O Guarda-Chuva Rosa- Capítulo 04
quinta-feira, abril 04, 2019
O
Guarda-Chuva Rosa
Capítulo
4
Cena 1/Cortiço/Casa de Johanna e Ednna/Sala/Interior/Noite
Brigitte: Ai,
minha Santa Cecília! E a dona Johanna que não aparece? Tô tão aflita...Me sinto
tão culpada por ter deixado ela sozinha lá nas ruínas da Top Model...
Ednna: (Comendo
uma bolacha:) Tomara que não volte mais, aquele trambolho só ferra com a minha
vida.
Brigitte: O
que será de mim sem a dona Johanna?! Não posso viver sem meu emprego.
Brígida: Se
acalme, mulher. Ela volta, sempre volta.
Johanna abre a porta de
casa. Ela está toda molhada e com a maquiagem borrada.
Brigitte: (Comemorando:)
Dona Johanna, graças aos céus a senhora está bem! Fiquei tão preocupa...
Johanna: (Levanta
o dedo:) Nem ouse completar essa frase, sua duas caras! Me deixou na berlinda
pela segunda vez, e no mesmo dia!
Brigitte: Eu
acabei me esquecendo da senhora...
Johanna:
Ah, não diga! Eu vou me esquecer de pagar o seu salário também!
Brigitte:
Mas a senhora não me paga há cinco meses...
Johanna: E
precisa explanar pra todo mundo, sua espalhafatosa?
Ednna: Que
vergonha hein, Jojô. Além de péssima empresária, você também não paga os
empregados?
Johanna: Cascavel
de pradaria, cuide de sua vida! E falando nisso, quero apresentar a nova
inquilina. (Yasmin entra:) Essa é a Yasmin. Ela vai morar com a gente por um
tempo até tudo se resolver.
Ednna: (Cospe
o café:) Como é?
Johanna: Tá
com pau no ouvido, querida? Eu disse que ela vai morar com a gente.
Ednna: Isso
eu ouvi, mas não estou crendo!
Johanna: Não
seja tão incrédula, querida.
Ednna: Isso
é um abuso, eu sou dona dessa casa, e eu não admito que...
Johanna: Você
não admite nada, meu mel. Eu também sou dona, e como dona, eu posso botar quem
eu quiser e quando eu quiser aqui dentro. Yasmin tá na rua, não posso deixar
ela nessa situação.
Ednna: Que
puritana! E desde quando você decidiu ser ativista dos direitos humanos?
Johanna: Desde
que não te interessa. (Senta na cadeira:) Ela tem uma ideia pra nos tirar da
lama.
Yasmin: Exatamente!
(Cumprimenta Ednna:) Muito prazer, dona Ednna Caffona. É um prazer conhecer a
senhora. Como disse a dona Cabello, eu tenho uma ideia pra tirar vocês duas
desse fundo de poço que vocês estão.
Ednna: (Fingindo
não te problemas:) Não sei de onde você tirou que eu estou na pior. Quem tá no
fundo do poço é essa aí, (Aponta para Ednna:) que além de ter perdido as
modelos, ainda perdeu a empresa por um bujão de gás.
Brígida: Dona
Ednna, desculpe a intromissão, mas isso é mentira. Nós estamos mais atolados
que carro no barro. A tecelagem não produz nada há dias, os empregados foram
para greve, as encomendas foram canceladas...E as dívidas? Cruzes! Vai levar
uma década só pra pagar os carregamentos do Tião da Solda...
Ednna: Brígida,
querida, as vezes você perde a oportunidade de ficar calada.
Yasmin: Como
eu estava dizendo...Eu sei que vocês precisam de ajuda, e eu posso ajudar!
Ednna: Você
é economista?
Yasmin: Não...
Ednna: Empresária?
Yasmin: Não...
Ednna: Comentarista
de moda qualificada em cinco agências incluindo Massachussets, Madri, Toronto e
Nova Jersey?
Yasmin: Bem,
na verdade não...
Ednna: (Gritando:)
ENTÃO COMO PATAVINAS VOCÊ PODE NOS AJUDAR?!
Yasmin: Com
uma ideia, uma ideia de gênio! Ou melhor, de gênia! Eu já pensei em tudo, não
vai ser fácil, mas eu garanto que se vocês cooperarem, tudo vai fluir.
Johanna: Cooperar,
com a cascavelzinha aí? Ah, tá de brincadeira.
