Más Intenções - 02x08 (Penúltimo)
segunda-feira, setembro 28, 2020
Capítulo 20
“Bitches in Fire”
Criação
Megan Clarke
Roteiro
Megan Clarke e Isabela
Ágata
CENA 1 – HOSPITAL PENITENCIÁRIO/ ENFERMARIA/ NOITE:
O rosto de César está molhado, ele chora sem acreditar no que
o irmão disse. Vânia em choque, apenas segura a mão de Rodolfo, que tenta falar
algo.
RODOLFO: Eu… Eu não tenho muito tempo. Quero te pedir…
(tossindo) Perdão. Me desculpa por tudo.
CÉSAR: (chorando) O quê? Você faz isso comigo, destrói a
minha vida, meus sentimentos, tudo que eu tinha, e agora.... Agora quer que eu
te perdoe? (Rodolfo concorda) Não, não, não vou fazer isso. Que se dane, morra
pedindo.
VÂNIA: (chocada) Mas o que é isso, César?
RODOLFO: Não foi por… por querer. Eu agi sem pensar. (T)
Acredite. Não queria te ver… sofrer.
CÉSAR: (chorando) Não vou perdoar ninguém, sabe porquê?
Ninguém teve pena na hora que mais precisei de apoio. Todos viraram as costas e
decidiram me deixar chegar naquele ponto. (vira o braço e mostra as cicatrizes
no pulso pra Rodolfo) Tá vendo isso aqui, tá vendo? Foi sua culpa! A idiotice
que me prejudicou! Não foi por querer né? Tá certo, o diabo vai anotar isso!
RODOLFO: Me.../
CÉSAR: (berra) CALA A BOCA! CALA A BOCA SENÃO EU VOU TE MATAR
ANTES QUE VOCÊ MORRA DE UMA VEZ! (T) Não percebe que isso é grave? Ainda não
sacou? Pensei que sim, já que tá na beira da morte, pagando pelo que fez.
RODOLFO: (tossindo) Só me escuta.
CÉSAR: (berra) Vai dizer mais o quê agora? Que eu sou
herdeiro do papai também? Essa eu já sabia, seu mau caráter!
Vânia se descontrola e dá um tapa na cara de César, que põe a
mão no rosto.
VÂNIA: Chega! Pelo amor de Deus, ele tá morrendo. Não importa
a merda que tenha feito, qualquer um sabe que é muito grave, mas perdoa ele!
(T) Olha pra você. Fora de si, chorando como uma criança. Age feito um adulto,
meu filho. Eu sei que tá doendo muito, mas perdoa ele. Por favor, César. (T)
Uma hora ou outra, você vai ter que engolir que a Camila morreu, que seu filho
tá vivo e que nem tudo é como a gente quer.
Silêncio. Enquanto as lágrimas escorrem, César passa a mão
pelos cabelos e suspira.
VÂNIA: Filho… Por favor! Eu também fiquei com muita raiva,
mas eu sou mãe. Tô sofrendo muito com o que aconteceu com seu irmão. Por favor.
(toca no rosto dele) Olha pra mim. (T) Não piora o que já tá ruim.
CÉSAR: (respira fundo) Tá bom, tá bom. (enxuga o rosto e se
aproxima da cama) Eu te perdoo, Rodolfo. Eu te perdoo.
RODOLFO: (sussurra) Não… Tem que ser de coração. (T) No
fundo, eu sei que você me ama, meu irmão. (César desaba no choro) Por favor,
pela nossa infância. Você sempre cuidou de tudo e até de mim quando ficava
doente.
CÉSAR: (marejando) Eu te perdoo, meu irmão. (pega na mão
dele) Eu te perdoo. Tá tudo bem. (T) Eu te amo.
Rodolfo tenta se erguer, até que finalmente consegue e num
impulso, abraça César, que retribuí e chora muito.
RODOLFO: (chorando) Eu te amo, César. (T) Te amo.
CÉSAR: A gente vai ser irmãos até o fim.
RODOLFO: (suspira, fechando os olhos) Até o fim…
Rodolfo sorri fraco e de repente, o aparelho apita. Vânia
olha pra Rodolfo assustada, assim como César, que ainda o abraça. Vânia sai
correndo pela porta e César o tem em seus braços.
CÉSAR: (berra / desesperado) Ei, acorda. Fica comigo.
Rodolfo está desfalecido nos braços dele, já sem vida.
CÉSAR: (berra) Rodolfo! Rodolfo! Fala comigo, não vai agora.
Tenho muito que dizer, volta. (sacode ele) Volta. Volta, droga.
Vânia chega correndo com dois paramédicos que pegam um
carrinho e preparam a reanimação. César continua abraçado com ele, chorando. Uma
enfermeira chega e pega César, afastando ele da cama enquanto Rodolfo recebe o
choque no peito. Uma, duas, três vezes. Os paramédicos se olham.
VOZ: (off) Hora da morte: 22h55.
Vânia dá um grito e desmaia, sendo amparada pelos enfermeiros.
Um silêncio toma conta do ambiente, que mostra em close, os dois irmãos em cima
da cama. Fade out.
CENA 2 – CASA DE VÂNIA/ QUARTO DE CÉSAR/ MANHÃ:
Fade in. Dias depois, César está dobrando
algumas peças de roupas meio pra baixo, triste, quando Vicente chega no quarto
trazendo uma xícara de café, ele fica parado na porta olhando pra César.
VICENTE: Oh gatinho, melhora essa cara.
César dá um sorriso forçado e desfaz na mesma hora, continua
dobrando as roupas. Após terminar ele se senta passando a mão pelo cabelo e suspirando.
CÉSAR: O Rodolfo era uma peste. Fez umas coisas comigo que...
eu tinha uma vontade de matar ele... (T) Mas no fundo eu amava tanto ele. (T)
Eu tinha ódio dele, mas eu amava ele. Você entende?
