Herói Nacional - Capítulo Especial (17)
sábado, junho 30, 2018
Herói Nacional
(roteiro de novela)
Novela de Felipe Rocha
Escrita com
Felipe Rocha
Direção Geral
Felipe Rocha
Personagens deste
capítulo
GIGI
GUTO
LORENZO
LUIGI
MARILDA
MARLON
MELISSA
OLÍMPIA
TÉO
Participação Especial:
RAPAZES.
CENA 01. PRAÇA. INTERIOR. DIA
Atenção Edição: Continuação da última cena do
capítulo anterior.
Os rapazes “mau-elemento” ameaçam Lorenzo e Melissa
com uma arma. Ele questiona.
LORENZO — Quê que tá acontecendo aqui hein? Ameaçar
uma moça desse jeito? Ela nem tem nada a ver com vocês, confundiram com outra
pessoa! É a pessoa errada. Agora vão embora, não tem dinheiro aqui não.
MELISSA — (trêmula) Lorenzo... Lorenzo... é melhor a
gente fazer o que ele tá querendo ou não sairemos vivos!
LORENZO — O quê? Então você conhece eles mesmos? Vai
deixar barato para esse cara? Eu não! Eu grito! Ah, ou melhor. O meu pai é
delegado. A equipe dele pode me atender agora.
Ele pega o telefone do bolso e liga para o pai, mas
um dos rapazes toma lhe o telefone e desliga a ligação.
FIGURANTE 1 — Não vamos envolver a polícia não,
mano! Ou tu paga o que tá devendo ou morre!
CORTA PARA:
CENA 02.FRENTE MANSÃO DELLACOURT.CALÇADA.INT.DIA
Luigi pede desculpas a Marilda por ter esbarrado
nela.
LUIGI — Desculpa, dona! Eu não te vi, da próxima
vez, eu vou ter mais atenção! Vou tirar o fone de ouvidos.
MARILDA — Não, não. Imagina. Eu que deveria ter
prestado atenção. Mas tá tudo bem.
LUIGI — (se liga) Ah, mas espere, eu tô lembrando de
você... é aquela mulher para quem eu levei a carta, né?
MARILDA — Sim, eu mesma sim... Você mora aqui perto?
LUIGI — Sim, em frente. (aponta para mansão).
MARILDA — Nossa, um casão hein? Deve dar o maior
trabalho. Eu sonho em viver nesse luxo, nessa riqueza toda.
LUIGI — Ah, mas eu não sou aquela pessoa que
ostenta. Não tô nem me importando com o luxo, sabe? Até se me colocarem num
barracão, eu tô feliz. Ou experimentar morar debaixo de um viaduto. Não sabemos
o que pode acontecer né? No futuro, eu posso ser um mendigo, pedir dinheiro nas
ruas... é por isso que a gente tem que ser bom, procurar fazer o bem, ter o
coração carregado de amor... a vida dá uma volta... você não imagina...
MARILDA — Lindas palavras. Afinal, é imprescindível
concordar com seus argumentos. O mais importante é a nossa essência, o nosso
modo de viver, e não o status social né.
LUIGI — Perfeitamente... mas, e você, o que tava
fazendo por aqui?
MARILDA — Ah... eu... eu?
Marilda desajeitada, Luigi desconfiado.
LUIGI — Sim...
MARILDA — (desconcertada) Ah... eu... eu... (mente) eu
tava procurando emprego... fui para uma entrevista, mas não me aceitaram, sabe?
Era um cargo de faz-tudo, cuidar de criança, faxineira, limpar a casa. E eu tô
precisando muito! Para sustentar em casa, você sabe né? Hoje a situação tá um
caos.
LUIGI — Sei muito bem... mas, já que a sua
entrevista foi negada... bem que nós estamos precisando de uma emprega / quer
dizer/ ela vai viajar, passar uma temporada fora do Brasil, mas não seria uma
má ideia. Coitada, ela precisa de ajuda. Limpar esse casão não é para qualquer
um... se você aceitar. Mas acho que o serviço não é a altura de uma mulher como
você.
MARILDA — (feliz, sorri) Ah, não! Não se preocupem
com isso! Eu agradeço do fundo do meu coração. Qualquer serviço eu faço!
LUIGI — Bom, então não seja por isso... eu
perguntarei ao meu pai. Te darei resposta na sua casa... eu lembro do
endereço...
MARILDA — Ah, você não sabe como tá me ajudando! Eu
não tenho nem palavras para expressar o que tô sentindo agora. És tão generosa!
O que eu posso fazer para te agradar, moço?
LUIGI — Nada... eu só quero te ajudar. Ver a
felicidade em seu rosto... Antes, permita-me saber o seu nome.
