Jornada- Capítulo 01 (Estréia)

segunda-feira, setembro 17, 2018


CENA 1 -EXT/PEDRA DA GÁVEA, DE FRENTE PARA A CIDADE /MANHÃ/ENSOLARADO.


Rio de Janeiro, 2007.


A imagem surge após instantes de fundo preto, mostra a vegetação e em seguida o foco se dá no nosso protagonista, que está de costas, com o sol e a cidade a sua frente. Roberto Epifânio Dela Justina (o protagonista em questão) observa os prédios do bairro da Gávea, está com uma mochila de viagem nas costas. Uma barba rustica cobre parcialmente o seu rosto. Ele é jovem, porte atleta, cabelos ondulados castanhos e possui 19 anos.
O celular de Roberto toca, então ele tira o aparelho do bolso e o atende.

ROBERTO: Fala pai.

EUGÊNIO: Já chegou? (Em um tom neutro) {VOZ POR TELEFONE}.

ROBERTO: Sim... estava observando a vista da cidade, já vou pegar um taxi para chegar aí na mansão. (LEVEMENTE INSEGURO).

EUGÊNIO: Está bem filho, estamos esperando. (Tom normal).

ROBERTO: Até logo então.

Roberto desliga o telefone e tira de seu bolso uma pequena fotografia de Amélia, observando-a por instantes. Lembranças de um passado não tão longínquo começam a vagar por sua mente, causando tormentos...

CENA 2 -FLASHBACK/PRELÚDIOS -EXT/PRAIA DE COPACABANA/ NOITE/CONTINUAÇÃO DIRETA DA CENA ANTERIOR.


Roberto curte um luau na praia com amigos e sua irmã, Jessica. Em algum momento, ele avista uma bela garota, cujo nome é Amélia. Ela não fazia parte do grupo, está distante, próxima a água, observando as ondas.

ROBERTO: Jessica, você sabe quem é aquela?

JESSICA: Ah, sei. O nome dela é Amélia, novata na cidade. Está sempre por aqui, olhando o mar.

Roberto não consegue tirar seus olhos da garota.

JESSICA: Se interessou nela, é? (Rindo).

ROBERTO: Muito. {Sussurrando, fascinado}

Roberto deixa a roda de amigos e caminha até a garota, que ainda observava as ondas.

ROBERTO: Está se divertindo aí?

Amélia leva seus olhares até Roberto. A garota é um ano mais nova que Roberto, seus cabelos são castanhos e lisos.

AMÉLIA: Sim, gosto de observar o mar, imaginar o que pode haver nas profundezas...o desconhecido. {Amigável}.

Roberto fita a garota, analisando-a.

ROBERTO: Dizem que o mar tinha uma paixão secreta pela lua. {Agora ao lado da garota, com as ondas batendo em seus pés}.

Amélia lança um olhar de surpresa para Roberto, não esperava encontrar alguma sensibilidade naquele estranho

ROBERTO: Roberto, muito prazer. {Oferecendo sua mão para um aperto}.

Amélia corresponde e aperta a mão do rapaz.

AMÉLIA: Amélia.

Os dois continuam se olhando.

ROBERTO: De onde uma preciosidade dessas poderia ter vindo? (Referindo-se à garota)

Ela pensa

AMÉLIA: Ah, não sei, do mundo. Estou sempre em movimento, sempre vislumbrando o novo, como se não houvessem limites no horizonte.

Surpreso,  Roberto deixa escapar um sorriso bobo.

ROBERTO: Se me permite, eu poderia ser um ótimo guia para você, apresentaria todos os cantos dessa cidade, da zona sul à oeste.

AMÉLIA: Hum, não sei. Por que ir tão longe quando se tem uma praia tão bela como essa?

Os dois trocam olhares carinhosos, que por si só já diziam tudo.

CENA 3-PRELÚDIOS-PRAIA DE COPACAPANA/NOITE/EXT/CONTINUAÇÃO DIRETA DA CENA ANTERIOR.


Roberto e Amélia se afastam ainda mais do luau e perambulam pela praia, sempre próximos às ondas. Montagem deles se divertindo juntos.

CENA 4-PRELÚDIOS-EXT/PRAIA DE COPACABANAS/NOITE/CONTINUAÇÃO DIRETA DA CENA ANTERIOR.


Roberto se despede de Amélia após passar aquele começo de noite com a garota. O rapaz estava sem camisa e ela com roupas pós praia.

ROBERTO: Já estou com saudades.

Amélia sorri.

AMÉLIA: Eu também. Passar o tempo aqui... na areia, no mar... com você...foi simplesmente... incrível. {Feliz}.

Roberto também sorri e lentamente vai chegando mais perto da garota.

Os dois se beijam.

