INCÓGNITA - CAPÍTULO 4

quinta-feira, outubro 01, 2020

INCÓGNITA

Capítulo 4 - "Acabou a Loteria"




Uma novela de
MISTER HUDSON

Supervisão de Texto
MEGAN CLARKE E TEDILDE MOREIRA

Personagens desse capítulo

SHERON MENEZZES - Larissa
DAN FERREIRA - Ronaldo
DAVID JUNIOR - Humberto
SILVIO GUINDANE - Dr. Eduardo


Cena 1: Delegacia Geral de Polícia/Sala do Delegado/Noite/Interior

Continuação imediata da última cena do capítulo anterior
 
A câmera vai fechando no semblante do Delegado, atônito e surpreso com a revelação de Ronaldo sobre o crime. Em seguida, ele levanta os olhos e encara o filho de Larissa:
 
Delegado (injuriado): - O senhor tem a mínima noção da gravidade dessa...” confissão”?

Ronaldo (engolindo seco): - O Dr. mesmo já respondeu: é uma “confissão”. De livre e espontânea...vontade.

O Delegado levanta os braços e se recosta na cadeira de madeira. Fixa seus olhos esverdeados nos amarronzados de Ronaldo. A câmera foca nestes, num close gradual, ao passo que estão marejados.
 
Delegado (questionador): - Pois então eu quero você me conte tudo, absolutamente tudo o que aconteceu naquela madrugada.


 
Cena 2: Mansão dos Silva/Interior/Noite

Humberto e Larissa estão se beijando fervorosamente. Eles ingressam na suíte da socialite, e o irmão de Emiliano a empurra sedutoramente na cama. Ambos começam a se despir. A câmera foca no tórrido beijo de Larissa e Humberto.
 
Larissa (incomodada): - Hum...Humberto. Me “solta” ...anda, me “solta”!

Humberto: - Pô, o que é, hein, Larissa? Depois de tanto tempo desaprendeu a cartilha?

Larissa (enraivecida): - Olha, Humberto, às vezes a sua misoginia me espanta.

Humberto (cínico): - Achei que já estivesse acostumada com isso e muito mais...

Larissa se esgueira e aproxima seu rosto do de Humberto. A câmera “fecha” em seu semblante.

Larissa: - Eu não saí de mais de uma década de cólera pra embarcar em outra.

Humberto rebate, tentando apaziguar os ânimos.

Humberto: - Foi mal, “gata” ...

Larissa levanta e se olha no espelho.

Larissa (enraivecida): - Ronaldo preso, o Dr. Eduardo na nossa “cola”. Só de ver meu filho preso com drogas é motivação suficiente “pra” minha libido baixar.

Humberto, compreensivo, se levanta e vai em direção à Larissa de modo a confortá-la.

Humberto: - Relaxa, Larissa. Amanhã você tece muito bem a sua teia e deixa aquele Delegado se sentir bem à vontade nela. Num estalar de dedos, ele vai estar comendo na palma da sua mão.

Larissa suspira e se vira para uma cômoda, debaixo do espelho. Ela abre uma das gavetas. A câmera foca em sua mão desembrulhando um revólver. Ela o ergue e o analisa, cirurgicamente.

Larissa: - E se isso não se resolver pelo amor... (Larissa engatilha o revólver) ...que se resolva, pela dor.
 
Corta para:

Abertura




Cena 3: Delegacia Geral de Polícia/Sala do Delegado/Noite/Interior

A câmera gira em torno da mesa de madeira onde estão sentados Ronaldo e o Delegado, em lados opostos.

Ronaldo (apreensivo): - Eu e meu pai brigávamos muito. Foram poucos os momentos de cadência e harmonia.
 
-A câmera corta para: “flashback”. A transição será com um “fade-in”. As vozes serão ecoadas. As falas de Ronaldo no presente serão intercaladas com as cenas do “flashback”, de modo a ilustrar a sua confissão.
 
