O Guarda-Chuva Rosa- Capítulo 07
quarta-feira, abril 10, 2019
O
Guarda-Chuva Rosa
Cap
7
Cena 1/Tecelagem Gutierez/Sala de
Reuniões/Interior/Manhã
Continuação da cena anterior:
Vera: Você
quer me matar de susto, menino?!
Joaquim: Ah,
não é possível...
Vera: Não
é possível digo eu! Quem você pensa que é, hein menino? Você sai de casa, não
dá notícias, me deixa de cabelos brancos...
Joaquim: Olha
lá! Voltamos ao mesmo assunto: a sua beleza.
Vera: O
que?
Joaquim: Você
só se importa com essa sua beleza de modelo nacional.
Vera: Isso
não é verdade, Joaquim, e você sabe disso. Eu me importo com você.
Joaquim:
Se importa? A sua única preocupação é tentar disfarçar que essa sua cara de
manga não é mais bonita como antes!
Vera: Que
atrevimento! Eu sempre te tratei com...
Joaquim: Com
mentiras.
Vera: Mentiras?
Joaquim: Sim,
a minha mãe.
Vera: Ah,
não Joaquim, esse assunto de novo?!
Joaquim: Eu
nunca vou parar de falar nisso, até você dizer a verdade, que a minha mãe está
viva!
Vera: Para
de delirar, menino!
Brigitte: Minha nossa...
Johanna: Vera,
quem é esse louco?
Vera: Me
respeite, menino, eu sou sua tia!
Johanna e Ednna: Tia?!
Yasmin: Tia?
Joaquim: Isso
é tudo culpa sua, eu ter saído de casa, ir morar numa pensão, tudo culpa sua!
Vera: (Gritando:)
A sua mãe está morta!
Todos ficam em silêncio.
Vera: Morta,
morta! Quando é que você vai entender isso?!
Joaquim: (Segurando
o seu colar:) Você é um monstro.
Mara: Joaquim,
calma. Ela é sua tia.
Joaquim: Essa
mulher não é minha tia, ela é uma estranha.
Johanna: Já
chega! Resolvam os seus conflitos familiares em outro lugar. Yasmin, quem é o
revolucionário?
Yasmin: (Olhando
para Joaquim:) Ele...É o segurança que nós contratamos.
Johanna: Segurança,
uma lagartixa magrela como ele?
Mara:
E eu sou a faxineira!
Johanna: E
ele é competente?
Yasmin: Eu...Acho
que a gente pode dar uma chance pra ele.
Ednna: Sendo
assim, estão contratados, os dois. Começam...Agora! Brígida...
Brígida entrega uma
lanterna para Joaquim e materiais de limpeza para Mara.
Mara e Joaquim saem.
Johanna: Certo,
tudo resolvido. Ah, falta uma coisa. E então, Vera. Vai ou fica?
Vera: (Vendo
Joaquim sair:) Eu fico.
Trilha Sonora: Jailhouse Rock – Elvis Presley
Cena 2/Guarda-Chuva Rosa/Interior e Exterior/Dia
A câmera deve mostrar todos
os cantos e salas da Tecelagem Gutierez. Depois disso, mostra-se a
transformação delas. A recepção continua sendo a mesma de sempre, porém agora
está mais enfeitada com adornos rosa, vasos grandes de plantas e um lustre em
forma de guarda-chuva rosa no teto. A sala de máquinas vira uma grande
passarela, onde Vera trabalhará com Yasmin e Manuela. A sala das tecelãs vira o
ateliê de Ednna, onde ela costura, borda e produz seus vestidos que serão
posteriormente vendidos na feira por Brigitte e Brígida. A sala da diretoria
continua a mesma, assim como a sala de reuniões. O depósito se transforma em
uma pequena academia, onde Manu e Min farão exercícios para manterem a forma. A
cozinha, quartos e banheiros continuam os mesmos. No exterior, a fonte de água
com um anjo é trocada por uma estátua de guarda-chuva que jorra jatos d’água
pelas pontas. Uma pequena guarita é adicionada atrás dos portões, onde Joaquim
ficará no turno da noite. Um jardim mais bem cuidado é adicionado, com um pequeno
canteiro de rosas vermelhas em cada ala. E por último, no ponto mais alto do
prédio, a fachada escrita “Tecelagem Gutierez” é alterada para “Guarda-Chuva
Rosa”. Nessa transição, deve-se mostrar os operários levando e montando as
coisas e também: Brígida ligando a fonte e tomando um banho d’água por
acidente, Mara limpando o chão enquanto dança com a vassoura, Yasmin e Manuela
fazendo anotações nas aulas de Vera, Brigitte fazendo poses no espelho e sendo
flagrada por Joaquim que ri de sua cara, e Ednna e Johanna observando de longe
sua nova empresa surgir.