AMÉLIA: Preciso ir, Roberto. Amanhã é meu primeiro dia de aula na faculdade, vou ter que correr atrás da matéria, já que vou ser aluna nova..

ROBERTO: Tudo bem. Mas então...vamos nos ver novamente?

Amélia sorri.

AMÉLIA: Amanhã, no mesmo horário.

Ela lança um olhar de aprovação e começa a caminhar na direção oposta a ele.

ROBERTO: Vou estar contando as horas...os minutos...os segundos, até lá. {Observando a garota distanciar-se cada vez mais}.

Já longe, Amélia sorri, sentindo uma leve vontade de voltar para os braços de Roberto.

 Roberto fica sozinho no calçadão, observando as pessoas que iam e viam, ele alegremente segue seu rumo.

CENA 5 -PRELÚDIOS -INT/MANSÃO DELA JUSTINA /CONTINUAÇÃO DIRETA DA CENA ANTERIOR.


Roberto adentra o jardim da mansão, cantarolando de alegria. Ele entra pelos fundos para assim ter a chance de conversar com Ruth e Cássio, funcionários que eram seus amigos.

Ele abraça a senhora, que realizava suas tarefas na cozinha.

RUTH: Nossa, pelo visto o dia foi bom hoje. (Surpresa).

ROBERTO: Demais da conta. Ela é linda, simpática, perfeita. {Tirando uma fruta da fruteira para comer, agora apoiado em uma bancada.

RUTH: É aquela garota de quem você falava ontem com Cássio? {Cortando legumes}.

ROBERTO: É outra. Ficamos o dia inteiro na praia, as vezes na água e deitados na areia...namorando...acho que dessa vez me apaixonei, Ruth.

RUTH: Tomara que dê certo esse seu novo relacionamento, meu filho, pelo jeito você está falando dessa menina, ela aparenta ser muito... amável. (Desconfiada).

ROBERTO: Dona Ruth, Dona Ruth...estou sentindo que você está querendo dizer algo mais...te conheço bem.

RUTH: E eu te conheço desde que você era um bebezinho, Roberto. Acho que anda passando dos limites, cada dia arruma uma paixão diferente. Eu te entendo...está na flor da idade, .é bonito, .mas também sei que nunca soube lidar com...rejeição. {Olhando agora seriamente para Roberto}.

ROBERTO: A senhora acha que ela vai me rejeitar? Nos conhecemos agora. (Pensativo).

RUTH: Vocês são jovens Roberto. Só peço para que esteja preparado caso isso aconteça. Declarações avassaladoras iguais as suas fazem com que as pessoas se sintam pressionadas, assustadas...e isso nunca termina bem.

Roberto fica pensativo.

ROBERTO: É porque eu sou muito amável. (Zombando).

Roberto alegremente abraça a senhora.

CENA 6 -PRELÚDIOS- INT / MANSÃO DELA JUSTINA /SALA/CONTINUAÇÃO DIRETA DE CENA ANTERIOR.


Roberto chega na sala, onde a família está jantando.

ROBERTO: Olá família. {Enquanto se senta à mesa}

VIRGÍNIA: Demorou hoje filho. {Aconchegada em um dos assentos, com uma taça de vinho na mão}

ROBERTO: Estava resolvendo umas coisas. {Tentando disfarçar}.

JESSICA: É...e também sumiu sem nem ao menos avisar.{Sabendo a verdade, que Roberto estava com Amélia}

Roberto lança um olhar de repreensão à Jessica.

EUGÊNIO: Como foi na faculdade hoje? (Interessado).

ROBERTO: Só mais alguns acréscimos na contabilidade. {Tentando despistar o assunto, pois tinha dificuldades na matéria}.

EUGÊNIO: Quero saber de todos os detalhes, não pago essa fortuna para esses professores não ensinarem ao menos o necessário para um empresário. (Sério).

LOURENÇO: Você precisa aprender a confiar nas pessoas, Eugênio. Garanto que Roberto aprenderá o necessário nessa faculdade para ter condições de herdar a fábrica. Fui eu mesmo que o recomendei, não faria isso se não tivesse certeza de que o ensino é de qualidade.

ROBERTO: Ainda falta muito tempo para que eu herde alguma coisa. {Não gostava desse assunto}.

PIETRA: Ele está certo, não comecem a colocar pressão no menino. (Advertindo).

VIGÍNIA: Vamos nos acalmar, isso aqui ainda é um jantar em família. (Repreendendo).

ZENÓBIO: Ouçam, Eugênio e Lourenço, não quero mais ouvir falar desse assunto. Precisam focar na atual condição da fábrica, não em quem irá herdá-la. (Irritado).

A doce Georgina segura o ombro de Zenóbio na tentativa de acalmar o marido.

