioconda Vanouse?! A renomada empresária e a promotora do...
Donna: Do desfile que você vai ganhar? Sim, ela mesmo. Convidou a nós e as duas decadentes da Ednna e Johanna.
Katherine: Oh, mal posso esperar!
Eddy: Vai ter docinho?
Donna: Sabe, Eddy, não vai ter docinho, mas vai ter outra coisa.
Eddy: (Com os olhos arregalados:) A é, o que?!
Donna: Chá.
Eddy: Chá?
Donna: Sim, mas não é qualquer chá mocho não, esse é especial.
Eddy: Ele vem com um bonequinho pro Eddy brincar?!
Donna: Oh, não. Melhor. Sabe qual é o nome dele?
Eddy: “Chá-Chá Maravilha” ?
Donna: Chá de Sumiço, pra ver se você desaparece de uma vez da minha frente! (Pega um dos blocos de lego e joga em Eddy, que sai correndo pro quarto). (Bufa:) Ah! Sujeito impossível.
Katherine: Como eu disse, a gente se acostuma. Mas me diga, lady Cabonna, em que evento vamos?
Donna: Show da Bruna Viola.
Katherine: What? Bruna Viola?
Donna: Um bom sertanejão pra esquentar o coração. Olha, até rimou.
Katherine: Ah, sorry, lady Cabonna, mas eu não sabia que a senhora gostava deste...Estilo de música.
Donna: E não gosto, detesto, odeio, repudio com todas as minhas forças. Se tem uma coisa que eu odeio é samba, mas tem uma única coisa que supera o meu ódio: Sertanejo.
Katherine: Não entendo...
Donna: Ah, que novidade, Kate. Não ta na cara? Nós vamos lá pra que vocês duas se conheçam melhor, e pra ganharmos uns pontinhos no desfile, quem sabe eu não compro aquela ruiva cinquentona...E claro, pra ver Ednna e Johanna tendo que ficar juntas num mesmo lugar por longas horas ouvindo a odiosa música country brasileira. Tem atividade melhor?
Katherine: Certamente não.
Donna: Então não se esqueça de ser elegante e comporte-se, de vergonha já basta a aberração de calças justas que a gente tem aqui dentro. (Enquanto sai, acaba pisando em outra peça de lego e batendo o dedinho na quina do móvel, enquanto grita:) Eddy!
Eddy: Vish, fedeu pro Eddy.