Vicente senta ao lado dele e entrega a xícara para ele.
VICENTE: Toma, esse foi eu mesmo que fiz. (T) E eu entendo
você. (T) No fundo eu também amava aquele desgraçado. Mesmo depois de tudo. Eu
odiava e amava ele. (ri, lembrando) Ele vivia mandando mensagem pra mim,
pedindo pra eu voltar com ele, mas eu nunca respondi nenhuma.
CÉSAR: Você se sente culpado por isso?
VICENTE: Não. Também não acho que seja bom ficar pensando
nessas coisas que só faz a gente se destruir por dentro. Eu acho que as coisas
aconteceram da forma como tinha que acontecer. Pelo menos ele fez uma coisa boa
antes de partir. Contou que o Cassiano é seu filho.
César respira fundo, mostrando-se um pouco ansioso e tenso.
VICENTE: Você já foi ver ele depois disso?
CÉSAR: Ainda não. Eu ainda tô pensando no que eu vou fazer
pra ter o meu filho de volta.
VICENTE: Não sei se você lembra, mas eu tinha dito pra você
que eu ia ajudar a investigar.
César olha para ele.
VICENTE: (continua) Eu colhi material seu e do Cassiano. Eu
levei pra um laboratório.
CÉSAR: Você fez isso e não me disse nada?
VICENTE: Eu não queria te deixar ansioso ou apreensivo. Se
você já ficou só em ter tido aquele sonho.
CÉSAR: Isso porque você dizia não acreditar em espíritos.
VICENTE: (ri) Eu e essa mania de me contradizer. (T) Mas é
sério. Se o exame der positivo, você vai poder lutar pela guarda dele na
justiça. É uma coisa boa, não é?
César não esboça reação alguma, está pensativo demais.
CÉSAR: Claro... Vai ser maravilhoso.
CENA 3 – HOSPITAL ALBUQUERQUE / CORREDOR / TARDE:
Bráulio está conversando com um médico, quando é surpreendido
com a presença de Teresa no local. Bráulio rapidamente se afasta do médico,
indo até ela.
BRÁULIO: O que você tá fazendo aqui?
TERESA: Eu vim te ver, bobinho.
BRÁULIO: Eu tô em horário de trabalho. Achei que ficaria cuidando
da obra da sua boate hoje.
TERESA: Eu dei uma fugidinha. O César e o Flávio estão
cuidando disso pra mim. Ah, ele pediu pra te avisar que depois quer falar
contigo.
BRÁULIO: (suspira) Aposto que vai pedir demissão do emprego
de babá. Agora que tá com a grana na mão não precisa mais de mim.
TERESA: Eu não duvidaria disso. Mas e a gente?
BRÁULIO: (solta um riso) A gente?
TERESA: Ué, Bráulio? Eu vim aqui só pra te ver.
Se aproxima para beijá-lo, mas Bráulio põe a mão no meio,
impedindo-a.
BRÁULIO: Eu não vou te beijar aqui. No meu local de trabalho.
TERESA: Ah, já sei. Tá todo mundo olhando, né? Vamos pra um
lugar mais reservado então. Vamos pro banheiro, ou melhor. Pra sua sala!
BRÁULIO: Eu não vou pro banheiro, nem pra minha sala, nem pra
lugar nenhum com você.
TERESA: Entendi, não quer nada comigo por causa da Manuela.
Bráulio, eu sei que vocês quase se casaram, mas a Manuela está praticamente
morta naquela cama, tá em coma há meses e sabe-se lá quando é que ela vai
acordar, se ela vai acordar/
BRÁULIO: (explode) Vem cá, em que mundo você vive hein?
(Teresa fica em choque com a reação dele, que se exalta ainda mais) Será que
você ainda não percebeu? Eu não gosto de você. Eu não gosto do seu cabelo, não
gosto do seu olho, da sua boca, do seu corpo, do perfume da Jequiti que você tá
usando agora, eu não gosto da pessoa que você é. (T) Entendeu? Eu não te
suporto, Teresa. (T) Vai arrumar alguém que te ature. Eu hein. Vê se me deixa
em paz.
Bráulio sai dali, deixando-a chorando de ódio, Teresa se
sente humilhada, jogada no chão, às traças. Ela limpa suas lágrimas, sentindo
uma raiva descomunal.
TERESA: Você me paga, desgraçado.
CENA 4 – MANSÃO DE AMANDA/ QUARTO DENISE/ TARDE:
Denise está jogando várias peças de roupas em cima da cama.
Vicente jogado na cama recostado na cabeceira e mexendo no celular ao mesmo
tempo em que olha pra ela.
DENISE: Aí bicha, eu tô tão nervosa que eu sou capaz de sair
dando tiro em todo mundo que eu ver pela rua.
VICENTE: Eu hein, tá assim por causa de quê? Tá com formiga
na periquita?
DENISE: Eu vou sair hoje com a Carolina, preciso estar
bonita.
VICENTE: (sem dar muita importância) Você já é bonita,
Denise. Coloca qualquer roupa aí e para com essa palhaçada.
Denise mostra duas opções de roupa pra ele: um vestido rosa
tomara que caia, daqueles que fica colado no corpo, e um vestido preto mais
comportado.
DENISE: Qual é o melhor? “Periguete Puta” ou “Puta com cara
de crente”?
VICENTE: Puta com cara de crente.
DENISE: Ótimo. (escolhendo o rosa) Vou ficar com o Periguete Puta.
VICENTE: (se irrita) Ah, vai tomar no teu cu Denise.
Denise vai pro banheiro se trocar. Vicente fica pensativo.
Denise volta já vestida com a roupa.
DENISE: E aí, como eu tô?
