Outros Tempos - Capítulo 09
sexta-feira, outubro 23, 2020OUTROS TEMPOS
Uma Novela Criada e Escrita por:
Raffa Lins
Apoio:
Web Novelas Channel (WNC)
CENA 01 / HOSPITAL PÚBLICO / CENTRO DE TERAPIA INTENSIVA (CTI) / INT. / NOITE /
Os barulhos dos aparelhos vão se intensificando, mostrando um ambiente alterado.
A câmera aos poucos vai se aproximando de um dos leitos, subindo lentamente por um corpo de porte pequeno, até chegar em seu rosto.
Close em Esther, dormindo, monitorada por aparelhos, imóvel.
Dois enfermeiros se aproximam de seu leito, conversando.
ENFERMEIRO 01: Como tá esse anjinho hoje?
ENFERMEIRO 02: Tá melhor, tiramos um pouco a sonda. Ela/
O enfermeiro é interrompido pelos aparelhos, que apitam mais alto, mostrando interferência.
Preocupados, eles vão até ela, vendo Esther, aos poucos acordando, ainda sonolenta, sem sentido.
ENFERMEIRO 01: Acordou mocinha?
Esther respira mais forte, ofegante.
Fade In - Instrumental, Melancolia.
ESTHER: (zonza) Cadê... cadê...
ENFERMEIRO 02: Não precisa falar nada, fica calma amiguinha, apenas respira.
Impaciente, Esther vira seu rosto de um lado pro outro, demonstrando preocupação.
ESTHER: (ignora) Cadê... cadê a minha mãe? Onde ela tá?!
ENFERMEIRO 02: Princesa, não podemos/
ESTHER: (corta/nervosa) Fala! Cadê a minha mãe, eu quero falar com ela... eu quero ela aqui agora, comigo.
ENFERMEIRO 01: (marejado) Vocês sofreram um acidente, se lembra? (T) Eu não deveria dizer agora, para o seu bem...
ESTHER: (abatida) Por favor...
ENFERMEIRO 01: A sua mãe... ela não resistiu, ela tá no céu, com Deus! (mexido) Sinto muito...
A respiração de Esther fica mais ofegante, com os olhos arregalados, sem acreditar, desabando.
ESTHER: (chora) Não... não é verdade... ela tá bem, ela tá viva... ela não morreu... NÃAAAAO!!! Eu quero a minha mãe... (desespera) Eu quero ela aqui... eu quero ficar com a minha mãe!!!
Os enfermeiros tentam acalmar Esther, que se desespera, transtornada. Seu choro ecoa por todo ambiente, completamente devastada.
A cena se desvanece nos gritos apavorados de Esther.
Fade Out - Instrumental, Melancolia.
Corte para:
CENA 02 / APARTAMENTO / ENTRADA / INT. / NOITE /
Uma porta se abre, mostrando ser Liz, do outro lado, enquanto Otávio, estranha sua aparição.
OTÁVIO: Liz... você aqui?
LIZ: (agitada) Não fala nada. Eu tive um péssimo dia, e a única coisa que eu quero hoje é... você!
Fade In - Sentimental, Los Hermanos.
Entrando no apartamento, Liz beija Otávio de surpresa, que no primeiro momento se assusta, mas cedendo pelo beijo.
CORTA P/ O QUARTO: Jogando Liz na cama, Otávio beija seu pescoço, lhe deixando extasiada. Enquantos eles se beijam, Liz tira a blusa de Otávio, que fica sobre seu corpo. Ela também retira sua blusa.
OTÁVIO: Tem certeza/
LIZ: (corta/puxando Otávio) Calado!
Passam-se curtas cenas onde os dois estão nus, com seus corpos entrelaçados. Outras com Liz, sobre Otávio, gemendo de prazer, ambos se amando. É possível ouvir os orgasmos dos dois, que se intensificam a cada movimento brusco.
A cena corta-se novamente, agora, os dois deitados, com Liz apoiando sua cabeça no peitoral de Otávio, cobrindo seu corpo nu com o lençol, ambos dormindo após o sexo, prazerosos.
Corte rápido para:
CENA 03 / MANSÃO RODRÍGUEZ / SALA DE ESTAR / INT. / MANHÃ /
Amanhece em São Paulo. Close na fachada da Mansão Rodríguez.
