OUTROS TEMPOS
Uma Novela Criada e Escrita por:
Raffa Lins
Apoio:
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CENA 01 / MANSÃO MARINHO / ESCRITÓRIO / INT. / NOITE /
Continuação imediata do capítulo anterior. Gláucia entra no escritório, Malu vem atrás, fechando a porta ao entrar.
MALU: Pode falar, estamos a sós.
GLÁUCIA: É impressionante como você consegue fazer as pessoas caírem no seu jogo. A Liz, o Laerte, aqueles dois lá fora, agora eu... todos caíram nessa sua jogada.
MALU: Pode ser mais clara?
GLÁUCIA: Eu tentei não acreditar, fingi que não podia ser real, mas alguma coisa não encaixava. Eu achava que aquela garota que você enfiou na minha casa, era a mente por trás disso tudo, que a Esther te manipulava pra se virar contra a Liz.
MALU: (ri) Ah, você pensou isso?
GLÁUCIA: É, pensei. Mas até que eu não estou tão errada não. A Esther realmente é a mentora por trás de tudo isso.
Abrindo sua bolsa, Gláucia retira o mesmo exame pego, mostrando para Malu.
GLÁUCIA: Eu já estava desconfiada, mas agora eu tenho certeza. Peguei uma garrafa d'água da sua amiguinha, que ela própria me ofereceu, e fiz uma teste de DNA.
MALU: (amedrontada) Você fez/
GLÁUCIA: (por cima/incisiva) Fiz!! Aquela garota não é irmã da Liz, você que é a filha de Alexandre. Você que é Esther Brandão!!
Fade In - Instrumental, Suspense.
Malu fica em choque com Gláucia, sem reação após descobrir sua verdade.
GLÁUCIA: Eu fui uma idiota, deixei você fazer o que quiser conosco. Essa verdade estava tão na cara que eu praticamente fechei os olhos pra isso.
MALU: (mexida) O que você quer aqui?
GLÁUCIA: Pra lamentar, que uma pessoa como você, seja irmã de uma pessoa como a Liz... eu acho que todos os pecados que eu cometi, quem tá pagando é a minha filha, de ser sangue do seu sangue. Você é um ser desprezível, Malu ou Esther, tanto faz, é daquele tipo de gente que nunca vai ser feliz!
MALU: Eu já sou feliz, não tá vendo? Eu tenho tudo o que você sonhou em ter. Casa própria, dinheiro, fama... coisas essas que pra você e sua filha terem, tiveram que fazer ponto na primeira esquina, como duas prostituta!!
GLÁUCIA: (corta/nervosa) Olha como você fala de mim e da Liz! Eu não me arrependo da minha história não, eu não me vendi pra dar uma vida pra Liz... eu tive a sorte de ter um homem maravilhoso, que não olhou por um segundo pra mim em segundas intenções, apenas para o meu bem estar e o da minha filha.
MALU: Você quer os parabéns, dona Gláucia? Os parabéns de ter o dinheiro de mão beijada? O conto de fadas realizado? (T) Quem você pensa que é pra vir aqui, na intenção de me desmascarar, sem saber 1% do que eu passei.
GLÁUCIA: Não me interessa o que você passou.
MALU: Claro que não interessa... pra que iria interessar? Uma mulher fútil, ignorante, que precisou casar com um homem rico pra se sustentar. Você não conhece a palavra trabalho? (marejada) A minha mãe conhecia. Ela sim merecia ter todo o reconhecimento, de ser uma batalhadora, uma mulher de fibra, que lutou até os últimos suspiros pra me ver bem.
GLÁUCIA: Eu não conheci a sua mãe, mas sei que não foi fácil o que ela passou nas mãos do Alexandre.
MALU: E você fala assim, tranquila?
GLÁUCIA: Eu também passei pelo o que ela passou!
MALU: (por cima/possessa) NUNCA MAIS REPITA UMA COISA DESSAS!! VOCÊ NÃO PASSOU NADA DO QUE ELA PASSOU!
GLÁUCIA: Eu não estou aqui para comparar a minha dor com a de sua mãe. Nós duas passamos pelas mãos do mesmo carrasco/
MALU: (corta/chora) ELA MORREU... morreu por causa deste mesmo homem... morreu sem ver a filha crescer... morreu sem ter um futuro digno, futuro que eu iria dar à ela! (T) Quer mesmo comparar? De uma que foi agredida, ameaçada, humilhada até o último dia de vida, enquanto você passou seus lindos últimos anos em Paris, desfrutando de uma boa comida, de um champanhe caríssimo, apenas preocupada se o euro estará alto no seu último verão. Essa é você, Gláucia, a mulher que fugiu e abriu as portas pro sofrimento de minha mãe!!
GLÁUCIA: (lacrimeja) Garota, você tá realmente me culpando pelo o que vocês passaram? Queria que eu continuasse sofrendo nas mãos do Alexandre? Eu não me arrependo de ter fugido, de ter buscado um recomeço... sinto muito se vocês não tentaram.
MALU: (ri) Não tentamos? Tem certeza disso? (séria) A minha mãe conseguiu por ele pra fora, usando o mesmo artifício que ele usava, na agressividade, com uma faca empunhada, pronta pra cometer uma loucura, comigo ao lado, com apenas dez anos... DEZ ANOS!! (T) Quando ela tentou seguir em frente, conheceu um cara legal, que amava ela de verdade, sabe o que aconteceu? Sabe? (em prantos) ELE TAMBÉM MORREU!! Foi atropelado por diversas vezes, teve o corpo destroçado, esmagado. Agora eu te pergunto: quem você acha que fez isso? Ou foi apenas um acidente?