Cena 5/Guarda-Chuva Rosa/Recepção/Interior/Tarde

Todos os empregados, Johanna e Ednna estão reunidos na recepção. Começa a chover.
Johanna: Muito bem, meus queridos, hoje é um dia especial. Gioconda Vanouse nos convidou para irmos à um show a noite, para conhecer as nossas representantes. Por isso, Yasmin, Manu, vocês devem vir conosco.
Manuela: Mas já?
Johanna: A gente vai a pé meu bem, e daqui até o palco é uma hora a passo lento.
Ednna: Brigitte, você também vem conosco.
Brígida: Pera, o que? E eu?
Ednna: Desculpe, Bibi, mas eu e Johanna conversamos e achamos melhor levar apenas uma de vocês.
Brígida: E por que a magricela loura foi escolhida e eu não?
Brigitte: (Dá um “beijinho no ombro”).
Johanna: Muito bem, vamos indo.
Joaquim entra às pressas atrás de Claudine.
Ednna: Mas que invasão é essa?
Joaquim: Dona Johanna, dona Ednna, me desculpem, mas essa mulher quer falar com a Yasmin.
Johanna: Pode-se saber quem é a senhora e como tem coragem de invadir uma propriedade privada sem antes pedir as autorizações devidas?
Yasmin: Minha mãe.
Ednna: O que?
Yasmin: Ela é minha mãe.
Johanna: Oh, essa é nova...
Claudine: (Séria:) Yasmin, como você teve coragem de ir embora sem me dizer pra onde ia, e ficar tanto tempo sem dar notícia?
Yasmin: Mãe, eu acho melhor a gente falar em outro lugar.
Claudine: Você tem idéia do quanto eu sofri, do quanto o seu irmão sofreu por essa sua negligência?
Yasmin: Mãe, esse não é o lugar, e nem a hora pra gente discutir isso.
Claudine: Você é uma ingrata! Eu sempre fiz tudo por você. Te dei as melhores roupas, os melhores calçados, nunca te faltou comida nem nada, e é assim que você me agradece, fugindo só por uma briguinha com o seu padrasto?
Manuela: Tia Claudine, eu to de prova que a Min nunca quis...
Claudine: Cala a boca, Manuela, que eu não pedi sua opinião.
Yasmin: (Lacrimejando:) Sempre ele, não é?
Claudine: O que, Yasmin?
Yasmin: É sempre por ele que você faz isso, pelo Roberval.
Claudine: Você sabe muito bem que eu só to tentando reerguer a nossa família!
Yasmin: Nossa família? A nossa família deixou de existir desde o momento em que aquele homem botou os pés na nossa casa! Você tem idéia do quanto ele fez eu e o Ícaro sofrer com aquele machismo, aquela grosseria, estupidez...
Claudine: Ele teria sido mais gentil se você não fosse tão, tão...
Yasmin: Tão o que, mãe?
Claudine: (Faz uma pausa e continua:) Tão má agradecida.
Yasmin: Mal agradecida, pelo o que? Ele nunca nos ajudou em nada, nunca te ajudou em nada!
Claudine: Ele ta procurando emprego, ta tentando. Ele é decente e trabalhador, diferente de você que viveu a vida toda às minhas custas!
Yasmin: Suas custas?!
Claudine: Minhas custas!
Yasmin: (Ela chora, tem dificuldade pra falar e está nervosa:) Você, você...Você se transforma quando fala dele, não parece a minha mãe. Ele sempre viveu dependente de você. Mãe, ele nunca botou uma caixa de leite na mesa. Eu estudava e vendia os brigadeiros pra te ajudar, pra não deixar o meu irmãozinho passar fome!
Claudine: Passado, passado, que importa o passado?!
Johanna: (Séria:) Olha, eu não quero me meter nisso, mas eu devo dizer que a sua filha é a funcionária mais competente que eu tenho. Se não fosse ela, nenhum de nós estaríamos aqui. E eu acho extremamente deselegante a senhora vir insultá-la no próprio serviço na frente dos colegas como se ela fosse um cão sarnento.
Claudine: E o que a senhora sabe sobre criar um filho? Já teve filhos? Ah, claro que não! A senhora não sabe o quão difícil é lidar com a adolescência dessa garota!
Yasmin: Garota? Eu sou sua filha!
Claudine: E é por você ser minha filha que eu estou aqui, pra te corrigir, pra te mostrar que está errada!
Mara: (Cochichando para Joaquim:) Coitada da Yasmin...
Joaquim fica nervoso, querendo fazer algo por Yasmin.
Yasmin: Então foi pra isso que você veio aqui, pra me humilhar na frente de todo mundo?
Claudine: Além disso. Eu vim te pegar pra levar de volta pra casa.
Yasmin: O que?!
Claudine: Eu não vou deixar que você fique nem mais um instante perto dessa gente moderna e seus pensamentos revolucionários e feministas. Vamos, Yasmin (Pega Yasmin pelo braço).
Yasmin: (Tira a mão de Claudine de seu braço com um pouco de força:) Eu não vou ir a lugar nenhum!
Claudine: Yasmin, não me faça descer do salto com você na frente dessas pessoas!
Yasmin: Essas pessoas, a quem a senhora tanto critica, são a minha família. A minha verdadeira família. Uma família que não me julga pela roupa que eu visto, pelo meu jeito, pela minha maneira de pensar. Uma família que não me reprime, que não me obriga a aturar um homem repugnante e estúpido só por que tem medo de apanhar dele!
Claudine: (Brava:) Yasmin, você já ta passando dos limites, mocinha!
Yasmin: Ué, onde foi parar a sua coragem agora, hein?! Eu peguei no seu ponto fraco é? Então olhem aqui! (Yasmin arregaça a manga de Claudine, mostrando seu pulso todo roxo:) Olhem isso aqui!
Vera: (Perplexa:) Meu Deus do céu!
Todos ficam horrorizados.
Claudine: Me larga, menina!
Yasmin: Vocês tão vendo isso? Isso aqui é o que ela recebe do meu padrasto todo dia por dar roupa lavada, comida e casa pra ele: Agressão.
Claudine: (Abaixa a manga:) Não liguem pro que ela diz, eu apenas...
Yasmin: Caiu da escada? Escorregou? Qual desculpa que a senhora vai dar agora pra defender aquele canalha?
Claudine: Eu não acredito que você está fazendo isso comigo! Você não presta!
Yasmin: (Gritando:) E a senhora é uma mosca morta covarde! Mulher dada, que não tem força! A senhora é uma mulher de bosta!
Claudine da um tapa na cara de Yasmin. Todos ficam em silêncio por instante, Brigitte fica com a mão nos lábios, perplexa.
Yasmin olha assustada para sua mãe, com as lágrimas escorrendo pelo rosto. Claudine arregala os olhos, não acreditando no que fez.
Claudine: (Em choque:) Filha, me-me-me desculpe, eu, eu não queria...Eu iria, eu...Eu...
Yasmin: (Com a mão no rosto:) A senhora é igual a ele. Vocês dois se merecem.
Yasmin sai correndo pela porta, indo em direção a estrada no meio da tempestade. Joaquim a segue.
Claudine: (Gritando:) Filha, volta aqui! Filha! Yasmin!
Johanna: Eu acho que a senhora já deu show demais por aqui por hoje, não acha?
Claudine: (Gaguejando:) Eu...Eu não queria que fosse desse jeito, eu não pude me controlar eu, eu...
Johanna: Mara, acompanhe essa senhora até a saída. Ela está proibida de pôr os pés aqui dentro novamente.
Mara: Sim, dona Johanna.
Mara leva Claudine para a saída.
Johanna: Ah, e mais uma coisa, dona Claudine: Eu se fosse a senhora repensaria muito, mas muito bem e reveria os meus conceitos, por que eu acho que a senhora está cometendo o infeliz erro de confundir e escolher o errado pensando que é o certo, e rejeitando o certo, achando que é errado. Um bom fim de tarde, adeus.



