INCÓGNITA - CAPÍTULO 6
terça-feira, outubro 06, 2020Incógnita
Capítulo 6
Cena
1: Casa do Dr. Eduardo/ Quarto/ Interior/ Noite
Continuação
imediata da última cena do capítulo anterior
Larissa
está trêmula. Suas mãos e testa suam enquanto a luz da lanterna do celular
ilumina o semblante diabólico de Dr. Eduardo:
Larissa
(nervosa, confusa): - Eu (T) eu (T) estava (T) estava procurando algum
medicamento, alguma coisa para te ajudar, você estava desmaiado, eu não podia
(corta)
A
socialite começa a ficar cada vez mais ofegante. A luz da câmera do celular,
com a tela já bloqueada, reflete em vários cantos do quarto, acompanhando o
efeito descontrolado que o sonífero causa em seu corpo. Num rompante, ela
desmaia, desacordada, sobre a cama de Dr. Eduardo. Corta para:
Cena 2: Penitenciária/ Cela de Ronaldo/ Interior/ Noite
Ronaldo
está recostado na parede gélida da cela, enquanto outros detentos estão
fumando. Um deles, Pezão, joga um cigarro e um caixa de fósforos para o rapaz:
Pezão:
- Pega aí, mano.
Ronaldo:
- Não, cara, valeu (T). Minha vida já está nebulosa demais. E eu já conheço o impacto
dessas e de outros tipos de tragadas (T).
Pezão
se aproxima de Ronaldo, e o encara, com um semblante curioso:
Pezão:
- Qual foi teu rolo?
Ronaldo
o encara: Porte de drogas. (T) Drogas que eu nunca portei. (T) Não nessa
quantidade.
Pezão:
- E “tu” acha que foi aquele cara, o delegado, que malocou a muamba lá?
Ronaldo
balança a cabeça, assentindo.
Ronaldo
(reflexivo): - Desde quando a investigação sobre a morte do pai começou, parece
que esse Delegado persegue a gente, tem uma fixação obsessiva. (T) Os
depoimentos, essa prisão, o comportamento dele com relação à minha família.
Pezão
(conclusivo): - Ah, agora saquei (T) “Tu” é filho daquele cirurgião plástico, o
(T) (corta)
Ronaldo:
- Emiliano Figueiredo Silva. Um nome tão imponente quanto a monstruosidade de
quem carregou ele.
Pezão:
- É, a gente costuma ler uns jornais, “cês” eram bem conhecidos.
Ronaldo:
- Um anjo como médico e um demônio como pai. Um sádico, um maldito que batia na
esposa e no filho de um jeito banal, asqueroso (corta)
Ronaldo
começa a demonstrar a sua revolta e é controlado por Pezão. Ele apanha uma
garrafa pet, com água e entrega ao filho de Larissa.
Pezão:
- Acalma aí, mano. Bebe um pouco, vê se relaxa. Ficar “revoltadinho” aqui, é só
enrascada, fica tranquilo.
Ronaldo
toma a água, em goles sequenciais. A câmera corta para o semblante de Pezão,
mais afeito a Ronaldo:
Pezão
(reflexivo): - Antes de eu parar aqui eu cometi um monte de erros. Eu roubei
(T) trafiquei. Mas o único do qual eu não me arrependo foi o de ter matado. Quando
eu tinha uns (T) 14, 15 anos, eu mandei o desgraçado do meu padrasto, que
surrava a minha mãe, lá pro quinto dos infernos. Não me arrependo de ter
passado a navalha naquele filho da puta.
Ronaldo
(demonstrando surpresa): E a sua mãe?
Pezão
abaixa a cabeça:
Pezão
(decepcionado): - Me renegou. Me expulsou de casa, não quis mais saber de mim.
Só hoje, depois de muito calejo é que eu entendo a situação de mulheres como
ela. E (T) como a da “tua” mãe também.
Ronaldo:
- Diferente de você com a sua, eu nunca consegui fazer nada pela minha. Nem
confessando que eu matei o meu pai eu consegui ajudar ela.
Pezão:
- Mas “tu” tentou. Tentar, às vezes, é muito mais que conseguir. Eu tenho
certeza que se tivessem muito mais tentativas, um “montão” de mulheres “aí” se
sentiriam mais seguras de denunciar, de serem ouvidas. (T), mas (T) não é
assim.