Roberto se sente constrangido com a situação. Jessica dá um sorriso de consolo ao irmão. Não gostava de momentos como aquele.

JESSICA: Seria pedir demais não ter que ouvir nada relacionado a fábrica, pelo menos não no jantar?

VIRGÍNIA: Ela está certa, controlem-se nessas discussões. Principalmente você, Eugênio, sempre tão explosivo.

EUGÊNIO: Está bem, está bem. Desculpe Roberto...são os... problemas que eu, seu tio e seu avô enfrentamos lá todos os dias. Só queremos a prosperidade da nossa família.

ROBERTO: Tudo bem pai, eu sei.

LOURENÇO: Bom, em todos os efeitos, amanhã é o dia da reunião com os Van Roas. Precisaremos de disposição e preparo...com eles as coisas nunca são fáceis. {Com uma taça na mão}.

Jessica, insatisfeita com o assunto, levanta e se retira da mesa da sala de refeições, sendo seguida por Virgínia.

LOURENÇO: Bom, vou para o quarto. Preciso dormir...e Pietra também. Boa noite a todos.

Pietra obedece o marido e se retira da mesa.

PIETRA: Boa noite a todos.

Agora só resta Roberto, Eugênio, Zenóbio e Georgina na mesa de refeições. Um rápido silêncio toma conta do local.

ZENÓBIO: Sabe Roberto...não se deixe levar por esses assuntos não tão animadores em relação aos Van Roas. Medo não é bom no nosso ramo de tecidos. E também, Seu pai não construiu a Tecidos Dela Justina sozinho, em vários momentos ele teve a minha ajuda e a do seu tio Lourenço...ninguém fez nada sozinho, ninguém iria aguentar fazer nada sozinho... todos nós nos ajudamos...e muito. Enfim, quero que saiba que você não precisa ter medo, pois quando chegar o seu momento...nós estaremos lá para ajudá-lo.

Roberto fica comovido pelas palavras de Zenóbio, conseguindo assim livrar-se do peso que o atormentava desde sua entrada na sala.

ROBERTO: Obrigado, vô.

Georgina aperta a mão do neto em forma de apoio.

Eugênio o olha, levemente comovido. Roberto retribui o olhar.

CENA 5 - PRELÚDIOS- INT/MANSÃO DELA JUSTINA/QUARTO/ MANHÃ SEGUINTE/CONTINUAÇÃO DIRETA DA CENA ANTERIOR.

Roberto desperta de uma ótima noite de sono em seu quarto bagunçado. Estava ansioso pelo novo encontro com Amélia. Ele vê no seu celular o horário e em seguida levanta da cama, saindo do quarto e indo na direção do banheiro também localizado no segundo andar da mansão.

CENA 7-PRELÚDIOS-INT/SALA DE REFEIÇÕES /MANSÃO DELA JUSTINA/MANHÃ/CONTINUAÇÃO DIRETA DA CENA ANTERIOR.


Toda a família está reunida tomando o habitual café da manhã.

VIRGÍNIA: Eugênio, hoje eu vou fazer compras com a Helena. {Em tom de aviso, pois sabia que o marido iria reclamar}.

EUGÊNIO: Cacetada Virgínia, nós aqui passando sufoco por causa dos Van Roas...e você indo fazer amizade justamente com a esposa do Ernesto, o patriarca daqueles imundos. {Repreendendo}.

VIRGÍNIA: Eu não tenho nada a ver com essa briguinha entre vocês. Não sou mais ativa nos negócios da fábrica, esqueceu?

GEORGINA: Helena é a única que presta naquela família e também não é ativa nos negócios, não vejo problema nenhum em Virgínia fazer amizade com ela. Nós já tivemos algumas conversas na época em que tudo estava em paz, posso afirmar que a mulher é de boa índole.

LOURENÇO: Querem saber o que eu acho? Que vocês não estão sendo nem um pouco profissionais. Onde já se viu fazer amizade com os concorrentes. {Um pouco alterado}.

VIRGÍNIA: Não está mais aqui quem falou. {Sussurrando, surpresa com a repercussão}.

EUGÊNIO: E eu acho que estou conversando com a minha esposa, por favor,  parem de se intrometer. {Insatisfeito}.

Roberto desce as escadas rapidamente.

EUGÊNIO: Está indo para onde, Roberto? {Perplexo}.

ROBERTO: Para um compromisso, urgente.

VIRGÍNIA: Mas você nem tomou café, filho.

ROBERTO: Na volta eu tomo. {Saindo pela porta principal, rapidamente}.

CENA 8: -PRELÚDIOS- INT/MANSÃO DELA JUSTINA/ JARDIM/ MANHÃ / CONTINUAÇÃO DIRETA DA CENA ANTERIOR


Jessica perambula pelo jardim, como sempre faz às manhãs. Ela avista Roberto saindo.

