Jornada- Capítulo 06

sábado, setembro 22, 2018

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CENA 01 - INT/BANCADA DE ATENDIMENTO/DELEGACIA DE USHUAIA/MANHÃ


Uma senhora humilde aguarda sentada pelo registro de um pagamento, ela está de frente para a mesa de um policial. A senhora em questão é um pouco pequena e tem cabelos lisos castanhos levemente esbranquiçados. Ela segurava uma bolsa, apreensiva. Fazia frio no local, como em toda a cidade costumeiramente.

POLICIAL ATENDENTE: Tudo certo, senhora, vamos soltá-lo. {Após parar de teclar no computador}.

Ela fica aliviada.

CENA 02 - INT/CELA/DELEGACIA DE USHUAIA/MANHÃ/CONTINUAÇÃO DIRETA DA CENA ANTERIOR.


Em uma cela escura, vazia e em péssimo estado, encontra-se Clementino Villas Boas. Ele está pensativo, ainda vestia seu terno luxuoso. Um policial vai até a cela.

POLÍCIAL: Pagaram a sua fiança, você vai embora. {A conversa é no idioma local, espanhol}.

CLEMENTINO: Só espero que essa"fiança" não tenha saído muito cara.

POLICIAL: Está reclamando? Devia ficar bem quietinho e agradecido, está livre de um processo que poderia vir a lhe custar muito. Suspeito de tentativa de assassinato, ia ficar bastante tempo em um lugar pior do que este, nas mãos de gente barra pesada. Agradeça a generosa senhora. {Enquanto destranca a cela}.

Clementino deixa a cela.

CENA 03 - EXT/FRENTE DA DELEGACIA DE USHUAIA/MANHÃ/CONTINUAÇÃO DIRETA DA CENA ANTERIOR.


Clementino olha para o céu azul, feliz por estar livre. A senhora que pagou sua fiança sai de um canto, acanhada.

SENHORA: Clementino?

Ele vira de costas e dá de cara com Suely.

CLEMENTINO: Foi você que pagou? {Sério}.

SUELY: Sim. {Ela falava português}.

CLEMENTINO: Como você soube que eu estava preso.

SUELY: A notícia se espalhou pela cidade. É verdade que você tentou matar a Sarah? {Chorosa}.

CLEMENTINO: Foi tudo armação dela, sabe bem como sua sobrinha é. {Irritado}.

SUELY: Mas o que houve? Vocês sempre foram tão unidos, apegados. Quero saber onde ela está, já faz dias que não dá nenhuma notícia. {Desolada}.

CLEMENTINO: Eu não sei, ela me roubou e fugiu. Sem mais nem menos. Por causa dessa rata imunda estou pobre de novo.

SUELY: Venha comigo, vamos lá pra casa. Precisamos encontrá-la. {Pegando no braço dele}.

CLEMENTINO: Eu não tenho nada para fazer no meio daquela gente. Agradeço por ter pago minha fiança, irei devolver o dinheiro assim que puder. Mas agora vou sozinho atrás daquela vagabunda pegar de volta o que é meu. {Livrando-se}.

SUELY: Ela estava junto de Iago recentemente, no trabalho dele de turista, de acordo com o que ele me disse. O ônibus foi alvejado numa estrada do interior, provavelmente ficou no meio de um fogo cruzado, depois disso ela sumiu. Não sabemos nem se está viva.

CLEMENTINO: O interior é tomado pelo cartel dos Narreti. Eu e ela éramos visitados uma vez ou outra por capangas que pediam dinheiro em troca da segurança de nossa mansão. Ela sabe como sobreviver por ali, tenha certeza disso.

SUELY: O que você vai fazer?

Aquilo deixa Clementino encucado. Ele segue seu caminho, deixando Suely para trás. A senhora o observa ir.

CENA 04 - INT/CASA ALUGADA/SALA/CONTINUAÇÃO INDIRETA DA CENA ANTERIOR.


Suely passa pela porta de entrada e deixa sua bolsa no sofá.

IAGO: Aonde você foi? {Tomava café sentado no sofá, vendo televisão}.

SUELY: Fui livrar Clementino da cadeia. Se não fosse por mim a vida do coitado estava acabada.