Chegando em casa, Liz fecha porta, segurando seus saltos. Ela caminha pela sala, em um misto de emoções.
Ainda com um pouco de dificuldades de andar, Aloísio aparece na sala de estar, demonstrando preocupação.
ALOÍSIO: Eu sei que você não me deve satisfações, aliás, tô até aqui na sua casa de favor, mas eu fiquei prepcupado... você dormiu fora...
Fade Out - Sentimental, Los Hermanos.
LIZ: É, eu dormi. Aconteceu tanta coisa, que eu precisava... como posso dizer, me conhecer melhor. (T) A Malu comprou as minhas ações na empresa, agora, eu sou apenas uma cantora contratada, enquanto ela é uma das sócias e dona da minha própria Gravadora, que eu ajudei a construir.
Bufando, Liz se senta no sofá, ainda inconformada. Aloísio segue.
ALOÍSIO: (surpreso) Ela comprou? Como? Aquela Gravdora também é sua!
LIZ: Eu também achava que era minha, mas nunca aquilo foi por mim, sempre foi pelo dinheiro, e o Laerte deixou isso claro. Ele que confidenciou pra cretina da Malu sobre as ações. Ela conseguiu tirar o que é meu. (T) Laerte e Malu são da mesma laia, um mais perveso que o outro.
Aloísio também se senta, sem entender.
ALOÍSIO: Essa garota não vai parar, ela quer chegar longe derrubando as pessoas. Liz, isso não pode ficar assim, impune.
LIZ: Mas eu não vou deixar. (séria) Eu tava pensando em algo, disse até pra ela. Eu não sei de onde ela veio, quem é ela de verdade longe daquela máscara, a gente precisa saber.
ALOÍSIO: Tá com alguma idéia?
LIZ: (decidida) Eu pensei muito no meio do caminho sobre isso, e decidi ir fundo. Vou contratar um investigador particular, pra saber de tudo sobre a vida dela. A parte que ela não nos contou. Uma pessoa que faz o que ela fez e continua fazendo, já fez pior! (seria) Eu vou descobrir quem é Malu Marinho de verdade!!
A imagem se desvanece aos poucos em Liz, firme com seus planos.
Corte para:
CENA 04 / EXPOSIÇÃO MUSICAL / EXTERNAS / NOITE /
Close em um espaço onde se concentra várias pessoas, animadas, ansiosas por um momento maior. Foco em um dos pôsteres espalhados pelo local, confirmando a presença de Malu Marinho na exposição.
Malu Marinho entra no palco, clima de vibração intensa, altos gritos, seja de animação, seja de desespero por estar presenciando a chegada uma cantora de sucesso. Ela começa a cantar o seu maior fenômeno autoral, "Ouça". (Letra completa disponível no capítulo 05)
O show continua, um sucesso.
A imagem se desvanece em uma dimensão ampla por todo o local.
CENA 05 / GRAVADORA RODRÍGUEZ / RECEPÇÃO / INT. / MANHÃ /
Saindo do elevador, Malu, agora como uma das sócias, se dirige até Bruna, que se levanta com a sua presença.
BRUNA: Bom dia, Malu. Como foi essa sua semana de shows? Fiquei sabendo que você lotou no Rio.
MALU: Cansativa, mas gratificante. Vale a pena!
BRUNA: É, eu imagino mesmo.
MALU: (rude) Não, você não imagina, porque você não é uma e não tem a convicção de ser uma.
BRUNA: (chocada) Me desculpa se eu/
MALU: (corta) Não precisa se desculpar, poupe seu tempo.
Bruna se senta, atordoada com a agressividade de Malu.
Laerte sai de sua sala, indo até Malu, a cumprimentando com dois beijos.
LAERTE: (animado) Sabia que você fez falta nessas semanas que ficou fora?
MALU: Fiz, é? Que bom que eu faço falta nas pessoas. (p/Bruna) Né, Bruna?
BRUNA: (finge) Oi? Ah, claro, fez sim...
MALU: Minha sala tá pronta?
BRUNA: Tá sim, e foi/
LAERTE: (por cima) Terminaram ontem, acho que tá do jeito que você queria. Vai lá, ela é toda sua!!
Malu sorri, mandando um beijo pra Bruna, indo em direção da sua sala.
Close em Laerte, que fica parado, observando, pérfido.