MARILDA — (feliz, sorri) Marilda! E você?
LUIGI — (feliz, sorri) Luigi! Então fica combinado
assim!
MARILDA — Muito Obrigada mesmo!
Os dois se abraçam e se despedem um do outro.
CORTA PARA:
CENA 03. PRAÇA. INTERIOR. DIA
Atenção Edição: Continuação da CENA 01 deste
capítulo.
Os dois rapazes continuam a ameaça-los com a arma,
Melissa e Lorenzo trêmulos.
MELISSA — (aos rapazes) Mas quê que vocês tão
pensando? Eu não sou caixa bancário não! Não tenho a grana pelo celular não! E
fiz o que tinha que ser feito, o certo. Diga a patroa de vocês para não ficar
choramingando. Mande ela a merda!
FIGURANTE 1 — (ri) Cê tá pensando que é brincadeira,
é?
LORENZO — Espera... eu pago...
MELISSA — Não, não. Não faz isso. Vai acabar com o
seu dinheiro.
LORENZO — Eu pago pela sua vida!
Lorenzo tira a carteira do bolso e entrega para os
rapazes.
LORENZO — Toma... Pode ficar com tudo! Tem uma boa
quantia aí. É o suficiente! Contando que vocês deixem a garota em paz. E aí,
fechado ou não?
FIGURANTE 1 e 2 — Fechado!
Os rapazes guardam a arma no bolso e vão embora com
a carteira.
Lorenzo abraça Melissa, trêmula.
MELISSA — Ah, meu Deus! Você salvou minha vida! Eu
não sei como agradecer.
CORTA PARA:
CENA 04. CASA DE GUTO. INTERIOR. DIA
Atenção Edição: Continuação da cena 07 do capítulo
antecedente.
Guto dispara que quer mudar para o exterior. Olímpia
e Gigi sem entender nada, perplexas. Ele chora ao declarar:
GUTO — (chora) É isso mesmo que vocês ouviram! Eu
não aguento mais essa vida... não tem cor... É a mesma rotina todos os dias. Ir
para a faculdades. Ainda por cima, a Abigail teve que ir embora de novo para
estudar. A minha vida tá desmoronando e eu nem tô percebendo. Para completar
ainda mais, a morte do papai. Eu quero sumir do mapa, ir para qualquer lugar
aí, que me dê futuro! Eu não aguento mais estudar! Queria eu... queria eu...
jogar todos os meus cadernos no córrego aqui perto de casa e dizer: “Eu sou um
homem livre, eu tô livre dessa porcaria”! A verdade é que eu não quero estudar.
Aquela escola não me faz feliz. Nada me faz feliz, mais! A gente tá na mesma
situação, agora vai piorar! Vamos morar até debaixo da ponte, do viaduto! É
capaz de acontecer isso, da gente virar pedindo! As contas de luz, de água,
tudo! Tá tudo atrasado! Até o aluguel. Daqui a pouco a gente perde a casa para
a imobiliária... E aí? E aí? Qual o sentido que vai ter a vida. Eu sei mãe, eu
sei que a senhora e a Melissa não iriam querer mudar desse país, mas você sabe
né, o tio Maurício mora lá na Inglaterra. Deu bem na vida, cresceu! Casou.
Agora tem filhos. E aqui a gente vive nessa “mixorna”, nessa miséria! E eu
preciso realizar meu sonho, ou então... não terei sucesso! (chora) Eu, mãe. Não
aguento mais. Se a senhora não quer, por favor, me deixe ir. O tio Maurício me
busca no aeroporto, eu posso pedir ele até um dinheiro emprestado para
construir uma pista de kart, ou então para se inscrever nas corridas de Fórmula
1, tornar um Herói Nacional, fazer a diferença para a história desse país. Ter
valor mesmo nessa vida! A fim de que as pessoas me reconheçam! Viver fotografado,
repleto de paparazzis (jornalistas, repórteres), famosos! Eu posso sim, e eu
sei que eu posso!
Olímpia e Gigi choram ao ouvir as palavras de Guto.
OLÍMPIA — (chora) Oh, meu filho! Eu não tenho nem
palavras para dizer o que eu tô sentindo agora. A ideia é fantástica, de ir
para a Inglaterra... mas eu não sei não... a gente só conhece o seu tio lá, e o
problema é que ele é muito ocupado, quase não conversamos. E a gente não tem
dinheiro para passagem, para hospedagem. É tudo muito caro! O sonho é alto,
sim! É maravilhoso. Eu seria capaz de largar tudo por você, mas como? Não há
realização nenhuma!