Instala-se
um silêncio entre os dois. As emoções se reviram e os olhos de ambos ficam
marejados:
Pezão:
- Mas, fala aí, “mano”. (T) Eu entendi que “tu” queria salvar a pele da “tua”
mãe, ajudar, fazer algo por ela, mas...aquela tal de explosão que matou teu
pai...foi tu que planejou, mesmo? Corta para:
Cena
3: Casa do Dr. Eduardo/ Quarto/ Interior/ Noite
Dr.
Eduardo segura Larissa pelo busto, segurando-a com os dois braços e a arrasta
pelos cômodos da casa, até chegar à porta. Antes de sair, ele apanha as chaves
do carro e uma pequena escultura de coruja talhada em madeira, com olhos que
lembram botões. Ele repousa a socialite no banco do passageiro de seu carro e
parte em direção à Mansão dos Silva. Corta para:
Cena
4: Mansão dos Silva/ Interior/ Noite
Dr.
Eduardo adentra o casarão de Larissa. Ele acende algumas luzes, deixando o
ambiente em tons escuros. A câmera foca no rosto de Larissa desacordo, com seu
corpo sendo arrastado pela Sala de Estar. De repente, o delegado repousa a
escultura de coruja no alto de uma estante de mármore e sobe as escadas em
direção à suíte da socialite. Corta para:
Cena
5: Mansão dos Silva/ Suíte de Larissa/ Interior/ Noite
O
delegado repousa Larissa na cama e a despe, cobrindo-a somente com o lençol, em
seguida. Ele tira, da mesma sacola que guardava a escultura de coruja, uma
garrafa de champanhe e duas taças. Ele a abre, abafando o barulho com o blazer e
espalha a bebida pelo quarto após preencher as taças. Se despe e, antes de
deitar ao lado de Larissa, apanha o celular da socialite. A câmera abre o foco
na tela do aparelho. O delegado tenta desbloquear a tela digitando a data de
nascimento de Ronaldo (09/04/1995)
Dr.
Eduardo (rindo): - Vadia previsível (T).
Ele
digita uma mensagem para Humberto: “Deu tudo certo...te espero amanhã, bem cedo,
para comemorarmos”
O
delegado bloqueia a tela, repousa o celular sobre o criado mudo e se deita ao
lado de Larissa. De repente, a tela do aparelho se ilumina, com a mensagem de
confirmação de Humberto. Corta para:
Cena
6: Penitenciária/ Cela de Ronaldo/ Interior/ Noite
Pezão
(curioso): - E aí, “cara”?
Ronaldo
(misterioso): - Você sabe, “cara”. (T) Por tudo o que eu contei, ficou bem
claro.
Pezão
se levanta e fica em frente a Ronaldo. Ele gesticula para que o filho de
Larissa também se erga.
Pezão
(estendendo a mão): - Eu gostei de “tu”, moleque. (T) “Tu” vai ficar sob minha
asa aqui dentro, protegido. Vou fazer muito gosto em te ajudar, mas, se rolar
qualquer deslize comigo, a chapa vai esquentar pro teu lado.
Ronaldo
(aperto a mão de Pezão, em sinal de cumplicidade): - Valeu, Pezão, mas (T) que
tipo de ajuda é essa “cara”?
Pezão:
- Amanhã “tu” vai saber, fica “sussa”.
Pezão
continua apertando a mão de Ronaldo e em seguida lhe dá um “tapinha” nas
costas. Corta para:
Cena
7: Mansão dos Silva/ Interior/ Manhã
A
câmera foca na porta do casarão. Humberto a abre, com a chave reserva,
carregando uma sacola de palha com alguns pães.
Humberto
(alegre): - Larissa? (T).
