Más Intenções - 02x04
sexta-feira, setembro 18, 2020
Capítulo 16
"Dando Sopa"
Criação
Megan Clarke
Roteiro
Megan Clarke
e Isabela Ágata
Personagens:
Rodolfo – Bruno
Guedes
César – Chay
Suede
Teresa –
Manoela Aliperti
Carolina –
Gabz
Vicente –
Igor Fernandez
Vânia – Adriana
Esteves
Felipe –
Sérgio Malheiros
Figurantes
sem intérprete:
Zilda
Motorista
que morreu, mas passa bem
Empregada
aleatória
Garçom que
serve café e sopa
Delegado
Policiais
Vizinhos
fofoqueiros
Esquecida no
churrasco de novo, mas citada:
Denise – coitada
CENA 1 – CARRO DE TERESA / NOITE:
Teresa e César conversando no carro.
CÉSAR: Eu quero que você faça o Rodolfo passar
essa boate pro meu nome.
TERESA: (chocada) O quê?
CÉSAR: Quer que eu fale mais alto pra você
entender?
TERESA: Como você ficou sabendo da boate?
CÉSAR: (se irrita) Caralho, já disse que não
interessa, merda.
TERESA: Foi o Flávio, não foi? Tenho certeza que
ele te contou tudo.
CÉSAR: Isso não vem ao caso agora.
TERESA: Espera aí. Quem me garante que essa
gravação aí não trata de uma armação sua pra poder ficar com a boate hein?
CÉSAR: Que armação o quê, garota? Isso aqui é um
fato real, aconteceu mesmo. Se você duvida pode ir perguntar pra Zilda, foi ela
que gravou. Aliás, ela deve ter escutado coisas a mais do que tem aqui nessa
gravação.
TERESA: (nervosa) Meu Deus, tá dando tudo
errado. Eu vou matar o Rodolfo. Vou cortar o pau dele fora.
CÉSAR: Epa, pera lá minha filha. Você primeiro
vai fazer o que eu tô mandando, depois você faz o que quiser com ele. Corta o
pau fora, estripa, até um colar com as bolas dele se quiser.
TERESA: Não tem como eu passar essa boate pra
você, César.
CÉSAR: É claro que tem. Você não tá rica? Então.
Você pode tudo. Chama o advogado, na surdina é claro, você não seria burra de
fazer isso na presença do Rodolfo. Faz todos os procedimentos e fim de papo.
Faz ele assinar aquela merda. O Rodolfo não confia em você cegamente ao ponto de
assinar documentos sem ler?
TERESA: (suspira) Que ódio. Eu não acredito que
eu fui burra ao ponto de me deixar ser manipulada por ele. (T) Eu odeio gente
falsa.
CÉSAR: (irônico) É, você nunca foi de ter amor
próprio mesmo né?
Teresa olha pra ele, com ódio, mas César nem
liga.
CÉSAR: Ah, e trate de ser rápida com tudo isso
porque os quatro meses que eu passei naquela clínica me fez perder a paciência
de esperar. (T) Até logo.
Ele sai do carro.
CENA 2 – MANSÃO DOS BOAVENTURA / SALA / NOITE:
Teresa entra em casa ainda em estado de choque
por conta da revelação. Zilda vem da cozinha.
ZILDA: Dona Teresa, já chegou?
TERESA: Não, eu morri e virei um fantasma. O
Rodolfo tá aqui?
ZILDA: Tá lá em cima. Disse que tá meio ruim,
espirrando, corpo mole, deve ser gripe.
TERESA: Tomara que morra.
ZILDA: Credo, dona Teresa.
TERESA: Credo uma porra. Eu já tô sabendo de
tudo. O César me contou.
ZILDA: (nervosa) Ah...
TERESA: Quem tava com o Rodolfo na hora que você
gravou aquilo?
ZILDA: Foi aquele amigo dele, o tal Felipe.
TERESA: Quê? O Rodolfo então confessou aquilo
tudo pro Felipe?