Vicente não dá atenção pra ela, continua pensativo. Denise
estranha a falta de reação dele.
DENISE: Que foi? Ficou feio?
Vicente foge dos seus pensamentos e olha pra ela.
VICENTE: Tá ridícula.
DENISE: (percebendo-o “longe”) Fala logo, bicha. O que tá
pegando?
VICENTE: Eu estava pensando aqui, a morte do Rodolfo foi bem
estranha né? Pelo o relato que eu ouvi, um grupo chegou nele do nada já dando
várias facadas.
DENISE: (ajeitando o vestido) Ué, essas coisas acontecem.
VICENTE: Eu não sei porquê, mas nada me tira da cabeça que a
Teresa tem alguma coisa a ver com isso.
DENISE: Mas também né? Ele matou o pai dela. (T) Vai ver ele
mereceu.
VICENTE: O quê?
Vicente se levanta e a encara.
DENISE: Quê, o quê, Vicente?
VICENTE: Você sabia disso, Denise?
Denise fica sem saber o que responder.
VICENTE: (sacando) Claro... A Teresa te pagou não foi? Você
foi lá no presídio e mandou eles fazerem o serviço. Não foi isso o que
aconteceu?
DENISE: Ué... Ela me pagou bem.
VICENTE: (ri de nervoso) Meu Deus...
DENISE: Você sabe que esse é o meu trabalho.
VICENTE: (explode) Você praticamente matou o Rodolfo. Você
matou o Rodolfo, Denise!
DENISE: Espera aí, que eu não matei ninguém. Eu só dei uma
ordem seguindo outra ordem. Ele foi esfaqueado sim, mas quem matou foi Deus,
meu amor. Me tira desse bolo que eu não tenho nada a ver com isso.
VICENTE: Eu vou sair.
Vicente vai deixando o local.
DENISE: Olha bicha, você não vai sair contando pros outros
né? Se você fizer isso eu te asso no forno igual uma galinha/
VICENTE: (corta) Vai se ferrar. Eu tenho mais o que fazer do
que ficar fofocando por aí sobre a sua vida criminosa.
Vicente sai do quarto, deixando Denise sozinha. Ela se olha
no espelho, com o vestido que colocou.
DENISE: (olhando para si) Credo, tá horrível mesmo. Vou
trocar.
Ela volta pro banheiro.
CENA 5 – HOSPITAL ALBUQUERQUE/ ENFERMARIA/ NOITE:
César caminha de um lado para o outro. Cassiano em seus
braços, chora muito, parece estar com dor. Ele tenta acalmar o pequeno, mas sem
sucesso. Uma enfermeira coloca um termômetro nele e anota algo em uma
prancheta.
CÉSAR: Fica calmo, o papa… (se corrige) O titio tá aqui. Vai
passar.
Carolina entra no quarto, ao telefone e com uma bolsa de bebê
do lado.
CAROLINA: (cel) Me desculpa mesmo, Denise. Se não fosse isso,
a gente ia se encontrar, mas eu preciso ajudar o César com o Cassiano. (T) Tá
certo, um beijo. A gente se fala depois. (T) Obrigada por me entender, bye bye.
Ela desliga e põe as coisas em cima de uma bancada.
CAROLINA: Olha, já liguei pro Bráulio umas 500 vezes, mas ele
não atende. Tá dando fora de área ou desligado. Lá na recepção disseram que ele
saiu faz quase uma hora. A Evódia me disse que ainda não teve sinal dele lá na
mansão também.
CÉSAR: (furioso) Droga, onde o Bráulio se meteu logo agora?
Ele tinha que estar aqui do lado do menino. (T) E você por sinal perdeu um
encontro né? Não precisava ter desmarcado.
CAROLINA: Nada disso, você tá sozinho aqui com ele e tem uma
porrada de coisa pra fazer. A Denise pode esperar mais alguns dias. Enfim… Só
que sei lá, vai que o Bráulio tenha ido em algum lugar importante antes de ir
pra casa? Já já ele aparece por lá e a Evódia fala que estamos aqui.
CÉSAR: (furioso) É, eu sei bem o lugar importante que ele deve
estar agora. Aquele desgraçado deve tá se acabando numa cama com uma vagabunda
qualquer enquanto eu tô aqui fazendo o papel que poderia ser dele. O hospital
não precisa que ele fique aqui por muito tempo.
O termômetro apita, a enfermeira tira. César fica mais
preocupado ainda.
CÉSAR: E aí, quanto ele tá?
ENFERMEIRA: Quase trinta e nove e meio, senhor. Foi bom
trazer logo antes que piorasse.
CÉSAR: Droga, quase trinta e nove e meio. (p/ Carolina) Tá
vendo só? É disso aqui que eu tô falando. Nunca vi um pai desprezar tanto um
filho como o Bráulio faz.
ENFERMEIRA: Com licença, qualquer coisa é só chamar ali. (ele
concorda e ela se retira)
CAROLINA: Mas vamos tentar entender o lado dele também,
César. A situação tá complicada. Manuela em coma, dona Graça fora do país e com
o corona, a Lara também e só ele pra tomar conta disso tudo aqui?
CÉSAR: Não sei e nem quero saber quantos lados ele tem. Essa
porra não vai desabar em cima de ninguém se ele passar nem que seja um dia sem
pisar os pés aqui. Tem que ser bobo demais pra não raciocinar, Carolina. (T)
Onde já se viu passar quase a semana toda fora de casa? Será que ele toma
banho, troca de roupa, come ou dorme?
CAROLINA: É muita pressão pra uma só pessoa...
CÉSAR: E muita falta de vergonha na cara, ainda por cima! Ele
pensa que me engana com aquela pose de sofrido e atormentado. Quem mais vive
atormentado sou eu e nem por isso tô me jogando no mundo. (T) Só sei de uma
coisa… Eu vou tirar esse menino dele, nem que seja na força, vamos ver até onde
o instinto de pai vai.