IAGO: Por quê fez isso? Eles já nem ligam mais pra gente e a senhora fica gastando nosso dinheiro suado assim.

SUELY: Cadê seu amor ao próximo, garoto? Ele é seu amigo, ela é sua prima, nós todos viemos juntos para cá.

IAGO: Amigo? Se tem uma coisa que ele não é, é meu amigo. Foi só conhecer Sarah que esqueceu da minha existência.

Suely faz pouco caso das palavras de Iago e caminha rumo à cozinha.

IAGO: Poxa, mãe, eu já estou de saco cheio da senhora ficar defendendo esses dois dentro dessa casa. Eles vieram pra Argentina com a intenção de roubar gente rica, pra virarem marginais, não pra trabalharem que nem a gente. {Revoltado}.

SUELY: Você sempre foi o maior defensor de Clementino dentro dessa casa, não estou te entendendo.

Iago engole seco.

SUELY: Vai lá em cima acordar o povo, vai filho. Hoje é dia de cada um colocar seu dinheirinho na mesa para pagarmos o aluguel da casa.

Iago bufa.

CENA 05 - INT/CASTELO DOS NARRETI/SUÍTE DE SARAH/MANHÃ/CONTINUAÇÃO DIRETA DA CENA ANTERIOR.


Sarah acorda e pega dois colares de pérolas de Clementino que guardara debaixo do travesseiro. Ela se levanta e os guarda numa caixinha de jóias localizada num móvel do quarto. Àquela altura, Jonathan começava a confiar nela, a garota sabia que já não corria o risco de ter suas coisas reviradas enquanto dormia. Ela fica observando as pérolas reluzentes, com um olhar fascinado.

CENA 06 - EXT/CASTELO DOS NARRETI/SALA DE REFEIÇÕES/MANHÃ/CONTINUAÇÃO DIRETA DA CENA ANTERIOR.


Jonathan tomava o café da manhã. Sarah chega ao local.

SARAH: Vou dar uma saída. {Avisando}.

JONATHAN: Espera, não vai nem tomar o café da manhã? Hoje a mesa está farta. {Sutilmente tentando agradar}.

SARAH: Não, obrigada. Na volta eu tomo.

Jonathan tenta disfarçar sua decepção.

CENA 07 - INT/CASTELO DOS NARRETI/ESCRITÓRIO DE JONATHAN/MANHÃ/CONTINUAÇÃO DIRETA DA CENA ANTERIOR.


Jonathan entra na sala, perambula de um lado para o outro mexendo em algo aqui e ali. Ele senta na poltrona. Matias entra no local.

JONATHAN: Você precisa aprender a bater antes de entrar. {Comentando}.

MATIAS: Me desculpe.

JONATHAN: Diga o que quer.

MATIAS: Vi essa garota passando, me parece um tanto quanto prepotente. Não acha? {Gesticulando}.

Jonathan pensa duas vezes antes de responder.

JONATHAN: Pode ser, não sei.

MATIAS: Confia nela?

JONATHAN: Vejo potencial nela para me ajudar nos negócios.

MATIAS: Acha que isso é o suficiente?

JONATHAN: Vamos lá, onde quer chegar.

MATIAS: Tenho ouvido murmúrios dos homens lá fora, pelo visto eles não estão muito satisfeitos com o envolvimento dessa moça nos negócios.

JONATHAN: Eles tem que confiar em mim. Não me lembro de ver meu pai recebendo questionamentos, nem mesmo meu irmão nas vezes que assumia o comando temporariamente a pedido dele. {Afirmando}.

MATIAS: É por causa dos estrangeiros, deixar o rapaz fugir não foi uma atitude sábia. E agora tem essa garota que anda por todos os lados, como se tudo fosse uma simples brincadeira.

Jonathan age como quem não sabe o que fazer.

MATIAS: Enfim, à noite chegam os outros representantes do cartel Narreti para discutirem sobre como serão as coisas agora que seu pai está morto. A notícia se espalhou, era inevitável.

JONATHAN: Você acha que eles estão querendo tomar a liderança de mim? {Perplexo}.