Cena 6/Guarda-Chuva Rosa/Frente/Exterior/Tarde

Yasmin, chorando, corre pelo jardim e para no meio da estrada, enquanto a tempestade aumenta. Um carro está vindo em sua direção, e quando ela o vê, fica estática, em choque. De repente, Joaquim puxa o seu braço para si, salvando-a do impacto. O carro buzina.
Joaquim: (Assustado:) Yasmin!
Yasmin: (Nervosa:) Joaquim?! Eu, eu não vi o carro, eu, eu to tão nervosa que nem, ai meu Deus...(Chora).
Joaquim: Calma, por favor.
Yasmin: Ta tudo desmoronando em cima de mim, eu não to mais agüentando isso...Eu me sinto tão, tão...Sozinha.
Joaquim: Você não ta sozinha. (Abraça Yasmin:) Eu to aqui, e to contigo.
Yasmin fica sem reação, sem esperar o abraço. Depois de um tempo, ela corresponde:
Yasmin: Me desculpa por te meter nisso tudo, é tudo culpa minha. Eu quase fui atropelada e quase te levei junto.
Joaquim: Isso não foi culpa sua, foi um acidente.
Yasmin: Eu não queria magoar ela, nem o Ícaro. Eu só queria, eu...Só queria sair daquele inferno, sair de perto daquele homem...
Joaquim: E você fez certo, muito certo. Você não merece ser destratada assim, você é tão incrível, tão boa, tão gentil.
Yasmin: Tão imatura, tão idiota...Eu fiz mal pra todo mundo...
Joaquim: Isso não é verdade, e cê sabe bem disso. Você só tentou fazer o que achava ser o melhor, e era. Não pode se culpar por isso...
Yasmin: Eu só queria que a minha mãe tivesse o respeito que ela merecia. Eu nunca quis machucar ninguém, eu só queria o melhor pra minha família.
Joaquim: E você fez o melhor pra eles e pra si mesma saindo de lá. Se ela veio aqui é por que te ama, por que sente sua falta, mas você não precisa voltar pra lá e não vai, eu me recuso a deixar que aquele desgraçado faça mal a você de novo...
Yasmin: Por que você me protege tanto?
Joaquim: Por que eu gosto de você, muito.
Yasmin: Sabe, ninguém nunca fez isso por mim antes.
Joaquim: Impedir que um carro te atropelasse?
Yasmin: (Da um leve sorriso:) Não...Ninguém nunca se importou tanto comigo como você se importa.
Joaquim: É por que cê é especial, merece isso.
Yasmin: Para, se não eu vou começar a achar que é verdade.
Joaquim: E ainda não acha?
Os dois riem.
Yasmin, ainda abraçada, olha para Joaquim.
Joaquim: Eu nunca mais vou deixar alguém te fazer mal, nunca. Você, não merece ser tratada assim. Você uniu todos nós aqui, e não foi por acaso. Você é especial, você é linda, e merece o mundo e um pouco mais. E você vai conseguir, sabe por quê?
Yasmin: Por que eu vou desfilar? (Ri).
Joaquim: Por que eu vou estar sempre lá, torcendo por você.
Joaquim faz um carinho no rosto de Yasmin. Devagar, ele se aproxima dela, e ela, aos poucos, também se aproxima. E assim, os dois se beijam pela primeira vez. O beijo é carinhoso, Joaquim a segura pela cintura, e ela acaricia seus cabelos. E de fundo, a tempestade continua fazendo a água cair sobre os dois.
Trilha Sonora: Meu Abrigo – Melim



Cena 7/Estacionamento do Show/Exterior/Noite

Johanna, Ednna, Brigitte e Manuela chegam ao estacionamento do show de Bruno Viola.
Johanna: Ah, finalmente. Acho que nunca andei tanto e toda a minha vida.
Ednna: Sedentarismo é assim, você fica com a bunda sentada o dia todo no sofá e quando faz qualquer esforço, já abaixa a guarda.
Johanna: A única que fica com a bunda sentada o dia todo é você, naquele cubículo de ateliê.
Ednna: Como você é simpática, querida.
Manuela: Parem, as duas. A Min pode não ter vindo, mas eu to aqui pra não deixar que vocês duas comecem com essas briguinhas idiotas.
Brigitte: (Grita:) Não é possível!
Johanna: (Com a mão no peito:) Ai, o que é, criatura? Viu uma assombração, ou melhor, uma Ednna?
Ednna: (Ri sinicamente:) Hoje você está mesmo uma querida, Jojô.
Manuela: Que que aconteceu, Brigitte?
Brigitte: (Resmungando:) Ai...Pisei na bosta...
Ednna: Mentira sua, a Johanna está bem aqui.
Johanna: Obrigada, querida.
Manuela: Ah, quanto escândalo! Ó, lá atrás tem um matinho, limpa os pés na grama e vamos logo que o show já deve ta quase começando.
Ednna: Porém antes, uma tarefinha pra você, querida.
Manuela: O que?
Johanna: (Entrega uma sacola para Brigitte:) Aqui estão as roupas que você vai vender aqui.
Brigitte: Eu?!
Johanna: Mas é claro, meu bem, ou cê acha mesmo que logo eu ia fazer isso? Toma, limpa o cagalhão e vende isso.
Brigitte: A senhora por um acaso acha que isso aqui é um brechó?
Ednna: Se não era antes, agora é.
Johanna: Garotas vamos, Brigitte tem muito que fazer.
Brigitte: (Bufando:) Só pode ser carma!