GLÁUCIA: (em choque) Eu... eu.../
MALU: (interrompe) E pra completar o "não tentamos", a nossa casa foi incendiada, completamente em chamas, perdemos tudo, tudo!! Ainda acha que não tentamos? Mas dessa vez, você até que tem razão, porque não tivemos tempo pra isso. Foi coisa de um dia pro meu pai me sequestrar, depois a minha mãe, pra jogar o carro com a gente dentro em alta velocidade na frente de um caminhão. (T) Como pôde ver, você tem toda razão, Gláucia, nós não tentamos!!
Gláucia fica atordoada com o que ouve, sem reação.
Fade Out - Instrumental, Suspense.
Corte rápido para:
CENA 02 / RUA - CARRO / EXT. / NOITE /
Saindo do carro, junto com Otávio, Liz se dirige para a entrada de sua mansão. Otávio segue.
OTÁVIO: Tem certeza que não quer que eu fique com você hoje?
LIZ: Tenho. O dia Já foi longo, tanta coisa aconteceu, melhor coisa pra gente, é descansar.
Concordando, Otávio dá um beijo na boca de despedida em Liz. Eles trocam carícias, apaixonados.
O celular de Liz toca, ela o pega.
LIZ: (olhando o celular) É a Inês, ligando a essa hora...
OTÁVIO: Atende, vai que é importante.
Liz atende.
LIZ: (cel.) Inês? Tudo bem?
Imagens alternadas entre Liz e Inês, na rua, parada de frente a um ponto de ônibus.
INÊS: (cel./aflita) Graças a Deus eu consegui falar com a senhora. A sua mãe, tá na casa da Malu.
Fade In - Instrumental, Tensão.
LIZ: (cel./surpresa) O quê?! O que ela tá fazendo lá?
INÊS: (cel.) Esse é o problema, Liz, eu não sei. Ela queria falar diretamente com a Malu e ainda por cima, a Esther estava lá. Eu tô com medo que elas façam alguma coisa.
LIZ: (cel./em choque) Meu Deus, eu vou pra lá agora!
INÊS: (cel.) Por isso eu deixei o portão e a porta de entrada aberta, sem bater. Não precisa chamar ninguém, entra direto, que a entrada está livre.
LIZ: (cel.) Claro. Obrigada por ter pensando nisso Inês, obrigada mesmo!
Liz desliga o celular, tensa, indo novamente até o carro, abrindo a porta. Otávio fica parado, estranhando.
OTÁVIO: O que foi dessa vez?
LIZ: (agitada) A dona Gláucia tá na casa da Malu, sabe se lá o porquê. Mas eu não posso deixar as duas sozinhas, principalmente que a minha mãe é doente, é cardíaca. A Malu pode fazer alguma coisa! (T) Me leva até lá?
OTÁVIO: É claro!
Liz entra no carro, Otávio também. Ele dá partida, se distanciando em alta velocidade.
Corte rápido para:
CENA 03 / MANSÃO MARINHO / ESCRITÓRIO / INT. / NOITE /
A discussão entre Malu e Gláucia fica ainda mais aflorada. Malu vai para cima, impiedosa.
GLÁUCIA: O que tá acontecendo aqui, é você arrumando justificativas pros seus atos. Nada do que te ocorreu no passado, justifica suas atrocidades no presente. O que a Liz fez pra você?
MALU: Ainda pergunta?
GLÁUCIA: Ela poderia ter te ajudado, estendido as mãos, dando suporte... ela poderia fazer tudo por você. Mas você preferiu seguir o lado obscuro da história, preferiu se infiltrar na vida dela, desbancar ela do seu posto, pra você subir!
Gláucia começa a passar a mão forte pelo peito, sentindo uma leve dor, apertando. Malu observa.
MALU: E eu faria de novo, de novo, e de novo... até ver a Liz no chão.
GLÁUCIA: Você tem muito ódio no coração, menina, muito rancor. Só que é tudo gratuito.
MALU: (berra) PRA VOCÊ É FÁCIL FALAR, PORQUE NÃO É COM VOCÊ!! A Liz é pior do que eu... ela sim é uma verdadeira cretina!!
GLÁUCIA: (retruca) CALA ESSA BOCA!! A CRETINA É VOCÊ!!
A dor no peito de Gláucia se intensifica, lhe deixando um pouco sem ar, com palpitações.
Corte rápido para:
CENA 04 / MANSÃO MARINHO / SALA DE ESTAR / INT. / NOITE /
Juntos, andando de um lado para o outro, André e Esther ouve a discussão de Gláucia e Malu em off, podendo ou ir os gritos de ambas.
ANDRÉ: (preocupado) A coisa tá feia lá, eu vou entrar, já faz um tempão que elas estão lá dentro.
ESTHER: (segurando-o) Não vai!! A gente não sabe ainda o que tá rolando direito, então vamos esperar aqui, até segundas ordens da Malu. Ouviu bem?
ANDRÉ: Se você não está preocupada, eu estou, a Malu pode está em perigo nas mãos dessa velha. Já vimos o que o Laerte foi capaz de fazer.
ESTHER: A Malu sabe se virar, ela é esperta.
A porta de entrada da Mansão Marinho é aberta. Esther e André viram-se para trás, assustados ao verem a presença de Liz, ao lado de Otávio.
ESTHER: (espantada) LIZ?!
LIZ: (rude) Então é aqui que você está, né? Sua vagabunda, cachorra! É pra cá então que você foi?
ESTHER: (assustada) Eu posso explicar...
LIZ: (indo pra cima) Explicar o quê? Seu mau caratismo? Entrou na minha casa, falando que é a minha irmã... isso é verdade, você é a minha irmã mesmo?
OTÁVIO: Liz, depois você se resolve com ela, a sua mãe...
Liz se aproxima de Esther, ficando em sua frente. Tensão alta. André se afasta.