LAERTE: (sério/pensativo) Aproveita bastante, sonhe alto o quanto puder, porque quando eu puxar seu tapate, você vai se machucar tanto, Maluzinha... e é pra valer!!
ABERTURA:
CENA 06 / GRAVADORA RODRÍGUEZ / SALA DE MALU / INT./ MANHÃ /
Entrando na antiga sala de Liz, agora sua, com nova decoração, novo espaçamento, tudo novo. Ela se orgulha do que vê, extasiada.
Fade In - Huggin & Kissin, Big Black Delta.
MALU: (olhos brilhando) Minha sala... minha própria sala!!
Em êxtase, admirando o local, Malu passa as mãos por todo o local, querendo sentir, estar dentro. Chegando na cadeira principal da sala, ela se senta, prazerosa, curtindo o momento.
MALU: Quem diria que eu iria chegar até aqui... (criando coragem) Isso tudo é o que eu realmente mereço!!
Girando pela cadeira, rindo, Malu fica satisfeita.
Close em sua feição de prazer pelo momento, animada.
Fade Out - Huggin & Kissin, Big Black Delta.
Corte rápido para:
CENA 07 / MANSÃO RODRÍGUEZ / SALA DE ESTAR / INT. / MANHÃ /
Recebendo um homem em sua casa, ao lado de Aloísio, Liz faz com o que ele se sente ao sofá, lhe deixando com total liberdade.
LIZ: Aceita um café, Dante?
DANTE: Aceito sim, obrigado. Ninguém começa o dia depois de um bom café preto, bem forte.
LIZ: Claro. (p/Iara) Por favor, Iara.
IARA: Sim senhora.
Iara vai para a cozinha. Liz e Aloísio se sentam, encarando Dante (Humberto Carrão, 29 anos).
LIZ: Você descobriu alguma coisa, algo sério?
DANTE: Então, Maria Luiza Marinho, a nossa querida Malu, é de São João del-Rei, lá de Minas Gerais. Como eu já havia adiantando antes para vocês. Ela ficou nessa cidade até os 25 anos de idade, logo depois se mudou pra São Paulo. O incrível é que eu não consegui os detalhes sobre muita coisa da vida da moça, tem muita coisa resguardado em seu nome.
LIZ: (interessada) Que tipo de coisa?
DANTE: Malu permaneceu em um reformatório pra menores infratores desde o seus 15 anos, e saiu apenas com 20 anos. Lugar de segurança máxima.
ALOÍSIO: (intrigado) Reformatório? O que ela fez?
Iara chega com uma bandeja de café, servindo os três.
DANTE: (p/Iara) Obrigado.
Iara novamente sai de cena, os deixando sozinho.
DANTE: Aí que tá, simplesmente está tudo ocultado o que ela fez pra parar lá, e permanecer por tanto tempo assim.
LIZ: Como uma pessoa consegue esconder o que fez, assim, tão fácil?
DANTE: Por que ela não está sozinha, tem mais de uma pessoa que está ao seu lado, acobertando seja lá o que ela tenha feito.
ALOÍSIO: Mas e agora, o que você vai fazer?
DANTE: Eu já comprei as passagens, meu vôo sai daqui as 11h00, vou eu mesmo até esse reformatório e tentar saber ao menos o motivo que levou a nossa mocinha até lá.
LIZ: Claro, fez bem. (empolga) Eu preciso muito que você descubra o que ela fez, eu preciso ter essa mulher aqui, nas minhas mãos!!
Dante termina seu café, colocando novamente na bandeja. Ele se levanta, pronto pra sair.
DANTE: (olhando o relógio) Como viram, não posso perder o horário.
LIZ: Tá certo... obrigada!! Você tá me ajudando muito.
DANTE: Sem querer ser rude, mas é o meu dever, tô sendo pego pra isso. (T) Eu mando notícias.
Aloísio leva Dante até a porta, saindo da casa. Os dois se aliviam, animados com as novas notícias.
LIZ: Ele tem que descobrir isso, é a minha carreira que tá em jogo!
Aloísio se aproxima de Liz, segurando suas mãos.
ALOÍSIO: Já deu certo... é só esperar!!
Eles se encaram, dando um pequeno sorriso.
Corte para:
CENA 08 / RUA / EXT. / MANHÃ /
Descendo de um carro, Esther, já recuperada do acidente, observa um enorme casarão, retraída.