ZILDA: Olha dona Teresa... Eu não gravei tudo
assim né. Só o seu irmão falando. Mas eu ouvi. O Felipe confessou que ajudou o
Rodolfo a matar o seu pai.
TERESA: (pasma) Claro... Como eu não tinha
pensado nisso antes? Não tinha como o Rodolfo entrar disfarçado na ala da UTI
sem a ajuda do Felipe...
ZILDA: Eu vou pra cozinha terminar de preparar o
jantar. Com licença. (e sai).
O celular de Teresa começa a tocar. Ela olha o
visor e percebe que é Felipe. Fecha os olhos e respira fundo antes de atender.
TERESA: (atende) Alô.
ALTERNAR C/
FELIPE NO HOSPITAL:
FELIPE: Oi Teresa. Tudo bem?
TERESA: (se contendo) Não muito. Tô naqueles
dias, sabe? Menstruada e morrendo de vontade de pegar uma faca pra matar
alguém, fazer um show de sangue.
FELIPE: Ih...
TERESA: Mas e aí? Que milagre é esse, porque
ligou?
FELIPE: Eu queria te chamar pra sair, sei lá.
Talvez amanhã?
Teresa fica em silêncio, ela respira fundo...
FELIPE: Teresa, tá aí?
TERESA: Eu tô sim. Eu... (T) Eu vou. Pode deixar
que amanhã... – respira - amanhã vai rolar.
FELIPE: Eu passo aí pra te pegar então. Beijo.
Teresa desliga.
TERESA: (para si) É por isso que a Rihanna mata
os homens naquele clipe.
CENA 3 – MANSÃO DE AMADA / SALA DE JANTAR / NOITE:
Vicente e César estão sentados, um de frente pro
outro. A mesa está servida com uma torta de frango, feijão, arroz, salada, farofa
de sobra e vinho. Vicente coloca o vinho na sua taça e depois na de César, que
o encara sem parar.
CÉSAR: Como assim você não gosta de ficar
sozinho? Se eu tivesse uma mansão toda pra mim, estaria aproveitando como
podia.
VICENTE: (rindo) Andando nu pela casa?
CÉSAR: (ri) Já pensou?
VICENTE: (ri) César, me poupe dos detalhes
sórdidos, não preciso ficar imaginando certas coisas balançando.
CÉSAR: (solta um riso) Nossa, eu tava só
brincando. Eu não sou desse tipo de pessoa, Vicente.
VICENTE: É de que tipo, então? Se estaria nu,
claro que estaria balançando né.
Trilha Sonora:
CÉSAR: (sem jeito) É… tá. Melhor a gente mudar
de assunto. Tá um pouco constrangedor.
VICENTE: Me responde, primeiro. Depois a gente
fala de qualquer coisa.
CÉSAR: (gagueja) Eu… eu...
VICENTE: Qual tipo de gente você é, hein? Fala
pra mim, fala.
CÉSAR: Eu tô ficando um pouco sem jeito com
isso...
Vicente se levanta, passa pela mesa e para de
frente para César, que está confuso. Vicente passa a mão levemente pela cabeça
dele, agarrando os cabelos.
VICENTE: (sussurra) Me responde e eu mudo de
assunto.
CÉSAR: (nervoso) A… A comida vai esfriar… depois
a gente conversa sobre o negócio que balança.
VICENTE: Ela pode esperar, já eu não...
Vicente senta no colo de César, ficando de
frente pra ele. Coloca a mão por dentro da camisa de César, que respira fundo,
tenso. Vicente começa beijar o rosto dele, descendo pro pescoço. César está em
choque, agora mais nervoso.
CÉSAR: Você tá fazendo o quê? (T) Para com isso.
VICENTE: Calma, relaxa...
É então que César, aos poucos fecha os olhos e
começa a sorrir, gostando de sentir aquilo. Num impulso, ele pega Vicente pela
cintura e puxa-o para si. Os dois se olham.
César aproxima seu rosto ao dele e os dois ficam
com seus lábios quase colados. Os dois estão com a respiração ofegante. César
toma um impulso e coloca Vicente em cima da mesa, empurrando as tigelas de
comida, que vão parar no chão. Vicente rasga a camisa dele com as mãos e os
dois começam a se beijar.
