Herói Nacional - Capítulo 35

segunda-feira, julho 23, 2018


Herói Nacional




Novela de Felipe Rocha

Escrita por
Felipe Rocha

Direção / Direção Geral /Núcleo
Felipe Rocha

Personagens deste capítulo

DELEGADO RENATO
EUSÉBIO
GIGI
GUTO
DIVA
LORENZO
LUIGI
MANUELA
MELISSA
OLÍMPIA



Participação Especial

PRESOS











CENA 01. CASA DE TIA NÁ. SALA. INTERIOR. DIA
Ná sentada no sofá da sua casa liga a televisão e olha uma caixa antiga de fotos. Isabela chega em casa.
ISABELA — Cheguei!
TIA NÁ — Tô percebendo! Onde estava?
ISABELA — Ah, eu tava dando um rolê por aí. Sabe que o clima tá bem agradável? Bom de ir à praia! Vários surfistas pegando onda.
TIA NÁ — Ah não, pode parar com essa conversa já? Tirar onda, você não é nem profissional.
ISABELA — Eu não disse isso. Eu disse que a gente pode ir, nós duas juntas. Quem sabe alguém se interesse por você.
TIA NÁ — Eu? Duvido! Só se for alguém que goste de celulites e umas gordurinhas a mais.
ISABELA — Ah, não liga para isso não. Bom, o instinto masculino gosta.
TIA NÁ — Mas minha filha eu não vou de biquíni, nem de fio dental. Não quero que os outros fiquem vendo minhas partes íntimas.
ISABELA — Então significa que eu recebi uma confirmação? Ainda dá tempo, é só a gente chamar a Marilda.
TIA NÁ — A Marilda está trabalhando e eu não gosto de interromper as pessoas, como também não gosto de ser interrompida.
ISABELA — Calma, não tá mais aqui quem falou... bom, o que você tá vendo de bom?
TIA NÁ — Nada que interesse a sua geração... tá, venha cá, sente-se aqui.
Isabela se aproxima de TIA NÁ e mostra um retrato de Maria Chiquinha, personagem de Tesouros Perdidos.
TIA NÁ — Essa mulher fez história! É um dos grandes nomes do teatro!
ISABELA — Ela é alguma parente sua?
TIA NÁ — Rezei para que fosse. Eu queria ser famosa igual a ela. Mas tá doida? Coitada! Foi uma tragédia o que aconteceu com ela. Ela tava no meio da peça “Romeu e Julieta”, sua última apresentação, e deu de cara no chão, ainda por cima, se assustou com palhaços. Até hoje lamento a morte dessa mulher. Bom, eu sei que não daria para conhecê-la... só que eu queria alguma fita sabe. Esse jornal foi passado de geração para geração. Ela não está nos livros de História, grandes nomes costumam ser esquecidos.
ISABELA — Ô vó você não acha que isso é falsificado não? Como você mesmo diz o nome dela nem tá escrito nos livros históricos.
TIA NÁ — Ah, minha filha, que seja uma farsa! Mas o jornal diz tudo aqui, se quiser pode ler...
ISABELA — Maria Chiquinha...
CORTA PARA:

CENA 02. DELEGACIA. INTERIOR. DIA
Atenção Edição: Continuação da última cena do capítulo anterior. Melissa e Lorenzo invadem a delegacia.
DELEGADO RENATO — Mas o que é isso? O que é isso? É um local de trabalho. (a Gilberta) Por favor, Gilberta. Traga uma água para essa mulher.
GILBERTA — Sim, senhor.
Melissa senta, desesperada. Gilberta traz um copo d’água. Entrega. Melissa toma e dispara:
MELISSA — Senhor Delegado, nós temos que correr contra o relógio. Meu irmão, caiu no conto do vigário, e pelas minhas estimativas, ele deve estar saindo a essa hora.
DELEGADO RENATO — Bem, mas como podemos identifica-lo?
MELISSA — Atende-se pelo nome de Eusébio. Ele veio com aquela conversinha de que era o novo prefeito da cidade, iria assumir o gabinete... mas a todo momento eu tive desconfiada, nós não poderíamos imaginar que ele seria um farsante disfarçado!
DELEGADO RENATO — Mas como é que você chegou a essa conclusão? Nós estamos trabalhando com fatos concretos!
MELISSA — Perfeitamente. Não é diversão não, seu Delegado. O caso é sério. De vida ou morte. Sabe lá quais são as intenções dele com meu irmão. Você sabe bem, todo dia vê esses casos na delegacia. Só quero evitar as coisas. E o seu filho Lorenzo disse que o senhor sabe muito bem o que ele é.
DELEGADO RENATO — (pensa) Eusébio... Eusébio... (a Melissa) Se não me engano, esse nome não é estranho, já deram queixa! Você sabe onde ele está nesse momento?
MELISSA — Sei muito bem.
DELEGADO RENATO — (levantando-se da mesa) Então, vamos! (a Gilberta) Mande a central 4.9 ir para lá. Me sigam. Encontro vocês lá! É hoje mais um farsante que a gente vai capturar. Sigam a menina.
CORTA PARA:

CENA 03. CASA DE ARTES GIGI. INTERIOR. DIA
Gigi conversa com Manuela e Sérgio.
GIGI — Gente, eu não sei como agradecer. Eu estou sem palavras, sabe? Eu não imaginava que vocês iriam fazer isso por mim.
MANUELA — Eu acho que a tradição já diz que nós devemos permanecer unidos até o fim, lutar contra a última semente... ou não seremos a Casa de Artes Gigi, formando atores que construam nosso futuro!
GIGI — Gostei da informação! Podemos colocar no cartaz! Eu preciso atrair mais pessoas para cá... e com o dinheiro que vocês deram. A boa notícia é que vai dar para pagar algumas contas com poucas economias que guardo no banco. Mas a má notícia é que... Vamos ter que trabalhar dia e noite e economizar para que A CASA DE ARTES GIGI volte a ser o que ela era antes! E aí quem tá comigo?
Todos se juntam a Gigi para abraça-la e jogam as mãos para o alto.
TODOS — Nós!
Corte descontínuo: Manuela e Sérgio desceram do palco, já no outro ponto do salão.
SÉRGIO — A Gigi ficou feliz né?
MANUELA — Muito! Estou muito feliz por ela também. O bom saber é que A CASA DE ARTES GIGI vai continuar funcionando, não do mesmo jeito, mas é o início de novas plantações para novas colheitas!
SÉRGIO — Gostei viu? Isso aí!
MANUELA — E você? Vai seguir com o seu sonho de ser ator mesmo?
SÉRGIO — Vou! Quero atuar em tudo quanto é lugar... teatro, cinema, televisão! Em todas as telinhas. Sérgio Marques, o herói. Confesso que não gosto muito de vilão, mas a gente se adapta, não é verdade? E você?
MANUELA — Perfeitamente. Ah não sei, tem hora que eu fico desistindo sabe, não sei se quero ser médica, cardiologista, mas fazer o quê. É só um conflito mesmo entre os opostos, logo a gente se decide. (continua) E Sérgio... Eu gostaria de te pedir desculpas por aquele dia lá na festa, eu te convidei, mas não te dei muita confiança. Queria te convidar para jantar lá em casa, qualquer dia desses. Sabe? Sem minhas amigas, um momento só nosso, só para jogar conversa fora. Sem compromisso.
SÉRGIO — (desajeitado) Até que não é uma má ideia, vou ver e te falo. Desde já, agradeço pelo convite.
MANUELA — Essa quarta, às 19h00, fico te esperando.
CORTA PARA:

CENA 04. PRAÇA. INTERIOR. DIA
Olímpia e Diva procuram Lorenzo e Melissa debaixo das árvores, debaixo de um toco de árvore, uma na esquerda, outrora na direita, procuram em cima das árvores, debaixo do banco, no jardim. Elas acabam indo para a mesma direção, e distraídas, se colidem com a cabeça.
OLÍMPIA — Ô Diva? Quê isso minha filha? Que lerdeza é essa!
DIVA — E você Olímpia? Sou mais velha que você. Presta atenção, a gente tinha combinado que uma iria para a esquerda, outra para direita.
OLÍMPIA — (nervosa) Tá, tá, tá! Tô nervosa, Diva. Esquece disso. Não enche a paciência não. Mas e aí, achou alguma coisa?
DIVA — Se eu achasse, traria até aqui, né?
OLÍMPIA — Ah, mas não é possível Diva! Também não achei nada. Onde será que eles foram parar?
DIVA — Olha Olímpia, eu vou te denunciar para o Conselho Tutelar. Minha filha, uma mãe que não sabe do paradeiro da filha. Imagina se acontecesse alguma coisa com a bichinha, meu Deus! Que tragédia. Para onde a gente vai agora, Olímpia?
OLÍMPIA — Ah, o jeito é voltar a pé para minha casa!
DIVA — Voltar a pé para sua casa? Nem morta, querida! Minhas pernas já estão avisando. As varizes, a artrite.
OLÍMPIA — Ah, Diva! Deixa de ser véia. Uma vez ou outra não faz mal não. E além disso, nós temos que caminhar, faz bem para saúde, esporte sabe, aproveita que a gente tá sem sacola de mercado. E posso te denunciar por ser inconsciente com a Natureza!
DIVA — Ah, vá te catar!
As duas acabam caindo na gargalhada.
CORTA PARA:

CENA 05. CASA DE EUSÉBIO. GARAGEM. INTERIOR. DIA
Guto chora descontroladamente ansiando para ver sua família. Eusébio perde a paciência.
EUSÉBIO — Vai para de chorar na minha cabeça e vá arrumar a mala! Tá parecendo um bebê, um menino desse tamanho chorar?
GUTO — Eu tenho sentimentos, diferente de você, covarde!
EUSÉBIO — Me chamou de covarde. (tira o cinto) Olha que eu te corrijo menino! Tá precisando, viu? Vamos! Terminou? Não temos tempo! Preciso fazer sua ficha... vai usar outro nome. Peraí. Tá faltando um retoque.
Eusébio pega uma peruca e coloca no cabelo de Guto.
GUTO — Para quê que eu tenho que usar essa bobagem?
EUSÉBIO — Um disfarce, para que ninguém te reconheça.
GUTO — Por acaso eu sou um foragido da polícia igual a você? Não! Então acho melhor tirar.
EUSÉBIO — Como descobriu?
GUTO — Você disse para ler na página 9. Então eu peguei. Depois daquilo que me falou.
EUSÉBIO — (chama pela empregada) Ô Yane, vem cá estrupício!
Yane vai a sala.
YANE — Pois não, senhor.
EUSÉBIO — Vamos ficar alguns dias fora do país. Preciso que mantenha o sigilo por completo, sem denunciar nada do nosso paradeiro. Entendeu?
YANE — Para onde vocês vão?
EUSÉBIO — Para a Inglaterra. (a Guto, empurrando-o) Agora vamos!
CORTA PARA:

CENA 06. MANSÃO DELLACOURT. QUARTO. INTERIOR. DIA
Pérola deitada na cama do quarto. Ivonete/Marilda chega ao quarto com uma bandeja. Entrega.
IVONETE/MARILDA — Olha o que eu venho trazendo para você. Um cafezinho para te animar. Pedaço de laranja, pão de queijo! Acabei de assar. Tudo quentinho, na mais perfeita qualidade.
PÉROLA — Ah, Ivonete. Só você mesmo para me animar numa hora dessas.
Pérola chora.
IVONETE/MARILDA — Mas o que aconteceu? Quem apagou seu brilho? Por que está chorando?
PÉROLA — (voz de choro) Tô lembrando Ivonete, lembrando! Das vezes que eu fui humilhada nessa casa, só por ser negra! Do primeiro dia que eu conheci o pai do Luigi, deixei derramar suco em um dos representantes... eu caí no buraco, Ivonete. E eu gosto tanto do Luigi sabe? Agora parece que a vida deu até uma aliviada, o Téo fez por merecer! Agora ele tá no lugar onde vai aprender a ser gente, a conviver socialmente com as pessoas e não as pisando... Meus dias foram um terror. Não foram de glória, infelizmente. Tampouco alegres... (chorando mais ainda) Eu vivia em depressão, parecia que uma nuvem, uma sombra escura estava sobre mim, sufocada, me impedindo de viver, de transbordar. Eu não sabia o que eu fazia. Tinha várias escolhas: denunciar ou ficar calada. Escolhi ficar calada, e foi a pior escolha que fiz na minha vida. Porque desde o momento que você escolhe ficar calada, você começa a remoer tudo aquilo, a guardar mágoas e isso te prejudica, abala seu psicológico e te traz problemas futuros, como agora. Eu não consigo ser mais forte. É como uma menina molestada por seu próprio pai. Então, são fatos concretos, que realmente prejudicam a vida da gente... mas o que eu tenho que concluir com isso tudo é como hoje o preconceito, o racismo existe por toda parte! Minha mãe, que já está no céu, foi uma das maiores líderes das passeatas lá do nosso bairro, no Sobradinho. Uma passeata do bem a fim de levar reflexões para solucionar esse problema! E eu quero ser igual ela sabe? Eu quero ser forte! Quantas vezes ela já sofreu preconceito. Quantas! E mesmo assim não abaixou a peteca, continuou lutando. Ivonete, você é a melhor amiga que eu tenho agora. Me ajude nesse momento, tão difícil. Por favor, amiga.
IVONETE/MARILDA — Belas palavras Pérola! Eu sei como é difícil para você. Todo mundo tem um tipo de preconceito, não existe aquele, perfeito. Se o mundo fosse perfeito, também como tampouco poderíamos expressar nossos pensamentos? Compartilhar nossas bênçãos, transmitir sabedorias? As pessoas que tem o coração bom aprendem com a vida. A vida é uma grande surpresa, e ela te leva a caminhos inesperados... Eu vou te ajudar Pérola, enquanto eu estiver trabalhando nessa casa, você pode contar comigo! Só que eu acho que você deveria ir à delegacia. Eu peço o motorista para te levar.
PÉROLA — Eu preciso dizer tudo que tá entalado aqui ó, na garganta! Só assim eu viverei em paz.
IVONETE/MARILDA — Então, se é isso que você quer, vamos! Eu te ajudo.
CORTA PARA:

CENA 07. FRENTE DA CASA DE EUSÉBIO. INTERIOR. DIA
Duas viaturas da polícia param em frente à casa de Eusébio e colocam-se estrategicamente. Forma um grupo de curiosos (?) vizinhos naquele local, fofocas, palpites sobre o que acabaram de ver. O delegado bate na porta da casa. Yane atende e se assusta.
DELEGADO RENATO — Polícia federal! Eusébio está?
YANE — (trêmula) Não, não! Ele acabou de sair.
DELEGADO RENATO — (aos policiais) Vamos, vamos ter que vasculhar a casa! Entrem pelos quartos, desarmem! Estrategicamente.
DELEGADO RENATO — (a Yane) Sabe onde ele foi? É importante!
YANE trêmula, em dúvida.
Os policiais invadem com as armas e vasculham a casa. Cortes descontínuos: Voltam-se para o exterior da casa.
POLICIAL 1 — Não há mais ninguém, só a empregada.
DELEGADO RENATO — Muito bem senhora. Diga de uma vez por todas. Ou será presa por acobertar um criminoso. Para onde ele foi?
YANE — (trêmula) Ele... ele... Ele foi pela norte-sul, vai pegar o avião para a Inglaterra no Aeroporto! É só isso que sei. Licença.
Yane fecha a porta da casa.
DELEGADO RENATO — Excelente! Bingo! Vamos para a norte-sul.
CORTA PARA:


CENA 08. DELEGACIA. CELA 35. INTERIOR. DIA
Téo e os demais presos na CELA 35. Pérola vem entrando. CAM foca em Pérola.
PÉROLA — Olá, Téo Dellacourt!
TÉO — (assusta) Pérola? O que você tá fazendo aqui?
Pérola sorri maleficamente.
Continua...
CORTA PARA:

CENA 09. ESTRADA. TRILHA. INT. NOITE
As viaturas da polícia, com a sirene ligada, vem avançando na Estrada Norte-Sul. Não há quase nenhum carro. Eusébio está bem à frente. Andando tranquilamente. Ouvindo música no carro. As viaturas da polícia aceleram. Eusébio olha pelo retrovisor.
EUSÉBIO — (grita) Droga! Droga! Merda! A Polícia! (a Guto) Esconde, vamos! Esconde. Sai do sofá do carro.
As viaturas da polícia aceleram ainda mais e Eusébio também, chegando aos 120.
Cortes descontínuos: Todos em alta velocidade. Tensão. Eusébio reclamando dentro do carro.
EUSÉBIO — (nervoso) Droga! Droga! Acelera!
Cortes descontínuos: O DELEGADO DANDO ORDENS.
DELEGADO RENATO — Vamos, vamos! Acelerem!
Na curva, Eusébio acelera ainda mais e se mistura aos outros carros, a polícia invade. Eusébio acelera, porém fica atrás de um caminhão.
CORTA PARA:

FIM DO CAPÍTULO

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