Uma mulher também sai do carro, se abaixando, ficando de frente para Esther, sorrindo.
MULHER: (sorri) Vamos conhecer o seu novo lar?
Esther acena com a cabeça, mas continua séria. A mulher pega em suas mãos, a fazendo andar até este casarão.
Corte rápido para:
CENA 09 / ORFANATO MUNICIPAL / ENTRADA / INT. / MANHÃ /
Entrando, a mesma mulher começa a mostrar para Esther todo o lugar, lhe distraindo.
MULHER: Como você pôde ver, aqui é um lugar acolhedor, você vai gostar.
Esther continua a andar com esta mesma mulher. Umas das crianças chegam até elas, correndo.
CRIANÇA: (imperativa) Diretora Tânia, ele não querem deixar eu brincar...
TÂNIA: Depois eu resolvo isso, agora eu tô ocupada, tá bom?
CRIANÇA: Sim senhora.
A criança novamente sai correndo, deixando Tânia (Débora Bloch, 50 anos) sozinhas.
TÂNIA: Você viu? Aqui eles são educados, me tratam com respeito.
Continuado andando pelo orfanato, Esther e Tânia passam pelos cômodos de todo o lugar.
Corte rápido para:
CENA 10 / ORFANATO MUNICIPAL / SALA DE MÚSICA / INT. / MANHÃ /
Chegando no último cômodo do orfanato, Esther fica maravilhada ao chegar na sala de música. Seus olhos brilham, lhe deixando extasiada, sem palavras.
TÂNIA: O que foi, querida?
ESTHER: (apontando) É... é um piano?
TÂNIA: É sim, você sabe tocar?
ESTHER: Sei. Eu aprendi na minha antiga escola... posso?
TÂNIA: Claro, vai lá, ele é todo seu! (T) Só não demore, já já vai passar "Coragem, o Cão Covarde". As crianças se reúnem para ver, tá legal?
Esther ignora o que é dito por Tânia, soltando de sua mão, indo em direção do piano.
Se sentando na cadeira de frente, ela o abre, vendo os teclados, passando lentamente sua pequena mão sobre eles, fazendo um baixo som.
Respirando fundo, Esther começa a tocar: "Sonata ao Luar - Beethoven"
A cada nota tocada, seus olhos encham-se d'água, emocionada.
A câmera foca em suas mãos, numa transição leve, onde aos poucos, elas vão crescendo, as notas vão se tornando mais eficientes, afinadas, limpas.
A câmera aos poucos vai subindo pelo seus braços, agora, mostrando Esther, cinco anos mais velha, tocando com mais rispidez, firmeza.
TÂNIA: (off) Esther... Esther... (grita) ESTHER!!
Esther (15 anos, jovem, cabelos longos, séria) olha para a diretora Tânia (55 anos, mais velha, mas com a mesma fisionomia da cena anterior), parando de tocar, encarando-a.
TÂNIA: Desculpa ter gritado, mas você não me ouvia.
ESTHER: Eu prefiria não ouvir as pessoas...
TÂNIA: (se aproxima) Não diz isso, minha querida, não é bom se esconder. (anima/incentivando) Sabe aqueles dois que vem aqui quase todo dia te ver? Então, eles chegaram... dessa vez, acho que... aliás, eu não tenho que achar nada, vai lá falar com eles!!
Tânia pega nas mãos de Esther, lhe fazendo levantar.
TÂNIA: (emocionada) Você merece ser feliz... merece ter uma família novamente!
Tânia faz com que Esther dê um pequeno sorriso, o suficiente pra te satisfazer.
TÂNIA: (ri) Sabia que eu veria esses seus dentinhos novamente!
Tânia dá um pequeno abraço em Esther, que retribui.
Corte para:
CENA 11 / CASA DE JOANA / CÔMODOS / INT. / MANHÃ /
Passando pelo corredor da casa, Joana abre a porta do quarto de Valentin, estranhando ao não vê-lo deitado.
Fade In - Instrumental, Tensão.
Adiante, ela bate na porta do banheiro, também não encontrando.
Agora, já um pouco preocupada, ela anda por toda a casa, a procura de seu irmão.
JOANA: (assutada) Valentin... cadê você?!