GUTO — Sim! Há realização sim, minha mãe. Você que está
com a mente fechada, os olhos pequenos. Não quer se submeter a uma análise
profunda, investigadora, racional. Nós podemos nos hospedar na casa dele. Só
por um tempo. Pedir dinheiro emprestado. Não faz mal, né? Afinal eu e Melissa
somos sobrinhos dele! E depois a gente vê o que faz, bota todo mundo para
trabalhar, devolve o que foi emprestado. É maravilhoso mãe, nossa vida vai dar
um grande salto, um salto de 60! E aí, o que vocês acham? Mãe? Gigi?
GIGI — Olha, Guto. Eu não sei o que falar. Mas eu
concordo com a sua mãe. Você está muito novo... eu não sei se seria vantagem
tomar esse rumo de uma hora para outra. Sabe lá como será a condição social de
vocês na Inglaterra, a vida lá? Pelo menos aqui vocês ainda tem alimento, mesmo
que tenha muita conta para pagar. Eu sinceramente não sei. É muita coisa aqui
dentro, tá pressionando os meus neurônios.
OLÍMPIA — Eu não gosto de depender de ninguém... o
melhor é conseguir com dinheiro honesto para construir uma pista de kart e
realizar a inscrição para a Fórmula 1.
GUTO — Está dizendo que o tio Maurício não é
honesto? É isso mesmo?
OLÍMPIA — Não, eu não quis dizer isso... mas eu só
disse que não quero fazer mais dívidas. E outra, vai ser grande! Sabe lá se a
gente vai conseguir pagar. O melhor que a gente tem a fazer é esperar...
esperar o que pode acontecer! Talvez Deus prepara um grande salto para a nossa
vida, ou que a gente ganhe na loteria... e aí sim! Aí sim! Nós poderemos
realizar seu sonho.
GUTO — (grita, alterado, agressivo, chorando) São
conquistas diferentes! Essa está muito longe. Vocês não me entendem mesmo,
vocês nunca vão me entender!
Guto após gritar com Olímpia e Gigi sobem as
escadas. Olímpia chama por Guto, impaciente.
OLÍMPIA — (chama por Guto) Ô Guto! Guto! Gutooooo! Volta
aqui, menino! Isso é jeito de me tratar diante das visitas?
Olímpia chora e Gigi a consola.
GIGI — Oh, minha amiga não chore!
OLÍMPIA — Eu não sei Gigi... eu não sei...
Sinceramente. Eu não sei se eu vou viver por muito tempo! Eu vou acabar
enlouquecendo nessa casa. Ainda com a morte do Ricardo, não vai dar para
controlar. Dois filhos, Gigi! Dois pesos nas costas. Dois problemas para
resolver. E é um atrás do outro. Esse menino todo dia vem com essa ideia maluca
de que quer competir na Fórmula 1, agora ir para fora e pedir dinheiro para o
Maurício! Isso é demais! Não vou aguentar! Vão ter que me internar no hospício Gigi,
eu não tenho forças mais.
GIGI — Olímpia! Não fale assim, minha amiga! Você
vai aguentar sim. Tenha força de vontade. Uma mulher forte dessas.
OLÍMPIA — Forte? Eu sou uma fracassada! Me perdi no
tempo, Gigi. Não posso nem realizar o sonho dos meus filhos, sou pobre, pobre
até demais. Não tenho dinheiro, nada!
GIGI — Não! Não é fracassada. Você consegue Olímpia!
É só uma fase. Eu vou te ajudar, você não estará sozinha nessa vida, minha
amiga. Pode contar comigo para o que der e vier.
CORTA PARA:
CENA 05. MANSÃO DELLACOURT. ESCRITÓRIO. INT.DIA
No escritório da Mansão Dellacourt, Luigi avisa a
Téo sobre Marilda. Ele se levanta da cadeira e questiona.
TÉO — O quê? Você falou com uma desconhecida que
essa casa estava precisando de uma faxineira? O que te deu na cabeça, menino?
LUIGI — Fiz uma boa ação meu pai, a moça foi para
uma entrevista de emprego num dos vizinhos aí, mas só que foi negada. E ela
disse que precisava de dinheiro para a casa, sustentar os filhos! Fiquei com
dó, muita gente hoje tá nessa situação, pior do que nós. Às vezes querem comer
algo de gostoso, mas ficam com vontade, não tem dinheiro para pagar uma pizza,
aquelas comidas de primeira. E a gente, que vive no luxo, tem que compartilhar.
TÉO — Olha aqui? Você não tem que ter dó dessas
pessoas não! Vai ver que tá nessa situação por um bom motivo! Se você começar a
convidar todo mundo para cá, essa casa vai virar o quê? Uma zona! Aqui não tem
cortina vermelha não, meu filho!