Carolina coloca a mão na testa, tensa. Alguém bate na porta.
É Vicente, que entra e vai até César, dando um beijo e acariciando Cassiano.
VICENTE: Eu vim assim que soube pela Denise.
CAROLINA: Cacete... eu falei com ela tem nem dez minutos.
VICENTE: Como que ele tá? Já tomou algum remédio?
CÉSAR: Acho que eu não preciso dizer muito né… Agitado,
chorando, ardendo em febre e sentindo alguma coisa que eu não sei o que é.
VICENTE: Aí gente, e o Bráulio? Cadê ele?
CAROLINA: Não fala em encosto, seu namoradinho já tá bem
estressado por causa disso.
VICENTE: Tem que ser muito irresponsável mesmo, viu. É desse
jeito que as coisas se afundam. (T) Bom, aproveitando que estamos aqui e em
especial, o Cassiano... eu quero te dizer que já tenho o resultado do teste.
Peguei hoje pela tarde e tava esperando um momento certo pra te falar.
César fica um pouco tenso, Carolina curiosa como sempre,
Vicente tira o papel de um envelope.
VICENTE: Olha, independente do que der, você tem que
continuar amando-o como sempre amou, tá? Não esqueça disso. Não vai ser um
pedaço de papel que vai acabar com o encanto que esse menino tem. A vida é
feita de esperanças, César, não desiste.
Ele começa a ler. Carolina se aproxima pra ver o que tem
escrito. César mais tenso ainda enquanto Cassiano chora. Vicente termina e o
encara, abrindo um sorriso aos poucos e balançando a cabeça afirmando.
VICENTE: Deu positivo. Você é o pai do Cassiano mesmo, meu
bem.
Close em César, chocado, olhando pra Cassiano com os olhos
cheios d'água. Ele sorri e algumas lágrimas caem.
CÉSAR: (emocionado) Eu só posso tá sonhando, não é possível.
Esse teste é confiável mesmo?
VICENTE: (ri) César… O próprio Rodolfo afirmou isso, não
importa a taxa de confiança desse teste pra você saber que ele é seu filho.
Pelo amor de Deus, ele até tem a sua cara, uma cópia dos pés à cabeça.
CÉSAR: (emocionado) É que… Talvez tenha sido engano do
Rodolfo, ele podia tá delirando, sei lá. Tanta coisa assim acontece quase todo
dia e eu...
CAROLINA: Não é todo dia que a gente vê um pai tão próximo do
filho que ele nem imagina que seja dele. Muitas histórias são de pessoas que
vivem longe, um caminho sem volta ou que só se reencontram depois de quase
vinte anos. Mas você… você teve sorte, meu irmão.
VICENTE: (cont.) E olha bem por outro lado. Sem aquele sonho,
nada disso teria acontecido, ninguém ia saber de nada. Seria apenas especulação
se o seu irmão falou a verdade ou não. (T) Ah, e não esquece também daquilo que
a… a Camila te falou no sonho também.
CÉSAR: (emocionado) Eu sei, não tem como esquecer. (olha p/
Cassiano) Vou cuidar muito bem de você, como sua mãe queria que fosse cuidado.
Ela não tá aqui, mas tá lá de cima vendo nós dois juntinhos e eu do seu lado,
tá bom? (beija a testa dele, que aparenta estar mais calmo).
Fade-out.
CENA 6 – BOATE CLODOVIL/ PISTA DE DANÇA/ NOITE:
A casa está cheia. No pequeno bar do local, as bancadas estão
cheias de drinks. No salão, algumas pessoas requebram ao som de Crazy in
Love - Beyoncé, Jay-Z. Em um pequeno sofá acolchoado e distante, Teresa
está sentada tomando uma vodka enquanto observava alguns rapazes.
TERESA: Nossa, mas aquele ali é lindo, quero pra mim.
(surpresa) Minha santa protetora do brioco, é gay também? Puta merda, hoje tá
foda.
Ela deixa a bebida em um canto, se levanta e sai. Pega o
celular em uma pequena bolsinha e desbloqueia, procurando pelo contato de
Denise. Liga.
TERESA: Alô, Denise? (T) Fala, piranha. Tô aqui na boate
Clodovil, sozinha por sinal, com a cara cheia e precisando de alguém pra me
acompanhar. Você topa? (T) O quê? Ah não… Por favor, vai. Eu detesto ficar
sozinha nesses lugares. (T) Então vai se foder, que esse celular exploda.
Ela desliga, colocando o celular de volta na bolsa e subindo
como quem não quer nada, uma escada que dá para o espaço VIP do local, passando
por dois rapazes sem camisa.
TERESA: (ri) Oi, gatinhos. Soube que a carne tava em falta no
frigorífico, mas já sei que veio parar aqui né? Tão musculosos assim…
Eles se olham, estranhos, ignorando ela e se beijando em
seguida. Ela faz cara de nojo e continua subindo.
TERESA: Vai tomar no cu, eu vim pra uma boate gay e não
sabia. Posso dizer que hoje quebrei a minha…
No último degrau, ela se depara com Bráulio, que está sentado
em uma mesa, cercado de mulheres com roupas curtas e muito sensuais. Ele beija
cada uma delas ao mesmo tempo que vai tirando a camisa aos poucos.
TERESA: Mas que… porra é aquela ali? (chegando mais perto,
boquiaberta) Acho que eu bebi demais, não é possível.
Uma das mulheres senta no colo de Bráulio e beija o pescoço
dele, que fecha os olhos e sorri. As demais começam a se pegar entre si. Começa
uma verdadeira orgia, onde uma coloca um vibrador dentro da outra e outras
coisas, Teresa segue sem reação.