Indo em direção à porta de entrada, pronto para abrir, Joana se alivia, vendo Valentin entrar, tranquilo.
JOANA: (nervosa) Que susto que você me deu! Você sabe que não pode andar sozinho e ainda insiste?
VALENTIN: Eu não sou nenhum pertubado, muito menos um menor de idade. Eu sei o que eu tô fazendo!
JOANA: (incisiva) O que você tava fazendo? Aonde cê foi?
VALENTIN: Eu não vou dizer/
JOANA: (corta/rude) AONDE VOCÊ FOI?
VALENTIN: (disfarça) Eu... eu... fui fazer uma caminhada, é isso. Satisfeita?!
Joana o olha da cabeça aos pés, sem acreditar.
JOANA: De calça jeans e chinelo?
Sem dar ouvidos, Valentin desvia de Joana, indo para o quarto. Ela o segue, mas barrada, após ele trancar a porta.
JOANA: (clamando) Por favor, irmão, não faça o que eu acho que você esteja fazendo. Por favor...
Close em Valentin, contra a porta do quarto, se sentando ao chão, ofegante.
Fade Out - Instrumental, Tensão.
Corte para:
CENA 12 / ORFANATO MUNICIPAL / SALAS / INT. / MANHÃ /
De roupa trocadas, segurando uma mala, Esther é acompanhada por Tânia, segurando suas mãos, lhe dando suporte.
Ao entrar em uma das salas, elas se deparam com um casal, que ao ver Esther entrando, se alegram, empolgados com o momento.
Fade In - Vento no Litoral, Renato Russo e Cássia Eller.
TÂNIA: Carla e Mauro Mendes, acho que vocês conhecem essa mocinha... sua filha Esther!!
CARLA: (p/Esther, emocionada) Olá Esther... Tudo bem?
Esther os encara, deixando a dureza de lado, dando um pequeno sorriso. Mauro (Fábio Assunção, 48 anos) e Carla (Viviane Pasmanter, 46 anos) se aproximam, lhe dando um forte abraço. Momento de família, as emoções de ambos são aflorados.
MAURO: (emocionado) Eu juro que vamos tentar ser, nem que seja o mínimo do que sua mãe foi pra você. Vamos ser uma família... uma família feliz!!
CARLA: (marejada) Faço as palavras dele as minhas. Nós te amamos, Esther, de verdade.
Os olhos de Esther encham-se d'água, mais tranquila.
ESTHER: (abalada) Nunca imaginei que sairia daqui, com 15 anos...
TÂNIA: (chora) Nunca é tarde pra ser feliz, minha linda.
CARLA: (sorri) Realmente, nunca é tarde... (T) vamos?
Esther segura nas mãos de Carla e Mauro, tendo total apoio de ambos.
A imagem desvanece no três, de mãos dadas, sorrindo.
Fade Out - Vento no Litoral, Renato Russo e Cássia Eller.
Corte rápido para:
CENA 13 / REFORMATÓRIO "SÃO JOÃO DEL REI" / RECEPÇÃO / INT. / TARDE /
Já no reformatório, Dante é fiscalizado por um segurança, para a prevenção do lugar.
SEGURANÇA: Tudo limpo.
Após ser examinado, ele se dirige até a recepcionista.
RECEPCIONISTA: Posso ajudar, senhor?
DANTE: Pode sim... (olhando o crachá) Patrícia. Eu marquei um horário com a diretora Olívia, ela está?
PATRÍCIA: Qual o seu nome?
DANTE: É Dante Abraão.
PATRÍCIA: Ah, claro senhor Dante, ela já estava na sua espera. Mas eu vou avisar antes, tá bom?
Dante concorda com a cabeça. Patricia pega o telefone, ligando para a sala da diretora.
PATRÍCIA: (tel) Dante está aqui. (T) Posso mandar ele entrar? (T) Tá certo! (p/Dante) Pode ir, é só seguir esse corredor, virar a direita que é a última sala.
DANTE: Claro. Obrigado Patricia.
Corte rápido para:
CENA 14 / REFORMATÓRIO "SÃO JOÃO DEL REI" / DIREÇÃO / INT. / TARDE /
Entrando na sala de Olívia (Zezé Motta, 76 anos), Dante é recebido com um aperto de mãos.
OLÍVIA: Pode se sentar.
Dante se senta, Olívia o segue, indo para sua mesa.