LUIGI — O senhor não entende mesmo não é? A Santinha
vai sair, já sabe que ela vai tirar férias. E essa casa vai precisar de alguém,
né? Eu tenho certeza que o senhor não vai querer limpar e não vai querer ver a
mamãe limpando!
TÉO — É claro! Minha esposa não pode ficar má vista
pela sociedade. Aí aparece um fotógrafo aqui de surpresa e publica uma matéria.
É o cúmulo! Minha vida desmorona! Pior que é mesmo... Você está certo. Nós
vamos precisar de alguém para substituir a Santinha. Mas qual que é o nome
dela, hein?
LUIGI — (feliz, sorri) Olha, vejo que o senhor está
disposto hein? Finalmente, consegui te convencer! Bom, o nome dela é...
Marilda! — declara Luigi com um sorriso no rosto.
Téo, ao pensar em Marilda, se levanta da cadeira e
questiona, assustado:
TÉO — Marilda?
CORTA PARA:
CENA 06. SÃO PAULO. GERAIS. EXT. DIA/NOITE
Planos de arquivo marcando o escurecer em São Paulo...
Congestionamento de trânsito, como sempre a grande metrópole movimentada... Algumas
pessoas pedintes, entram em restaurantes para pedir comida, dinheiro... mas são
expulsas. Polícia fazendo blitz. Surfistas pegando onda. A lua sobe e o Sol
desaparece. Atenção para os colunistas, repórteres, jornalistas
fotografando uma modelo que acabara de se tornar celebridade naquela cidade.
Felicidade, jogam pétalas na moça (e o que mais a direção imaginar). Segue
para Gigi, entrando em seu apartamento.
CENA 07. APARTAMENTO DE GIGI.SALA.INTERIOR.NOITE
Gigi abre a porta do seu apartamento e ao entrar,
fecha. Assusta ao ver as luzes todas apagadas. Ela chama por Marlon.
GIGI — As luzes todas apagadas a essa hora? Estanho!
Cadê o Marlon? (chama por Marlon) Marlon! Marlon! Amor cheguei! Eu sei que você
tá aí, não precisa esconder. Vamos fazer as pazes! Eu mudei! Cadê você, meu
bonitão?
Em seguida, Marlon sai do quarto e chega à sala. Ele
assusta Gigi.
MARLON — Oi Gigi!
GIGI — Marlon? Meu amor? Você está aí! Ai, eu fiquei
com medo que tivesse acontecido alguma coisa com você.
Ela corre para abraça-lo, mas ele está impaciente.
GIGI — Mas quê isso? Que secura é essa? Eu não
mereço isso, definitivamente não!
MARLON — (alterado) Gigi, nós precisamos conversar!
GIGI — Conversar? Mas conversar para quê? Se é beijo
que você quer, deve estar carente, aqui eu te dou quantos você quiser. A gente
pode fazer as pazes e voltar a nossa vida normal.
Marlon grita, agressivo.
MARLON — Não! Não tem nada de voltar a vida normal,
não Gigi! Eu já tenho as malas prontas.
Marlon mostra as malas.
GIGI — Malas? Mas que malas são essas? O que
significa isso?
MARLON — (alterado) Eu vou ter mesmo que explicar
para você, é? Então! Eu tô indo embora, Gigi! Para sempre! Definitivo. E
esperei você chegar, para me despedir. Eu tô te deixando livre para outros
homens, dando um fora da sua vida! Você não merece a mim, e eu espero que você
encontre alguém que te faça feliz de verdade, uma alma gêmea, por que... eu não
sou o cara certo para você, Gigi!
Gigi chora. Marlon acabara de pronunciar aquilo, com
algumas lágrimas no rosto.
CORTA PARA:
CENA 08. CASA DE GUTO. QUARTO DE GUTO. INT. NOITE
Guto em seu quarto. Chora por várias vezes. Deitado
em sua cama. Ele se lembra dos momentos que passou com Ricardo, da sua
discussão com a mãe e reflete sobre o sonho que quer muito realizar.
GUTO — Será que é vantagem mesmo?
Ele continua a observar antigas fotos de família.
Angustiado. Beija a foto de todos reunidos, inclusive Gigi.
GUTO — Eu amo vocês! Meu tesouro, minha família.
Nisso, as notificações do computador apitam. Guto
senta-se a frente da máquina, clica e se depara com uma mensagem de um desconhecido:
“Aceita sair
comigo hoje? Me encontre na praça ou eu vou até a sua casa!”
Ele se assusta.
Closes alternados em Guto, trêmulo.
CORTA PARA:
FIM DO CAPÍTULO
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