TERESA: Meu Deus, eu tô mais morta e enterrada que o Rodolfo…
(coloca a mão dentro da bolsa e pega o celular novamente. Procura o contato de
César e liga) Alô, César? Oi, tá podendo falar? (T) O Cassiano no hospital? Ah,
certo. Mas olha, liguei rapidinho pra falar sobre alguém ligado a ele mesmo.
A cena divide. Teresa na boate e César no hospital com
Cassiano no braço e o telefone no ouvido.
CÉSAR: (curioso) E quem é?
TERESA: Acredite ou não, mas nesse momento, eu tô vendo o
Bráulio bêbado, quase transando em cima de uma mesa e cercado de prostitutas.
Isso te interessa?
CÉSAR: (fica surpreso) O quê? (T) Só trabalho com fotos.
Teresa sorri com uma cara vitoriosa e desliga a ligação. Em
seguida bate uma foto de Bráulio com as prostitutas.
CENA 7 – MANSÃO ALBUQUERQUE/ QUARTO DE BRÁULIO/ MANHÃ:
No dia seguinte, Bráulio chegava em casa bastante cansado.
Ele abre a porta do quarto e toma um susto ao ver que César estava esperando-o.
BRÁULIO: (estranha) César? O que você tá fazendo aqui tão
cedo?
CÉSAR: (pretensioso) Eu é que te pergunto. Onde é que você
passou a noite?
BRÁULIO: No hospital, onde mais seria?
CÉSAR: Como no hospital? Se eu passei a noite inteira lá e
você não estava?
BRÁULIO: O quê?
CÉSAR: O Cassiano teve febre ontem à noite. A Carolina me
ligou, eu vim correndo, a gente levou ele até lá achando que você estaria pra
dar apoio ou cumprir com a sua responsabilidade, que aliás, vejo que você não
tem nenhuma.
BRÁULIO: (chocado) O meu filho teve febre?
CÉSAR: (ri) É inacreditável... (T) É inacreditável a sua
frieza, a sua falta de responsabilidade, de sensibilidade. Tá estampada na sua
cara. O menino estava queimando em febre e você na rua, bebendo, enchendo a
cara, saindo com um monte de prostituta.
BRÁULIO: Olha aqui, você não tem o direito de se meter na
minha vida.
CÉSAR: (grita) Você deixa o Cassiano sozinho, nem se dá ao
trabalho de tentar tirar um dia de folga pra ficar com ele. Ao invés disso
mente, dizendo que tá no hospital porque a mãe tá viajando, porque a irmã tá no
exterior, porque você tem que bancar tudo sozinho. Você faz toda uma pose de
responsável, mas você é completamente o contrário disso, Bráulio. Você é
irresponsável! E não basta ser apenas irresponsável. Você também não faz
questão de ser pai do Cassiano, porque se fizesse, era do lado dele que você
estaria, era do lado dele que você teria passado a noite e não do lado de um
monte de prostituta que você contratou pra satisfazer as suas vontades.
BRÁULIO: (ri) Você pirou?
CÉSAR: E eu tô falando alguma mentira? Acabou de chegar em
casa, veio direto pra cá sem nem passar no quarto do menino pra olhar como ele
tá. Ah, por favor, seu babaca.
BRÁULIO: Você me chamou de babaca? Foi isso mesmo?
CÉSAR: É isso o que você é. E você não é só um babaca, você é
um bosta! Tem uma mulher em coma e sai com prostituta?! Você não tem o menor
pingo de respeito pela minha irmã, seu canalha.
BRÁULIO: (grita) Você dobre essa língua pra falar comigo.
CÉSAR: (grita) Com um macho escroto feito você, eu falo até
usando o braço e a minha mão em especial tá doida pra socar essa sua cara. (T) Eu
fico imaginando como seria se o Cassiano passasse a vida convivendo com você.
Crescendo com você, sendo educado por um macho escroto, um babaca feito você. A
vida dele com certeza seria uma merda. Sabe porquê? Por que você é um merda.
Você é um monte de merda.
BRÁULIO: (ri) Você acha que é quem pra falar comigo assim,
César? (T) Tá querendo me ensinar a ser pai? Pra sua informação sou um ótimo
pai pro meu filho, ao contrário de você que só acha que sabe ser um, quando na
verdade nem filho você tem.
César gargalha, Bráulio fica sem entender a reação dele.
CÉSAR: (rindo) Além de você ser tudo o que eu falei, você
também é idiota. (parando de rir) Eu não preciso te ensinar a ser pai. Você
também não é um ótimo pai. Até porquê... nem pai você é.
BRÁULIO: Como assim?
César pega o envelope do exame em cima da cama e abre.
CÉSAR: (entregando o resultado) O Cassiano não é seu filho.
Bráulio olha para César completamente desacreditado.
CÉSAR: Na realidade o pai dele sou eu!
Bráulio olha o resultado do exame, sem crer naquilo.
BRÁULIO: (ri de nervoso) Não pode ser... Não... isso não é
possível.
CÉSAR: Não, é possível sim. Pode olhar o exame com calma. (T)
O Rodolfo me contou antes de morrer que ele pagou ao Felipe pra que ele
trocasse os bebês no berçário. E ele foi bem específico. Ele queria que o
Felipe trocasse seu filho com a Manuela, que estava morto, pelo meu que estava
vivo. (T) Pode olhar que tá aí.
Bráulio relê o exame enquanto César continua falando.
CÉSAR: Ah... e tudo isso tem dedo da sua queridinha também.