Cena 8/Platéia/Interior/Noite

Johanna, Ednna e Manuela sentam.
Ednna: (Com cara de nojo:) Ah, que cheiro é esse?
Johanna: Esse é o odor sertanejo, minha querida.
Manuela: Bem peculiar, eu diria.
Johanna: Ta certo, fiquem aqui enquanto eu procuro a Gigi.
Ednna: E desde quando te elegeram como líder? Não lembro de ter dado o meu voto pra você!
Johanna: Ednna querida, faça um favor a todos e a si mesma calando a boca. Volto já. (Sai).
Manuela: E então, a senhora já esteve num show como este?
Ednna: Eu nunca. Sempre preferi freqüentar as mais belas e esplendorosas orquestras sinfônicas e harmônicas de Mônaco, Espanha, Itália...
Manuela: (Com cara de nojo:) Ah, claro.
Do outro lado da platéia, Donna chega junto de Eddy e Katherine.
Donna: Pelos anéis de Marilyn Monroe, isso aqui ta mais lotado que rodeio gaúcho...
Katherine: Bem, eu achei bem agradável e divertido...
Donna: E quando é que você não tem apreço pela classe média hein, Kate?
Eddy: (Com a mão no estômago:) Eddy ta com fominha...
Donna: Ah não, nem pensar, seu bruto. Te perguntei cinco vezes antes de sairmos se queria comer, e você disse que não!
Eddy: Ah, priminha burra! É que antes eu não tava com fome, agora to...
Donna: Então come os bancos.
Eddy: Ta bom. (Gesticula para comer um banco).
Donna: (Dando tapas na cabeça de Eddy:) Sai daí, seu cabeça de ervilha! Ah, que ódio! (Dá uma nota para Eddy:) Toma, compra alguma coisa pra comer e vê se não me faz passar vergonha!
Eddy: (Animado:) Isso! Eddy ao resgate! (Sai).
Katherine: Ele sabe pra que que serve o dinheiro?
Donna: Provavelmente, não.
Katherine: E não deveríamos ir ajudá-lo?
Donna: Katherine, se você falar mais uma coisa boa hoje, eu juro que vou...
Gigi chega.
Donna: Deixa pra lá. Gigi, querida!
Enquanto isso, Brigitte está em uma das passarelas entre os bancos:
Brigitte: (Gritando:) Chapéu, sapato, roupa furada, quem vai querer? Calça costurada, camisa passada, calçola cagada, quem vai querer?! Olha que o sutiã ta só dois e noventa!




Cena 9/Fundos do Palco/Interior/Noite

Johanna acabou parando nos fundos do palco procurando Gigi.
Johanna: Ah, que maravilha Johanna, que maravilha! Olha onde eu fui parar querendo bancar a detetive. Sabe, às vezes eu acho que deveria ter virado faxineira! Pelo menos não passaria por tudo isso...(Olha para um copo d’água em cima de uma caixa:) Oh, veja só. Obrigado, universo! Tava precisando mesmo molhar a goela...
De repente, um comerciante espanhol chega em Johanna:
Ligeirinho Troca-Tapa: Ma hola, señora!
Johanna: (Dá um pulo:) Ah! Que susto! Sua mãe não ensinou modos não, ô ariba ariba?
Ligeirinho Troca-Tapa: Mi nombre eres Ligeirinho Troca-Tapa, y hoy yo estoy a vender artigos de luxo!
Johanna: (Debochando:) Ah não diga, pois veja que coisa...Eu também estou!
Ligeirinho Troca-Tapa: Oh, pero mis produtos son muy melhores! Veja este belo vaso chinês de la dinastia Ming em perfectas condiciones...
Johanna: Isso é um pote vagabundo da 25 de março, seu duas caras.
Ligeirinho Troca-Tapa: Hm, a señora eres esperta...Por isso, voy dar de presente este belo emagrecedor instantâneo!
Johanna: E eu lá sou borracheira pra tirar os meus pneuzinhos? To feliz assim ô do bigode, dispenso.
Ligeirinho Troca-Tapa: Y que tal esse silicone a prova d’água? Veja esta foto, eres mi mujer después de usar esses silicones...Veja que peitos! (Mostra uma fotografia).
Johanna: (Olha a foto). Isso não são peitos, são agrotóxicos.
Paralelamente, Eddy chega com um copo de cachaça na mão.
Eddy: (Triste:) Ah...Enganaram o Eddy. Isso não é refrigerante transparente, é cachaça da brava...(Olha para o copo d’água em cima da caixa:) Ah! Aguinha! Eddy quer! (Eddy troca o copo d’água pelo copo de cachaça). Pronto, agora tenho aguinha...(Olha para uma mesa cheia de doces:) Doce! Eddy quer, Eddy quer! (Sai).
Johanna: Olha, o senhor já tomou demais o meu tempo, eu tenho que ir. (Vira-se e pega o copo).
Ligeirinho Troca-Tapa: Pero um minuto, señora!
Johanna: Já fui! (Toma tudo de uma vez e caminha para a fora).
Ligeirinho Troca-Tapa: (Indo atrás de Johanna:) Y que tal esse mata mosquitos vindo de Marte? Son apenas mil parcelas de 59,90 sien juros!
Trilha Sonora: Pelados em Santos – Mamonas Assassinas