Trilha Sonora: Medicina - Anitta
Cena 3/Praia de Copacabana/Exterior/Tarde
Katherine sai da água.
Mostra-se ela saindo da água de biquíni, atraindo os olhares alheios, portando
o seu famoso óculos de sol. Após isso, ela deita em uma toalha e fica tomando
banho de sol. Donna entra em cena vestida com roupas de banho vermelha e um
lenço escarlate que cobre o corpo, junto de um grande chapéu.
Donna: Ai,
senhoooooor. Já falei que eu odeio calor?
Katherine: Cinco vezes só hoje.
Donna: Isso
aqui parece um compartimento do inferno de tão quente. Cruuuuzes. E o pior de
tudo é esse bando de pobre tudo amontoado, vestindo aquelas camisas com estampa
de flor, aquelas bermudas furadas, chinelos com prego, e o que são aqueles
bigodinhos de carroceiro? É o ó! Vem tudo junto pra fazer churrasco à beira
mar, sujam tudo e ainda ouvem aquele lixo imundo daquele samba.
Katherine: Sabe...Eu até gosto de samba...
Donna: Você
tem alma de pobre, Katherine. Eu ainda tenho que polir muito você.
Katherine: Polir?
Donna: Muito
bem, chega de papo furado. Me arranja um lugar aí nessa toalha. Meus Deus,
Katherine, onde você comprou essa coisa?
Katherine: Bem, um vendedor de pamonhas apareceu vendendo isso e...
Donna: Como
é? Você comprou essa, essa, essa coisa de um vendedor de pamonhas?!
Katherine: É que ele me parecia tão humilde...
Donna: Que
anta, que anta! Ele te passou a perna, sua monga! Olha esse furo! (Mostra a
toalha).
Katherine: Oh, nossa! Ela tem furos!
Donna: Eu
acho que a pamonha aqui é você, Kate. Oh, que dificuldade em ser chique!
De repente, um homem se
aproxima das duas.
Eddy: Olá!
Donna: (Grita:)
AAAAAH. O que?!
Eddy: Prima!
Donna: Eddy?!
Katherine: Quem?
Donna: Ah,
não, não...
Eddy: Priminha
linda do meu coração! (Abraça Donna com força).
Donna: Socorro!
Eddy: Prima
adorada do meu coração! (Solta Donna).
Donna: (Ofegante:)
O que você faz aqui?
Eddy: Mamãe
disse que eu ia ficar com você.
Donna: Como
é? Carmen, filha da...
Katherine: Lady Cabonna, olhe palavriado. Quem é ele?
Donna: ...É
Eddy, meu primo em segundo grau.
Eddy é o típico homem
grande, forte, robusto, que à primeira vista dá medo. Porém, ele tem uma voz
fina, é brincalhão, tem bom coração e servirá apenas como capacho para as
artimanhas de Donna. Ah, ele também adora unicórnios.
Donna: Calma,
calma. Me explica essa história direito.
Eddy: Mamãe
foi pra Paris cuidar da nossa vozinha, Elena. E disse pra eu ficar morando com
você até ela voltar.
Donna: Eddy,
a vovó Elena morreu há trinta anos atrás.
Eddy: Sim
mas...O que?! (Chorando desesperadamente:) Ah, vovozinha, não pode ser! Por
que, meu Deus, por que fizeste isso com a pobre centenariazinha...Ah, que dor!
Donna: Eddy.
Eddy: Ai,
não suportarei sua perda!
Donna: Eddy.
Eddy: (Jogado
no chão e chupando o dedo:) Acho que vou desmaiar...
Donna: (Gritando:)
EDDY!
Eddy: Sim?
Donna: Você
é mais tapado do que uma porta! Você nem conheceu ela!
Eddy: Não?
Donna: Sua
anta categórica...Óbvio que não!
Eddy: Nossa...
Donna: Ah,
senhor!
Eddy:
Mas então mamãe...?
Donna: A
ordinária da sua mãe mentiu pra você. Ela foi esbanjar o dinheiro do velho
Ventura lá na França e deixou o peso morto do filho dela aqui, comigo, ainda
por cima!