Até que…
VICENTE: (berra) CÉSAR!
Trilha off. César, que estava pensativo, levanta a cabeça e olha pra ele, confuso.
Ele percebe que estava em transe ao olhar tudo normal em volta.
CÉSAR: (confuso) O que foi?
VICENTE: Tá com o ouvido onde? Eu tô há um
tempão te perguntando. Vai querer feijão ou não?
CÉSAR: É… Claro…
Vicente começa a servir ele. César aparenta
estar nervoso e sente que precisa falar alguma coisa...
CÉSAR: O... o Rodolfo matou o meu pai!
Vicente fica chocado e larga a colher, fazendo
barulho. Silêncio.
VICENTE: (incrédulo) O quê?
César percebe que falou o que não devia.
VICENTE: Como assim?
CÉSAR: (respira fundo) Ele… Ele mandou injetar
soro no lugar da sopa. (se corrige) Digo, ele mandou injetar sopa no lugar do
soro.
VICENTE: (ainda incrédulo) Mas… como? Ele amava
o Genésio.
CÉSAR: Bom… Ele também dizia que te amava né?
VICENTE: Como ia fazer algo tão frio assim? Você
tem certeza disso?
CÉSAR: Tem uma gravação dele confessando tudo.
Ele fez tudo aquilo pra ficar com a herança.
VICENTE: (incrédulo) Então quer dizer que ele e
a Teresa tão envolvidos nisso?
CÉSAR: Não, a Teresa foi só mais uma vítima do
papel de bom moço dele. Ela amava o meu pai.
VICENTE: Meu Deus… Eu tô chocado com isso tudo.
Que coisa mais podre, nunca pensei que ele pudesse chegar nesse ponto.
CÉSAR: Eu não queria ter contado isso dessa
forma, mas é que… Imagina você achar que é o culpado pela morte do seu pai
durante meses. Porque ele passou mal depois de uma briga nossa. (T) Eu ficava
pra morrer só de pensar na desgraça que minha vida se tornou por culpa minha. E
hoje eu vejo que não era bem assim.
VICENTE: Calma, o importante é que agora você
sabe de toda a verdade.
CÉSAR: Ah, mas eu te digo que dessa vez não
passa mais nada, aquele desgraçado vai ver com quantas canoas se faz um pau.
VICENTE: Não é o contrário?
CÉSAR: (confuso) É… sei lá… (olha a taça) Acho
que já tomei vinho demais.
CENA 4 – MANSÃO BOAVENTURA / QUARTO DE RODOLFO /
NOITE:
Rodolfo está na cama deitado e enrolado nas
cobertas, segurando um lenço de papel. Batidas na porta.
RODOLFO: Entra.
A porta é aberta e Teresa entra no quarto.
Rodolfo espirra.
TERESA: Ih, parece que o covid já chegou aqui
nessa cidade.
Ela coloca a bandeja em cima da cama e fecha a
porta.
RODOLFO: (com o lenço no nariz) Vira essa boca
pra lá. Nesse fim de mundo nunca chegou nem gripe suína, você acha mesmo que
vai chegar covid?
TERESA: Você disse que ia nadar na piscina e foi
mesmo né? (vê o pacote de heroína na mesa de cabeceira e pega) E isso aqui pelo
visto deu uma bela de uma ajuda.
RODOLFO: Que é? Vai me dar sermão agora?
TERESA: Eu não vou te dar sermão nenhum, você tá
assim porque quis. Aliás eu acho muito bem feito, tomara que você piore pra
aprender.
RODOLFO: Cacete, você tá bem insensível hoje
hein?
TERESA: Até parece que você se importa com a
sensibilidade de alguém, Rodolfo. (ri) Parece até uma piada você vir falar
comigo sobre sensibilidade. Logo você.
Rodolfo não responde, prefere se encolher ainda
mais nas cobertas. Teresa olha pra tigela de sopa.
TERESA: Mas tem uma coisa que vai curar essa sua
gripe. Um prato de sopa bem quentinha.