Sem resposta, ele sobe as escadas, em direção à suíte da socialite. Ele caminha pelo corredor dos quartos, escuro, iluminado tão somente por uma fresta de luz do sol que sai pelo vitrô, ao fundo. A porta da suíte está entreaberta. A câmera acompanha o irmão de Emiliano por trás. Sua mão empurra vagarosamente a porta, num misto de ansiedade e medo. Finalmente, Humberto observa Larissa e Eduardo deitados, nus, com os braços e pernas entrelaçados. A câmera caminha e mostra as roupas espalhadas pelo quarto, em meio ao champanhe que lustra o assoalho. Humberto cerra as mãos e lacrimeja, tentando reter a raiva da situação. Corta para:
Cena 8:Mansão dos Silva/ Suíte de Larissa/ Interior/ Manhã
Humberto contém a raiva e desce as escadas, em disparada, rumo à parte do casarão. Ele fecha a porta com uma força descomunal, desconcertado. O som faz com que Larissa desperte aos poucos. Ela se vira na cama e, de repente, seu rosto encontra com o de Dr. Eduardo, com seus olhos gélidos e os lábios ensaiando um sorriso:
Dr.
Eduardo (risonho): - Bom dia, minha princesa. (T) Dormiu bem?
Larissa
se levanta. Ele sonda o estado do quarto, com as roupas jogadas, o champanhe
espalhado e seu corpo nu, coberto tão somente pelo lençol:
Larissa
(com a mão sobre a testa): - O que aconteceu aqui?
Dr.
Eduardo (debochado): - Algo que acontece desde Adão e Eva, e que deu origem a
Caim e Abel. (T) Só que no seu caso, veio um Ronaldo.
Larissa
(assustada): - Eduardo, eu preciso entender o que está acontecendo. (T). Desculpa,
mas, essa situação é inusitada, eu sem roupa, esse quarto todo revirado, eu não
lembro de nada, nada.
Dr.
Eduardo se acomoda sobre a cama e apanha a camisa, jogada ao lado dela. Ele
começa a vesti-la quando Larissa, mesmo atônita, nota uma espécie de marca de
nascença, no final do dorso do Delegado. Ela tenta iniciar um questionamento,
mas hesita, em meio ao nervosismo e incerteza da situação.
Dr.
Eduardo (vestindo a calça) - Uma pena que sua memória é fraca.
Dr.
Eduardo apanha o par de sapatos quando, subitamente, se vira para Larissa:
Dr.
Eduardo: - Se a sua memória é fraca, a minha é bem forte, e você vai gostar do
que ela se lembrou. (T) O “teu” filho confessou que o matou o Dr. Emiliano,
sabia?
Larissa
se levanta da cama, atônita:
Larissa
(assustada): - O que? O meu Ronaldo, confessando/(corta)
Dr.
Eduarda (sarcástico) – Confessando (T). E com detalhes bem minuciosos (T). Mas,
toda confissão ou crime muito “perfeitinho” sempre tem um “Q” de dúvida, e esse
não é diferente.
Larissa
(conclusiva): - E isso quer dizer que/(corta)
Dr.
Eduardo: - Que eu não acolhi a confissão. Acho interessante você botar um
pouquinho de juízo na cabeça do “teu” filho. A quota dele tá vazia pra querer se
enrascar ainda mais do que já está.
Dr.
Eduardo caminha até o criado-mudo ao lado da cama e pressiona o botão central
do celular de Larissa. A tela se ilumina e a câmera foca no horário: 10h23.
Dr.
Eduardo (vestindo o blazer): - “Aproveita” essa manhã ensolarada, o horário de
visitas no presídio é até as 18h. Não é um jantar à luz de velas, mas, quem
sabe as suas palavras não iluminam o caminho desse rapaz. (T).
Larissa:
- Eu (T) eu acompanho você até a porta.
Dr.
Eduardo: - Não precisa, eu sei o caminho até ela.
Dr.
Eduardo se aproxima lentamente de Larissa. Ele a segura pelo antebraço, numa
agressividade tênue e lhe dá um beijo, suave, e ao mesmo tempo, agressiva. Ele
se vira e caminha em direção à porta. A câmera o acompanha pelas costas. Antes de
sair, ele observa a estátua de coruja sobre a estante de mármore. Está
escondida, mas ainda assim, seus olhos negros parecem observadores. Ele gira a
maçaneta e sai da mansão.
Cena 9: Mansão dos Silva/ Hall de Entrada/ Exterior/ Manhã
Dr.