Eddy: (Lacrimejando:)
Então mamãe não ama o Eddy?
Donna: Mamãe
odeia o Eddy!
Eddy: (Voltando
a chorar como bebê:) Ah, mamãe!
Katherine: (Acariciando a cabeça de Eddy:) Oh, Lady, coitadinho!
Donna: Coitadinho?
Coitadinho sou eu.
Katherine: Você vai leva-lo, não?
Donna: Olha
Eddy, você até que é boa gente, simpático, mas não vai rolar não, eu vim aqui
nesse fim de mundo pra fazer uma coisa e estou indisposta pra botar mais gente
nisso tudo, tá bom? Mas não chore não, ó (Dá dinheiro a Eddy:), pega um táxi
até a França. Ah, espera, táxis não voam. (Ri). Até mais, Eddy.
Eddy começa a fazer
“biquinho”, com uma expressão triste.
Donna: Ah,
não, nem adianta fazer isso comigo, por que aqui não cola não!
Katherine: Lady Cabonna, olhe só esses olhinhos de cãozinho abandonado...
Donna: Parece
mais com a de cachorro que caiu do caminhão da mudança.
Katherine: Tenha compaixão...
Eddy: Priminha?
Donna: ...(Bufa:)
Ah, não acredito que caí nessa. Tá certo, Eddy, você fica.
Eddy: É
sério?!
Donna: Mas
vamos logo antes que eu me arrependa de...
Eddy começa a abraçar Donna
novamente, com muita força.
Eddy: Ah,
muito obrigado, prima! Eu vou ser o melhor primo do mundo. Vou fazer café,
escovar seus dentes, pentear seu cabelo, limpar a sua bunda...
Donna: (Solta-se
de Eddy:) Tá, tá, tá, tá, não exagere, só peço que se comporte.
Eddy: (Abre
os braços:) Ok!
Donna: (Estende
a mão:) Um momento. Antes, vamos estabelecer regras...Abraços são proibidos.
Donna e Eddy vão caminhando
pela areia enquanto Kate os observa.
Cena 4/Cortiço/Pátio Principal/Interior/Tarde
Dona Raimunda está lavando
suas roupas nos tanques compartilhados do cortiço. Claudine desce as escadas
com um cesto de roupas na mão, indo até o tanque ao lado de Raimunda.
Raimunda: Boa tarde, dona Claudine.
Claudine: Boa tarde, dona Raimunda. Como vão todos?
Raimunda: Ah, na mesma porqueira de sempre. Robson perdeu o emprego, o Wilson
brigou com a mulher, o Pedrinho tá com as más companhias, o Whindersson virou
gay...Ah, só desgraça.
Claudine: Eu não sabia que a senhora era tão...Preconceituosa.
Raimunda: Claro que não, mulher. Ele pode fazer o que ele quiser. Ele é meu filho,
eu amo ele. Embora eu não concorde com as atitudes dele, eu sempre vou amar e
ajudar. Não sou que nem essas mães de porcelana que dizem amar os filhos, mas
quando eles finalmente querem ser quem são, elas abandonam eles, algumas até
dizem que não tem mais filhos, só por causa da opção sexual...
Claudine: É...Você tá certa. Mas por que tá reclamando então?
Raimundo: O Whindersson me trouxe ontem uma coisa feiosa, dizendo que é namorada
dele. Olha, que raiva! Ele é porco, fedido, não lava nem as cuecas...Quero
dizer, calcinhas. Ah, por favor! Depois sobra pra mim ficar aqui esquentando
minha barriga no tanque lavando essas langeries feias, e borradas ainda por
cima. (Mostra uma peça:) Olha só essa freada de bosta nessa aqui, tá louco!
Claudine: (Ri:) Ah, Raimunda, você não existe....
Raimunda: Mais e você hein, Clô? Como vão as coisas na sua casa?
Claudine: (Suspira:) Ah, estão normais. O Roberval continua desempregado...
Raimunda: Jura?
Claudine: Sim, mas ele tá procurando emprego!
Raimunda: Ah...Sei...E onde ele tá agora?
Claudine: Bem, ele está dormindo lá em casa, mas assim que ele acordar, ele
procura!
Raimunda: Sim, claro...
Claudine: Ícaro tá na escola...Meu bebê tá crescendo...Logo mais ele faz 5.
Raimunda: Mas já? Que rápido passa o tempo né?
Claudine: Muito...
Raimunda: E...A Yasmin?