Ela pega a bandeja, caminha até Rodolfo e derruba
a bandeja em cima dele de propósito.
RODOLFO: (gritando) AHHHHH. Desgraçada.
Ele tira as cobertas e levanta-se correndo até o
banheiro, tirando bem rápido a camisa, o short e a cueca. Rodolfo liga o
chuveiro no quente e fica embaixo se molhando na intenção de lavar-se e tentar
aliviar a queimação da sopa quente em seu corpo.
RODOLFO: (grita) Você vai me pagar sua cachorra.
No quarto, Teresa com um sorriso maléfico.
TERESA: Pode deixar que eu vou te esperar com o
cheque assinado.
Rodolfo sai do banheiro vestido com um roupão e
com o cabelo molhado.
RODOLFO: Vai agora chamar a Zilda pra limpar
essa sujeira toda da minha cama.
TERESA: Zilda? Pra quê Zilda, Rodolfo? Você tá
bem grandinho, não vai ficar dependendo de empregada pra fazer nada pra você
não.
RODOLFO: Teresa, eu não tô me sentindo bem, eu
tô com meu corpo doendo, minha garganta tá ruim, eu tô espirrando...
TERESA: Você tá assim porque quis, ninguém
mandou ficar cheirando essa porcaria, muito menos nadar na piscina com o frio
que tá fazendo. (T) A vida é assim, meu amor. A gente só colhe o que planta.
De repente, alguém bate na porta. Zilda entra.
ZILDA: Eu ouvi uns gritos.
TERESA: Não foi nada Zilda, é só o Rodolfo com
frescura por causa da sopa. (passa o braço em volta dela) Venha querida, você
tá com uma aparência tão cansada. Tá trabalhando muito.
ZILDA: Imagina, dona Teresa.
TERESA: Vou te dar um mês de férias pra você
relaxar, tá certo?
RODOLFO: O quê?
TERESA: (p/ele) Cala a boca!
ZILDA: (sorri) Nossa, dona Teresa, eu não sei
nem o que dizer.
TERESA: Não diga nada, apenas faça suas malas e
se manda pro interior. Vai visitar um parente, alguma amiga, ir pro forró arranjar
algum macho pra você.
ZILDA: (ri) Na minha idade?
TERESA: Tá velha, mas não tá morta.
Elas saem do quarto conversando. Rodolfo
incrédulo.
RODOLFO: Eu vou matar você, Teresa.
CENA 5 – MANSÃO ALBUQUERQUE / SALA DE ESTAR / AMANHECE:
Carolina está sentada no sofá, com o notebook em
seu colo, olhando vidrada pra tela enquanto digita rápido. Uma empregada limpa
alguns móveis. A campainha toca e ela vai atender.
EMPREGADA: (off) Sim? Oh claro, entre. Ela está
ali.
A atenção de Carolina se volta pra Vânia, que se
aproxima. Ela levanta e a cumprimenta com um beijo. As duas sentam no sofá.
CAROLINA: Vânia, não esperava te ver.
VÂNIA: Nem eu, minha querida, mas tive meus
compromissos e aproveitei pra passar aqui.
CAROLINA: (sorri) Entendo, digo a mesma coisa.
Estava ajeitando alguns papéis justamente quando você chegou.
VÂNIA: Eu atrapalhei? Me desculpa, pensei que
estivesse livre.
CAROLINA: Que nada, eu já estava terminando. (T)
Mas ao que se deve essa visita?
VÂNIA: Eu preciso conversar com você sobre algo.
CAROLINA: Conversar? O que tem de tão interessante?
VÂNIA: O acidente da Manuela. Estive pensando sobre
algumas coisas... (se interrompe) acordei tão inquieta hoje.
CAROLINA: Não me diga que você tá querendo
investigar por conta própria?! Você está suspeitando de alguém?
VÂNIA: Eu suspeito não só de uma pessoa, mas pra
que possa ter certeza, só falando com um homem que está internado lá.
CAROLINA: Acho que já entendi do que se trata…
VÂNIA: Aquele motorista deve saber de algo que
pode acabar de vez com a festa de uma certa pessoa.