OLÍVIA: O que devo a honra de ter um jornalista aqui, na meu reformatório?
DANTE: Como eu adiantei por telefone, eu tô vindo de São Paulo, e escolhi essa incrível cidade, São João Del Rei, pra ser o centro de uma nova reportagem. Uma cidade como essa merece ser noticiada, não acha?
OLÍVIA: Claro, já até passou da hora. Mas o que mais me deixa surpresa é você, vir aqui, num lugar não muito legal pra falar em respeito da cidade.
DANTE: Aí que você se engana. Uma boa reportagem examina todos os lados, principalmente os que não dão uma boa visibilidade, não que eu esteja difamando aqui.
Olívia encara Dante, dando um pequeno sorriso.
OLÍVIA: (direta) Sabe o que eu realmente acho? Você não veio pela cidade, veio atrás de algo ou alguém. Vamos direto ao assunto, quem é a pessoa que te interessa aqui?
DANTE: (surpreso) Opa, parece que alguém é muito esperta!
OLÍVIA: Estou aqui há mais de quarenta anos, então sei muito bem o que as pessoas pensam ou fazem. É difícil alguém me passar para trás!
DANTE: (sério) Ok, então vamos lá. Maria Luiza Marinho, conhece?
Olívia se espanta com o nome citado, mas mantendo a pose.
OLÍVIA: Esse nome... não me é estranho.
DANTE: Ela passou por aqui, ficou alguns anos nos seus cuidados. Você não se lembra dela? Agora, como ela é uma pessoa famosa, você deve lembrar sim, ou a senhora tá com a memória muito fraca pra tá a frente desse reformatório.
OLÍVIA: Ah claro, Malu Marinho. Faz tempo que eu não ouço esse nome, mesmo ela sendo famosa, aqui é uma parte afastada do mundo. O que você quer saber dela?
DANTE: Quero o/
Dante é interrompido com o telefone da sala de Olívia tocando. Ela atende.
OLÍVIA: (tel) Boa Tarde! (T) Agora? (T) Mas eu estou um pouco ocupada. (T) Já chego aí!!
Olívia desliga o telefone, já se levantando da mesa.
OLÍVIA: Me espere aqui, já eu volto.
DANTE: Sim senhora.
Olívia sai da sala, apressada.
Fade In - Instrumental, Suspense.
Ao vê-la saindo, Dante rapidamente se levanta, indo até os armários que ficam na sala.
Ele os abre, apressado, passando por várias pastas.
DANTE: (agitado) Cadê você, Malu Marinho... cadê você!
Ao abrir outro armário, ele também não encontra nada. Ele examina todo o lugar, sem sucesso. Chegando no último armário, ele percebe estar trancado, sem conseguir abrir.
Rapidamente, indo até sua bolsa, ele retira um clips de metal, o abrindo, fazendo ficar grande. Com este mesmo clips, ele volta para o armário, o colocando na fechadura, tentando abrir.
DANTE: (impaciente) Vai merda... vai!!
Dando a última girada, Dante consegue abrir, respirando fundo. Passando pelas pastas que estavam dentro deste armário, ele puxa uma delas, folheando.
Intrigado com o que vê, sem ficar nítido, ele procura por este mesmo armário outra pasta, conseguindo achar, também a pegando.
DANTE: (surpreso) Então é isso...
Pegando o seu celular, ele tira fotos destas duas pastas em conjunto.
DANTE: (perplexo) Por essa eu não esperava!
Rapidamente, ele as coloca no mesmo lugar novamente, fechando o armário.
Corte para o lado de fora da sala, onde Olívia caminha pelo corredor, em direção de sua sala. Ao abrir a porta, Olívia se depara com Dante, já sentado na cadeira de frente a sua mesa, parado, como se nada tivesse acontecido.
OLÍVIA: (se sentando) Desculpe se eu demorei. Tô velha, mas ainda sou a diretora, então tenho que resolver as coisas. (T) Aonde paramos?
Close em Dante, sorrindo.
Fade Out - Instrumental, Suspense.
Corte para:
CENA 15 / SÍTIO FAMÍLIA MENDES / ENTRADA / INT. / TARDE /
Um carro se aproxima de uma enorme casa, cercada por árvores e um canteiro. Esther desce primeiro, maravilhada com o que vê. Carla acompanha, enquanto Mauro estaciona.