Cena 10/Platéia/Interior/Noite

Ednna: Cadê a desmiolada da Johanna que não chega nunca?
Manuela: Será que ela não se perdeu?
Ednna: Típico.
Manuela: E o show já está prestes a começar...
Ednna: Quando aquela inconseqüente da Cabello chegar, juro que vou dar uns bons cascudos naquela cabeça de siri dela!
Manuela: Olha, as cortinas estão abrindo!
Ednna: O show já deve estar começando...
Manuela: O que a gente faz, dona Ednna?
Ednna: Vamos apreciar a artes country brasileira, afinal é só isso que nos resta. Além de ver a coitada da Brigitte vender roupa velha no meio da platéia (Ri).
Manuela: (Sorri:) Pois é...Vi que ela passou por um casal, que xingou ela, dizendo que lugar de mendigo é na rua...
Ednna: E ela, o que disse?
Manuela: Nada. Só atirou uma das calçolas sujas na cara da mulher. (Ri).
As cortinas se abrem. No meio dos acordes, a luz se acende. E, para a surpresa de todos, Johanna entra cambaleando, toda tonta no palco. E passa a cantar, completamente bêbada, no lugar de Bruna Viola:
Johanna: (Cantando junto com a música:) Com a marvada piiiiiiiiiinga é que eu me atrapaio, eu entro na venda e já dou meu taio, eu pego no copo e dali num saio, ali memo eu bebo ali memo eu caio...
Ednna, de boca aberta, tira os seus óculos lentamente, enquanto Manuela contém o riso.
Johanna: Só pra carregar é que eu do trabaio...
Platéia: (Animada:) Oi lai!
Durante os acordes, Brigitte, completamente pasma, deixa a sacola de roupas no chão e desmaia, caindo em cima delas.
Johanna: Marido me disse, ele me falou: “Largue de beber, peço por favor”. Proza de homi nunca dei valor, bebo com sor quente pra esfriar o calor...
Donna: (Com os olhos arregalados:) Aquela é a Johanna?!
Gigi: (Com a mão na cabeça:) Minha mãe de bicicleta, não é possível!
Donna: Ah, mas claro que é...(Puxa a câmera do celular escondida e começa a tirar fotos:) E bem, bem possível...(Ri).
Johanna: E bebo de noite pra fazer suador!
Platéia: Oi lai!
Johanna: (Dança para um lado e para o outro:) Cada vez que eu caio, caio deferente. (Da um passo:) Meaço pra trás, (Vira de costa:) e caio pra frente. Caio devagar, caio de repente. Vou de corupio, vou deretamente, mas sendo de pinga, eu caio contente!
Platéia: Oi lai!
Durante o solo de violão, Johanna samba.
Johanna: (Levanta uma garrafa:) Pego o garrafão e já balanceio, que é pra mode ver se ta memo cheio, não bebo de vez por que acho feio, no primeiro gorpe chego inté no meio...(Toma parte da cachaça). No segundo trago é que eu desvazeio! (Joga a garrafa na platéia, que acaba caindo na cabeça de Brigitte, enquanto ela tentava levantar. Com o golpe, Brigitte desmaia de novo).
Platéia: Oi lai!
Ednna sai da platéia e vai até o palco.
Mais um solo, onde Johanna sai pulando.
Johanna: Eu bebo da pinga por que gosto dela, eu bebo da branca, bebo da’marela, eu bebo no copo, bebo na tigela, bebo temperada com cravo e canela...Seja quarqué tempo vai pinga na goela, oi lai!
Ednna sorrateiramente sobe ao palco.
Johanna: Eu bebi demaaaaaaaaaaais e fiquei mamada! (Ednna sai correndo atrás de Johanna no meio do palco, enquanto Johanna foge dela indo embaixo das mesas e pulando nas cadeiras:) Eu cai no chão e fiquei deitada, ai eu fui pra casa de braço dado...
Dois seguranças do show pegam Johanna pelo braço, depois dela dizer:
Johanna: Ai de braço dado com dois sordado...Muito obrigado! (Os seguranças levam Johanna para fora do palco, e Ednna também.
A platéia vai ao delírio.
Platéia: Mais um, mais um, mais um!
Manuela: Gente, que vexame foi esse?
Brigitte: (Com a mão na cabeça:) Ai, não sei...Mas eu acho que vou precisar de uns cinco sacos de gelo pro meus galos...Ai...
Do outro lado da platéia:
Gigi: (Envergonhada:) Eu não sei nem o que dizer...
Donna: Ah, não diga nada, querida. Agora eu sei com quem estamos lidando, não é, Kate?
Katherine: É..Elas são bem, espontâneas...
Donna: Sem noção, você quis dizer. Cuidado hein, Gigi, eu se fosse você não deixava as suas competidoras fazendo esses vexames por aí. Imagina se alguém grava esse show de horrores e posta na internet? Que vergonha!
Gigi: Donna, me desculpe. Eu realmente não sei o que deu na Johanna...
Donna: Crise de meia idade, talvez? Tadinha, tão decadente, né? Não se conforma em ter perdido pra mim, e agora quer buscar fama a qualquer forma...Bom, já vimos demais. Kate, encontra o patife do Eddy e vamos todos para casa, já vimos demais por hoje.
Gigi: Novamente, me desculpe. Isso...Não estava nos planos.
Donna: Ah, não se culpe tanto, querida. Afinal de contas até que foi engraçado ver Ednna e Johanna como Tom e Jerry num festival sertanejo de quinta (Ri). Até mais! (Sai).
Gigi: (Furiosa: Ah, Johanna, você vai ter muito o que me explicar sobre isso, ah se vai!
 Cena 11/Estacionamento/Exterior/Noite