Eduardo caminha em direção ao seu carro. A câmera vai mudando lentamente de
foco e mostra Humberto escondido, atrás de um dos carros estacionados na rua.
Ele espera o Delegado dar a partida e ir embora. Quando isso acontece, ele
corre até a mansão e abre a porta, lentamente, a fim de surpreender Larissa, e
sobe as escadas até a suíte da socialite. Corta para:
Cena 10: Mansão dos Silva/ Suíte de Larissa/ Interior/ Manhã
A
câmera acompanha Humberto correndo e subindo as escadas. A câmera corta para a
Suíte de Larissa. A socialite está se vestindo, trêmula quando Humberto aparece
ao fundo, enraivecido, observando novamente o quarto, ainda bagunçado pela
armação de Dr. Eduardo:
Humberto
(enraivecido): - E, aí, vadia? Quis voltar às origens?
Larissa
se vira, assustada:
Larissa
(assustada): - Humberto? O que você tá fazendo aqui?
Humberto:
- Eu recebi um convite pra um café da manhã, só não sabia o brinde era um
filmezinho pornô de quinta categoria!
Larissa:
- O que? (corta)
Humberto agarra Larissa pelo braço, violentamente
Humberto (enraivecido): - E aí, foi bom, curtiu? Pelo visto, sim. Pro rebu que tá esse quarto, a noite, a madrugada, e de quebra a manhã foram deliciosas.
Num
rompante, Larissa morde o antebraço de Humberto, que simultaneamente lhe
desfere um forte tapa no rosto, fazendo com que a socialite caia no chão. A
câmera foca em seu semblante no momento em que se vira, deixando um pequeno
corte no canto do lábio. Ela se levanta, apoiada no beiral da cama.
Larissa
(afoita): - Eu jurei pra mim mesma que eu nunca mais ia apanhar de homem
nenhum. (T) E não vai ser você que vai quebrar essa regra!
Humberto:
- Então fala, sua vagabunda, fala!
Larissa:
- Eu não “te” devo satisfação do que eu faço ou deixo de fazer.
Larissa
se vira e caminha em direção à Sala de Estar, estarrecida. Humberto a segue:
Humberto:
- Ah não? E desde quando essa partida tem só um jogador?
Larissa:
- Desde o momento em que você deixa os seus olhos te enganarem. (T) Eu não sei
o que aconteceu aqui ontem, a única coisa que (corta).
Larissa
se sente lentamente sobre o sofá, passando as mãos em seus cabelos, perplexa:
Larissa
(conclusiva): - As taças (T) Ele trocou as taças.
Humberto:
- Que taça, do que você tá falando?
Larissa:
- Como a gente tinha combinado, eu me encontrei com o Delegado, mas na casa
dele. Eu tentei dopar ele pra vasculhar o lugar e achar algo pra (T) pra
entender o motivo desse comportamento hostil, dessa obsessão dele pela nossa
família.
Humberto
gargalha:
Humberto:
- E você realmente espera que eu acredite nisso?
Larissa
se levanta e olha fixamente para Humberto:
Larissa:
- Eu não te entendo, Humberto. A gente combinou que eu ia usar toda e qualquer
arma pra arrancar alguma coisa do Eduardo e agora você vem com esse papo de
falso moralista pra cima de mim?
Humberto:
- Sedução e sexo são coisas muito diferentes, e nenhuma coisa leva a outra.
Larissa:
- Chega! Eu não ficar aturando essa ladainha incoerente. Sai (T) Sai daqui,
agora. Eu preciso ir até a Penitenciária.
Humberto,
com os olhos marejados e atesta condensada por gotículas de suor, se aproxima
de Larissa, cerrando os olhos, em pleno estado de raiva:
Humberto:
- Então aproveita e já reserva a cela presidencial, porque eu vou derrubar você
desse pedestal (T).
Larissa
fica tensa:
Larissa:
- O que?
Humberto
(com a voz trêmula): - Eu vou contar que você assassinou o Emiliano naquela
noite. Que você e o Ronaldo sofreram anos de agressão e isso foi decisivo pra
você tomar a iniciativa de explodir aquele carro. E que eu fui ameaçado de
morte se delatasse você pra Polícia. (T) Que tal?
Corta
para:
-GANCHO-
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