Cena 4: Posto de Gasolina/13 de maio de 2019 (Segunda-feira) / Manhã

Ronaldo para o carro no posto de gasolina. Ele chama por um funcionário.
 
Ronaldo: - Colega...por favor, uma ajudinha aqui!

Funcionário do posto: - Pois não, senhor?

Ronaldo: - Eu preciso de uns dois litros de gasolina. Pode colocar no galão, por favor?
Funcionário do posto: - Claro...
 
Ronaldo (narração em dias atuais): - Eu comprei vários litros de gasolina em postos diferentes, só com dinheiro vivo. Assim, a polícia não me rastrearia e as suspeitas seriam ínfimas.
 
Câmera corta para:
 
Cena 5: Largo São Francisco/Depósito abandonado/Tarde/Exterior

Ainda no “flashback”, Ronaldo ingressa com seu carro num galpão desabitado.

Ronaldo (dias atuais): - Eu estacionei o carro num galpão, umas duas esquinas antes do apartamento da minha avó. Era um lugar que...que eu e uns ‘carinhas’ usavam pra usar droga e não ser pego por um ‘polícia’.

Delegado (questionador): - Você deixou os galões no galpão e foi o carro até a casa da sua avó...por isso as câmeras do Largo captaram a imagem de vocês três...

Ronaldo (narração em dias atuais/ trêmulo): - E... exato.


Câmera corta para:
 
Cena 6: Mansão dos Silva/ Noite/ Interior

Ronaldo (narração em dias atuais): - Depois da visita nós voltamos “pra” casa. Meu pai estava ouvindo Mozart num volume ensurdecedor. Ele fazia isso quase todas as noites.

 
Câmera corta para: sequência de cenas da noite de 13 de maio de 2019 (segunda-feira) / Noite
 
Ronaldo caminha em direção ao escritório onde está Emiliano. Há somente uma fresta da porta por onde sai a luz que ilumina o recinto. Todo o resto da mansão está no breu. Larissa teria subido ao quarto para se arrumar para o espetáculo de ballet do grupo “Le Papillon”. A câmera foca na mão de Ronaldo segurando o revólver.
 
-Ronaldo (narração em dias atuais): - Eu caminhei até a cadeira do meu pai, ele não ouvia nada, só os acordes da ária. E...eu fiz.

 
Câmera corta para: Mansão dos Silva/Interior/Noite/Dias Atuais

Larissa: - E eu fiz, Humberto. Eu tive de fazer. Acabei com o meu sofrimento do mesmo jeito com que eu sofri: com a dor.

A câmera sai do foco do semblante de Larissa e retorna para sua mão, que vai repousando o revólver na gaveta e o embrulhando no pano. Ela fecha o compartimento e retorna para a cama, pensativa. A câmera retorna para Humberto:

Humberto: - Só que dessa vez você precisa usar outro tipo de arma. Com essa, você vai ficar acima de qualquer suspeita.

Larissa (pensativa): - É, eu sei. É que esse delegado é tão parecido com o Emiliano. E você sabe que eu fiz de tudo pra não ter que tomar a medida extrema que tive que tomar.

Humberto: - Com o Emiliano foi diferente. Ele “tava” cego de mágoa desde o que aconteceu naquela noite. Você ou qualquer atributo feminino seu seria mais uma motivação pra “te” humilhar, ainda mais pelo teu passado antes do casamento com ele.

Larissa (conclusiva): - É, você tá certo...

Larissa se recolhe debaixo das cobertas, reflexiva. A câmera corta para Humberto, atrás dela, tentando confortá-la. Lágrimas despencam de seus olhos.

Larissa (chorosa): - Eu fiz tudo isso por causa do meu filho. Só por ele.


A câmera corta para:
 
Cena 7: Delegacia Geral de Polícia/Sala do Delegado/Noite/Interior

A câmera foca nos olhos de Ronaldo. Eles estão marejados. O foco retorna às suas mãos, suando frio e se retorcendo entre si.