JESSICA: Tá indo pra onde? {Se aproximando}.

ROBERTO: Encontrar Amélia. (Empolgado).

JESSICA: Aquela garota de ontem? (Surpresa).

ROBERTO: Ela mesma.

JESSICA: Você não acha que está exagerando, Ro?

ROBERTO: Como assim? {Curioso}.

JESSICA: Sei lá...essa garota é meio distante da nossa roda de amigos, distante de todos.

ROBERTO: Você precisa conhecê-la, Jessica. Vai perceber que Amélia é divertida, alegre, engraçada...linda.

Jessica o encara, constrangida.

JESSICA: Está...apaixonado? (Zombando).

Roberto demora para responder algo.

ROBERTO: Claro que não... eu preciso ir, sério. {Sem jeito}.

Roberto volta a andar rapidamente, enquanto Jessica o observa.

CENA 9 -PRELÚDIOS- EXT/CAMPUS DA FACULDADE/ MANHÃ/CONTINUAÇÃO DIRETA DA CENA ANTERIOR.


Roberto procura por Amélia pelo campus lotado de jovens por conta do término das aulas daquele dia. Ao encontrá-la, ele a abraça de surpresa.

AMÉLIA: Roberto!

ROBERTO: Que tal adiantarmos nosso...compromisso?

AMÉLIA: Você não saber esperar, né? (Algo está estranho no seu tom de voz).

ROBERTO: Quando o assunto é você...não consigo esperar nem 1 segundo se quer.

Amélia parecia estar se contendo, mas acaba dando um beijo em Roberto.

CENA 10-PRELÚDIOS-EXT/PRAIA DE COPACABANA/TARDE /CONTINUAÇÃO DIRETA DA CENA ANTERIOR.


Roberto e Amélia namoram na areia da praia. Os dois deitam lado a lado após o ato.

ROBERTO: Acho que estou... me apaixonando {Admitindo}.

Amélia o fita, sem jeito.

AMÉLIA: Por favor, Roberto, não faça isso.. {Levantando da areia, perturbada}.

ROBERTO: Claro, claro...desculpa. {Também se levantando}

AMÉLIA: Não precisa se desculpar. Acho que nós dois passamos dos limites...eu devia ter percebido.

ROBERTO: Do que está falando?

AMÉLIA: Eu vou ter que me mudar novamente, amanhã já não estarei mais aqui.

ROBERTO: Por minha causa?

AMÉLIA: Não, jamais. É como eu te disse, minha vida é assim.

ROBERTO: Assim como? Me explique, converse comigo, deixe eu te ajudar. As coisas não precisam ser assim.

Amélia desvia seu olhar do de Roberto.

AMÉLIA: Não tenho mais nada a dizer.

E os dois ficam em silêncio, a frustração de Roberto é notável em seu rosto entristecido.

Uma tensão toma conta dos dois. Aquelas simples palavras de Amélia colocam um fim no encanto de Roberto pela garota.
Os dois ficam observando o pôr do sol, sentados na areia da praia, sem saberem como prosseguir.

CENA 11-PRELÚDIOS-TELA PRETA/ CONTINUAÇÃO DIRETA DA CENA ANTERIOR


ROBERTO: Após aquele dia, Amélia e eu não nos vimos mais. Ela foi embora e minha vida nunca mais foi a mesma. Dizem que o amor só se encontra uma vez. Um ano se passou e eu deixei de acreditar nisso. {Voz em OFF}.

                 ----------------FIM DOS PRELÚDIOS--------------------


CENA 12- DIAS ATUAIS/2006/EXT/ PEDRA DA GÁVEA/CONTINUAÇÃO DIRETA DA CENA ANTERIOR.


Roberto guarda a foto de Amélia novamente em sua carteira e fica observando a vista do Rio de Janeiro.

ROBERTO: É...estou de volta (Sussurrando).

Em seguida, ele caminha por uma trilha rochosa para assim deixar a Pedra da Gávea.

CENA 13- EXT/RUA MOVIMENTADA DO BAIRRO GÁVEA/CONTINUAÇÃO DIRETA DA CENA ANTERIOR.


Roberto observa sorridente a movimentação na rua, estava a muito tempo longe. Rapidamente ele faz sinal a um taxi e entrou no veículo.

ROBERTO: Mansão Dela Justina, por favor. Sabe onde fica?

TAXISTA: Quem não sabe (Irônico).

O taxi segue o rumo.

Roberto observa animado a vista da rua enquanto o veículo se movimenta.

CENA 14-INT/MANSÃO DELA JUSTINA/CONTINUAÇÃO DIRETA DA CENA ANTERIOR.