CAROLINA: E por um acaso, essa certa pessoa
seria a Teresa?
VÂNIA: Esperta você hein?
CAROLINA: Você seria capaz de colocar sua
própria filha atrás das grades por um tempo?
VÂNIA: Quando a Teresa era pequena e fazia coisa
errada, eu a colocava de castigo, presa no quarto. Hoje ela é uma adulta, e ao
invés de castiga-la prendendo-a no quarto, eu quero prendê-la na penitenciária.
CAROLINA: Nossa, eu esperava mais sensibilidade
de uma mãe como você, dona Vânia.
VÂNIA: Eu sou uma pessoa muito sensível, Carolina,
mas só com pessoas que merecem, com filhos que merecem, como o César e a
Manuela. O resto é resto. O Rodolfo é um ingrato que me esfaqueou pelas costas
e a Teresa nem preciso dizer nada, só Deus sabe o inferno que eu passei vivendo
com aquela menina por seis anos no interior.
CAROLINA: Tem certeza de que vai dar tudo certo?
Não quero nem imaginar se isso feder.
VÂNIA: Sem dúvidas. Já sofri demais pra bancar a
trouxa por filho, se eles acham que podem sair aprontando por aí e sair impunes,
eles estão muito enganados.
Ela balança a cabeça, segura de si, com um olhar
pensativo.
CENA 6 – MANSÃO ALBUQUERQUE / QUARTO DO BEBÊ / MANHÃ
Em um tapete no chão, está César brincando com
Cassiano, brinquedos espalhados por toda a extensão. A porta está aberta,
Carolina bate e olha pra dentro.
CAROLINA: Estou atrapalhando a diversão dos
dois?
CÉSAR: (sorri) Oi, Carolina. Entra.
Ela se aproxima do tapete e fica de joelhos.
CAROLINA: Eu vim falar com você sobre o assunto
daquele dia, ainda. Saber como você está depois da descoberta, se já conseguiu
digerir melhor sobre tudo.
CÉSAR: Olha, não posso dizer que continuo sendo
o mesmo porquê eu estaria mentindo. Mas é como se algo tivesse acordado, meus
olhos abriram mais.
CAROLINA: Sei como é… Pensei que fosse ficar
magoado ou furioso, só que me enganei.
CÉSAR: (respira fundo) A única coisa que me
deixa furioso é a cara de pau deles dois.
CAROLINA: (curiosa) Você falou com eles? Como
foi?
CÉSAR: Não é disso que eu tô falando, logo mais
você vai entender, espera um pouco. (T) Enfim… Eu tô afim de sair essa semana.
CAROLINA: Sério? Que milagre.
CÉSAR: Você não quer ir comigo?
CAROLINA: Eu topo de qualquer jeito.
CÉSAR: É, conhece o Vicente né? (ela confirma)
Então, nós estamos virando amigos, eu diria… E estamos pensando em sair pra
descontrair e esfriar a cabeça.
CAROLINA: (desanima) Ah não. Desculpa, mas eu
desisto. Não quero segurar vela.
CÉSAR: Ninguém tá falando de segurar vela, maluca.
É um encontro entre amigos.
CAROLINA: Sei… E eu vou ficar falando com quem?
Com o vento?
CÉSAR: Quem disse que você vai ficar sozinha?
Tem a prima dele. Ela vai com a gente.
CAROLINA: (interessada) A prima dele?… Hum, como
ela é?
CÉSAR: Não acredito que você não conhece a
Denise?!
CAROLINA: Não...
CÉSAR: É a maior figura, você tem que ver.
CAROLINA: (interessada) É mesmo? Hum, acho que
eu vou nesse encontro sim.
César volta a brincar com Cassiano. Carolina
fica pensativa, pegando o celular e entrando no Tinder.
CENA 7 – SHOPPING TROPICAL FLOWERS / PRAÇA DE
ALIMENTAÇÃO / MANHÃ
Felipe está sentado em uma mesa, parece estar
conversando no celular, quando Teresa vem se aproximando. Ela tira a bolsa do
braço e põe em cima da mesa, sentando em uma cadeira.