Ronaldo (narração em dias atuais): - Eu atirei. Na cabeça. O silenciador e a música disfarçaram toda e qualquer suspeita.
  
Câmera corta para:

Cena 8: Mansão dos Silva/ sequência de cenas da noite de 13 de maio de 2019 (segunda-feira) / Noite

Larissa desce as escadas, num vestido dourada brilhante e um casaco de pele bege. Ela está glamurosa. Enquanto isso, Ronaldo abaixa o volume da música, tranca o escritório e guarda a chave consigo. A arma também está no recinto, em cima da mesa de Emiliano. A câmera corta para Larissa, que se dirige ao filho:

Larissa (questionadora): - Ronaldo?

Ronaldo (assustado e trêmulo): - Mãe?

Larissa: - Bota ao menos um blêizer, capaz de teu pai crucificar a nós dois se você sair desse jeito na revista.

Ronaldo (trêmulo): - Tá, tá...
 
A câmera acompanha Ronaldo subindo as escadas. Ele está suando frio e respira, ofegante. Suas mãos tremem ao vestir o blêizer, ele volta à Sala de Estar e parte com sua mãe em seu automóvel até o Teatro Municipal.
 
Câmera corta para:

Cena 9: Delegacia Geral de Polícia/Sala do Delegado/Noite/Interior/ Dias Atuais

Delegado: - E aí?

Ronaldo: - Quando chegamos no Municipal eu...eu fiz questão de ficar sob os flashes dos fotógrafos. Era a oportunidade de reforçar o meu álibi. Ser filho de socialite tem essas vantagens.

A câmera foca no semblante do Delegado, que lança um sorriso amarelo.

Ronaldo: - Minha mãe e eu encontramos meu tio. Logo depois do início do espetáculo eu saí e voltei pra casa.
 
Câmera corta para:

Cena 10: Mansão dos Silva/ sequência de cenas da noite de 13 de maio de 2019 (segunda-feira) / Noite

Ronaldo estaciona o carro na garagem da mansão. Ele desce no automóvel e se dirige ao escritório. Abre a porta de vidro fumê e puxa o corpo de Emiliano até o carro do pai.

Ronaldo (narração nos dias atuais): - Depois de voltar no galpão e pegar os galões, o carro começou a enguiçar. Não tive outra escolha senão acabar com tudo naquela hora e naquele lugar.

Delegado: - E então?

Ronaldo (trêmulo): - Bem...eu deixei o carro em ponto morto e fui empurrando-o. O encharquei de gasolina, deixei meu pai confortável no banco do motorista e furei o tanque de combustível.
 

Corta para:
 
Cena 11: Largo São Francisco/Noite/Exterior

Ronaldo se distancia do automóvel, engatilha um isqueiro, a trava e o joga em seguida. O carro fica em chamas.

Ronaldo (narração em dias atuais): - Eu sabia que com o vazamento o carro iria explodir, era óbvio.

Corta para:
 
Cena 12: Delegacia Geral de Polícia/Sala do Delegado/Noite/Interior
 
Delegado: - E como você fugiu de lá? Voando?

Ronaldo encara o Delegado.

Ronaldo:  - Eu sabia de um ponto de táxi 24 horas umas esquinas à frente. Não era de frota, a polícia não conseguiria nenhuma informação. Eu peguei e voltei ao Teatro. Esperei minha mãe e meu tio do lado de fora e voltei pra casa com eles.

Delegado: - E eles não reagiram ao seu sumiço?

Ronaldo: - Não. Eu inventei que precisei sair da sala de espetáculos e isso já bastou. Convenci minha mãe de deixar a porta do escritório trancada pois meu pai estava dormindo. E consegui segurar isso até as primeiras notícias saírem nos tabloides.

A câmera corta e foca no semblante desconfiado do Delegado. Ele começa a rir e se recosta na cadeira.

Delegado: - Essa anedota é tão bem costurada e inevitavelmente esburacada ao mesmo tempo.
Ronaldo bate com sua mão esquerda fechada sobre a mesa, enraivecido.