ESTHER: É aqui?
CARLA: É sim, um pouco longe, mas é aconchegante. Você vai gostar. (T) Ah, já vou logo avisando, eu sou noveleira, você gosta?
ESTHER: A minha mãe era... hoje, eu já nem sou mais...
CARLA: Mas essa que tá passando, cê vai amar. Tô louca pra saber quem é o cadeirudo!!
Elas sorriem. Carla pega nas mãos de Esther, levando-a em direção da entrada. Mauro vem atrás.
Corte rápido para:
CENA 16 / SÍTIO FAMÍLIA MENDES / QUARTO / INT. / TARDE /
Abrindo a porta de um dos quartos, agora os três juntos, Esther entra em seu quarto, grande, arrumado, com aspecto bem jovial dos anos 90.
MAURO: E finalmente chegamos no seu quarto... gostou?
ESTHER: Ele é grande, mas é bonito. Gostei sim, obrigada.
Mauro pega nas mãos de Carla, admirando sua filha.
CARLA: Vamos deixar você um pouco sozinha, tá bem?
Concordando com a cabeça, os dois sai. Esther fica sozinha, olhando por todos os lados.
Fade In - Eu Sei Que Vou Te Amar, Vinícius de Moraes.
Se sentando na cama, ela abre sua mala, onde por debaixo das roupas, retira uma fotografia cortada.
Close nesta foto, mostrando Esther ainda criança e sua mãe Larissa, abraçadas. Ela derrama algumas lágrimas por cima desta foto, emocionada.
ESTHER: (chora) Eu juro que eu vou tentar mãe... eu vou tentar!!
Esther abraça a foto, completamente emocionada.
Fade Out - Eu Sei Que Vou Te Amar, Vinícius de Moraes.
Corte rápido para:
CENA 17 / REFORMATÓRIO "SÃO JOÃO DEL REI" / DIREÇÃO / INT. / NOITE /
Fade In - Instrumental, Tensão.
Concentrada no computador, Olívia olha através das câmeras de segurança, imagens da sua sala, mostrando o momento exato em que Dante consegue abrir uma das gavetas do armário, lhe deixando nervosa.
Pegando de sua bolsa, Olívia disca para um número, fazendo uma ligação.
OLÍVIA: (tel./séria) Eu nunca pensei que eu iria precisar fazer essa ligação, mas você corre grandes riscos...
Corte rápido para:
CENA 18 / MANSÃO MARINHO / QUARTO PRINCIPAL / INT. / NOITE /
Ritmo acelerado. Malu vai diretamente para o seu closet, pegando uma pequena mala, colocando algumas peças de sua roupa dentro.
Com a mala aberta, ela vai correndo até sua cama, subindo sobre a mesma, retirando o quadro da parede. Destravando o cofre, Malu pega novamente a arma utilizada no capítulo anterior, fechando novamente o cofre e colocando o quadro no lugar. Ela enrola a arma no meio das roupas, logo depois, fechando a mala.
André entra no quarto, estranhando a pressa de Malu.
ANDRÉ: Que mala é essa? Pra onde cê tá indo?
MALU: (agitada) Show de última hora, não posso perder! Beijos...
Malu passa por André, dando um beijo em sua boca, saindo correndo do quarto, o deixando confuso.
ANDRÉ: (intrigado) Show... eu não caio nessa!
Fade Out - Instrumental, Tensão.
Corte para:
CENA 19 / SÍTIO FAMÍLIA MENDES / SALA DE JANTAR / INT. / NOITE /
Carla termina de servir a mesa. Esther desce as escadas, indo em direção do jantar.
Close em Mauro, olhando disfarçadamente para Esther, sério.
Todos se sentam na mesa, se servindo.
CARLA: Você gosta de frango caipira?
ESTHER: Gosto sim.
Eles começam a comer, em silêncio. Aos poucos, alguns assuntos começam a fluir.
CARLA: Viram que a princesa Diana, a Lady Di morreu? Coitada, adorava ela. Principalmente aquele jeito dela despojada, dona de si. Uma pena.
MAURO: É, complicado.
Mauro novamente começa a olhar para Esther, agora, com um olhar malicioso, encarando o decote de sua blusa, fixado.
Esther percebe, lhe deixando completamente desconfortável, trêmula. Carla percebe o seu nervosismo.