MATIAS: Eu não sei, mas é melhor estar preparado para tudo. O.conselho só se reúne quando existem motivos para isso.

Jonathan fica apreensivo.

CENA 08 - EXT/RUAS DE USHUAIA/MANHÃ/CONTINUAÇÃO DIRETA DA CENA ANTERIOR.


Sarah anda pelas ruas da parte pobre de Ushuaia, pisava firme, sabia bem para onde ia. Ela segurava uma bolsa. A garota passa num caixa eletrônico e saca alguns euros de sua conta.

CENA 09 - INT/CASA DE SUELY/MANHÃ/COZINHA/CONTINUAÇÃO DIRETA DA CENA ANTERIOR.


Suely cozinhava enquanto Iago e outros três rapazes tomavam café da manhã sentados à mesa.

ARMANDO: Isso aqui está uma delícia. {Mastigando um sanduíche. Ele é o mais velho dos rapazes. Falava um português desleixado}.

BRUNO: Está mesmo.

SUELY: Que bom que gostaram.

IAGO: Está bom sim, mas bem que vocês podiam aprender a preparar seus sanduíches. Ficam nessa de explorar minha mãe

ARMANDO: O filhinho preferido não gosta que a mãe faça nosso sanduíche.

Bruno ri da implicância.

SUELY: Vocês estão muito velhos para uma palhaçada dessas.

Alguém bate na porta.

BRUNO: Vai lá atender, Iago. Você já acabou de comer.

Irritado, Iago se levanta e atende a porta. Era Sarah no outro lado.

IAGO: Até que enfim apareceu. Mãe, a Sarah tá aqui. {Avisando}.

Suely vêm correndo para a sala e abraça a garota ao vê-la.

SUELY: Por onde você andou, menina? Ficou louca?

SARAH: Eu estava garantindo o meu futuro.

SUELY: Chega, não quero saber, sabe que não concordo com o rumo que sua vida tomou, menina.

Sarah senta no sofá humilde, está cansada.

SARAH: Dessa vez vou mudar a vida de todos aqui, pra valer. chega de viver na miséria, não saímos do Brasil pra isso.

Armando e Bruno chegam na sala.

ARMANDO: Bom dia, irmãzinha. Ainda roubando os outros?

SARAH: Cala a boca, Armando. {Sem dar muita importância}.

BRUNO: Todo mundo aqui adora o seu dinheiro mesmo, principalmente o seu irmão, menos a dona Suely, é claro.

Sarah ri sozinha, perdida em seus pensamentos.

SARAH: Vou passar no banco daqui a pouco para sacar a maior quantia de minha vida. Vamos ter vidas de reis e ainda deixar o povo rico lá no Brasil.

Suely pensa por instantes, assimilando as coisas.

SUELY: O que aconteceu entre você e Clementino.

O sorriso desaparece do rosto da garota.

SARAH: Têm falado com ele? {Tensa}.

SUELY: Desenbolsei um dinheirão para subornar alguns polícias e consegui livrá-lo da delegacia antes dele ser transferido ao presídio. Ele disse que houve um desentendimento entre vocês.

SARAH: Isso é passado, não quero mais saber disso.

SUELY: Ele está procurando você, Sarah.

A garota fica pasma.

SARAH: Vou fazer minhas coisas, depois passo aqui. {Apreensiva}.

Ela sai da casa rapidamente.

CENA 10 - EXT/BANCO/MANHÃ/CONTINUAÇÃO DIRETA DA CENA ANTERIOR.


Sarah chega no principal banco da cidade. Ela é atendida pelo responsável por sua conta.

HOMEM: Pois não, senhorita Sarah. {Falando em espanhol}.

SARAH: Bom dia, gostaria de sacar o dinheiro da seguinte conta. {Ela entrega um papel com os dados da conta}.

O homem fica pensativo.

HOMEM: Senhorita, tenho que admitir que o banco não está totalmente de acordo com os recentes atos da senhora. Primeiro pediu a transferência do dinheiro da conta conjunta entre a senhora e o senhor Clementino para a sua particular, trouxe inclusive os documentos e uma declaração com a assinatura dele, mas é tudo muito estranho, não costumamos realizar esse tipo de procedimento assim, somente naquela vez abrimos uma exceção para a senhora. Portanto, concluímos que será necessária a presença de ambos os proprietários da conta de agora em diante. Até lá, o dinheiro fica aqui.