LIZ: Cadê a minha mãe?
ESTHER: Ela não está aqui...
LIZ: (impaciente) Você acha que eu sou idiota? Eu sei que ela veio pra cá... aonde ela está?!
Liz vai para cima de Esther, segurando forte em sua boca, apertando.
GLÁUCIA: (off./grita) VOCÊ É UM LIXO!!
O grito de Gláucia é possível ser ouvido na sala de estar. Liz ouve, atenta.
LIZ: (p/Otávio) É ela... ela está aqui!!
Corte rápido para:
CENA 05 / MANSÃO MARINHO / ESCRITÓRIO / INT. / NOITE /
Gláucia vai dando pequenos passos para trás, com a mão no peito, ainda apertando, com a dor se aumentando.
GLÁUCIA: (dolorida) Não chega perto de mim...
MALU: Tá com medo que eu faça alguma coisa? Que eu mate você?
GLÁUCIA: Além de tudo é assassina?
Malu percebe que a dor de Gláucia está se intensificando, instigando ainda mais a discussão.
MALU: (pérfida) Isso você não sabe, né? Eu matei o meu papai, o Marcel Macedo, o investigador que a sua filha colocou atrás de mim... sim, dona Gláucia, eu sou uma assassina!!
GLÁUCIA: (ofegante) Louca... louca!!
MALU: (fria) Por isso, eu vou me dedicar inteiramente para sua filha. Eu não vou descansar até derrubá-la por completo, até eu esmagá-la com os meus próprios pés... e caso isso não seja possível, eu vou ter que matar a Liz... EU VOU MATAR A SUA FILHA!!
GLÁUCIA: (trêmula) Ai... ai... ai...
O corpo de Gláucia fica mole, fazendo com que a mesma caia ao chão, gemendo de dor. Percebendo a real situação, Malu se afasta, séria, vendo Gláucia ficar sem ar, pálida, ofegante.
GLÁUCIA: (esbofada) O meu... o meu remédio... o meu remédio na bolsa... eu preciso... eu preciso tomar... o remédio...
Correndo até a bolsa de Gláucia, Malu retira uma vidro pequeno contendo uma boa quantidade de remédios. Ela mostra para Gláucia.
MALU: São esses os remédios?
GLÁUCIA: (sem ar) É... é... por favor... me dê... me dê! (apertando o peito) Eu preciso... preciso tomar...
Tirando a tampa do vidro, encarando-o, Malu solta um pequeno riso, encarando Gláucia através deste vidro.
Impiedosa, Malu vira o vidro, fazendo com que todos os remédios caiam no chão.
MALU: (pérfida) É remédio que você quer? Você quer viver? Só na próxima encarnação, porque nessa, você já está morta!!
Com seus pés, Malu pisa com força nos remédios, esfarelando todos no chão, não sobrando um, com força, insaciável.
Ao ver estar sem solução, a respiração de Gláucia para, com os olhos arregalados, imóvel ao chão, perdendo toda suas forças.
Malu chuta os farelos dos remédios, colocando o vidro novamente dentro da bolsa de Gláucia e retirando o exame. Momento exato em que a porta do escritório se abre.
Close em Liz, na porta, vendo sua mãe no chão, de olhos abertos.
LIZ: (grita/apavorada) MÃE?!
Fade Out - Instrumental, Tensão.
Correndo até sua mãe, Liz se joga no chão, levantando o corpo de Gláucia, que não se mexe, inerte.
Fade In - Instrumental, Melancolia.
LIZ: (chora/desesperada) Não faz isso comigo, mãe! Por favor, acorda... ACORDA!! Para com isso, para!! Eu tô aqui, do seu lado, sua filha... EU TÔ AQUI!! Volta pra mim, mãe... volta pra mim!!
Otávio vai até elas, assustado, checando o pulso de Gláucia.
LIZ: (em prantos) Ela tá viva?
OTÁVIO: (cabisbaixo) Sinto muito... sua mãe se foi!
LIZ: (berra) NÃAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAO!!!
Olhando para o lado, Liz vê Malu, de pé, afastada, observando toda a cena.
LIZ: (levantando-se) O que você fez com a minha mãe? (transtornada) O QUE VOCÊ FEZ COM ELA, SUA CRETINA!!
Ao chegar agitada até Malu, Liz, raivosa, acerta um forte tapão em cheio no rosto de Malu, fazendo um alto estralo, derrubando-a no chão, sem reação, de mãos atadas.
Dando novamente sua atenção para Gláucia, Liz novamente vai até ela, segurando-a em volta de seus braços, tentando abraçá-la.
LIZ: (chora) Me perdoa mãe, me perdoa por tudo... eu te amo... EU TE AMO!!
Aos poucos, a cena vai ficando ampla, mostrando Malu, no chão, com as mãos ao rosto, aparentando uma forte dor, enquanto Liz segura Gláucia, morta em seus braços, gritando por ela. Otávio fica de pé, observando a cena, que se desvanece lentamente.
ABERTURA:
CENA 06 / MANSÃO MARINHO / QUARTO PRINCIPAL / INT. / MANHÃ /
O quarto principal da mansão permanece todo escuro. Alguns passos são ouvidos. Close em Malu, abrindo as cortinas do quarto com tudo, fazendo-o ficar todo claro, iluminado pela luz forte do sol.
André dá um pulo da cama, assustado, vendo Malu, ainda com trajes de dormir, segurando uma champanhe.
ANDRÉ: (sonolento) Que isso, cretina? Que horas são?
MALU: (maliciosa) Hora de você botar pra quebrar e me satisfazer só do jeito que você sabe. Tá preparado?
Fade In - Huggin & Kissin, Big Black Delta.