Ronaldo: - Não existe anedota alguma! Essa é uma confissão e o senhor tem obrigação de acolhê-la!

Delegado (enraivecido): - Não! Existe um inquérito policial em andamento.

Ronaldo: Mas eu tenho a lei ao meu alcance!

Delegado: Não, não tem! A única coisa que você vai ter ao seu alcance é uma condenação por Tráfico de Drogas, e isso já é um baita adorno pra decorar ainda mais a tua ficha suja!

O Delegado se aproxima do rosto de Ronaldo.

Delegado (cínico): A gente sabe que você não matou o teu pai.

O Delegado se vira e vai embora, demandando que o carcereiro retorne com Ronaldo à cela. O filho de Larissa tenta resistir, e chora, desesperado na cela.

 
Corta para:
 
Cena 13:Mansão dos Silva/Suíte de Larissa/Interior/Manhã

O celular de Larissa toca. Ela o atende, ainda sonolenta.

Larissa: - Pois não...Dr. Ricardo!?

Dr. Ricardo: - Senhora Larissa, bom dia. Eu...preciso falar urgentemente com a senhora, é sobre dos bens do Dr. Emiliano.

Larissa, surpresa, no recosta na cabeceira da cama.

Larissa: - Pois não, Dr. é, poderia vir daqui quarenta minutos?

O advogado do Dr. Emiliano concorda e Larissa desliga o telefone. Ela se vira para Humberto, tentando acordá-lo. Ele acorda, ainda sonolento e tenta se levantar.

Humberto: - Que é Larissa, são dez da manhã, ainda.

Larissa se levanta e começa a se vestir.

Larissa: - E daqui a pouco são onze e o Dr. Ricardo já vai estar aí.

Humberto: - Ricardo? O advogado do Emiliano?

Larissa: - Pois é, ele deve ter novidades sobre os bens dele, só ele tinha acesso aos fundos que o Emiliano mantinha nas Bahamas.

Larissa deita de bruços na cama, com um olhar cínico e um sorriso apaixonante.

Larissa: - Grana do Caribe vindo pra cá, ó (ela bate a mão no bolso da calça) ...pro nosso bolso!

Os dois se beijam. Humberto se levanta e se dirige à Larissa, enquanto se veste:

Humberto: - Não se esqueça de ligar pro “delegado malvado” (rindo).

Larissa: - Pode deixar...hoje ele não me escapa.
 
Corta para:

Cena 14: Mansão dos Silva/Sala de Estar/Interior/Manhã

Larissa ouve a campainha na porta e se dirige até ela para atender.

Larissa (simpática): - Dr. Ricardo, que prazer!

Ambos apertam as mãos. O advogado entra no recinto.

Dr. Ricardo: - Sra. Larissa, gostaria de demonstrar minha solidariedade pela prisão do Ronaldo. Já está em todos os jornais e tabloides do Estado.

Larissa (suspirante): - Eu...já imaginava essa explosão. É bem capaz de propagaram qualquer “fake News” ao meu respeito, ainda mais depois da morte do Emiliano.

Dr. Ricardo: - Eu conheço um excelente criminalista, mas...não sei se vai ser possível arcar com os serviços dele.

O rosto de Larissa fica esbranquiçado. Ela se senta lentamente na cadeira, e observa atentamente o rosto do advogado.

Larissa: - E porque eu não poderia pagar? O que o Emiliano me deixou não será mais do que o suficiente?

Dr. Ricardo: Seria. Se ele ou alguém por ele tivesse deixado.

Larissa se levanta, espantada e assustada.

Larissa: - O quê?

Dr. Ricardo: Todas as contas nas Bahamas que o Dr. Emiliano detinha foram limpas, sacadas, ze-radas...depois da morte dele.

A câmera fecha no rosto de Larissa, que passa as mãos nele, arrasada.


-GANCHO- 

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