Claudine: (Para de esfregar as roupas, expressando tristeza no rosto:) A
Min...Ela, saiu de casa.
Raimunda: É...Fiquei sabendo.
Claudine: Como?
Raimunda: Ah, Claudine, por favor...Todos ouviram a discussão de vocês.
Claudine: Foi apenas uma discussão familiar, nada de mais...
Raimunda: Tem certeza, Clô?
Claudine: É claro que eu tenho certeza. Roberval tem esse jeito turrão dele, e a
Yasmin tem que entender isso. Eu só queria saber onde ela está agora. Quero
tanto conversar com ela, me explicar...
Raimunda: Você não sabe mesmo, então.
Claudine: Não sei o que?
Raimunda: Ah, nada não. Olhe só, como está tarde, eu vou indo!
Claudine: (Segura no braço de Raimunda:) Raimunda, não me esconda nada.
Raimunda: Esconder, eu? (Gaguejando:) Desculpe, querida, mas eu realmente não
sei...Se eu falar, vão dizer que eu sou fofoqueira, e eu já cansei desse
apelido de “Boca de Brejo” que os moradores me deram e...
Claudine: Então?
Raimunda: Ah, dane-se! Yasmin foi morar na velha Tecelagem Gutierez junto com
JohannaCabello e EdnnaCaffona.
Claudine: O que?!
Raimunda: Ela vai ser modelo, sabia? Parece que uma professora super bem
conceituada vai ajuda ela e a Manu...
Claudine: Manu também tá envolvida nisso?
Raimunda: Mas era de se esperar, as duas não se desgrudam. Era o sonho
delas...Lembra quando elas eram menores e brincavam de desfilar aqui no pátio?
Ah, eram tão lindas...
Claudine: Sim, sim eu lembro. Mas eu não entendo...Por que ela não me avisou?
Simplesmente saiu de casa...
Raimunda: Só sei que daqui uns três meses vai ter um tal concurso e elas estão se
preparando pra isso...
Claudine: Eu vou atrás dela.
Raimunda: Ah, é lá rua do lado do banco...
Claudine: Tecelagem Gutierez, vou ir agora mesmo.
Raimunda: Claudine, espera, agora a tecelagem mudou o nome para...
Claudine sai.
Raimunda: (Suspira:) Guarda-Chuva Rosa.
Cena 5/Madureira/Tendas da Feira/Interior/Tarde
Como combinado, Brigitte e
Brígida foram vender algumas roupas velhas de Ednna e Johanna (Já que Ednna
ainda não tinha começado a tecer os vestidos), fazendo um mini brechó no meio
das tendas da feira.
Brigitte: Ai, que péssima ideia! Esse é um péssimo lugar pra esse tipo de
coisa...As pessoas vem aqui pra comprar frutas, legumes...E nós vendendo roupas
de perua grã-fina...
Brígida: Ah,
cala a boca, Brigitte! Vamos logo. Quanto mais rápido a gente terminar, mais
rápido a gente sai desse forno.
Comprador 1: Olá.
Brigitte: Buenas tarde, chico querido! Hoy nosotras tenemos aqui um belíssimo...
Brígida: O
que é que cê tá fazendo, lunática?
Brigitte: Oh, será que eu errei o sotaque? Hello, big brother! Today we take...
Brígida: Brigitte!
Brigitte: O que é? Não são gringos?
Brígida: É
a dona Terezinha, a vendedora de cocadas, sua desmiolada!
Brigitte: Oh, o que a senhora vai querer?
Comprador 1: Quero esse aqui...
Brígida: Esse
vestido de renda? São dez mil...
Brigitte: (Pisa no pé de Brígida:) São dez reais, ela quis dizer...
Brígida: O
que?!
Comprador 1: Vou levar!
Brigitte: (Entrega o vestido:) Obrigada, volte sempre!
Brígida: (Dá
um tapa na nuca de Brigitte:) Você pirou de vez?!
Brigitte: Seja razoável, querida, ninguém aqui vai comprar um vestido de dez mil.
Brígida: Mas
nem por isso você podia ter vendido por dez reais! Isso foi tecido na
França...Com o maior júbilo e...
Brigitte: (Pega uma manga e enfia na boca de Brígida:) Ah, cala a boca vai! Olha,
lá vem um comprador...
Comprador 2: Olá, eu quero gergelim.
Brígida: Cê
não viu o anúncio não, minha filha? Aqui vende roupa.