ANDRÉ: Mas que fogo é esse? (olha o relógio) Não tem nem três horas direito que tiraram o corpo da velha.
MALU: Mas já esfriou o suficiente pra você me comer, gigolô. Não tá afim?
ANDRÉ: Transar com champanhe?
MALU: Mas cê tá careta, hein? Nunca foi de recusar uma transa! O champanhe é só um aperitivo pra te atiçar. Não quer ver sua cretina aqui, toda nuazinha, tomando um banho de champanhe, todinha pra você lamber?
ANDRÉ: (excitado) Aí sim você falou a minha língua...
Pronta para ir em direção da cama, Malu vê André saltando da mesma, indo com tudo para cima dela, lhe agarrando com prazer, fogoso.
MALU: (ri) Esse é o André que eu conheço!
André joga Malu na cama, retirando sua camisa. Ele joga seu corpo sobre o dela, lhe deixando extasiada.
Corte rápido para o lado de fora do quarto, onde Esther, atrás da porta, ouve os gemidos prazerosos de Malu e André. Close em seu rosto, insatisfeita.
ESTHER: (irritada) Ah, mas isso não vai rolar mais!!
Abrindo a porta bruscamente do quarto, Esther entra, se deparando com Malu e André se agarrando na cama. Eles estranham, parando.
ANDRÉ: Que caralhos essa garota tá fazendo aqui?
MALU: Péssima hora, não acha, Esther?
ESTHER: É realmente uma péssima hora, mas eu não posso deixar esse cara continuar te enganando. (dura) O André te traiu, Malu, com a Inês!!
Close em André, assustado com a revelação de Esther, enquanto Malu tenta raciocinar tudo, confusa.
Fade Out - Huggin & Kissin, Big Black Delta.
Corte para:
CENA 07 / CASA DE JOANA / SALA DE ESTAR / INT. / MANHÃ /
Recebendo Inês em sua casa, Joana serve uma xícara de café. Elas se sentam.
INÊS: (preocupada) Então me fala, tá tudo bem com ele? O Valentin vai sair de lá?
JOANA: Eu contratei um advogado, ele já me disse que vai tentar fazer uma apelação, provando que foi por legítima defesa, por isso talvez irão te chamar pra depor.
INÊS: Claro que eu vou. O Valentin além de ter salvado a sua vida, ele salvou a minha e a dele também, ele é um herói! Quando será que eu poderei visitar?
Joana fica inquieta, mostrando um desconforto. Inês percebe.
INÊS: Eu não posso ver ele?
JOANA: Poder, pode... é que... é que/
INÊS: (por cima) Fala Joana! Eu posso ou não?
Fade In - Listen, Beyoncé.
JOANA: (direta) Ele não quer te ver, o Valentin deixou claro que não quer ter o mínimo de contato com você, Inês. Eu sinto muito...
Inês fica baqueada com o que ouve.
INÊS: (marejada) Ele não quer me ver? É isso?
JOANA: (cabisbaixa) Desculpa, mas/
INÊS: (corta) Não precisa pedir desculpas, é um direito dele. Por que iria querer eu visitando ele? Já que eu não sou nada mesmo. (chora) E eu nunca serei nada pro Valentin...
Colocando a xícara na mesa, Inês se levanta, limpando suas lágrimas. Joana também se levanta, pegando em suas mãos.
JOANA: Tenta entender... não é um bom momento pra ambos.
INÊS: (voz embargada) Eu já entendi tudo. (T) Com licença, eu vou pro trabalho.
Se soltando de Joana, Inês pega sua bolsa, indo até a porta de entrada, dando um longo suspiro. Em prantos, ela deixa a casa de Joana, fechando a porta.
Close em Joana, comovida, triste.
Fade Out - Listen, Beyoncé.
Corte rápido para:
CENA 08 / MANSÃO MARINHO / QUARTO PRINCIPAL / INT. / MANHÃ /
Se afastando de André, Malu fica em sua frente, vendo Esther adentrar ao quarto, incisiva.
MALU: (intrigada) Do que cê tá falando?
ANDRÉ: (rude) Cala essa boca... CALA A MERDA DA TUA BOCA!!
ESTHER: (retruca) NÃO CALO!! VOCÊ NÃO VAI ME IMPEDIR DE CONTAR A VERDADE PRA MALU! (p/Malu) É isso mesmo o que você ouviu, minha amiga, esse cara aí, que tá te agarrando, não perdeu a oportunidade e também agarrou a empregada, bem embaixo do seu nariz!
MALU: (em choque) Isso é verdade, André? Me diz, é verdade?
ESTHER: (cínica) Vai ter a cara de pau de mentir pra ela de novo?
ANDRÉ: Cê não tá vendo que ela tá fazendo isso por ciúmes? Ela nunca engoliu nós dois juntos, agora ficou evidente. Não é por você, Malu...
MALU: Apenas me responde... é ou não?
André respira fundo, lacrimenjando, o suficiente para Malu entender tudo. Seus olhos encham-se d'água.
MALU: (marejada) Eu não acredito que você teve a coragem de fazer isso comigo...
ESTHER: Fez... e repetiu, porque foram várias vezes. Esse cara nunca te amou de verdade, sempre foi pela grana, pelo tesão, nada mais que isso. Você tem que valorizar/
MALU: (corta/rude) FORA DO QUARTO, ESTHER... PRA FORA DO QUARTO, ANTES QUE ISSO SOBRA PRA VOCÊ!!
ESTHER: Você ainda vai me agradecer por estar abrindo seus olhos, Malu. Espero que faça a coisa certa!
Esther sai, sobre olhares nada amigáveis de André. Malu não tira os olhos de André.
Fade In - Azul da Cor do Mar, Tim Maia.