TERESA: (sorri) Oi, lindinho. Bom te ver.
FELIPE: (deixa o cel. de lado) Pensei que fosse
me dar um bolo, demorou pra chegar.
TERESA: Uma dama nunca está atrasada, meu amor.
Você que chegou muito cedo.
FELIPE: (ri) Tá bom… Então, como vai a vida?
Tudo bem?
Teresa para e olha pra ele, séria.
TERESA: Olha só. Eu não quero cortar o seu
barato, Felipe. É muito gentil da sua parte marcar um "encontro"
comigo, mas nós não somos amigos íntimos como você é do meu irmão.
Felipe disfarça, olhando para os lados e depois
pra ela de novo.
FELIPE: Desculpa, só queria puxar um assunto pra
não ficar morgado/
TERESA: (corta) Eu sei, mas não cola tá? Encare
tudo isso como se eu tivesse fazendo um favor pra você. (T) O que você pediu?
FELIPE: Até agora nada, estava esperando a
madame chegar.
TERESA: (sorri) Que educado. Nem parece que vive
cheirando pó.
FELIPE: (ri, tentando disfarçar a tensão) Eu não
sei do que você tá falando.
TERESA: Eu conheço seu jogo, meu bem, não se faz
de santo, que Pablo Escobar já existiu. E por falar nisso, de onde vem a sua
branquinha? Paraguai?
FELIPE: Vem de um lugar que não deve ser o mesmo
da onde tá vindo a sua falta de noção. Eu acho melhor mudar um pouco o assunto
que não é tão apropriado pra um shopping né…
TERESA: Não adianta se esconder. Todo mundo te
conhece nessa cidade, sua cara só não tá no painel da delegacia porque você se
mascara como o bom enfermeiro do hospital Albuquerque, mas todo mundo sabe que
você vende trigo bem branquinho. Maria da Paz fica até com inveja.
FELIPE: (mudando de assunto) Eu vou querer um
capuccino com um pedaço de torta de chocolate, e você?
TERESA: (irônica) Eu quero uma sopa. (ele olha
pra ela, aos poucos) Bem quente.
Felipe fica nervoso enquanto Teresa lança pra
ele um olhar fulminante. Ela faz sinal e um garçom do Coffee vem.
TERESA: Uma sopa e um capuccino com torta de
chocolate.
O garçom anota e sai.
FELIPE: (falando baixo) Nada contra, mas eu só
queria conversar com você, sempre achei…
TERESA: (interrompe) O quê? Fala mais alto.
FELIPE: (aumenta o tom) Eu só queria conversar
com você, sair, sempre te achei bonita. O Rodolfo tem sorte de ter você com
irmã.
TERESA: Você nem imagina o quanto. É uma relação
linda a nossa, amor mútuo, sabe? Sempre fomos bastante apegados, e verdadeiros
um com o outro. O Rodolfo então nem se fala... é um poço de sinceridade.
FELIPE: (sorri) É, ele sempre me falou isso.
Elogiava você inclusive, a irmã que ele ama.
TERESA: Sério? (finge surpresa) Eu também amo o
Rodolfo, apesar das amizades que ele tem e das burradas que ele faz.
FELIPE: Todo mundo percebe isso, andam juntos
pra cima e pra baixo, vão até abrir uma boate.
TERESA: (sorri falsamente) Sim, estamos
animados. Inclusive, vai na festa de inauguração, acho que vai gostar. Vai tudo
quanto é gente daqui, de pessoas comuns, até assassinos.
FELIPE: (nervoso) Pode deixar, vou estar lá.
TERESA: Ótimo. Vai ser um prazer ter a sua
presença.
O garçom volta com os pedidos e põe sobre a
mesa.
TERESA: Obrigada. (p/ Felipe) Quer um pouco de
sopa?
FELIPE: Não, obrigado.
TERESA: Por que não? Sopa é maravilhosa.
FELIPE: Eu prefiro meu café.