(Bráulio olha pra ele) Sua ex. Ela quem teve a ideia da troca dos bebês. E
também... ela foi a responsável pelo acidente que causou o coma da Manuela. O
que não é novidade pra mais ninguém. Só pra você mesmo, que é uma anta. Se você
não acredita na minha palavra, pode ir no quarto aqui do lado perguntar pra
Carolina. Ela tá namorando com a Denise, que... (ri) é cúmplice da Teresa e que
deu com a língua nos dentes.
César pega o exame das mãos dele.
CÉSAR: Agora eu já vou indo embora, vou aproveitar pra levar
o meu filho pra longe desse inferno.
BRÁULIO: (levanta) Epa, espera aí. (T) Eu o registrei como
meu filho.
CÉSAR: Já vi que você não vai ceder. O que é uma pena. Essa
foi sua última chance de mostrar que tinha um pingo de sensatez e você fez
questão de jogar tudo no ralo. Mas é bom você se preparar, Bráulio... porque
uma hora é comigo que o Cassiano vai ficar. Vou deixar você ter os seus últimos
momentos como pai dele. Tenha um bom dia. Ou pelo menos tente ter.
César sai do quarto, deixando Bráulio completamente
destruído. Ele pega seu celular e começa a discar.
BRÁULIO: (cel) Teresa? Eu quero me desculpar por ter sido um
babaca com você... Será que a gente poderia se encontrar? É. Hoje à noite....
Tá fechado então... Tchau!
Ele desliga.
BRÁULIO: (para si) É hoje que eu acabo com você, Teresa.
CORTA PARA O CORREDOR:
César ouvindo tudo do lado de fora, com um sorriso maléfico
no rosto.
CÉSAR: (baixo, para si) Vão ser dois coelhos numa só tacada.
Ele vai embora.
CENA 8 – COFFEE/ MANHÃ:
César e Denise sentados de frente um pro outro.
CÉSAR: Eu te chamei aqui pra gente conversar. (T) Eu já sei
que você tem culpa na morte do Rodolfo.
DENISE: Foi o Vicente que te contou né? Eu sabia que aquela
poc não usava a língua só pra fazer boquete, tinha que usar pra fazer fofoca
também.
CÉSAR: Para de ser baixo nível e respeita o Vicente, não vou
permitir que você fale dele desse jeito na minha frente.
DENISE: Ih gente, vai me bater? Olha que eu chamo dona Maria
da Penha pra ela vir aqui te prender.
CÉSAR: Sem gracinha agora. Eu vou precisar de um favor seu.
DENISE: Então fala logo, meu amor.
CÉSAR: A Teresa vai ter um encontro com o Bráulio hoje à
noite e eu não tô tendo um bom pressentimento. Tô muito preocupado com ela, eu
queria que você avisasse a ela pra se proteger. (T) Mas pelo amor de Deus, não
vai falar pra ela que fui eu que te pedi pra dizer isso.
DENISE: Tá, mas e se ela achar estranho o fato de eu saber do
encontro dela com o Bráulio?
CÉSAR: Diz que você passou a noite com a Carolina e que ouviu
ele tramar alguma coisa. Enfim, se vira.
DENISE: Pagando bem, que mal tem?
César entrega um bolo de dinheiro para ela, que pega e guarda
na bolsa.
CENA 9 – MANSÃO BOAVENTURA/ SALA DE ESTAR/ TARDE:
Teresa está sentada em uma poltrona, vestida com um hobby e
segurando uma taça de vinho enquanto mexe no celular. A campainha toca.
TERESA: Ai, que saco. Ranço dessa desgraça tocando. Cadê a
figurante, hein? (T) Ah, esqueci que dei folga pra aquela folgada. Só espero
que não seja aquele povo vendendo pomada fedorenta.
Levanta, põe a taça de vinho no centro e caminha até a porta,
abre e se depara com Denise.
DENISE: Fala, piranha.
TERESA: O que você quer aqui, hein? Tô com saco pra sapatão
hoje não.
DENISE: Eu hein, a estressada é você e eu que me fodo? Vai se
foder.
TERESA: Ainda não respondeu minha pergunta.
DENISE: Posso entrar ou vou morrer seca nessa porra de porta?
(Teresa abre espaço e ela entra) Ah bom, pensei.
TERESA: Cuidado com meus jarros, não encosta pra não manchar
e não pisa com esse sapato sujo no meu tapete!
DENISE: Mimimi e mais mimimi, meu cu pra você, porra. Senta
aí vai.
TERESA: E pra quê eu vou me sentar?
DENISE: Pra eu não quebrar suas pernas, que tal? (Teresa
senta) Ótimo, sua cachorra. Agora dá a patinha.
TERESA: Puta merda, vai se foder. Fala logo o que tu quer,
não tá vendo que eu tô ocupada tomando meu vinho?
DENISE: Vamos lá. Eu estive na mansão Albuquerque ontem, fui
passar um tempo com a Carolina já que a gente não pode se encontrar/
TERESA: Pula essa parte, eu não tô interessada.
DENISE: (aumenta o tom) Prosseguindo… Nós estávamos no quarto
dela. Eu fiquei sentada lá na cama enquanto ela foi/
TERESA: Já sei, fazer a chuca. Acertei?
DENISE: (séria) Tá palhaça demais hoje, não acha? (Teresa se
cala) Daí que eu tava no quarto, ela foi na cozinha buscar refrigerante e eu
ouvi o filho da puta do Bráulio falando seu nome no corredor. Fiquei interessada,
fui ouvir pela brecha da porta e escutei ele tramando algo contra você pra hoje
de noite. Tá feliz agora? Mais didática impossível.
TERESA: (surpresa) O Bráulio falando sobre mim? Nossa, mas
vem cá, deu pra escutar mais ou menos o que era?
DENISE: Não muito, mas só sei que boa coisa não é, amiga.
TERESA: Meu Deus… Esse homem me deixa ou com raiva ou com
medo. Tá repreendido.