ANDRÉ: (agitado) Eu posso explicar, Malu/
MALU: (por cima) NÃO TEM EXPLICAÇÃO, ANDRÉ!! (T) Vai, me fala, o que eu precisava fazer pra isso não acontecer? Eu te dei tudo o que eu poderia dar. Cara, nós estamos nessa juntos, desde aquele roubo de carro até o meu estrelato. Faltou amor? Prazer?
ANDRÉ: Nunca faltou isso com você, nunca! Eu te amo, Malu.
MALU: Quando nós começamos, lembra que eu te disse? "Você é livre pra fazer o que quiser, mas eu não aceito traição." E você me traiu... (chora) Eu te contei a minha história de vida, te contei por tudo o que eu passei pra chegar aqui...
ANDRÉ: Eu já estava arrependido de ter feito isso, mas quando você me contou pelo o que passou, o arrependimento se tornou angústia, pesadelo, medo de que um dia você descobrisse que eu fui canalha, que não respeitei você. Mas eu juro, de verdade, eu não senti desejo e admiração por mulher alguma que não seja você!
MALU: (abalada) Eu perdi a minha virgindidade, a minha inocência aos quinze anos... sabe como foi dificil deitar novamente com outros homens? E eu não vou mentir, eu tentei, não só uma, mas várias vezes. Só que quando eu estava perto de conseguir, eu me sentia violada, machucada a cada toque de um homem. (em prantos) Você foi o primeiro homem com quem eu transei... o primeiro e único homem que eu me entreguei de corpo e alma, que eu me abri... foi você, André! Nem com o Laerte eu transei, aliás, eu nem cogitei isso acontecer, porque eu pensei na minha integridade, na minha confiança de me entregar para apenas um homem por livre e espontânea vontade por toda a minha vida!!
ANDRÉ: (chora) O meu arrependimento é sincero...
MALU: (dura) Mas o acontecimento é verdadeiro.
Completamente abatida com a verdade, Malu se senta na cama, colocando as mãos na cabeça, tensa. André fica paralisado, chorando.
MALU: Por favor, eu preciso de um tempo...
ANDRÉ: Tem razão, é a melhor coisa a se fazer, pensar bastante/
MALU: Um tempo para nós, André. Acabou! (T) Pega suas coisas, roupas, tudo o que eu te dei, porque é seu, como o carro, mas pega e vai embora. Eu não o quero mais aqui. Não o quero mais na minha vida!
ANDRÉ: Não faz isso comigo, minha cretina... eu te amo!
MALU: A sua cretina tá terminado esse jogo, cada um pro seu lado. Eu espero que você tenha um pingo de dignidade e não conte a ninguém tudo o que você sabe sobre mim.
ANDRÉ: Eu nunca, nunca, ouve bem, mas nunca iria fazer isso contigo. Eu te amo o suficiente pra te proteger, mesmo estando longe agora. E eu não quero nada, pra te mostrar que eu não tô nem aí pra sua grana. (T) Não vou mentir, foi muito atrativo pra mim, mas não chega perto do prazer que é estar ao seu lado, como foi passar mais de dez anos com você naquele quartinho, no kitnet. Eu espero que um dia você possa me perdoar, e quando esse dia chegar, eu vou estar te esperando. (emocionado) Adeus, Malu...
Vestindo sua camisa, André sai imediatamente do quarto, fechando a porta.
Close em Malu, que ao ver a saída de André, suspira fundo, desabando a chorar.
"Algumas lembranças passam pela sua cabeça, dos momentos em que Malu e André viveram no Kitnet, se divertindo, outros dos dois no dia da chegada da nova mansão, vibrando de alegria, cruzando para os momentos íntimos de prazer dos dois"
A cena volta novamente para Malu, que se joga na cama, abatida, emocionada.
Fade Out - Azul da Cor do Mar, Tim Maia.
Corte rápido para:
CENA 09 / PLANOS GERAIS / EXTERNAS / DIAS - NOITES /
Fade In - Killing Me Softly With His Song, Fugees.
Imagens alternadas por toda São Paulo, mostrando suas paisagens, comércios, pontos turísticos. Passam-se inserts de:
"Malu sofrendo com a ida de André. Esther observa de longe, recuada, tensa."
"André volta para o seu quartinho, no Kitnet, de mãos vazias"
"Liz se despede de Gláucia em seu funeral, ao lado de Otávio e de outras pessoas"
"Valentin é mantido na delegacia, afastado de outros presos"
"Inês faz as suas malas, chorando, se sentindo perdida"
Os inserts se desvance, indo diretamente para o letreiro.
CENA 10 / DELEGACIA "89° DISTRITO" / CELAS / INT. / MANHÃ /
Isolado em sua cela, sentado no chão, Valentin vê de longe um dos carcereiros se aproximando.
CARCEREIRO: (bruto) Ei, rapaz, levanta aí!
Lentamente, Valentin se levanta, sem demonstrar reação.
CARCEREIRO: Você vai sair daqui.
VALENTIN: (estranha) Eu vou ser solto?
CARCEREIRO: Não. Você vai ser encaminhado para a penitenciária até o seu julgamento. (T) Estenda suas mãos.
Desolado, Valentin estica suas mãos, onde é colocada a algema. As grades são abertas, Valentin sai, sendo segurado pelo mesmo carcereiro, que lhe direciona.
Close na feição de Valentin, amedrontado.
Fade Out - Killing Me Softly With His Song, Fugees.
Corte para:
CENA 11 / CEMITÉRIO MUNICIPAL / EXT. / MANHÃ /
Fade In - Vento no Litoral, Renato Russo e Cássia Eller.
Ao lado de Otávio, Liz coloca uma coroa de flores no túmulo de Gláucia. Seus olhos lacrimejam.