Ednna sai junto de Manuela, ambas apoiando Johanna (podre de bêbada) em seus ombros.
Ednna: Mas é o cúmulo do desrespeito. Nunca passei tanta vergonha na minha vida!
Manuela: E eu nunca ri tanto na minha vida...
Ednna: Não tem graça, Manuela. Eu sempre pensei que seria expulsa de lugares elegantes, de pompa, grã-finos...E não dum festival sertanejo fedendo a chulé.
Manuela: É. Mas uma a senhora tem que admitir que até que foi engraçado.
Ednna: (Indignada:) Engraçado, engraçado?! Isso foi humilhante, mais que humilhante, foi-foi ultrajante!
Johanna: (Cantando bêbada:) Tava na peneira, eu tava peneirando...
Ednna: Peneirar, peneirar! A única coisa que eu vou peneirar é a minha mão nessa sua cara cheia de plástica, sua estilista alcoólica!
Manuela: Não fala assim, dona Ednna. A tadinha abusou da conta sim, mas talvez seja o primeiro porre dela...
Ednna: O único porre aqui, além da Brigitte, é ela!
Brigitte chega com o saco vazio.
Brigitte: Obrigada pela parte que me toca, dona Ednna.
Ednna: Finalmente, criatura. Pensei que nunca ia sair viva daquele fuquifo. Não vendeu nada, não é?
Brigitte: Bem eu...
Ednna: Sabia, sabia! Eu sabia que deveria ter botado a Brígida pra fazer isso. Ela é sonsa, uma songa-monga, mas ela tem faro pros negócios...
Brigitte: Eu ia dizer que...
Ednna: Sem contar que ela é formada em publicidade e propaganda, é a área dela...
Brigitte: Pode até ser mas o que eu ia falar era que...
Ednna: E esse calor nojento, não acaba nunca?
Brigitte: (Grita:) SERÁ QUE A SENHORA PODE CALAR A BOCA E ME DEIXAR FALAR?!
Ednna: Que indelicadeza! Eu já ia te dar a palavra...Essas secretárias de hoje em dia, eu hein.
Brigitte: Como eu ia dizer, antes da senhora abrir essa matraca, era que...(Mostra o saco:) Vendi todas as roupas.
Ednna: Ah, e daí que você vendeu todas as...Espere, o que?
Brigitte: Eu vendi todas elas pra um comerciante espanhol que passava pela platéia. Até que ele pagou bem por aqueles trapos velhos. Acredita que ele levou até as calçolas sujas?
Ednna: Bem, sendo assim, parabéns Brigitte, você fez um bom trabalho.
Brigitte: O único problema é que...
Manuela: O que?
Brigitte: (Mostra as notas:) Ele me pagou em euros.
Ednna: Euros?! E você aceitou?!
Brigitte: Ora, o coitado só tinha isso. E além do mais eu tenho certeza de que ninguém além dele ia querer comprar aqueles trapos.
Ednna: (Estressada:) E onde você acha que a gente vai conseguir trocar essas porcarias por reais?!
Brigitte: Bom isso já não é problema meu. A senhora não é toda estudada lá nos europeus? Dá teus pulo.
Ednna: Ah eu vou pular sim, mas nessa sua cara à unhadas, sua insolente! (Começa a perseguir Brigitte).
Brigitte: (Correndo de Ednna:) Ai, mulher louca! Socorro!
Ednna: Volta aqui, sua manequim de peruca, antes que eu te esfole viva!
Manuela: Ah, parem vocês duas! Não percebem que a dona Johanna pode...(Olha para Johanna, caída no chão:) Desmaiar.
Cena 12/Carro de Donna/Interior/Noite