DENISE: Você vai se encontrar com ele hoje ou algo do tipo?
TERESA: Vou sim, mais tarde. Ele quer pedir desculpas por uma
treta lá no hospital e marcou um encontro.
DENISE: Pronto, tá aí. Satanás preparou a cilada e só tá
esperando você cair dentro.
TERESA: Não seja neurótica, porra. É só um encontro como
esses que você tem pelo Tinder.
DENISE: A diferença é que nos meus encontros, a má companhia
sou eu e nesse caso aí é ele. Abre teu olho. (Se levanta) Bom, já deu minha
hora. Faça o que quiser da vida e até outro dia.
TERESA: (corta) Espera, caralho. Não sou tão burra assim não.
Você vai comigo hoje.
DENISE: O quê? Não fode, eu marquei encontro com a Carolina.
TERESA: (aumenta o tom) Pois desmarque esse caralho, que
daquela ali eu tenho raiva só de ouvir falar o nome. (pensativa) Se o Bráulio
pensa que ele é esperto, eu sou mais esperta ainda, meu nome não é Teresa da
Silva Boaventura pra pouca coisa. Ah não é mesmo.
CENA 10 – MANSÃO DE AMANDA/ SALA DE ESTAR/ TARDE:
No centro de vidro, uma planta está aberta com alguns
rabiscos e desenhos. Ao redor, Carolina observa à medida que Flávio explica
algo para ela e César, sentando junto de Vicente.
FLÁVIO: (cont.) Por isso que eu vim até aqui, afinal se quer
que tenha inauguração dessa boate, tem que ter esses requisitos. Sem isso não
tem alvará do corpo de bombeiros.
CÉSAR: E quanto isso tudo vai me custar?
FLÁVIO: Olha, eu digo que uns cinco mil. Os materiais tão um
pouco caros e ainda mais sendo equipamento de segurança.
CAROLINA: (chocada) Oi? Todo esse dinheiro é só pra montar
esquema de emergência pra incêndio? Credo, deixa as pessoas virarem churrasco
mesmo.
VICENTE: Credo, garota. Se toca, eu hein. Vai você passar por
isso.
CÉSAR: O quê? Nada disso. (T) Pode deixar que eu vou dar a
quantia sim, só não pode ser agora porquê eu já paguei algumas contas e tem um
limite de saque no banco.
FLÁVIO: Relaxa, César. Ainda tem tempo, não precisa correr.
CÉSAR: Aproveitando que você tocou no assunto, eu quero dizer
pra vocês que preciso de um tempo dessa história da obra aí. Minha cabeça não
anda muito bem, nem eu na verdade.
CAROLINA: É aquele assunto com o Bráulio ainda? (ele
concorda) Depois daquela briga feia, eu achei mesmo que você fosse precisar de
um tempo. Tá sendo um sufoco.
FLÁVIO: (curioso) Do que vocês tão falando? Eu posso saber?
Carolina e César se olham, tensos. Desconversam.
CÉSAR: É… um problema que teve aqui por conta do tempo que eu
tô passando com o Cassiano e o Bráulio muito focado no hospital, então não deu
muito certo, sabe? E a gente precisa resolver algumas coisas sobre a Manuela,
se é que me entende.
FLÁVIO: Ah, tudo bem. Tire o tempo que quiser, nós vamos dar
conta. (olha p/ Carolina que pisca pra ele de volta)
César concorda.
VICENTE: (p/ César) Eu quero falar com você sobre isso
também, pode ser em particular?
Eles se levantam e vão até o pé da escada.
VICENTE: Olha, pode ser um pouco apelativo, mas não se
esquece que eu tô aqui, ok? Você tá sendo forte de uma maneira que eu nunca vi
alguém ser, meu bem, te admiro bastante por isso. A luta pelo Cassiano e como
você se ergueu depois do que passou, é uma lição pra mim. E apesar dessa força
toda, sei que existe seus momentos de fraqueza, também sei que você é uma
pessoa teimosa, insistente e que tem uma pose de durão. Não tenta guardar tudo
pra você que pode ser um perigo.
CÉSAR: (ri) Ei, eu não sou teimoso. Só sou decidido e não
gosto de desistir tão fácil. Mas pode ficar tranquilo, aprendi muita coisa de
uns tempos pra cá e uma delas é que eu sei que posso contar com você pra tudo.
Vicente sorri, César estende a mão e acaricia seu rosto,
deixando-o envergonhado.
CÉSAR: Vamos subir. Tô precisando ficar sozinho contigo por
um tempo.
VICENTE: Como? (envergonhado) César, tem visita aqui. Imagina
o que eles vão pensar de nós.
CÉSAR: Sério mesmo que você acha que eles vão dar falta de
nós do jeito que eles tão?
Vicente se vira e vê Carolina e Flávio quase se beijando.
CÉSAR: (ri) Bora, seu bobo.
Ele puxa Vicente pelo braço e os dois somem, subindo os
degraus depressa.
CENA 11/ PEDRA DAS FLORES/ MIRANTE/ NOITE:
Teresa e Denise chegam no local marcado por Bráulio. Teresa
aparenta estar um pouco nervosa com aquela situação enquanto Denise tá
tranquilíssima. Um pouco longe, mais para dentro da mata, César está dentro de
um carro com Carolina e Vânia, os três observando as duas de longe.
CÉSAR: Que merda aquela puta da Denise tá fazendo aqui?
CAROLINA: Foi esse o combinado que vocês fizeram?
CÉSAR: Claro que não, eu disse pra ela convencer a Teresa a
vir armada e não vir armada junto com ela. Que saco mano, eu vou acabar com
essa filha da puta, burra do cacete.
Ele pega o celular e começa discar. O celular de Denise
começa a vibrar, tendo a música “Minha Periquita” como toque. No visor
podemos ver o nome do contato: “poc chorona”.