O taxi deixa Roberto em frente ao portão da mansão. Ele paga o taxista pela viagem e em seguida se retira do veículo, encarando por alguns instantes o grande portão do local.
Roberto decide dar a volta na propriedade, afim de entrar pela porta dos fundos, na qual tinha a chave.
O rapaz avista dois funcionários idosos conversando próximos a porta principal da mansão e se aproxima deles.

ROBERTO: Dona Ruth...Seu Cássio...quanto tempo. (Alegre).

Os dois funcionários olham surpreendidos para Roberto.

RUTH: Roberto? Roberto, quanto tempo!

A funcionária abraça o rapaz, emocionada.

CÁSSIO: Meu deus, finalmente você voltou. (Se juntando ao abraço).

ROBERTO: Já estava na hora, Um ano inteiro é muita coisa.

RUTH: É muita coisa mesmo, agora me dê essa mochila e vá falar com sua mãe, ela já está angustiada.

Roberto abre a porta, um pouco lentamente por que estava nervoso, e então entra na mansão.
O rapaz é surpreendido por gritos de comemoração, seus familiares haviam feito uma festa surpresa para comemorar a chegada do rapaz. Um encarte de ''Seja Bem Vindo'' estava pendurado entre os cantos do teto.

ROBERTO: Meu deus. (Rindo).

VIRGÍNIA: Meu filho, seja bem vindo de volta à sua casa! Estávamos com muita saudade. (Emocionada/abraçando e beijando na bochecha).

ROBERTO: Oh mãe, eu também estava morrendo de saudades. (Abraçando forte).

EUGÊNIO: Finalmente decidiu retornar, rapaz. (Também alegre, abraça o rapaz logo em seguida).

ROBERTO: Pois é (Rindo).

Outros familiares de Roberto também se aproximam.

JESSICA: Que saudades, meu irmão. (Abraçando) É agora uma garota de quase 18 anos.

ROBERTO: Minha nossa, você cresceu muito, mana!

LOURENÇO: Seja bem vindo. (Dando um tapinha nos ombros do sobrinho/não muito alegre).

ROBERTO: Obrigado, tio Lourenço. {Cumprimentando o tio com um aperto de mão fingido}.

Em seguida, Roberto corre até as escadas, que tinham vista para toda a sala.

ROBERTO: Pessoal, eu queria agradecer profundamente à minha família que eu tanto amo e a todos que ao invés de fazer algo mais interessante, vieram aqui só para me receber. De verdade mesmo, muito obrigado!

Todos aplaudem Roberto pelas palavras.

Roberto e a família aproveitam a festa junto aos convidados.

CENA 15-INT/MANSÃO DELA JUSTINA/ SALA/ MINUTOS DEPOIS DA CENA ANTERIOR/ FINAL DA FESTA/ CONTINUAÇÃO INDIRETA.


Os funcionários arrumam a bagunça causada pela festa, enquanto Roberto está deitado no colo de Jessica. Virgínia e Eugênio descansam sentados no outro sofá.

LOURENÇO: Bom, eu e a Pietra estamos indo, foi bom o ''café da manhã'' aqui, porém a noite ainda temos outra festa, não se esqueçam. (Em tom neutro/Desprezível).

EUGÊNIO: Pode deixar.

Lourenço e Pietra saem pela porta principal da mansão.

ROBERTO: Que outra festa é essa? Estou exausto.

EUGÊNIO: Comemoração da nova linha de tecidos da fábrica.

Georgina e Zenóbio entram pela porta da casa.

GEORGINA: Ah, perdemos a chegada do nosso bisneto! (Chateada/ Carregando sacolas de shopping).

ZENÓBIO: Esse engarrafamento do Rio de Janeiro é uma porcaria. (Irritado).

Roberto se levanta.

ROBERTO: Eu já estava estranhando a ausência de vocês dois. (Brincando).

Roberto os abraça.

GEORGINA: Que saudade que nós sentimos Roberto, que saudades.

ZENÓBIO: Nem fale.

ROBERTO: Sinceramente, o mais difícil para mim nesse tempo todo em que explorei a América do Sul... foi a saudade que senti dessa família. (Emocionado).

Virgínia e Jessica ficam de pé e o abraçam carinhosamente.

VIRGÍNIA: Agora acabou, você já está aqui.

JESSICA: É, o pior já passou.

ROBERTO: Olha, vocês por acaso lembram se alguma garota de cabelos castanhos lisos veio me procurar durante esse tempo em que passei fora?

Os familiares ficam em silêncio por instantes. Roberto vai para o meio da sala.

JESSICA: Ninguém apareceu.

Roberto pensa, um silêncio toma conta da casa.

VIRGÍNIA: Filho, você não vai ficar pensando nisso, né? {Receosa}.