Katherine dirige o carro de Donna até o hotel. Eddy está nos bancos de trás e Donna no banco do passageiro.
Donna: (Olhando as fotos que tirou e dando risadas:) Isso sim é que é um close digno dum Oscar! E essa aqui dela fugindo da Ednna? Impagável. Amanhã mesmo todas essas fotos estarão na rede, espalhadas pelos quatro cantos do mundo. Não terá japonês que não veja esta pagação de mico! E junto com o mico, acabam de vez todas as chances que a dupla dinâmica tinha de ganhar o concurso!
Katherine: (Confusa:) Ãn, sorry, lady Cabonna, não entendo…
Donna: O que é agora, criatura?
Katherine: Pensei que lady queria disputar com elas, não desclassificá-las antes mesmo do concurso começar...
Donna: Ah, Kate, você tem muito o que aprender. Não é óbvio? Estou fazendo isso para que, durante as classificações, os jurados lembre deste fatídico momento e, concluam por conta própria, que nem Johanna e nem Ednna tem condições de apresentar uma modelo ao mundo...
Katherine: Mas isso não é...Errado?
Donna: Claro que é. E é por isso que é tão divertido! Mal posso esperar pra ver a cara daquelas duas quando lerem os jornais amanhã com Johanna como capa! Vai ser hilário!
Katherine: (Desconfortável:) Se a senhora diz...
Donna: Apresse-se, querida, não quero chegar tarde em casa...Ah, quase me esqueci, tenho que passar o meu gel, pra limpar toda a sujeira sertaneja das minhas mãos...(Procura o gel, mas, percebe que sua bolsa está cheia de doces). (Nervosa:) O que?! Doces? Minha bolsa está cheia de...Doces?!
Katherine: Doces?
Donna: Ta surda, menina?! São doces!
Katherine: Mas como foram parar aí?
Donna: E eu vou lá saber, sou diabética...Quem foi o brutamontes que...(Para um pouco).
Devagar, Kate e Donna viram-se para Eddy, que come uma barra de chocolate.
Eddy: Oi.
Donna: (Contendo a raiva:) Eddy querido...Por um acaso foi você que, sei lá...ENCHEU MINHA BOLSA DE DOCES?!
Eddy: É que o Eddy veio com calça sem bolso, aí pegou os docinhos e botou na bolsa da prima...Sabe, ela tava cheia de uns papéis, docu...Docu...
Katherine: Documentos?
Eddy: Isso, tava cheia disso!
Donna: E o que você fez com eles?!
Eddy: Ora, joguei fora!
Donna: (Estérica:) Você fez o que?!
Eddy: (Sorrindo:) Joguei fora. Como eu ia guardar os doces, se não tinha espaço? Peguei e dei pra um homem engraçado com chapéu que falava estranho...
Katherine: Oh, God. O comerciante espanhol.
Donna: Cê conhece ele?
Katherine: Ele tentou me vender uma suqueira que fazia xarope.
Eddy: Bom, pelo menos o Eddy agora tem os seus docinhos. Hihihihihi.
Donna: Ah é? Pois então, meu querido...Olha o que eu faço com os seus docinhos! (Abre a janela e joga todos os doces fora).
Eddy: (Gritando:) Não! Os doces do Eddy! Prima má, prima má!
Katherine: Oh, lady Cabonna, tadinho dele...
Donna: E você cala a boca, Kate! Antes que eu jogue você também pela janela!
Eddy: (Triste:) Eddy ta triste...
Donna: Calma Eddy querido. Sabe, eu tenho uma coisa muito melhor pra você do que esses doces vagabundos...
Eddy: (Feliz:) Jura, o que?!
Donna: Uma coisa que você espera o ano inteiro pra acontecer...
Eddy: (Comemorando:) Natal em julho! Mas não é natal, e também não é julho...
Donna: Melhor que isso...Sabe o que é?
Eddy: O que?!
Donna: Unhadas!
Donna pula pro banco de trás e começa a dar tapas em Eddy. Com a confusão, Kate se esforça pra manter o controle.
Katherine: (Desesperada:) Oh my Jesus! Vocês são crazy!
Donna: Eu vou fazer você engolir essa barra pelas orelhas, seu borra-botas!
Eddy: Alguém acode o Eddy!
Trilha Sonora: Erva Venenosa – Rita Lee