Yasmin: Eu
tenho certeza que a dona Ednna vai nos ajudar, afinal, ela não quer falir
também, não é? Então dona Ednna, o que acha?
Ednna pensa por um tempo.
Ednna: Eu
te odeio, Johanna.
Johanna: Ela
quis dizer “sim”, Yasmin. Conheço esta iguaria.
Yasmin:
Sendo assim...Eu vou começar os preparativos!
Brigitte: Para
quê?
Yasmin: Para
o golpe do século! Um golpe de mestre tão bem planejado, que fará as estruturas
dessa cidade roerem! (Vai para a porta).
Johanna: Onde
você vai, criatura?
Yasmin: Falar
com uma pessoa que vai nos ajudar, e muito! (Sai).
Brigitte e Brígida saem, e
Johanna senta-se na mesa para tomar café com Johanna.
Johanna: E
então, cascavelzinha, que acha da nossa nova vizinha?
Ednna: Sabe,
Jojô, a minha vontade é de pegar esta xícara de café, e jogar na sua cara.
Johanna: (Ri:)
Ridícula. Você não teria coragem...
Ednna: (Olha
para Johanna:) Não?
Johanna: Não,
sabe por quê? Por que você é uma franga de padaria. Uma inútil, covarde e incompetente...Tão
incompetente quanto os funcionários daquela sua empreseca de quinta categoria!
Ednna: Incompetente?!
Johanna: Incompetentezinhos,
assim como você, meu mel.
Ednna: Pois
bem, tome! (Joga o café em Johanna).
Johanna: (Limpa
o café, rindo:) Certo. A senhora acaba de cometer um ato extremamente
deselegante. Nada mais justo do que eu fazer o mesmo.
Ednna: Você
não teria coragem!
Johanna: (Joga
o leite fresco no cabelo de Ednna:) Não?
Ednna: Está
certa. Com sua licença (Esmaga uma bisnaga e entope no nariz de Johanna).
Johanna: Bem,
me desculpe, mas eu tenho que revidar.
Ednna: A
senhora fique à vontade.
Johanna: (Atira
a geleia no vestido de Ednna:) Veja que belo, até ficou mais vívido!
Ednna: Certamente.
Já comeu salame? (Atira uma rodela de salame na cara de Johanna).
Johanna: Sim,
mas sempre acompanhado de uma boa margarina. (Pega o cubo de margarina e
esfrega nas madeixas de Ednna).
E assim, as duas se levantam
e passam a tacar todos os alimentos do café da manhã uma na outra, até Brígida
e Brigitte chegarem.
Brigitte: Minha
Santa Cecília!
Brígida: Pela
madrugada! Passou um furacão aqui?!
Johanna: Um
furacão chamado Ednna.
Ednna: Uma
tormenta chamada Johanna.
Johanna: Brigitte
e Brígida, queridas...
Ednna: Podem
tirar a mesa.
Johanna e Ednna vão
cantarolando até o quarto.
Brígida: Isso
não vai dar certo.
Brigitte: Ai
de nós.
Trilha Sonora: Erva Venenosa – Rita Lee
Cena 2/Baixada Fluminense/Casa de
Vera/Sala/Interior/Noite
Vera começa a arrumar o
jantar para seu sobrinho, Joaquim.
Vera: Joca, querido! A
comida tá pronta.
Joaquim: (Grita
da sala:) Já vou, tia.
Vera: Olha
que a comida via esfriar.
Joaquim: Eu
esquento!
Vera: Que
esquenta nada, moleque, as refeições devem ser comidas na mesa e em família!
Joaquim: Família,
o sobrinho e a tia?
Vera: Sim,
essa é a nossa família. E para de bater boca, guri, vem comer.
Joaquim senta na mesa com
Vera.
Joaquim: A
senhora é sempre tão perfeccionista.
Vera: Você
vê isso como um defeito?
Joaquim: Bom...Algumas
vezes sim.
Vera: Mas
para mim não. A minha carreira me ensinou a ter compostura, ser educada,
organizada. Se não fosse por mim, essa casa estaria um caos!
Joaquim: A
senhora sente falta do trabalho?
Vera: É,
eu tenho. Foram vinte anos de serviço, a gente se acostuma a ir à luta todo
dia. Vida de aposentada é um saco, ainda mais com essa aposentadoria.
Joaquim: É,
e eu que nem emprego tenho...