ROBERTO: Não, mãe. Eu só tinha que saber. (tom inexpressivo).

JESSICA: Mas agora você está aqui e vai retomar a sua vida.

ROBERTO: Pode ficar tranquila Jessica, estou bem, voltei para ficar.

EUGÊNIO: Jessica, que tal eu e você darmos uma volta com Roberto pela fábrica? Vocês nunca foram lá, mas agora ambos estão grandes e precisam começar a se familiarizarem com ela, o futuro de vocês está lá. (quebrando propositalmente o clima de tensão)

JESSICA: Por mim tudo bem. {Jessica parecia ter mudado de opinião em relação aos negócios da família}.

Roberto faz uma cara de cansaço.

ROBERTO: Vamos então.

VIRGÍNIA: A fábrica não abre aos sábados, Eugênio, se esqueceu?

EUGÊNIO: É por isso mesmo.


CENA 16- EXT/CARRO PRETO SENDO CONTROLADO POR MOTORISTA PARTICULAR/ MINUTOS DEPOIS/ENSOLARADO/CONTINUAÇÃO INDIRETA DA CENA ANTERIOR.



EUGÊNIO: Um dia, a Tecidos Dela Justina será de vocês e quando esse dia chegar, terão que estar preparados.

Roberto e Jessica se entreolham.

JESSICA: Nós iremos estar pai, pode acreditar.

Roberto fica em silêncio.

CENA 17-INT /FRENTE DA FÁBRICA TECIDOS DELA JUSTINA/CONTINUAÇÃO DIRETA DA CENA ANTERIOR.


Roberto, Eugênio e Jessica saem do carro e observam a grande fábrica.

EUGÊNIO: Tecidos Dela Justina...nosso maior trunfo.

ROBERTO: Como nós iremos entrar?

EUGÊNIO: O segurança de plantão vai abrir a porta dos fundos.

Os três dão a volta até uma pequena porta, Eugênio bate e a porta é aberta.

CENA 18- INT /FÁBRICA TECIDOS TELA JUSTINA/CONTINUAÇÃO DIRETA DA CENA ANTERIOR.


Os três andam por um vazio corredor da fábrica.

ROBERTO: É estranho ver essa fábrica assim, sem ninguém.

EUGÊNIO: Nem queira vê-la em um dia útil. (Rindo).

Eles chegam até a área das maquinas.

EUGÊNIO: Antigamente, esse lugar ficava lotado de funcionários. Eram 15 horas de trabalho por dia, sem exceções.

ROBERTO: Devia ser horrível viver assim.

EUGÊNIO: Na época era, mas hoje os tempos mudaram, agora existem leis trabalhistas e várias outras...coisas do tipo.

JESSICA: Então nosso futuro está aqui dentro?

EUGÊNIO: O futuro de vocês está nos escritórios da fábrica, onde sua mãe e eu trabalhamos por muitos e muitos anos.

Jessica cessa os passos.

JESSICA: Mas pai, no dia em que você, a mãe e o tio Lourenço se forem, quem irá comandar a fábrica?

EUGÊNIO: Esse é o grande mistério da nossa família: Qual dos dois da primeira leva de herdeiros assumirá o comando.

ROBERTO: Não precisamos criar uma guerra por conta disso, um será o líder e o outro vice.

EUGÊNIO: Isso cabe a vocês dois decidirem, o que me orgulha é saber que ambos são igualmente dignos. Agora vamos voltar para a mansão.

CENA 19-INT/FRENTE DA TECIDOS DELA JUSTINA / CONTINUAÇÃO DIRETA DA CENA ANTERIOR.


O motorista abre a porta do carro e os três entram.

EUGÊNIO: Estamos voltando para a mansão, William (motorista).

O motorista liga o carro.

CENA 20- EXT /DENTRO DO CARRO EM MOVIMENTO/CONTINUAÇÃO DIRETA DA CENA ANTERIOR


Ainda cansado pela volta da viagem, Roberto observa as ruas em movimento pela janela do carro, quase cochilando.

Jessica o abraça.

O carro diminui a velocidade por conta do sinal vermelho, mas um outro bate na traseira do veículo. Eugênio então sai, irritado.

EUGÊNIO: Mas o que é isso? Não sabe dirigir, meu senhor?

Dalmiro e Márcia também saem do humilde veículo deles.

DALMIRO: Olha só em quem a gente foi bater. {Olhando para Márcia, ignorando a presença de Eugênio}.

EUGÊNIO: O senhor não está me vendo?

DALMIRO: Senhor Dela Justina, me desculpe, o seu motorista freou com muita vontade.

EUGÊNIO: Meu senhor, quem bate na traseira é sempre o culpado e eu vou querer indenização.

DALMIRO: Um rico como o senhor pedindo indenização fica até feio.