Comprador 2: Ah vi sim. Quero gergelim.
Brígida: (Impaciente:)
Olha, minha senhora, eu vou tentar ser a mais delicada possível...(Gritando:)
NÃO TEM GERGELIM!
Comprador 2: Tá, tá bom, não se estresse. Me dá o gergelim e pronto.
Brígida: Brigitte,
eu vou matar ela.
Brigitte: Calma! Senhora, entenda...Aqui nós não vendemos gergelim. Veja só, aqui
tem vestidos, saias, blusas...Se veio comprar roupas, aqui é o lugar certo!
Brígida: Mas
se a senhora veio aqui pra comprar semente, veio no lugar errado!
Comprador 3: Bando de mal educadas, eu vou embora!
Brígida: Vá
pro diabo que te carregue, velha lunática.
Brigitte: Sabe, Brígida, eu não estou gostando nada desse seu tom com as clientes!
Brígida: Ah,
não diga, belezura. Já sei como melhorar!
Brígida pega uma fruta
podre e espatifa na cara de Brigitte.
Brígida: Venham,
venham, comprar! Depois da Mulher Melão, Mulher Melancia...Eu lhes apresento a
Mulher Fruta-Podre!
Brigitte: Ah, Brígida, você me paga!
Brígida: O
que, como? Desculpe, não dá pra ouvir você com esse reboco de laranja podre na
cara não...
Brigitte: Então eu vou lavar os seus ouvidos.
Brigitte joga uma jaca
madura na cabeça de Brígida.
Brígida: Ah,
então você quer briga, não é?
Brigitte: Vem pro fight, neném.
E assim, Brigitte e Brígida
começam a jogar frutas uma na outra, desencadeando então uma briga geral entre
todos os feirantes, com todos jogando frutas por toda Madureira.
Trilha Sonora: Tiro ao Alvo - Péricles
Cena 6/Guarda-Chuva Rosa/Jardim das Rosas
Vermelhas/Exterior/Noite
Joaquim sai da guarita em
direção ao jardim das rosas. Ele observa as rosas, até Yasmin chegar.
Yasmin: Cortando
as rosas?
Joaquim: Não...(Ri:)
Apenas olhando. São muito bonitas.
Yasmin: Obrigada,
eu que plantei.
Joaquim: Modesta
você, né?
Yasmin: Às
vezes.
Os dois sentam no banco que
fica no meio do jardim.
Yasmin: Você
tá bem? É que você brigou feio com a sua tia ontem...
Joaquim: Sim,
eu tô bem. Aliás, vocês mudaram rápido as coisas por aqui. Em menos de um dia
já arrumaram tudo.
Yasmin: Dona
Johanna e dona Ednna tem muitas amizades por aí...(Olha pro colar de Joaquim:)
Nossa, que bonito...(Gesticula pra tocar no colar).
Joaquim a afasta o colar
dela.
Yasmin: Ah,
desculpe...Eu não sabia que não podia tocar.
Joaquim: Ah,
não! Me desculpa...É que eu tô sempre protegendo ele, as vezes faço isso por
impulso.
Yasmin: Protegendo...Por
que?
Joaquim: (Tira
o colar e bota nas mãos de Yasmin:) A minha mãe me deu esse colar antes de
desaparecer. Tem uma foto minha quando era bebê e uma foto dela na época que
ela me deu...Desde então eu cuido dele, protejo...Sempre carrego comigo, por
que eu sei que um dia vou encontrar ela.
Yasmin: É
por isso que você tá brigado com a sua tia?
Joaquim: É
que...A minha tia sabe mais dessa história do que eu. Ela vive dizendo que a
minha mãe morreu num acidente de carro, mas eu não acredito! Todas as
evidências apontam que sim mas...Tem alguma coisa aqui, dentro de mim, que me
diz que ela tá viva sim, em algum lugar...
Yasmin: Você
sente falta dela, não é?
Joaquim: Muita!
É a minha mãe. Eu sei que tenho pouca lembrança com ela, mas as poucas que eu
tenho já são o suficiente pra saber que ela era uma pessoa incrível.
Yasmin: E
a sua tia, não gosta dela?
Joaquim: É
claro que gosto. Eu amo a minha tia, ela que me criou. Mas...Mas eu sei que ela
tá mentindo pra mim, eu vejo no olhar dela, no jeito que ela fica quando eu
falo disso. A Dona Vera nunca foi boa mentirosa.
Yasmin: (Ri:)
É, parece que sim.