LIZ: (emocionada) Dizem que a lei da vida é sempre essa, onde eu filho enterra a mãe. Mas eu acho isso muito questionável, que não dá pra mensurar a dor de perder alguém tão importante assim. Eu fui muito dura com a dona Gláucia diversas vezes, muito por razões bobas, outras por motivos concretos, mas sempre eu a amei. Eu posso te dizer Otávio, que essa minha mãe foi guerreira... guerreira em fugir de um homem em uma época onde as mulheres não tinham o direito de serem livres. (chora) Por isso eu não canso de pedir perdão... por tudo, Otávio. Eu não consigo acreditar que eu não pude fazer isso com ela viva, que eu não pude dizer a ela que a minha maior felicidade está por vir...
Otávio abraça Liz, que desaba a chorar em seus braços, lhe confortando.
OTÁVIO: Eu tô aqui... e eu não vou sair do seu lado.
Os dois dão um rápido beijo, segurando um na mão do outro.
Caminhando adiante, Liz e Otávio distanciam do túmulo de Gláucia, se aproximando de outro. Close na lápide, mostrando ser o túmulo de Laerte.
Laerte Rodriguez
★ 03/04/1979
✟ 18/08/2020
"Enquanto forem amados pelos que ficam, os que morrem nunca desaparecerão por completo."
Liz passa sua mão delicadamente pelo túmulo de Laerte, respirando fundo.
LIZ: Eu nunca pensei que sentiria pena de ver o Laerte, mesmo o que ele tenha feito. Mas acredito que não há lugar melhor pro Laerte do que aqui. Que ele pague por tudo o que já fez...
OTÁVIO: Ele tá pagando, pode ter certeza.
LIZ: Vamos embora, aqui é outro clima, me dá calafrios...
Novamente pegando nas mãos, Liz e Otávio vão saindo, se afastando.
A imagem permanece na lápide de Laerte por um longo tempo.
Corte para:
CENA 12 / MANSÃO RODRÍGUEZ / COZINHA / INT. / MANHÃ /
Com uma bolsa e uma mala nas mãos, Inês fica de frente para sua mãe, se despedindo.
IARA: (chora) Tem certeza que não quer ficar? Eu posso pedir pra dona Liz te arrumar alguma coisa aqui, pra você ficar pertinho de mim, da sua mãe.
INÊS: Mãe, é a melhor coisa a se fazer. Eu consegui uma boa grana com a demissão da casa da Malu, vou usar esse dinheiro pra continuar na faculdade, só que presencial, no interior.
IARA: Quando eu te trouxe pra cá, juro que foi das melhores das intenções, queria tu pertinho de mim. Mas se esse é o melhor pra ti, eu super te apoio, minha filha, como sempre te apoiei.
INÊS: (voz embargada) Obrigada mãe... eu te amo!
As duas dão um longo abraço de despedida, ambas emocionadas pelo momento.
IARA: Vai em paz, minha filha. A mãe tá orando por você!!
Inês se afasta, pronta para ir embora de São Paulo.
Fade Out - Vento no Litoral, Renato Russo e Cássia Eller.
Corte para:
CENA 13 / KITNET / QUARTINHO / INT. / TARDE /
Ao lado de fora, segurando algumas sacolas de compras nas mãos, André estranha ao ver a porta entreaberta. Ele coloca suas compras no chão, confuso.
ANDRÉ: (intrigado) Eu tenho certeza que eu tranquei essa porta. Eu tranquei!
Lentamente, André adentra ao kitnet, dando pequenos passos silenciosos. Ao entrar por completo, a porta é batida com força. Saindo de trás, Esther, empunhando uma faca, corre em direção de André, que se assusta.
Fade In - Instrumental, Ação.
ESTHER: (berra/possessa) EU VOU MATAR VOCÊ, ANDRÉ!!
ANDRÉ: (grita/apavorado) ESTHER, PARA! PARA! PARA!
Ao tentar esfaquear André, Esther erra, fazendo com que André desvie, em seguida, correndo até sua cama, se protegendo com o travesseiro.
Esther vai pra cima, tentando esfaqueá-lo, mas acertando o travesseiro por diversas vezes.
ESTHER: (transtornada) EU VOU TE MATAR, EU VOU ACABAR COM VOCÊ!!
ANDRÉ: (se defendendo) CÊ TÁ MALUCA, PARA COM ISSO!!
ESTHER: A MALU TÁ SOFRENDO POR SUA CAUSA!!
Insaciável, Esther continua, fazendo o travesseiro se destroçar por completo. André aproveita a desatenção da mesma, acertando um forte chute em seu abdômen, fazendo-a ficar sem ar, derrubando a faca no chão, caindo em seguida.
Agilizado, André chega primeiro na faca, jogando-a longe de Esther, que agora parte pra cima de André com as próprias mãos, mas sendo derrubada por ele, que lhe imobiliza ao chão.
ESTHER: (raivosa) TIRA AS MÃOS DE MIM, ME SOLTA!! (T) ME SOLTA QUE EU VOU ACABAR COM VOCÊ!!
ANDRÉ: (por cima de Esther) TÁ ACHANDO QUE TÁ FAZENDO O QUE, MALUCA? QUE VAI ME MATAR? EU ACABO CONTIGO ANTES MESMO DE COGITAR EM FAZER ISSO NOVAMENTE.
Esther cospe no rosto de André, que sai de cima da mesma, que se arrasta pelo chão, indo em direção da porta.
ESTHER: (ofegante) Você fez a Malu sofrer, tá fazendo ela sofrer... ela não deveria tá sentindo isso!
ANDRÉ: (limpando o rosto/provoca) Você tem que entender que a Malu me ama. É a mim que ela escolheu amar, e é a mim que ela vai continuar amando.
ESTHER: (pérfida) Só por cima do meu cadáver!