Vera: Calma,
querido. (Faz um carinho no cabelo de Joaquim:) Uma hora, o emprego aparece. Mas
ficar parado esperando por milagre não ajuda em nada não, viu? É preciso
batalhar pra se conquistar. Entregue os seus currículos pela cidade, você tem
tantos talentos, é impossível que alguém não enxergue eles em você!
Joaquim: Já
entreguei cinquenta currículos, e até agora nada. Esse desemprego me frustra
todo dia. Odeio depender da senhora.
Vera: Menino!
Joaquim: Não,
tia! Não quis dizer nesse sentido. Eu sou muito grato por tudo que a senhora me
fez. Você é quase uma mãe pra mim, me criou desde que a minha mãe...Bem, você
sabe.
Vera: É,
eu sei.
Joaquim: Tia...Posso
perguntar uma coisa?
Vera: Claro,
querido.
Joaquim: A
minha mãe...Morreu mesmo?
Vera: (Larga
os talheres no prato:) Joaquim, nós já conversamos sobre isso.
Joaquim: Sim,
eu sei, mas eu não consigo entender, não faz sentido.
Vera: (Se
levanta:) A vida não faz sentido, vivemos num sonho utópico distante. Triste
realidade. (Vai à pia lavar a louça).
Joaquim: Por
que que a senhora sempre foge desse assunto? É a minha mãe!
Vera: E
é a minha irmã! E eu tenho o direito que não falar nada. Eu já te disse tudo,
tudo, Joaquim. Sua mãe morreu três anos depois de você nascer, pronto, acabou.
O que não faz sentido pra você?
Joaquim: Como
a minha mãe pode ter morrido quando eu tinha cinco anos, se essa foto (Mostra
uma fotografia:) mostra eu e ela juntos, no meu aniversário de cinco anos?!
Vera: Você
tá delirando, Joaquim, só fala disparates.
Joaquim: (Levanta
o tom de voz:) Não são disparates!
Vera: Joaquim
das Flores, você não levante a voz pra mim!
Joaquim: Eu
levanto, levanto! Eu não aguento mais as mentiras que a senhora diz. Você vive
fugindo disso, como se fosse perigoso, secreto, uma mentira!
Vera: Olha
aqui, Joaquim, eu não vou admitir essa falta de respeito na minha casa!
Joaquim: Tem
razão, é a sua casa. Nem sei o que eu tô fazendo aqui. (Vai para a porta).
Vera: Joaquim!
Onde você pensa que vai?
Joaquim: Pra
qualquer lugar onde não mintam pra mim. Eu sou um home de 22 anos extremamente
capacitado, e eu vou provar isso pra senhora! (Sai).
Vera: Menino,
menino! Ai, que coisa!
Vera encosta a cabeça na
parede, onde fica observando uma velha foto sua, onde desfilava com uma faixa
escrita: “Miss Rio 1990”.
Trilha Sonora: Começa com “New Rules” (Tema de Vera) e
termina com “Jailhouse Rock” (Tema de Joaquim).
Cena 3/Copacabana Palace/Terraço/Exterior/Noite
Donna Cabonna participa de
uma festa de luxo no alto do hotel carioca. Enquanto toma champanhe, Cabonna vê
Katherine conversando com um faxineiro que limpava as mesas.
Katherine: Oh,
my God! É incrível, você limpa tudo isso sozinho?
Faxineiro: Claro,
dona. É um serviço pesado, mas eu me aguento!
Katherine: Isso
é tão fascinante...(É interrompida por Donna).
Donna: Venha
cá! (Pega Katherine pelo braço e a leva para longe do faxineiro).
Katherine: Ai,
o que é isso? Você me machucou.
Donna: Eu
deveria ter arrancado as suas orelhas, sua estúpida! O que pensa que estava
fazendo com aquele, aquele...
Katherine: Faxineiro?
Donna: Esta
droga.
Katherine: Oh,
lady Cabonna, eu estava apenas conversando. É tão incrível para mim o poder de
luta dos brasileiros...Eles são tão batalhadores, tão fortes...
Donna: Tão
pobres! Por favor, Kate! Você é uma modelo americana de luxo, não pode ficar se
esfregando com essa classe subordinada, que nada mais presta além de servir os
outros.
Katherine: Sabe
que eu não concordo com a senhora?
Donna: Você
não tem que concordar com nada. Vamos, volte pro quarto.
Katherine: Mas
lady Cabonna, a festa mal começou!
Donna: E
já terminou pra você, Katherine. Vá.