Joaquim: Sabe...É
como se ela nunca tivesse me abandonado...É como se...Ela sempre estivesse
aqui, comigo. (Olha para Yasmin).
Os dois se olham por alguns
segundos. Aos poucos, Joaquim começa a se aproximar de Yasmin, indo beija-la.
Quando quase chega lá, Yasmin se afasta.
Yasmin: (Envergonhada:)
Ah...Eu tenho que ir...
Joaquim: O
que, mas já?
Yasmin: Já
tá tarde, eu tenho que entrar.
Joaquim: Mas
por que você não...
Yasmin: Desculpa,
mas não.
Joaquim: E
por que não?
Yasmin: É
complicado, eu tenho que ir.
Joaquim: (Pega
o braço de Yasmin:) Eu vou te ver amanhã?
Yasmin: É...Claro
que vai, eu trabalho aqui.
Joaquim: Boa
noite, então.
Yasmin: Boa...Noite.
Rapidamente, Joaquim dá um
beijo na bochecha de Yasmin que, enrubescida, volta para o prédio.
Trilha Sonora: Meu Abrigo - Melim
Cena 7/GigiCoffer/Sala da
Presidência/Interior/Noite
Gigi está pegando sua bolsa
para ir embora, quando seu velho telefone toca.
Gigi: Mas
quem é essa hora? A Marcela não me repassou essa ligação. Ah, que
enxaqueca...(Atende:) Gigi falando.
Pelo Telefone: Como vai, Gioconda?
Gigi: (Desconfortável:)
Desculpe, mas quem é?
Pelo Telefone: Não está mais reconhecendo a minha voz?
Gigi: E
por que eu deveria...(Arregala os olhos:) Não...Não pode ser...
Pelo Telefone: Ah, sabia que não me esqueceria tão cedo!
Gigi: (Senta-se,
perturbada:) O-o-o...O que você quer me ligando?
Pelo Telefone: Noticiar a boa-nova. Voltei pro Brasil.
Gigi: O
que?! Pro Brasil, você? O que quer aqui? Já não basta todo o estrago que você
fez na vida delas há mais de quinze anos atrás?
Pelo Telefone: Ah, como você é maldosa, Gigi. Eu mudei...Sou um
cavalheiro agora. Acredita que quase fui nomeado Sir na Inglaterra?
Gigi: Pouco
me importa. Você tem que sair daqui agora mesmo e voltar pra aquele fim de
mundo do qual você nunca deveria ter saído, seu crápula!
Pelo Telefone: Quanto rancor. Pra que remoer o que passou? Logo
você, que é tão desapegada ao passado.
Gigi: (Aperta
seu colar com força:) Eu não quero falar nisso.
Pelo Telefone: Ah, mas eu quero.
Gigi: Pois
então, muito bem. Eu vou agora mesmo até Johanna e Ednna falar toda a verdade
sobre você, seu sem vergonha, mentiroso! (Levanta-se).
Pelo Telefone: À vontade, querida, à vontade. Eu até imagino
como será amanhã: Os grandes jornais anunciando o maior podre da vida de
Gioconda Vanouse, a bela “Gigi”.
Gigi: O
que?
Pelo Telefone: Já pensou no escândalo que seria se todos
soubessem do seu...segredinho?
Gigi: (Se
senta:) Você não...Não pode fazer isso.
Pelo Telefone: Ah mas eu posso, claro que posso. Escuta bem,
sua perua, se você abrir o bico pra falar qualquer coisa sobre mim...Amanhã
mesmo o Rio de Janeiro inteiro vai saber da maior burrada que você fez.
Tacharão você de cretina...Rameira, sem coração...Falsa moralista e...Péssima
mamãe.
Gigi: O
que você quer?
Pelo Telefone: Por hora, quero que fique de boca fechada. Isso
já me basta. Bom, até logo, Gigi, bom fim de noite pra você.
Gigi: Seu
cafajeste, manipulador, infeliz! (O telefone desliga:) Ah...
Gigi aperta novamente o seu
colar, enquanto as luzes do GigiCoffer se apagam.
Trilha Sonora: Parte de “That Distant Shore” –
Jennifer Paz
Cena 8/Guarda-Chuva Rosa/Entrada/Exterior/Noite
Johanna e Ednna estão
saindo do prédio, quando veem Joaquim.
Johanna: Menino,
onde está Vera e as meninas?
Joaquim: Estão
ensaiando na passarela, dona Joahnna.