EUGÊNIO: O senhor vai fazer um cheque aqui e agora ou eu vou ter que chamar a polícia? (Irritado).

MÁRCIA: Que isso, não será necessário. Meu marido dará o dinheiro ao senhor.

DALMIRO: Como assim, Márcia?

MÁRCIA: Cala a boca homem! (sussurrando e dando um tapa no marido).

DALMIRO: Eu e minha esposa estamos realizando uma grande obra na Vila da Penha, inclusive já deve ter visto nos jornais. Não estamos em condições de ficar dando dinheiro para os outros assim. (Em tom de tristeza fingida).

Eugênio pensa.

EUGÊNIO: Quer saber? Sumam da minha frente logo, não quero chamar atenção de jornalistas fofoqueiros.

DALMIRO: Deus te abençoe, senhor Dela Justina. Quando tiver tempo, visite-nos, saberá onde, muito em breve a mensagem estará em todos os lugares. (Tom de imensa gratidão).

Dalmiro e Márcia entram rapidamente no carro e dão partida.

ROBERTO: Mas o que foi isso? (Rindo).

EUGÊNIO: É melhor nós voltarmos logo para casa.

Roberto, Eugênio e Jessica retornam ao carro.

CENA 21-EXT/ CARRO DE DALMIRO E MÁRCIA/ CONTINUAÇÃO DIRETA DA CENA ANTERIOR.


MÁRCIA: Você nunca mais me faça isso, ouviu bem Dalmiro? (irritada).

DALMIRO: Não fazer o que, minha querida? Você queria que nós perdêssemos dinheiro assim? Dessa maneira tão tosca? (dirigindo).

MÁRCIA: Era a coisa certa a se fazer, homem. Nós estávamos ouvindo samba no último volume, dirigindo sem prestar atenção na rua.

DALMIRO: Márcia, se aquele homem realmente precisasse do dinheiro ele não teria nos deixado ir embora, minha querida. Você precisa aprender a arte de se fingir de pobre coitado, é infalível.

MÁRCIA: Eu quero é saber como vão ser as coisas quando o palácio for inaugurado.

DALMIRO: Nós não vamos deixar isso mudar o nosso jeito de ser, tudo será como sempre foi. A última coisa que serei nessa vida é um fresco cheio de não me toque.

MÁRCIA: Se você está se referindo a vergonha que a gente acabou de passar, saiba que isso não poderá acontecer, NUNCA mais.

DALMIRO: Já vi que você vai encher o saco com essa fama.

MÁRCIA: É o necessário, meu bem, não dá para a gente continuar sendo suburbano com uma grande propriedade em nossas costas.
{COMEÇO DE DISCUSSÃO}


CENA 22-INT/ VILA DA PENHA/ CONTINUAÇÃO INDIRETA DA CENA ANTERIOR.


Dalmiro para o carro em frente a humilde casa dele e de Márcia.

LÍDIA: Vocês demoraram muito. {FALANDO PELA JANELA DO SEGUNDO ANDAR DO PRÉDIO}. (Uma menina de 9 anos).

MÁRCIA: Tivemos um probleminha filha, desculpe.

Almir se aproxima rapidamente, vindo de outro lugar.

ALMIR: Seu Aguiar, nós estamos tendo problemas. (Trajando roupas apropriadas para um pastor).

Dalmiro puxa Almir pelo braço, o levando para longe do prédio.

DALMIRO: Diga.

ALMIR: Os religiosos estão fazendo manifestações na escadaria da igreja.

DALMIRO: Se eles ficarem lá por muito tempo, mande os guardas intervirem. E lembre-se, sem criar tumulto.

ALMIR: Está bem, chefe.

CENA 23- INT/MANSÃO DELA JUSTINA/SALA DE ESTAR/CONTINUÇÃO INDIRETA DA CENA ANTERIOR.


Roberto, Eugênio e Jessica passam pela porta.

Virgínia fuma sentada em uma das cadeiras da mesa da sala de refeições, que ficava ao lado, enquanto Zenóbio dança com Georgina ao som de uma musica antiga.

JESSICA: Voltamos.

GEORGINA: Olá para vocês. {Continuam dançando}.

Jessica sobe as escadas.

Eugênio vai para seu escritório no primeiro andar da mansão.

Roberto fica e observa a mãe, que está fumando na sala de refeições. Ele vai até ela.

ROBERTO: Dona Virgínia Epifânio, o que está fazendo aqui sozinha? { Sentando-se em uma cadeira próxima}.

Virgínia demora para responder, estava chorosa, porém tentando fingir-se de forte.

VIRGÍNIA: Esqueceu do...Dela Justina.

ROBERTO: O que aconteceu, mãe?