TERESA: Ah sim, mas de vez em quando toma uma
sopa. Fortalece e impede que pessoas morram. Só café o tempo todo faz mal.
Ele concorda e bebe o café. Teresa pega a colher
com sopa enquanto o encara com uma expressão fria.
CENA 8 – HOSPITAL ALBUQUERQUE / QUARTO / MANHÃ:
Um homem deitado na cama, cochilando sozinho no
quarto. A porta se abre. Vânia entra no local, com o adesivo de visitante
colado na blusa. Ela aproxima-se do homem, que percebe a presença dela e
acorda.
VÂNIA: Desculpe, eu não queria acordar o senhor.
HOMEM: Quem é você?
VÂNIA: Eu achei que fosse me reconhecer. Sou mãe
da Manuela, a moça que sofreu o acidente com o senhor há uns meses atrás.
MOTORISTA: Ah... Vânia, não é?
VÂNIA: Eu mesma. Vim aqui saber se você se
lembrou de mais alguma coisa do dia do acidente.
MOTORISTA: (tentando lembrar) Lembro de uma...
uma moça falando comigo.
VÂNIA: Uma moça?
MOTORISTA: Sim, foi enquanto eu estava esperando
a sua filha no carro. (T) Ela veio pedir uma informação...
Ela pega seu celular na bolsa e mostra pro
motorista uma foto de Teresa.
VÂNIA: Sabe me dizer se foi essa moça aqui?
MOTORISTA: (analisando a foto) Não... não foi
essa daí não.
Vânia surpresa.
VÂNIA: Ah... (guardando o celular) Entendi.
MOTORISTA: Ela tinha um rosto mais redondo.
Vânia aos poucos desvia seu olhar da bolsa para
encará-lo.
MOTORISTA: Tinha olhos grandes e... uma boca...
(T) Era morena. O cabelo era liso.
VÂNIA: (pensativa) Claro... Muito obrigada. Você
me ajudou muito. (T) Melhoras pro senhor, viu?
Ela dá meia volta e vai saindo, em choque.
CENA 9 – MANSÃO BOAVENTURA / QUARTO DE RODOLFO /
TARDE:
Rodolfo na cama, dormindo. Teresa entra no
quarto fazendo barulho de propósito, com alguns papéis em mãos.
RODOLFO: (acorda, confuso) Que susto.
TERESA: (fria) Tem alguns papéis pra você
assinar.
RODOLFO: (desinteressado) Não, depois eu assino.
(e joga-se na cama de novo).
TERESA: É urgente, Rodolfo. Você passou quase
uma semana nessa cama, isso aqui precisa ser assinado hoje, agora.
RODOLFO: (irrita-se) SACO. (levanta e senta-se
na cama) Me dá uma caneta.
Teresa entrega os papéis pra ele já com a caneta
na mão. Rodolfo assina tudo rapidamente, sem ler um documento sequer,
completamente desinteressado e com os olhos quase fechando, devido a dor de
cabeça causada pela gripe.
RODOLFO: (entregando os documentos) Pronto.
(deitando-se novamente) Agora sai e fecha a porta.
Ele volta a dormir. Teresa solta um riso
maléfico e sai do quarto. Close em Rodolfo, dormindo.
CENA 10 – FRENTE DA CASA DE VÂNIA / TARDE:
Teresa e César conversando. Ela entrega pra ele
os documentos assinados.
TERESA: Você conseguiu o que queria. Agora a
boate é sua.
CÉSAR: (analisando os papéis) Ótimo. (olha pra
ela) Mandou ver.
TERESA: Tá, mas e aí? Como fica agora?
CÉSAR: Simples. Vou manter o nosso trato. Eu te
livro de ser presa e fica tudo certo.
TERESA: Olha aqui, você não tá blefando não né?
CÉSAR: Não, eu sou uma pessoa de palavra. Você
sabe disso.
TERESA: Tá...
CÉSAR: E vem cá, ele não desconfiou de nada?
TERESA: Ele nem quis assinar. Rodolfo tá doente,
tá há quase uma semana jogado naquela cama.
CÉSAR: (em choque) Sério?