Ednna: Até
essa hora? Quanta dedicação.
Johanna: Vera
sairá daqui a pouco pra casa dela. Joaquim, vou deixar com você a chave do
prédio.
Joaquim: As
senhoras vão sair?
Ednna: Vamos
dormir no cortiço hoje, temos coisas pra resolver por lá.
Joaquim: Tá
certo. Vou esperar a Mara sair e fecho tudo.
Johanna: (Entrega
a chave:) Olhe lá hein menino, cê não me perca essas chaves!
Joaquim: De
maneira nenhuma, dona Johanna.
Johanna: Ótimo.
Vamos, cascavelzinha.
Ao saírem da entrada,
Johanna e Ednnadeparem-se com um guarda-chuva rosa, com um bilhete ao lado.
Ednna: Mas
o que?
Johanna: Ah,
não, não. Esse guarda-chuva de novo não!
Ednna: (Lendo
o bilhete:) “Se pensam que me surpreenderam pela escolha do nome do
prédio...Estão enganadas. Logo mais uma surpresa vai deixar vocês de queixo
caído. Mas não se acanhem, logo saberão quem é o seu/sua mais famoso(a) fã! – O
Rosa”.
Johanna: Vá
para o inferno com suas ameaças! Que ódio!
Ednna: Por
que estão fazendo isso?
Johanna: Se
eu soubesse...Seria capaz de arrastar o focinho do miserável por toda a avenida
Brasil!
Ednna: “PS:
Diga a Johanna que eu não tenho medo da avenida Brasil”.
Johanna: Filho
da mãe.
Trilha Sonora: Instrumental de
Suspense
Cena 9/Guarda-Chuva Rosa/Sala da
Passarela/Interior/Noite
Vera está dando uma aula
prática sobre a movimentação na passarela para Yasmin e Manuela.
Vera: Passos
largos, não fechados! Não muito abertos demais, tem que ser elegante.
Manuela: Dar
oi aos fãs?
Vera: Jamais!
Lembrem-se, meninas: Sempre olhem para frente, pra câmera. O público que irá
assistir vocês pela TV é infinitamente maior do que o da plateia. Não que vocês
devam ignorar o público presente, jamais! Mas devem sempre manter o olhar na
câmera, reto e pra frente.
Yasmin: (Desfilando:)
Estou indo bem?
Vera: Quase.
Você tem que mexer, desculpe a palavra, o popozão. Mexa, seja sensual, você
deve impressionar o telespectador e o juiz.
Manuela: E
a maquiagem?
Vera: Pouquíssima,
de preferência quase nula. A beleza sempre deve soar natural aos olhos de quem
vê. Passos largos, Yasmin, sem nunca perder...(Olha o relógio:) Nossa! Já é
meia noite. Meninas, amanhã nós continuamos. Beijos!
Vera sai.
Manuela: O
que cê tá achando das aulas?
Yasmin: Difíceis,
mas ótimas. A Vera é muito experiente, vai nos ajudar bastante, e ensinar como
ninguém.
Manuela: Se
você diz.
Yasmin: Vou
pra cama, você vem?
Manuela: Vou
tomar água e já vou.
Yasmin e Manuela saem.
Enquanto limpa o corredor,
Mara olha pela porta e vê a passarela vazia, somente com as luzes ligadas.
Devagar, ela vai passando pela sala, sobe as escadas e chega à passarela. Mara
larga a vassoura e, tímida, começa a atravessar a passarela.
Mara: (Alto:)
Senhoras e senhores, com vocês, a modelo internacional, Helcimara Leal! (Começa
a desfilar:) Com um vestido bordô feito pela competente EdnnaCaffona, Mara
desfila com suavidade e glória. Vejam que sapato, que charme, que mulher!
Manuela vai passando pelo corredor,
quando vê Mara desfilando. Encantada, ela a observa um pouco.
Mara: (Ainda
desfilando:) Agora ela traja um chiquérrimo vestido branco com detalhes em
dourado. Quem é Cinderela perto dessa mulher, minha gente?
Manuela acende o restante
das luzes, e olha maravilhada para Mara.
Mara: (Assustada:)
Dona Manuela?! (Recompondo-se e saindo da passarela:) Ai, meu Deus, me
desculpe. Que vergonha, como eu tive essa capacidade? Me perdoe, por favor. Não
conta nada pra dona Johanna, eu não quero ser demitida...É que a passarela tava
vazia e...Eu não sei...Eu não devia ter feito isso...Eu...