SARAH: O senhor me ofende falando uma coisa dessas. Não entendo a razão disso.

HOMEM: Lamento, Senhorita. Só sigo ordens.

Sarah fica desnorteada. Ela deixa o banco, arrasada.

Enquanto anda pelas ruas, alguém segura com força a sua mão.

CLEMENTINO: Vamos entrar naquele táxi. {Falando baixo em seu ouvido, levando-a na direção do veículo parado.}.

SARAH: Me solte ou eu vou gritar.

CLEMENTINO: Você não vai fazer isso, não quer ser uma mulher pobre...e morta.

Sarah acaba se deixando levar até o táxi. Eles entram no carro.

CLEMENTINO: Pode seguir para o endereço. {Falando para o motorista, em espanhol}.





CENA 11 - INT/CASA DE SUELY/MANHÃ/SALA/CONTINUAÇÃO INDIRETA DA CENA ANTERIOR.


Clementino chega na casa junto de Sarah. Iago assistia televisão sozinho. Armando e Bruno tinham ido trabalhar.

IAGO: Ué, fizeram as pazes? {Ao vê-los}.

Os dois não falam nada, sobem as escadas e vão para o antigo quarto de Sarah. Iago estranha e vai até a cozinha.

IAGO: Mãe. A Sarah e o Clementino estão lá em cima.

Suely deixa o prato que lavava cair no chão.

CENA 12 - INT/CASA DE SUELY/QUARTO DE SARAH/MANHÃ/CONTINUAÇÃO DIRETA DA CENA ANTERIOR.


CLEMENTINO: Eu te conheço bem, Sarah, agora você vai falar onde estão os colares de pérolas douradas. Quero o valor que me foi roubado. {Ordenando}.

Clementino revira o quarto, agressivo, deixava coisas caírem no chão e olhava nos móveis.

SARAH: Você só prova mais e mais que não sabe nada sobre mim. Vai morrer procurando aqui, eu não sou burra de esconder algo assim num lugar tão óbvio, seu estúpido. {Agressiva}.

CLEMENTINO: Estou te avisando, Sarah, é melhor falar onde esses colares estão.

SARAH: Eles são meus. Você concordou na época, aceitou que eles ficassem para mim! {Gritando e quase chorando de ódio}.

CLEMENTINO: Você quer mesmo relembrar esse dia? {Fingindo espanto}.

Sarah não responde nada, lágrimas agora caem de seus olhos.

CLEMENTINO: Responde, Sarah. Quer relembrar o dia que "ganhou" esses colares? O dia que você iludiu aquela velha dizendo que a amava, prometendo ser fiel e depois MATOU a coitada?

Sarah cai num choro profundo. Ela senta no chão, arrasada.

Suely entra no quarto acompanhada de Iago.

SUELY: O que está acontecendo aqui? {Desesperada}.

CLEMENTINO: Vai embora, dona Suely. {Sério}.

SUELY: Que embora o quê! Me respeite, moleque!

Iago vê Clementino sacar uma pistola 38.

IAGO: Que merda é essa, Clementino? {Vendo a arma}.

CLEMENTINO: Saiam daqui, isso não é da conta de vocês. Eu e Sarah estamos resolvendo nossos problemas.
Suely vê a arma e fica decepcionada. Num pulo, Sarah se aproxima de Iago e sussurra em seu ouvido.

SARAH: Encontre Jonathan, ele mora no interior. Siga pela estrada, até a altura onde seu ônibus foi alvejado. Há uma floresta, atravesse-a e encontrará um castelo, é onde ele mora. Por favor, só ele pode me ajudar. Aja o que houver, não envolva a polícia nisso. {Temendo o pior}.

Clementino a puxa, empurra os dois para fora e tranca a porta. Após isso, joga Sarah num canto do quarto.

SARAH: Eu nunca implorei por nada nessa vida e isso não vai mudar agora. Vai em frente, desgraçado. {Afrontando, caída na parede}.

GANCHO.


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