TERESA: É, tô te dizendo.
CÉSAR: Por que ele não vai pro médico?
TERESA: E eu que sei? Quero mais é que ele se
foda. (T) Espera. Você não tá com pena dele não né?
CÉSAR: Claro que não.
Teresa encarando César.
CÉSAR: O quê? Eu não sou ave pra ter pena.
TERESA: Dá pra ver na sua cara que você vai
esperar o Rodolfo melhorar pra poder denunciar ele pra polícia.
CÉSAR: Isso nem me passou pela cabeça.
TERESA: Então envia a gravação pro delegado.
César encara Teresa que levanta uma sobrancelha,
desafiando-o. César pega o celular e começa a mexer sob o olhar fixo de Teresa.
CÉSAR: Pronto. (T) Agora é melhor cair fora
antes que a minha mãe te veja aqui.
Teresa entra no carro e dá a partida, sob o
olhar de César.
CENA 11 – MANSÃO BOAVENTURA/ SALA / MANHÃ:
Dia seguinte. A campainha toca. Não tem ninguém
na sala, silêncio total. Toca mais uma vez. Descendo os degraus da escada,
Rodolfo vem enrolado num roupão, vestindo uma calça moletom azul, com um lenço
na mão e espirrando. A campainha toca de novo.
RODOLFO: (berra) Já vai, porra. Tá com pressa?
Ele chega na porta e abre, lá estão alguns
policiais e o delegado. A viatura na frente da mansão.
RODOLFO: Delegado? O que faz aqui?
DELEGADO: Bom dia também, Rodolfo Boaventura.
Pergunte isso na delegacia. (p/ policiais) Podem algemar.
Trilha Sonora:
RODOLFO: (desentendido) Do que você tá falando?
Como assim? O que é isso?
Os policiais entram e seguram Rodolfo, que agora
se debate desesperado sem entender nada.
RODOLFO: (berra) MAS QUE MERDA É ESSA? O QUE
ESTÃO FAZENDO COMIGO? ME SOLTEM! QUE INVASÃO DE PRIVACIDADE ABSURDA!
DELEGADO: Quando foi pra matar seu pai, não teve
invasão de privacidade certa, né? Vocês que são bandidos se superam.
RODOLFO: (berra) BANDIDO? ME RESPEITE, EU SOU UM
CIDADÃO PEDRA FLORENSE DE BEM. EU NÃO FIZ NADA! EU EXIJO QUE ME SOLTEM!
Um policial coloca as algemas e conduz Rodolfo
pra fora da mansão. Algumas pessoas que passavam na rua param pra olhar e fazer
fofoca.
RODOLFO: (berra) PAREM E ME SOLTEM! EU EXIJO QUE
CHAMEM MEU ADVOGADO, ISSO É INJUSTO! EU SOU UM CIDADÃO QUE PAGA OS IMPOSTOS
DESSA CIDADE FODIDA E DESSE PREFEITO LADRÃO/
DELEGADO: (corta) Você tem o direito de fechar a
matraca, senão o que disser será usado contra você no tribunal.
Eles passam pelo portão, a porta traseira da
viatura é aberta.
RODOLFO: (berra) E EU PAGO SEU SALÁRIO DE MERDA
TAMBÉM ENQUANTO VOCÊ ENCHE SUA BARRIGA IMUNDA DE ROSQUINHA E CAFÉ, SEU DELEGADO
SEBOSO DE MERDA.
Foco em Teresa que observa tudo, chocada
enquanto se aproximava da mansão, soltando um riso debochado.
RODOLFO: (olha p/ ela) FOI VOCÊ NÉ? SUA FILHA DA
MÃE. EU SEI QUE FOI VOCÊ, MAS NÃO VAI FICAR ASSIM, VOCÊ ME/
Ele é empurrado dentro do carro, a porta é
fechada e a viatura sai com a sirene ligada. Teresa para em frente ao portão e
abre um sorriso.
TERESA: Mas é cada uma que vou te contar...
Ela entra e caminha em direção ao interior da
casa.
(Continua…)
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