Manuela: Para!
Você incrível!
Mara: Ai,
como eu sou estúpida, eu...Espera, o que a senhorita disse?
Manuela: Eu
disse que você foi incrível!
Mara: A
senhorita tá enxergando bem? Olha, eu conheço um oculista maravilhoso que...
Manuela: Oculista?
Eu tô falando sério!
Mara: É
mesmo?
Manuela: Mas
é claro! Eu fiquei muito surpresa...Eu nunca imaginei que você quisesse ser uma
modelo...
Mara: Bom
é que...Ai, eu não devia...Eu vou me pôr no meu lugar.
Manuela: Mas
o seu lugar é aqui, na passarela!
Mara: Tá
falando sério?
Manuela: Mas
não é evidente? Mara, você desfila como uma profissional.
Mara: Eu?
Manuela: E
essa sua narração de Miss Universo, é ótima. Por que tá limpando o chão, você
devia estar desfilando!
Mara: Eu
sempre quis desfilar. (Triste:) Mas...Eu nunca vou poder.
Manuela: E
por que não?
Mara: A
senhorita não vê? Eu sou gorda, uma obesa. Eu não tenho o padrão das meninas
modelos, como a senhorita e a senhorita Yasmin. Eu sou só uma faxineira. Nunca
vou ter chance alguma.
Manuela: Quanta
baboseira vinda de uma única pessoa! Sabe, ouvir isso de gente preconceituosa é
normal, mas ouvir de você, que sofre isso, é inacreditável.
Mara: Mas
é a realidade. A realidade que me dão.
Manuela: Não,
é a realidade que você se dá.
Mara: Eu?
Manuela: Mas
é claro, Mara. Existem tantas modelos acima do peso que passaram por isso e
hoje são famosas. Elas lutaram, batalharam, não abaixaram a cabeça pras
críticas e hoje estão aí, desfilando pelo mundo inteiro, arrancando palmas e
elogios de todo o tipo de pessoa. Esse padrão que a sociedade impõe sob a
beleza era pra ter sido extinto há tempos. Afinal, cada pessoa tem a sua
beleza, e pegar apenas um grupo isolado de meninas e dizer que elas são o
modelo a ser seguido pelas demais...É uma estupidez sem fim.
Mara: Você
fala como se eu tivesse chance...
Manuela: Mas
você tem chance! Mara, tudo nessa vida pode ser mudado, recomeçado de alguma
forma. Não existe beleza ideal, todo mundo tem a sua própria beleza. A moda é
pra todos, não só pras mulheres ricas, ou pessoas com corpo estrutural e beleza
angelical, ela é pra todos. E eu tenho certeza que, se você persistir, pode
chegar onde jamais imaginou na sua vida que algum dia chegasse.
Mara: Mas
quem daria valor pra mim? Eu nem tenho tutora ou...
Manuela: Eu
vou te ajudar.
Mara: O
que?!
Manuela: Isso
que você ouviu. Eu vou te ajudar.
Mara: Mas
como?
Manuela: Os
meus ensaios com a Vera são de segunda à sexta. Nos sábados eu fico livre.
Podemos vir aqui e eu te ajudar.
Mara: E
se nos descobrirem?
Manuela: Não
vão nos descobrir.
Mara: Não
sei não...
Manuela: (Olha
no fundo dos olhos de Mara:) Mara, escuta. Você quer ou não ser uma modelo?
Mara: Eu...Eu...Eu
quero!
Manuela: Então
a hora é agora! Sobe nessa passarela e desfila pra mim.
Mara: O
que?
Manuela: Vai,
eu quero ver essa beldade desfilando de novo.
Mara: Ai,
senhorita Manuela, eu nem sei como agradecer!
Manuela: Pode
começar a agradecer me chamando só de Manu, de senhorita eu não tenho nada.
Mara: Combinado,
Manu.
Manuela: Sobe.
E nunca esquece de uma coisa: “A flor que desabrocha na adversidade, é a mais
rara e bela de todas”.
E assim, Mara começa a
desfilar na passarela. Mostra-se diversas cenas com Manu e Mara desfilando
juntas, e Manu olhando Mara desfilar, com muita felicidade. As duas riem e se
abraçam.
A cena congela com Mara desfilando em
direção a câmera, sorrindo alegre, enquanto um guarda-chuva rosa para ao seu
lado.
Trilha Sonora: Quase Lá – Kacau
Gomes
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