Cena 13/Guarda-Chuva Rosa/Recepção/Interior/Manhã

Johanna entra com uma bolsa de gelo apoiada na cabeça com uma mão e um chá de boldo na outra. Enquanto isso, Yasmin, Manuela, Mara e Joaquim riem vendo algo no computador.
Johanna: Que tanto riem?
Mara: (Fecha rapidamente o notebook:) Ah, nada não, dona Johanna...
Johanna: A mentira não combina com você, querida. Sai da minha frente.
Johanna abre o notebook e vê fotos suas bêbada no show em um site tendencioso.
Johanna: (Chocada:) Mas que abuso é esse?
Vera chega.
Vera: As suas fotos dançando ontem no show.
Johanna: Mas como?! Eu não lembro disso...
Ednna: (Entra:) E nem queira lembrar, meu bem. Vexame é só apelido.
Johanna: Só pode ser carma!
Ednna: Ah não, não culpe o carma por isso. Isso é fruto da bebeida que você tomou ontem.
Johanna: Bebida? Mas eu não tomei nada lá...A não ser aquele copo d’água...Mas era água!
Vera: Uma dica sobre festas: Nunca tome algo que encontrou sem saber de onde veio.
Johanna: Mas...
Yasmin: E não é só isso...(Ansiosa:) Olhem só as descrições...
Joaquim: (Lendo:) “Estilista falida Johanna Cabello é pega alcoolizada usurpando o show da cantora Bruna Viola de forma ridícula”.
Manuela: “Louca desenxabida invade palco e banca a idiota no show de Bruna Viola”.
Ednna: Demente mental toma cachaça pensando ser água!
Johanna: (Grita:) Chega! Calem a boca! Foi um erro, eu sei. Mas a gente não pode deixar se levar por isso.
Ednna: Será que você não percebe, gênia?! A nossa reputação, que antes já era um lixo, agora vai declinar de vez!
Johanna: E você acha que eu fiz isso de propósito?
Ednna: To começando a achar que sim!
Johanna: Escute aqui, Ednna, eu tenho mil e um motivos pra prejudicar você. Pode me chamar do que quiser, escandalosa, fria, egoísta, pode chamar! Mas eu não sou uma mesquinha que estraga a vida de todo mundo! Eu nunca que ia prejudicar as meninas, a Vera, nem mesmo o tapado do Joaquim!
Joaquim: Exatamente! Pera, o que?
Johanna: Eu nunca que fiz isso de propósito, foi um acidente, uma coisa imprevista! Eu não tenho culpa!
Ednna fica em silêncio.
Johanna: Será que pelo menos uma vez na sua vida você pode tentar me entender? Fazer um mínimo de esforço? Ou você ainda vai me jogar na cara tudo o que aconteceu com o Alfredo?
Ednna limpa uma lágrima de seu rosto.
Ednna: Eu posso. Me...Me desculpe.
Todos ficam surpresos.
Johanna: (Confusa:) Você disse o que?
Ednna: Me desculpe.
Johanna: Perdão, não ouvi...
Ednna: Ah, não azeda! Me desculpe ter jogado tudo na sua cara, me desculpe! Eu só...Eu só fiquei com medo de perder tudo aquilo que a gente conquistou, outra vez. Eu não vou suportar perder tudo de novo, de novo não...
Johanna: E a gente não vai perder.
Ednna olha para Johanna.
Johanna: Antes nós éramos novas, inconseqüentes. A gente brigava por tudo. Até pelo cubo de açúcar do café...
Ednna sorri.
Johanna: A  diferença é que, dessa vez, nós não estamos sozinhas. Olha a nossa volta, quantas pessoas estão aqui. Elas dependem de nós, dependem do nosso bom relacionamento pra fazer as coisas andarem, e nós vamos mesmo continuar discutindo por uma coisa que aconteceu há quinze anos atrás?
Ednna: Pode ter certeza que eu não quero...
Johanna: Essa discussão já perdeu o sentido há anos. Nós duas só causamos desgraça aos outros com essa nossa briguinha de adolescente, já ta na hora de acabar com esse morde e assopra de uma vez, antes que a gente perca tudo o que conquistamos.
Ednna: E você acha que eu não sei disso? Eu mais do que ninguém sei o que é chegar ao topo do mundo e cair ladeira abaixo na amargura da decadência...
Johanna: Vamos, deixar isso de lado. Eu to disposta a passar pelo meu orgulho, e olha que eu sou muito orgulhosa, só pra manter a paz por aqui e...(Olha para Ednna:) Ter a minha amiga de volta.
Ednna se surpreende.
Johanna: Será que você pode me perdoar?
Ednna: (Fica em silêncio por alguns segundos:) E por que que eu vou dizer que não se é sim (Sorri).
Johanna: (Sorrindo:) Sua bruaca velha...
Ednna: Vem cá, pedaço de estrume.
Johanna e Ednna, enfim, finalmente se abraçam. Yasmin lacrimeja um pouquinho.
Joaquim: (Para Yasmin:) Cê ta chorando?
Yasmin: Ah, para. É só um cisco que caiu no meu olho...
Joaquim: Sei. (Joaquim puxa Yasmin delicadamente para si, abraçando-a de lado. Ela corresponde o abraço, deixando uma lágrima cair enquanto vê Johanna e Ednna fazer as pazes).
Vera: É, milagres acontecem.
Mara: E não é, dona Vera? Nunca em minha vida eu imaginei que essas duas aí iam se querer de novo.
Manuela: Não tem desentendimento nenhum que não possa ser resolvido com um pedido sincero de desculpas.
Johanna e Ednna terminam de se abraçar sorrindo uma para a outra. Rapidamente, Brigitte e Brígida entram apressadas na recepção.
Brigitte e Brígida: Dona Johanna, Dona Ednna!
Johanna: (Reclamando:) Ah, capaz que as duas cacatuas não iam atrapalhar o momento!
Ednna: Eu já até me acostumei.
Brígida: Pera aí, vocês duas estavam se abraçando? Que macumba é essa?
Brigitte: Esse não é o ponto. Brígida, concentra!
Brígida: Ah ta...É que...
Johanna: (Impaciente:) Vamos logo!
Ednna: Desembuchem!
Brígida: A dona Gigi acabou de ligar dizendo que quer conversar com vocês.
Brigitte: E pelo tom de voz, eu diria que ela não ta muito feliz não...
A cena congela com Johanna e Ednna se olhando, assustadas, com um guarda-chuva rosa pousando no meio das duas.
Trilha Sonora: I Will Survive – Gloria Gaynor
GANCHO

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