Katherine vai para o quarto,
bufando.
Donna: Eu
tenho muito o que ensinar pra essa novata. Tenho que me preparar, falta pouco
pro desfile...E eu não posso errar nenhum passo. Ah, Johanna e Ednna, vocês nem
perdem por esperar!
Trilha Sonora: Erva Venenosa – Rita Lee
Cena 4/Cortiço/Casa de Johanna e
Ednna/Sala/Interior/Noite
Após a briga, Johanna foi
tomar seu banho quente, enquanto Ednna limpa os estragos.
Ednna: Que
bagunça, da próxima vez eu vou surrar ela com água. (Grita:) Ô jararaca! Tá
achando o que? A água não é barata não, apressa esse banho!
Johanna apenas debocha de
Ednna assoviando.
Ednna: Cretina...Deixa
eu arrumar essas tranqueiras antes que a nova hóspede chegue.
Enquanto arrumava a sala,
Ednna se deparou com o guarda-chuva rosa que Johanna trouxe da Top Model. Isso
lhe deu uma imensa raiva, pois a mesma havia pensado que Johanna tinha o
trazido de propósito. Afinal, Ednna tinha motivos para ter traumas de
guarda-chuvas rosas.
Ednna:
Aquela ordinária, ratazana de esgoto...Ela acha que pode brincar comigo?! Mas
ela me paaaga, cachorra peruquenta sem vergonha! Ai que ódio!
Possessa, Ednna vai até o
registro da casa e o desliga, fazendo as costas de Johanna, que antes estavam
cobertas por uma água quentinha...Se tornasse uma cachoeira glacial.
Johanna: (Assustada
e histéria:) Ai, desgraçaaaaaaadaaaa!
Trilha Sonora: Erva Venenosa – Rita Lee
Cena 5/Cortiço/Casa de Manuela/Exterior/Madrugada
Yasmin sobe as escadas em
direção a casa de Manu, e bate na porta.
Manuela: (Abre
a porta:) Yasmin?! O que você faz nessa chuva, que horas são?
Yasmin: Duas
da madrugada, só consegui chegar agora pra te dar a boa nova!
Manuela: Ai,
Min. Será que não da pra esperar amanhecer?
Yasmin: Mas
é claro que não! Eu consegui aquilo que eu mais queria, e pra nós duas!
Manuela: An?
Yasmin: Eu
fui na Top Model, e a Johanna Cabello nos deu o emprego!
Manuela: Yasmin,
a Top Model explodiu, como nós vamos trabalhar lá?
Yasmin: Eu
sei, eu sei, mas tive um ideia!
Manuela: Prefiro
dormir.
Yasmin: Ai,
Manu! Por favor, me escuta!
Manuela: E
eu fiquei sabendo que você se mudou pra casa delas, cê tá louca? Johanna e
Ednna se odeiam, como você pode ajudar?
Yasmin: Elas
até podem se odiar, mas não podem perder o talento!
Manuela: O
que você tá tramando?
Yasmin: Eu
vou fazer Johanna Cabello e Ednna Caffona voltarem à ativa novamente!
Manuela: O
que?
Yasmin: Isso
que você ouviu. Sabe o desfile que vai acontecer aqui, dentro de três meses?
Pois bem, essa é a nossa oportunidade. É simples: Nós juntamos Ednna e Johanna
novamente, treinamos muito e desfilamos! Com o dinheiro do prêmio a gente abre
uma nova empresa, com elas duas no comando. E assim, vamos ser as modelos
famosas que tanto sonhamos!
Manuela: Sabe
de uma coisa?
Yasmin: O
que?
Manuela: Eu
não queria ter gostado tanto desse plano.
Yasmin: Ai,
Manu! Você é demais!
Manuela: Eu
sei, me dê valor. E como começamos?
Yasmin: Amanhã
mesmo eu vou contar pra elas, mas eu preciso que você vá junto, pra dar
suporte, sabe?
Manuela: Quanto
você me paga?
Yasmin: Um
beijo e um abraço, quem sabe?
Manuela: Que
pobreza.
Enquanto conversavam na
sacada, uma figura estranha se aproxima das duas.
Claudine: Yasmin,
filha?!
Yasmin: (Chocada:)
Mã-mã...Mãe?
A cena se congela com um guarda-chuva rosa
passando por Yasmin e caindo sobre a tela.
Trilha Sonora: Unfortunate Soul – Kailee Morgue
GANCHO
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