VIRGÍNIA: As coisas mudaram aqui nessa mansão quando você partiu, filho. Todos fingem não ver, só que eu não. {Com cigarro na boca}.

ROBERTO: Mas foram mudanças boas ou ruins?

VIRGÍNIA: Horrendas.

{SILÊNCIO}.

VIRGÍNIA: Fique tranquilo, todos aqui já se acostumaram.

Virgínia se recompõe e vai para a sala interagir com Zenóbio e Georgina.

Roberto fica ali parado.

CENA 24- INT/ MANSÃO DELA JUSTINA/ ESCRITÓRIO DE EUGÊNIO/CONTINUAÇÃO DIRETA DA CENA ANTERIOR.


Roberto bate na porta.

EUGÊNIO: Pode entrar. {sentado em sua mesa de negócios, utilizando o computador}.

Roberto abre a porta e entra na sala.

ROBERTO: Pai, acho que está na hora de eu ser informado sobre os acontecimentos desse ultimo ano em que estive ausente.

Eugênio olha para o filho.

EUGÊNIO: O que você quer saber?

ROBERTO: Tudo.

EUGÊNIO: Você abandona a sua família e quando decide retornar acha que nós somos obrigados a reviver momentos cruéis só para te manter informado? É isso, Roberto?

Roberto senta em uma cadeira, de frente para o pai.

ROBERTO: Eu conversei com a mãe, ela está abalada, dizendo que todos vocês mudaram quando eu fui fazer a viagem. O que aconteceu?

Eugênio pensa.

EUGÊNIO: Sua irmã ficou bastante abalada quando você foi embora, começou a beber meus Uísques às escondidas. Ela mesma disse que a cada dia que se passava bebia mais e mais...até que um dia entrou em um coma alcoólico, ficou um dia inteiro inconsciente no hospital, foi o momento mais difícil de minha vida. Enquanto isso, sua mãe descontava as angústias dela em mim, nós brigamos diversas vezes...eu nem sei se quero continuar com esse casamento.

Lágrimas caem dos olhos de Roberto.

ROBERTO: Eu só queria passar um tempo sozinho, nada mais que isso.

EUGÊNIO: Por causa de uma maldita garota, por causa do fim de um casinho qualquer...tem motivo mais tosco do que esse para se afastar da própria família? {LEVEMENTE EXALTADO}.

ROBERTO: Jessica te contou sobre Amélia?

EUGÊNIO: Não só ela, como Ruth e Cássio. Você queria o quê? Que os empregados mentisssem para mim? Achei muito estranha essa sua vontade repentina de querer viajar.

ROBERTO: Eu precisava passar um tempo fora, acredite em mim.

EUGÊNIO: Filho, eu acho que você ainda não sabe o que é tristeza de verdade.

Roberto não diz nada.

EUGÊNIO: É melhor nós pararmos com essa conversa, não nos levará a lugar nenhum. Vamos nos concentrar na festa, precisaremos de energia para as grandiloquências de sua mãe.

Roberto faz um leve aceno, levanta da cadeira e se retira da sala.

CENA 25- /INT/MANSÃO DELA JUSTINA/ QUARTO DE JESSICA/ SEGUNDO ANDAR/ CONTINUAÇÃO DIRETA DA CENA ANTERIOR.


Jessica fuma deitada na cama. Roberto bate na porta.

JESSICA: Pode entrar. {apagando o cigarro e tentando tirar a fumaça do quarto com a mão}.

ROBERTO: Oi mana, queria falar com você.

JESSICA: Pode falar. {carinhosa}.

Roberto senta na cama.

ROBERTO: Como foi sua vida no tempo em que eu fiquei fora?

Jessica demora para responder.

JESSICA: Eu...não quero falar sobre isso. {Olhando para baixo}.

ROBERTO: Tudo bem, eu já sei a resposta, mas quero saber se você ainda faz isso.

JESSICA: Não.

ROBERTO: Então eu posso confiar em você?

JESSICA: Pode. {Insegura}.

Roberto dá um leve sorriso, e em seguida faz um carinho no rosto da irmã.

ROBERTO: Me desculpe, a última coisa que eu queria era deixar você e todos aqui tristes.

JESSICA: Não precisa se desculpar, o importante é que agora você está aqui.

Os dois se abraçam.

CENA 26 / INT/ MANSÃO DELA JUSTINA/ CORREDOR DO SEGUNDO ANDAR/CONTINUAÇÃO DIRETA DA CENA ANTERIOR.


Roberto anda pelo corredor e se apoia na parede, entristecido. Se culpa pelo estado em que sua família se encontra.

GANCHO

You Might Also Like

0 Comments

Popular Posts

Total de visualizações de página

Translate

ONLINE

Formulário de contato

Nome

E-mail *

Mensagem *