DENISE: (atende) Fala.
CÉSAR: Denise, sou eu. Não menciona meu nome.
DENISE: (disfarça) Oi tia Amanda.
CÉSAR: Vem cá, que porra tu tá fazendo aí? Sai daí agora.
DENISE: Você tá vigiando? (disfarça ao ver Teresa olhar pra
ela) Os machos, no caso?
CÉSAR: Claro porra. Vem pra cá.
DENISE: Pra onde?
TERESA: (fala para Denise) O que ela quer?
CÉSAR: Inventa alguma desculpa pra essa putinha e vem logo
pra dentro do mato que a gente tá aqui.
DENISE: Tá, tia.
No carro, Vânia mostra-se impaciente.
VÂNIA: Meu Deus do céu, que menina burra.
Denise ouve do outro lado da linha.
DENISE: (para César) Diga a sua mãe que eu mandei ela se
foder.
TERESA: (p/ Denise) Não sabia que a mãe da sua tia ainda era
viva.
CÉSAR: (nervoso) Olha aqui Denise, logo o Bráulio vai chegar
e se você não sair daí agora, quem vai se foder é você.
Ele desliga e fica olhando de longe.
DENISE: Vou precisar ir no mato mijar.
TERESA: Agora? Mas e se o Bráulio chegar?
Denise entrega o revólver a Teresa.
DENISE: Se ele fizer alguma coisa você dá um tiro no meio do
rabo dele. Agora vou indo que tô apertada.
Denise sai desfilando em direção ao mato, deixando Teresa sozinha
e armada. Teresa esconde o revólver na cintura da calça.
TERESA: (nervosa) Ai jesus, cadê esse idiota que não chega?
Ela mal tem tempo de terminar a frase, quando um carro
termina de subir o mirante e chega no local. Bráulio desce do carro, e sem nem
fazer questão de disfarçar o seu ódio, ele aproxima-se de Teresa.
TERESA: Finalmente. Achei que não viesse mais.
BRÁULIO: Pois, cá estou.
TERESA: Precisava mesmo ter marcado um encontro comigo aqui
só pra me pedir desculpas por ter agido como um babaca?
BRÁULIO: Achei que essa ocasião especial merecia um encontro
às sós.
TERESA: Não me diga que me chamou pra transar? Acha que uma
foda nesse lugar vazio vai apagar o que você fez?
BRÁULIO: Te manca, se eu quisesse te chamar pra transar eu
marcaria num motel, jamais teria te chamado pra vir até aqui.
TERESA: Já entendi. Você deve estar com raiva de mim porque
eu contei pro César que a sua diversão de todas as noites não era trabalhar ao
lado de enfermeiras num hospital, mas transar com vagabundas vestidas de
enfermeira. Você me chamou aqui pra poder descontar toda a sua raiva em cima de
mim por ter acabado com a sua farsa de homem responsável. (T) Agora vou te
dizer hein. É muita falta de senso você fingir que está trabalhando só pra
fugir da sua responsabilidade. Você prefere mesmo transar com várias mulheres e
deixar o Cassiano aos cuidados de outra pessoa?
BRÁULIO: Outra pessoa que no caso é o César, vulgo o
verdadeiro pai dele?
Teresa fica sem palavras nesse momento, completamente sem
reação. Bráulio começa a gargalhar.
BRÁULIO: O que foi? Você achou que esse segredo ficaria
quanto tempo guardado? (começa a andar na direção dela, que vai se afastando)
Você pode ter dado uma rasteira no Rodolfo, mas no fim foi ele quem te deu uma
rasteira. Ele contou toda a verdade pro César, que porventura, me contou tudo.
Até resultado do exame de DNA ele já tem.
TERESA: (chocada) Quê?
BRÁULIO: Você se acha muito esperta, acha que pode sair
passando a perna em todo mundo e que vai se safar de tudo, mas nesse momento
você tá totalmente atolada na merda. (T) Você pode ter tentado tirar o César, o
Rodolfo, ou até mesmo a Manuela do seu caminho quanto sabotou aquele carro, mas
fique você sabendo agora... chegou a sua vez.
Bráulio tira uma faca pequena do bolso e quando vai apunhalá-la,
Teresa rapidamente saca o revólver e lhe dá um tiro no peito. Bráulio cai de
joelhos no chão, com os olhos arregalados, encarando-a, enquanto põe a mão no
peito se esvaindo em sangue.
TERESA: Errado. (saca a arma e aponta na direção dele) Chegou
a sua... vez!
Ela dá mais dois tiros nele, que cai morto na hora. Teresa
encara o corpo dele no chão, sentindo-se vitoriosa. Quando de repente... ela
começa a ouvir sons de sirenes de viatura da polícia. Teresa fica completamente
apavorada ao ver várias delas chegando no local ao mesmo tempo. Os policiais
descem do carro e sacam suas armas na direção de Teresa.
DELEGADO: (no alto falante) Deixe a arma no chão e vire-se de
costas.
Teresa obedece às ordens e após deixar o revólver no chão,
vira-se de costas. O delegado aproxima-se de Teresa, que está apavorada.
DELEGADO: (algemando-a) Você está presa.
TERESA: Não... (grita) NÃO! (T) Foi em legítima defesa, ele
queria me matar. (se debatendo) Me solta agora! (T) Eu pago a quanta que for
precisa pra você, mas me solta!
DELEGADO: (conduzindo-a para uma das viaturas) Me desculpe,
mas não é mais a senhora quem dá as ordens aqui.
Mais afastado, para dentro da mata ainda no carro, César observa
toda a cena com um olhar penetrante e vitorioso.
CÉSAR: É como eu tinha dito... dois coelhos numa só tacada!
Ele dá um sorrisinho de satisfação.
(Continua...)
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