ANDRÉ: Seria trágico, mas só assim pra você entender que ela não te ama da forma que você pensa... isso é um amor platônico, apenas você sente. (rude) Agora some daqui, antes que eu cometa uma loucura e faço pior que isso... ou eu mesmo mato você!!
Esther se levanta do chão, ofegante, saindo do kitnet de André, batendo a porta.
Close em André, suspirando, sem acreditar no que acabara de acontecer.
ANDRÉ: (espantado) Essa mulher é perigosa... é louca!
Fade Out - Instrumental, Ação.
Corte rápido para:
CENA 14 / MANSÃO RODRÍGUEZ / SALA DE ESTAR / INT. / TARDE /
Chegando em casa, sozinha, Liz se senta no sofá, cansada. Iara vai até ela, marejada.
LIZ: Algum problema, Iara?
IARA: (emocionada) É a Inês, ela acabou de ir embora de São Paulo... tô sem minha filha.
LIZ: (surpresa) Nossa, eu não sabia. Vai pra casa e tira o dia de folga, não seria justo eu te fazer trabalhar nesse estado. Aliás, fique o tempo que achar necessário.
IARA: Eu ia pedir isso mesmo, obrigada dona Liz. (T) Ah, a senhora tem visita, tá aí desde a hora que você saiu.
LIZ: Por favor, não me diz que são mais problemas...
IARA: É a Joana. Tá lá na área externa, te esperando.
LIZ: (estranha) A Joana?
Corte rápido para:
CENA 15 / MANSÃO RODRÍGUEZ / ÁREA EXTERNA / TARDE /
Caminhando em volta da piscina, Joana vira-se ao ver Liz, vindo em sua direção. As duas se aproximam.
Fade In - Sign Of The Times, Harry Styles.
JOANA: Que bom que você chegou. Eu quero falar com você, ter uma conversa que nós duas já estamos adiando faz tempo.
LIZ: Que conversa seria essa?
Liz e Joana ficam frente a frente.
JOANA: Você sabe. Eu nem sei por onde começar, mas eu tenho que começar a falar. Eu vim te pedir desculpas, por tudo.
LIZ: Desculpas? Um pouco tarde pra isso, não acha?
JOANA: Tarde, mas eu estou aqui. Você não sabe o quanto foi difícil vir aqui, o quanto eu relutei, briguei comigo mesma pra fazer isso. Eu errei muito com você, Liz, eu me arrependo profundamente... por isso eu tô aqui, pedindo o seu perdão.
LIZ: Isso não vai acontecer, Joana. Pode se passar anos, que vai ser difícil esquecer aquela cena horrenda que você me fez passar. Você era minha melhor amiga, a pessoa com quem eu pensava que podia confiar, que eu podia me abrir, mas cê jogou tudo fora por causa de homem... do até então meu marido.
JOANA: (voz embargada) Aconteceu... mas eu não vou ser cretina ao ponto de dizer que eu tentei evitar, porque muito das vezes eu queria. Eu estava cega, apaixonada por um homem que eu pensava também estar me amando, mas ficou claro que não. (T) Não tá sendo fácil pra mim esse momento, Liz. O Valentin foi transferido pra uma penitenciária, tudo acontecendo ao mesmo tempo, por isso eu tenho a sensação de estar sendo punida por tudo o que eu fiz com você.
LIZ: Isso não é punição, isso tá acontecendo porque você permitiu acontecer. Eu me sensibilizo pelo seu momento difícil, mas essa sensibilidade é toda do Valentin, é pra ele que eu direciono.
JOANA: (marejada) Você ainda guarda muito rancor de mim, não é?
LIZ: Pode parecer ser rancor, egoísmo, mas é como eu me sinto. Eu também não estou passando por um momento legal, acabei de perder a minha mãe/
JOANA: (por cima/chora) E esse foi o motivo que me trouxe aqui hoje, que me faz querer o seu perdão. (T) Quando a minha mãe morreu, você ficou ao meu lado, me apoiou, cancelou show, até dormiu comigo pra eu não me sentir sozinha... tudo que estava ao seu alcance, você fez, sem me cobrar nada! Agora, você que está passando por isso, e só de saber que eu não pude ficar ao seu lado no velório, nem passar as noites mal dormida, nada... eu não fiz absolutamente nada pra ficar com você. E isso me dói de uma forma, que eu me sinto um lixo, um ser humano desprezível, tudo de ruim eu me qualifico.
Liz se mantém firme com o que ouve.
LIZ: Eu precisei de um ombro amigo, mas eu tive mais do que isso, tive o ombro da pessoa que eu escolhi amar, da pessoa que me ama de verdade. Mesmo que essa pessoa fosse você, não seria verdadeiro, seria apenas uma troca de favores. Mas eu quero que você saiba, que todo o apoio que eu lhe dei, foi o mais sincero possível.
JOANA: Eu acredito em você, juro. Você é tão transparente como água... você é o que eu sonho em ser. Com o passar do tempo agimos com intenções, sejam elas boas ou más que requerem perdão.
LIZ: Se eu falar que te perdoo, vai ser da boca pra fora, eu estaria mentindo. Porque lá no fundo, a raiva ainda é grande por ter me feito de palhaça, a angústia de ter acreditado em ti. Do Laerte eu esperava tudo, traição, mas de você, da nossa amizade... foi bem pior.
JOANA: Isso é um não?
LIZ: Passamos a vida lutando para nos apegarmos às coisas que mais valorizamos, às pessoas e coisas que acreditamos que não conseguiríamos viver sem. Só que dessa vez, eu aprendi a ficar ao lado de quem realmente importa. Quando a decepção corta tão fundo, nada é capaz de apagar. (T) Diga ao Valentin, que se ele precisar de alguma ajuda, ele pode contar comigo. (fria) Adeus Joana, espero que eu tenha sido clara!