CARLA: (preocupada) O que foi filha, tá tudo bem? Posso te chamar de filha, né?
Esther encara Mauro, que não tira os olhos de seu corpo. Envergonhada, ela se levanta da mesa, assustada.
ESTHER: (gagueja/aflita) Tá... tá tudo bem sim. Eu vou pro quarto, posso? Tô com um pouco de dor de cabeça.
CARLA: Claro, sobe lá. Se não melhorar, me fala, te dou um remedinho.
Esther concorda com a cabeça. Subindo novamente as escadas. Olhando para trás, ela vê que Mauro não tira os olhos de si. Ela sobe mais rápido, saindo de sua visão.
CARLA: (preocupada) Será que ela não tá gostando, amor? Eu fiz algo de errado?
MAURO: (sorri) Ela tá, eu sei que ela tá gostando... só não se acostumou, é questão de tempo. Você tá perfeita!
Close em Carla, sorrindo para o marido, que olha novamente para a escada, pensativo.
Corte para:
CENA 20 / MANSÃO RODRÍGUEZ / SALA DE ESTAR / INT. / NOITE /
Andando de um lado para o outro, com o celular nas mãos, Liz demonstra ansiedade por algo, impaciente. Aloísio intervém, segurando seu braço.
ALOÍSIO: Ei, para de andar um pouco, assim vai te deixar mais nervosa. Tem que ter calma e paciência.
LIZ: (apavorada) Não dá, ele ficou de ligar e até agora nada. Era coisa simples, se ele descobrisse algo, já iria me ligar e/
ALOÍSIO: (corta) Não faz isso com você, não espere algo que talvez nem venha. Respira fundo que se for pra descobrir algo sobre ela, nós vamos descobrir. Fica calma!
Fade In - Creep, Radiohead.
Respirando fundo, Liz tenta se acalmar. Aloísio percebendo seu nervosismo, segura em uma de suas mãos, encarando-a.
ALOÍSIO: Eu tô aqui, não tô? Vou estar do seu lado pro que der e vier!
Passando as mãos pelos cabelos de Liz, Aloísio no impulso, a beija, lhe pegando desprevenida.
Momento exato em que Otávio entra na casa, se deparando com o beijo dos dois, surpreso.
Liz para imediatamente com o beijo, se afastando de Aloísio, sem entender.
LIZ: O que foi isso?
OTÁVIO: (corta/sério) Eu que te pergunto Liz, o que foi esse beijo?
Close em Liz, que se assusta com a presença de Otávio. Os três se encaram, tensos.
Corte rápido para:
CENA 21 / PORTÃO - CASA / ENTRADA / INT. / NOITE /
Parado em frente a uma casa afastada de todas as outras da rua, Dante desce do taxi, observando.
DANTE: (firme) É aqui!
Batendo palmas, Dante espera para ser atendido, demorando. Momento em que a porta desta mesma casa se abre.
Close em uma mulher, branca, cabelos pretos, vestido simples, saindo por esta porta, andando em direção do portão.
MULHER: Posso ajudar o senhor?
DANTE: Depende da sua resposta...
A mulher se aproxima de Dante, do lado de fora do portão, o encarando, confusa.
MULHER: (intrigado) Minha resposta?
DANTE: É... qual é o seu nome?
MULHER: (estranha) Meu nome? Eu me chamo Esther... Esther Brandão, por quê?
Ao ouvir o nome dito pela moça, mostrando ser Esther (Isis Valverde, 38 anos), ele logo dá um sorriso, respirando fundo.
DANTE: Finalmente te achei... Esther!!
ESTHER: (intrigada) Como assim me achou? Quem é você?
DANTE: Não é muito importante quem eu sou, mas sim, o que eu tô fazendo aqui. (T) Maria Luiza Marinho, mais conhecida como Malu Marinho, você se recorda? Vocês duas passaram uma boa parte da sua adolescência no reformatório de São João Del Rei, dividindo o mesmo dormitório. (direto) Eu vou ser rápido. Eu quero saber exatamente tudo o que ocorreu nesse período onde vocês conviveram por uns cinco anos... e você vai me contar!!
A câmera fixa em Esther, adulta, assustada com a direta de Dante, congelada em tom amarelo em um disco de vinil, ao som de: "Creep, Radiohead."
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