Liz se afasta, entrando para sua casa, deixando Joana sozinha na área externa, sem rumo, pávida. Seus olhos lacrimejam.
Fade Out - Sign Of The Times, Harry Styles.
Corte para:
CENA 16 / MANSÃO MARINHO / SALA DE ESTAR / INT. / NOITE /
Entrando sorrateiramente, tentando não fazer barulho, Esther leva um susto ao ver as luzes da casa se ascendendo.
Fade In - Instrumental, Suspense.
Malu, no interruptor, lhe encara, séria.
MALU: Aonde você foi?
ESTHER: (gagueja) Eu... eu... eu fui no/
MALU: (firme) Tá enrolando pra falar por quê? Tá me escondendo alguma coisa?
ESTHER: É claro que não, eu não seria capaz de fazer isso com você.
MALU: Então fala, aonde você estava?
ESTHER: (direta) Eu fui atrás do André!
Malu estranha, indo em direção de Esther, ficando na sua frente.
MALU: (intrigada) Do André? O que você queria com ele?
ESTHER: Eu fui questionar se ele já tinha encontrado o seu dossiê.
MALU: (pasma) Como é que é?
ESTHER: Aquele dossiê que ele conseguiu no apartamento do Laerte, ele perdeu. Alguém invadiu o quartinho e roubou.
MALU: (nervosa) Como você me fala isso só agora? Como eu vou saber quem pois as mãos nesse maldito dossiê?
ESTHER: Fica calma, provavelmente não foi ninguém importante, porque senão já teria entregue pra polícia ou te procurado atrás de grana. Nem um e nem outro aconteceu.
MALU: Essa sua tranquilidade me assusta. Se aquele maldito dossiê cai nas mãos da pessoa errada, não só nós duas, mas várias pessoas se ferram nessa história. Quer pagar pra ver?
Malu se apavora com a possibilidade de ser desmascarada, enquanto Esther raciocina, tensa.
Corte rápido para:
CENA 17 / MANSÃO RODRÍGUEZ / SALA DE ESTAR / INT. / NOITE /
Desligando a televisão, Liz se prepara para ir ao seu quarto. Subindo um degrau, ela para ao ouvir a porta de entrada sendo batida.
LIZ: (estranha) Como que alguém conseguiu vir até aqui sem apertar o interfone? Só pode ser a Iara.
Voltando, Liz vai em direção da porta, abrindo.
Close em Aloísio, ao lado de fora, segurando uma pasta.
LIZ: (intrigada) Aloísio? O que cê tá fazendo aqui? Aliás, como você chegou até aqui?
ALOÍSIO: Eu te conheço o suficiente pra saber onde ficam suas chaves. Posso entrar?
LIZ: (ríspida) Já entrou, né!
Rindo, Aloísio entra na casa. Liz fecha a porta.
LIZ: Não que eu esteja interessada, mas você sumiu, não deu sinal de vida.
ALOÍSIO: Foi preciso. Eu levei fora de todo mundo, de você, do Laerte, da Malu... eu fui escorraçado da vida de vocês como um objeto descartável.
LIZ: Você fez por onde, tentou enganar todo mundo, mas acabou sendo enganado. (impaciente) Olha, se foi pra vir aqui pra você se lamentar, mostrar o ressentido, eu tô fora. Não tô afim.
ALOÍSIO: Essa sua prepotência é algo a ser estudado. Pelo o que eu sei, você perdeu a sua mãe, perdeu a Gravadora pra Malu, você perdeu tantas coisas ultimamente.
LIZ: (nervosa) O que você quer?
ALOÍSIO: Como eu estava dizendo, não fiquei nada feliz com esse descarte. Foi aí que eu pensei em acabar com todos vocês de um jeito que todos caíssem juntos. (T) Tudo começou a mudar, quando eu comecei a seguir um rapaz, não sei se você conhece, mas o nome dele é André, é o gigolô da Malu. Retomando, cê acredita que ele conseguiu o dossiê da Malu, tirando do apartamento do Laerte?
Liz arregala os olhos ao ver Aloísio com uma pasta nas mãos, surpresa.
LIZ: (pasma) Isso na sua mão é o dossiê dos crimes da Malu?
ALOÍSIO: (debocha) Calma, pra que a pressa? (T) Continuando. O cara pra conseguir essas provas, passou por um maior perrengue. O Laerte mandou dar uma surra, daquelas que eu levei a mando da Malu. Como o mundo gira, né? Foi aí que eu invadi o quartinho que ele morava e consegui pegar o dossiê da Malu. Agora respondendo a sua pergunta: sim, esse é o dossiê dos crimes da Malu!
LIZ: (boquiaberta) Meu Deus... eu preciso disso, eu preciso que você me dê e finalmente acabar com esse jogo da Malu.
ALOÍSIO: O que tem aqui é perturbador, coisa graúda.
LIZ: O que você quer pra me dar isso?
ALOÍSIO: Olha, eu te dei uma colher de chá vindo aqui primeiro. Esperei o melhor momento pra isso.
Aloísio ri, deixando Liz ainda mais nervosa.
LIZ: RESPONDE!!
ALOÍSIO: Eu quero 500 mil dólares, em espécie, pra amanhã. E se você conseguir me entregar essa grana, o dossiê é seu. Caso contrário, eu vou até a Malu e peço até o dobro. Acredito que ela não vai exitar em pagar essa dívida. (T) Você quer tanto assim o dossiê? Vai ter que pagar. E aí, tá nas suas mãos... a escolha é sua!!
A câmera fixa em Aloísio, chantageando Liz pelo dossiê, congelado em tom amarelo em um disco de vinil, ao som de: Rolling In The Deep, Adele".